Paulo alertou Timóteo sobre os dissidentes do cristianismo, especialmente os sofistas. Estes eram mestres itinerantes que iam de cidade em cidade oferecendo cursos de oratória, filosofia, finanças e religião, os quais negavam os valores do evangelho. Até mesmo autores pagãos os viam com suspeita.
Os sofistas ensinavam que o indivíduo era a medida de todas as coisas, ou seja, não existem verdades absolutas. Cada um escolhia o que era verdadeiro para si. Isso ia na contramão dos ensinos de Cristo (Jo 14:6; 17:17).
Quem era adepto dos sofistas não suportava a “sã doutrina”. Sentia como se tivesse “comichão nos ouvidos”. Essa expressão era comum em Roma e representava aqueles que preferiam a retórica ao conteúdo. É importante lembrar que, em uma época em que não havia filmes, eram os atores de teatro e oradores que cativavam as multidões com discursos eloquentes.
A boa oratória agradava os ouvidos, e era isso que muitos queriam, mesmo que o discurso fosse perigoso. A vontade de ouvir um bom orador provocava uma “coceira aos ouvidos”. O escritor Sêneca, que viveu nos dias de Paulo, falou disso a seu amigo Lucilius. Ele preferia o conteúdo à
retórica, porque esta última poderia ocultar um ensino pernicioso. Sêneca não desvalorizava as técnicas de oratória, mas alertava sobre a dependência excessiva delas. Ele afirmava que “um doente não chama um médico porque ele é eloquente” – a competência deve estar acima da estética. Mas alguns preferiam ficar “coçando os ouvidos” do povo, ou seja, divertindo-o em vez de curá-lo.
Não é diferente hoje. Que importa se determinado filme, música ou influenciador estão cheios de maus exemplos e moralidade duvidosa? A adrenalina e a dopamina que despertam são suficientes para consumir seu conteúdo, ainda que seja pernicioso.
É lamentável perceber que cada vez mais os chamados cristãos não apreciam a “sã doutrina” e que esta se tornou um ensinamento impopular. De qualquer forma, Deus conhece os que ficarão ao lado da verdade. Que eu e você estejamos entre eles.