As palavras que abrem o devocional de hoje fazem parte da frustrada oração de Jonas ao perceber que Deus havia poupado Nínive da destruição. Ele era um profeta incumbido por Deus de pregar contra os pecados da cidade. Temendo os riscos, Jonas foge da missão divina, mas, finalmente, aceita pregar para o povo.
O problema, por incrível que pareça, é que seus ouvintes aceitaram o apelo ao arrependimento, e isso não trouxe alegria ao profeta. Seu debate com Deus revela um espírito amargurado: “Sabia que Tu és Deus bondoso e compassivo”, ou seja, que “o Senhor atiça o espírito de vingança para depois mandar que perdoemos”.
Aqui, Jonas recita uma espécie de credo extraído de Êxodo 34:6 e 7, que diz: “O Senhor Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-Se e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a maldade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocente o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração!”
Embora Jonas reconhecesse a realidade da misericórdia divina, ele parecia valorizar mais a parte que trata da punição dos pecadores. Essa é uma característica das pessoas certinhas demais. Sejamos honestos: muitos daqueles que se acham bons sentem desprezo pelos que consideram maus.
Mesmo que usem uma linguagem politicamente correta, o inconsciente os trai ao comentarem com sarcasmo os erros daqueles que se tornaram especialistas em fazer coisas erradas. Como apreciadores de obras de arte, eles descrevem com indisfarçada alegria escândalos notórios como
se fossem maravilhas da depravação.
A princípio, seus comentários parecem imbuídos de santa indignação, mas não conseguem esconder que são como o fariseu que orava: “Ó Deus, graças Te dou porque não sou como os demais homens” (Lc 18:11).
Deus foi misericordioso até mesmo com Jonas, o qual, apesar de seus defeitos, foi usado como profeta. Tenhamos, pois, a humildade para entender que o pano de saco e as cinzas do arrependimento também nos pertencem, e não apenas àqueles que condenamos.