Um grande desafio da pregação é contextualizar o evangelho para diferentes culturas. Até que ponto podemos adaptar a mensagem? Onde estaria o limite? Certamente, evitar a adequação a fim de proteger a doutrina não é a solução do problema.
O missionário Barry Irwin conta o que ocorreu aos nativos da Nova Guiné depois que aceitaram Jesus e foram batizados. Por anos, eles devolveram o dízimo, frequentaram os cultos e seguiram os costumes da igreja. Até que um dia foram ao pastor e disseram: “Agora já devemos ter feito o bastante para pagar a Jesus por Sua morte.” Então, eles voltaram ao paganismo.
A falta de uma contextualização fez com que entendessem o sacrifício de Cristo como uma dívida que os missionários contraíram. Então, para ajudá-los a quitá-la, concordaram em abster-se, por um tempo, das coisas que seriam consideradas pecaminosas aos olhos da religião dos brancos.
A adaptação cultural do evangelho foi praticada por Paulo, sem esquecer que fé e cultura possuem nuances diferentes. A cultura relaciona-se com a natureza e tende a ser dinâmica, ao passo que a fé enfatiza a autoridade da revelação e é mais conservadora. Como Paulo lidou com isso?
Em primeiro lugar, quando a abnegação se fez necessária, ele abriu mão de certos direitos. Embora pudesse comer carne, ter uma esposa e viver do dízimo, ele renunciou a esses privilégios para não causar escândalo na pregação (1Co 9:4-18).
Em segundo lugar, Paulo se fez servo daqueles que evangelizou. “Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (v. 19). É um perigo cair na arrogância missionária. Não podemos nos sentir superiores àqueles que buscamos alcançar para Cristo. Tão importante quanto pregar é ter sensibilidade para aprender com aqueles que queremos evangelizar.
Por fim, Paulo adaptou a mensagem sem comprometer a doutrina. Para isso, permaneceu dentro da revelação, “não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo” (v. 21). Sua adequação não ultrapassava o limite das Escrituras, pois tradições humanas são negociáveis, mas os princípios divinos não. Que tal adotarmos hoje o modelo de Paulo?