Lição 11
06 a 12 de setembro
Apostasia e intercessão | 3º Trimestre 2025
Sábado à tarde
Ano Bíblico: RPSP: NM 26
Verso para memorizar: “Moisés voltou ao Senhor e disse: – Ah! O povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, peço-Te que me risques do livro que escreveste” (Êx 32:31, 32).
Leituras da semana: Êx 32:1-32; Sl 115:4-8; Is 44:9, 10; Rm 1:22-27; Is 53:4

Moisés se ausentou do acampamento de Israel por 40 dias. E o que aconteceu? O povo se afastou de Deus e adorou um ídolo, um bezerro de ouro. Depois de tantos sinais e milagres, como ele pôde fazer isso?

Poderia haver muitas respostas, e provavelmente alguma verdade nelas. Será que os hebreus não compreendiam quem Deus é? Ou aquelas experiências com Ele foram ofuscadas por seus desejos pecaminosos? Eles não valorizaram o que Deus havia feito por eles, mas, em vez disso, achavam que mereciam tudo aquilo? O entendimento deles estava distorcido, manchado por sua antiga mentalidade pecaminosa? Eles eram ingratos em relação às ações misericordiosas de Deus? Eles se esqueceram dos atos poderosos de Deus (Sl 106:13, 21-23)? Ou tudo poderia ser atribuído à liderança fracassada de Arão? Afinal, “o Senhor estava muito irado com Arão e queria destruí-lo” (Dt 9:20).

Sejam quais forem as razões para essa terrível apostasia, que lições aprendemos com ela, não apenas sobre a pecaminosidade humana, mas sobre o amor gracioso de Deus por nós, apesar de nossa natureza pecaminosa?

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Domingo, 07 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 27
Liderança fracassada

Deus chamou Moisés para passar 40 dias e 40 noites com Ele. Para Moisés, pode ter sido um tempo curto, mas pareceu longo demais para o povo. O líder humano estava ausente. As pessoas ficaram desorientadas, impacientes e inseguras. Queriam ter alguém visível que as guiasse, semelhante aos “deuses” que tinham visto durante a vida de idolatria no Egito.

1. Como foi possível que a liderança de Arão falhasse de maneira tão gritante? Êx 32:1-6

Arão não esteve à altura da situação. Ele falhou em aproveitar o momento e fazer o que era certo. Em vez de confiar no Senhor, cedeu à pressão da maioria. O povo exigiu o inimaginável: “Levante-se, faça para nós deuses que vão adiante de nós” (Êx 32:1). E ele concordou.

O povo voluntariamente deu ouro para fazer o ídolo, e Arão não apenas deixou de impedi-lo, mas também o convidou a doar. Arão fabricou o falso deus. Depois, o povo declarou: “São estes, ó Israel, os seus deuses, que tiraram você da terra do Egito” (Êx 32:4). Isso foi algo pecaminoso, perverso e cego! Os hebreus tinham acabado de fabricar aquele ídolo e então declararam que ele os havia libertado. Não é incrível como desejos pecaminosos podem distorcer pensamentos e ações? As pessoas celebram suas próprias criações, enquanto sua humanidade e moralidade se degradam nesse processo.

“Uma ocasião tão crítica como essa exigia um homem de firmeza, decisão e coragem inflexível, um homem que considerasse a honra de Deus mais importante do que o favor popular, a segurança pessoal ou a própria vida. Contudo, o então líder de Israel não tinha esse caráter. Arão, com fraqueza, apresentou objeções ao povo, mas sua hesitação e timidez no momento crítico apenas o tornou mais decidido. O tumulto aumentou. Um frenesi cego e irracional pareceu se apoderar da multidão. Houve alguns que permaneceram fiéis ao seu concerto com Deus, mas a maior parte do povo aderiu à apostasia. [...] Arão temia pela própria segurança. E, em vez de se manter firme, defendendo com nobreza a honra de Deus, rendeu-se às exigências da multidão” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 267).

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Como Arão, um líder de Israel, pôde ter sido tão fraco? De que maneiras ele deve ter buscado justificar em seu próprio coração as ações terríveis que estava cometendo?
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Segunda-feira, 08 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 28
Idolatria e o mal

2. Leia Êxodo 32:6. Quais foram as consequências da idolatria dos israelitas? (Ver também Sl 115:4-8; 135:15-18; Is 44:9, 10.)

O bezerro de ouro se assemelhava ao deus-touro egípcio, chamado Ápis, ou à deusa-vaca, Hator. Essa foi uma transgressão flagrante do primeiro e do segundo mandamentos (Êx 20:3-6). Tal violação não poderia ficar impune, pois rompia abertamente o relacionamento dos israelitas com o Senhor vivo. Em vez de adorar o Criador, eles adoraram sua própria criação, que não podia ver, ouvir, cheirar, falar, proteger, amar ou liderar. 

A ordem da criação foi invertida: em vez de reconhecer que tinham sido criados à imagem de Deus, eles fizeram um deus, nem sequer à sua própria imagem (o que já seria ruim o suficiente), mas à imagem de um animal. Era esse o deus a quem desejavam servir? Com isso, eles pecaram gravemente contra o Senhor (Is 31:7; 42:17).

3. De que maneira a apostasia do bezerro de ouro reflete o que está escrito em Romanos 1:22-27?

A idolatria nega o entendimento teológico de que Deus é Deus e ser humano é ser humano. A idolatria apaga a distinção que existe entre Deus e a humanidade (Ec 5:2), rompendo a conexão com Ele. Seja flagrante e aberta ou oculta no coração, a idolatria rapidamente rompe nosso relacionamento com o Senhor e leva a um círculo vicioso de degradação moral que só piora com o tempo. Não é de admirar o que aconteceu no dia seguinte: depois de oferecer sacrifícios ao ídolo, eles começaram a se divertir, realizando o que Ellen G. White descreveu como uma “imitação das festas idólatras do Egito” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 270).

Os seres humanos são especialistas em fabricar seus próprios ídolos. Eles criam seus próprios deuses, o que já é ruim o suficiente, mas depois vão e servem a esses deuses. O Criador é substituído por coisas que, mais cedo ou mais tarde, levam ao declínio moral.

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Quais são algumas maneiras pelas quais os seres humanos hoje adoram a criatura em vez do Criador?
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Terça-feira, 09 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 29
Corrompidos pela idolatria

4. Leia Êxodo 32:7, 8. Por que Deus enviou Moisés de volta ao acampamento de Israel?

Ao se voltarem para um ídolo, os israelitas estavam no processo de se divorciar do verdadeiro Deus, que os havia libertado do Egito. O Senhor colocou a culpa diretamente sobre eles, dizendo que o “povo [...] se corrompeu” (Êx 32:7), chegando a atribuir a essa estátua a libertação do Egito. Que contradição direta ao que Deus havia dito a eles (Êx 20:2)! Essa negação da presença de Deus e de Seus atos poderosos era bastante grave. Seus pensamentos e sentimentos estavam distorcidos e completamente corrompidos.

Segundo Ezequiel, a idolatria está no âmago da ruína do povo de Deus, e a partir daí surgem os outros pecados (Ez 8; 20:1-44; 22:1-12). Muitas vezes nos perguntamos por que Israel era tão ingênuo e incorrigível quando se envolvia na adoração de ídolos criados pelo ser humano. Temos certeza de que nunca faríamos algo assim. Mas será que estamos livres da idolatria? Os ídolos atuais podem ter diferentes formas, mas a mesma essência.

Ídolo é o que colocamos no lugar de Deus e, mesmo sabendo que não é certo, ainda assim o adoramos repetidamente. O ídolo captura nossa imaginação, afeições, tempo e mente mais do que Deus. Pode até escravizar nossos pensamentos. Nós nos tornamos aquilo que contemplamos e não seremos melhores do que o “deus” ao qual servimos.

Se o Senhor não estiver no centro de nossa vida, algum outro deus preencherá o lugar Dele. Se não desfrutarmos e cultivarmos a presença viva de Deus, desfrutaremos e dedicaremos nossa vida a outra pessoa ou a alguma coisa. O que colocamos no lugar de Cristo pode ter diferentes formatos: orgulho, egocentrismo, dinheiro, poder, sexo, comida, televisão, drogas, álcool, pensamentos impuros, pornografia, prazeres, trabalho, esportes, família, videogames, filmes, compras, ideologias, política, música, posição social, títulos, diplomas e assim por diante. A lista praticamente não tem fim.

Somos muito criativos e inventivos a esse respeito. Podemos transformar qualquer coisa que seja boa, bonita e importante em um ídolo. A idolatria é extremamente perigosa, porque transforma nossa personalidade, maneira de pensar, afeições e vida social. Ela muda nossa identidade e substitui relacionamentos pessoais verdadeiros por interações vazias e, em última análise, sem sentido que, no fim, são incapazes de nos salvar.

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Quarta-feira, 10 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 30
A justa ira de Deus

5. Qual foi a reação de Moisés diante da ameaça de Deus de destruir Israel? Êx 32:9-29

Enquanto Moisés estava no monte Sinai, Deus disse que destruiria os rebeldes e faria dos descendentes de Moisés uma grande nação. Mas não era isso que o líder hebreu desejava. Em vez disso, ele implorou ao Senhor, enfatizando que os israelitas não eram o povo de Moisés, e sim o povo de Deus. Quem os havia tirado do Egito não foi Moisés, mas Deus, por Suas obras poderosas. Então Moisés suplicou ao Senhor, mencionando as promessas feitas aos patriarcas. Ele estava agindo como intercessor entre Deus e a humanidade.

Depois que “o Senhor mudou de ideia quanto ao mal que Ele tinha dito que traria sobre o povo” (Êx 32:14), Moisés retornou. Não há registro de que seu rosto brilhasse na presença do Senhor (ao contrário do que aconteceria em Êx 34:29, 30). O rosto de Moisés provavelmente refletia sua ira.

“Logo que se aproximou do arraial e viu o bezerro e as danças, Moisés ficou muito irado. Arremessou as tábuas de pedra das suas mãos e quebrou-as ao pé do monte” (Êx 32:19). Quebrar as tábuas que continham o Decálogo era um sinal externo da violação de seu conteúdo. Deus não repreendeu Moisés por isso, e mais tarde ordenou que o líder hebreu fizesse duas tábuas para substituir as “primeiras” tábuas que haviam sido quebradas (Dt 10:2). O próprio Deus reescreveria os mandamentos.

Moisés repreendeu severamente Arão por ter se rendido às exigências do povo (Êx 32:21). Arão tentou justificar sua transgressão (1) culpando pessoas e (2) atribuindo o ídolo a artes mágicas: “Eu o lancei [o ouro] no fogo, e saiu este bezerro” (Êx 32:24). O que piorou a situação foi que Arão havia sido grandemente honrado por Deus, tendo recebido inúmeros privilégios, que incluíam subir o monte com Moisés e os 70 anciãos (Êx 24:1).

Que ironia sombria! Ao alegar que havia ocorrido um milagre, Arão quis enganar seu irmão (note que um pecado leva a outro; nesse caso, idolatria à mentira). No entanto, Moisés não foi enganado, pois viu que o povo estava descontrolado. As consequências negativas eram evidentes, e Moisés teve que interromper a rebelião imediatamente.

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O que essa história nos ensina sobre o poder da oração intercessória? Por quem você precisa orar?
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Quinta-feira, 11 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 31
Intercessão

6. Até que ponto Moisés chegou em sua oração intercessória pelos pecadores? Êx 32:30-32

Por causa da rebelião do povo de Israel, coisas terríveis aconteceram no acampamento, incluindo a morte de muitas pessoas (Êx 32:28). No dia seguinte, Moisés declarou ao povo: “Vocês cometeram um grande pecado. Agora, porém, subirei ao Senhor; talvez eu possa fazer propiciação pelo pecado de vocês” (Êx 32:30).

“Moisés voltou ao Senhor e disse: – Ah! O povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, peço-Te que me risques do livro que escreveste” (Êx 32:31, 32).

Não é de admirar que Moisés seja um tipo ou símbolo de Cristo! Por causa de sua oração intercessória pelos pecadores e sua disposição em oferecer sua vida por eles, ele refletiu o que Cristo faria por todos nós. Que compaixão exemplar pelos transgressores! Ele demonstrou dedicação total ao Senhor e a Seu amor sacrifical pelas pessoas. O livro de Êxodo não declara quanto tempo Moisés ficou com o Senhor no monte dessa vez, mas Deuteronômio revela que ele esteve no Sinai por 40 dias (ver Dt 9:18).

Em Êxodo 32:32, a palavra traduzida como “perdoar” também significa “carregar” ou “tomar sobre”. Isaías 53:4 aplica o mesmo verbo a Jesus: “Certamente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades.” Que revelação poderosa sobre o processo de salvação e perdão e o que custou a Deus nos salvar!

Moisés estava pedindo ao Senhor que “tomasse sobre Si” o pecado do povo – exatamente o que Ele faria na cruz muitos séculos depois. Êxodo 32:32 não só apresenta a ideia de expiação substitutiva, mas também explica quem é o Substituto: o próprio Deus.

Esse texto revela como podemos obter o perdão. Deus, em Cristo, levou sobre Si nossos pecados, e essa é a única maneira pela qual poderíamos ser perdoados. Essa é uma expressão poderosa do plano da salvação e uma demonstração para nós e para o Universo do que custou a Deus nos salvar.

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Moisés pediu a Deus que tomasse sobre Si os pecados do povo, e, depois, em Cristo, Ele fez exatamente isso. Como podemos direcionar nossa mente para meditar nessa verdade extraordinária? O que ela nos diz sobre o amor de Deus pela humanidade caída?
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Sexta-feira, 12 de setembro
Ano Bíblico: RPSP: NM 32
Estudo adicional

Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 266-275 (“O bezerro de ouro”).

A lição desta semana destaca a obra de Deus em favor de Seu povo. O Senhor pode fazer em nós “infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos” (Ef 3:20). Não devemos nos concentrar em nós mesmos e satisfazer nossos desejos pecaminosos, porque isso leva à idolatria. Em vez disso, nossa atenção deve estar em Deus e em Seu poder. Ele concede a força de que necessitamos para uma vida nova e vitoriosa (Fp 4:13; Jd 24, 25).

“O amor, não menos que a justiça, exigia que o juízo fosse aplicado sobre esse pecado. Deus é o guardião, bem como o soberano de Seu povo. Ele exclui aqueles que estão determinados a seguir a rebelião, para que não levem outros à ruína. Poupando a vida de Caim, Deus demonstrou ao Universo qual seria o resultado de permitir que o pecado ficasse sem punição. A influência exercida sobre seus descendentes por sua vida e seu ensino determinou o estado de corrupção que exigiu a destruição do mundo inteiro pelo dilúvio. [...] Quanto mais os homens viveram, tanto mais corruptos se tornaram. Assim seria com a apostasia no Sinai. Se o castigo não tivesse sido imediatamente executado sobre os transgressores, os mesmos resultados teriam sido vistos novamente” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 273, 274).

Perguntas para consideração

1. O que é adorar a criatura em vez de adorar o Criador? Como podemos ser bons administradores da Terra, protegendo o meio ambiente, mas sem adorar ou idolatrar o planeta?

2. Podemos entender a gravidade de uma situação pelas consequências de uma ação ou pela seriedade da reação ao que ocorreu. Por que Moisés ordenou a execução dos que se recusaram a se arrepender e continuaram em rebelião contra Deus e Suas instruções?

3. Por que a expiação substitutiva é a única maneira correta de entender o que aconteceu na cruz? Por que qualquer teoria sobre a expiação que negue ou diminua esse aspecto do evangelho é errada? Leia 1 Pedro 2:24. Como esse texto revela a verdade de que Jesus é nosso Substituto?

Respostas às perguntas da semana: 1. Com a pressão do povo, Arão cedeu às tendências pecaminosas. Ele não tinha o caráter necessário para enfrentar aquela situação. 2. Os ídolos, criados pelos seres humanos, não podem ver, ouvir, falar, etc. Quando os israelitas adoraram o bezerro de ouro, rebaixaram-se ao nível do seu ídolo. 3. A idolatria tira de Deus o lugar que pertence a Ele, levando a todo tipo de pecado. 4. O Senhor enviou Moisés para lidar com a rebelião e apostasia do povo, e para chamá-lo ao arrependimento. 5. Moisés repreendeu os israelitas e intercedeu por eles, destacando que eles eram o povo de Deus. 6. Moisés pediu a Deus que, se não perdoasse o povo de Israel, riscasse seu próprio nome do livro que Ele havia escrito.

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Resumo da Lição 11
Apostasia e intercessão | 3º Trimestre 2025

TEXTO-CHAVE: ÊX 32:31, 32
FOCO DO ESTUDO: Êx 32

ESBOÇO

Introdução: Quando Israel apostatou, Moisés estava com o Senhor no monte Sinai. O povo ameaçou Arão, seu irmão, e ele acabou cedendo, fabricando um ídolo. Então, o povo declarou: “São estes, ó Israel, os seus deuses, que tiraram você da terra do Egito” (Êx 32:4), rejeitando explicitamente o Senhor como seu Deus e quebrando sua aliança com Ele. É significativo notar que o Senhor declarou a Moisés antes de sua descida ao acampamento do monte Sinai que os israelitas tinham se afastado Dele e adoravam um ídolo. Assim, Israel era agora o povo de Moisés, e foi o profeta que libertou os israelitas do Egito. O Senhor disse:

“ Vá, desça; porque o seu povo, o povo que você tirou do Egito, se corrompeu” (Êx 32:7). Anteriormente, o Senhor, assim como Moisés e Jetro, haviam enfatizado que foi o Senhor que tirou Israel do Egito (Êx 3:8, 17; 12:17, 51; 13:3, 9, 14, 16, 18; 16:6, 32; 18:1, 10; 19:4; 20:2). Deus agora não Se identificou com Israel porque os israelitas não O reconheceram como seu Senhor. Que situação trágica!

Depois, o Senhor Se ofereceu para fazer de Moisés “uma grande nação” (Êx 32:10). Foi uma tentação poderosa para Moisés aceitar a oferta e se tornar grande. Mas ele demonstrou a nobreza de seu caráter quando nem mesmo considerou tal oferta. Seu interesse altruísta na prosperidade do povo permaneceu firme; nenhuma ambição pessoal poderia mudar isso. Moisés intercedeu por Israel e apelou ao Senhor ao apontar que foi Deus que libertou Israel: “Por que Se acende a Tua ira contra o Teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande poder e forte mão?” (Êx 32:11). Por causa da intervenção de Moisés, o Senhor “mudou de ideia quanto ao mal que Ele tinha dito que traria sobre o povo”  (Êx 32:14). A oração intercessória é muito poderosa!

Depois que Moisés retornou ao acampamento e viu a rebelião, ele quebrou em pedaços as duas tábuas que continham as Des Promessas que Deus lhe dera, um ato que era o sinal externo do que os israelitas tinham feito quando rejeitaram o Senhor como seu líder. Em seguida, Moisés destruiu o bezerro de ouro. Mesmo na presença de Moisés, as pessoas estavam correndo “sem controle” (Êx 32:25). Por isso, ele teve que intervir. Aqueles que teimosamente continuaram em rebelião tiveram que ser eliminados. Então Deus, por meio de Moisés, ordenou que fossem mortos. Essa eliminação foi necessária; caso contrário, o povo de Deus teria entrado em ruína irreversível (sobre essa execução, leia Patriarcas e Profetas, de Ellen G. White, p. 272-276, “O bezerro de ouro”). No dia seguinte, Moisés subiu novamente o monte Sinai e intercedeu por Israel, pedindo ao seu Deus misericordioso que perdoasse Seu povo por seu comportamento perverso.

COMENTÁRIO

A apostasia do bezerro de ouro e Arão

Arão poderia ter evitado a apostasia do bezerro de ouro se tivesse permanecido firme em Deus e em Sua verdade. Ele não deveria ter cedido às demandas do povo por um deus ou deuses visíveis. Quando foi demonstrado desrespeito por Deus e Seu servo Moisés, Arão deveria ter imediatamente parado a revolta. Em vez disso, ele ouviu os rebeldes e fez uma falsa proposta. No tempo da ausência de Moisés, Arão deveria ter atuado como um líder forte, não temendo nem mesmo sua própria morte. Deus sempre intervém para defender Sua causa, e Arão de-
veria ter confiado Nele.

A preocupação de Moisés com a prosperidade do povo de Deus é refletida em sua pergunta a seu irmão Aarão: “Depois, Moisés perguntou a Arão: O que foi que esse povo fez a você, para que você trouxesse sobre ele tão grande pecado?” (Êx 32:21). A concessão de Arão a pedidos errados resultou em consequências trágicas. Para justificar sua conduta, Arão inventou um suposto milagre: “Então eu lhes disse: ‘Quem tem ouro, tire-o.’ Eles o deram para mim, eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro” (Êx 32:24). Arão recorreu a uma explicação mágica para aplacar a ira de Moisés. O pecado cega, e muitas vezes surgem histórias para encobrir a desobediência. 

“O Senhor estava muito irado com Arão” (Dt 9:20), mas sua vida foi poupada porque Moisés intercedeu por ele. Arão se arrependeu sinceramente desse pecado grave, foi restaurado à sua posição de liderança e, mais tarde, foi ungido como sumo sacerdote (Êx 40:12-15). A graça e a misericórdia de Deus são incríveis!

Oração intercessória

Existem quatro tipos de oração. Primeiro, há a “oração de louvor” ou “oração de agradecimento”, na qual agradecemos a Deus pelas coisas maravilhosas que Ele fez. Na oração de agradecimento, expressamos nossa gratidão por quem Deus é e pelo que Ele faz em nossa vida e na vida de Seu povo, louvando-O assim com alegria por Suas inúmeras bênçãos. Segundo, há a “oração de arrependimento”, na qual humildemente pedimos a Deus perdão por nossos pecados. Terceiro, há a “oração de súplica”, na qual oramos por coisas específicas para nós mesmos, como sabedoria, o Espírito Santo, alegria, amor, saúde, paz, paciência, dons espirituais, recursos financeiros, comida, segurança, proteção, etc. Finalmente, há a “oração de intercessão”, na qual oramos não por nós mesmos, mas pelos outros, pedindo a Deus que intervenha misericordiosamente e lhes dê “bênçãos” especiais ou “coisas necessárias”, como orientação e conversão; oramos pelos filhos, pais, casamento, família, comunidade, instituições, prosperidade, sucesso, etc. Também podemos orar pelos doentes, perseguidos, feridos, pobres, estudantes, colegas, batismos, supervisores, governo, etc. A oração de Moisés foi uma oração intercessória pelos pecadores, visto que ele orou por aqueles que erraram, pedindo a Deus que perdoasse seus pecados e não abandonasse Seu povo (Êx 32:31, 32).

Embora sejam de grande importância, as orações de intercessão envolvem certo mistério. Por um lado, Deus faz tudo o que pode para salvar cada pessoa ou povo, pois Ele os ama profundamente. Por outro lado, a oração de intercessão possibilita que Deus aja ainda mais nas circunstâncias específicas. Trata-se de uma tensão, e não conseguimos resolvê-la agora. A boa notícia é que não precisamos fazer isso. Não é necessário entender exatamente como a oração intercessória funciona, pois a Palavra de Deus atesta sua eficácia, e nossa própria experiência a confirma. O que precisamos é orar como uma resposta obediente às Suas instruções. Não precisamos entender todos os quebra-cabeças da vida para orar! Precisamos aceitar a liderança de Deus, confiar Nele, seguir e orar.

Deus respeita as escolhas das pessoas, pois Ele nunca força ninguém a segui-Lo. Ele garante a liberdade delas; ainda assim, somos encorajados a orar pelas pessoas, mesmo por nossos inimigos. Essa é outra aparente contradição que somos incapazes de resolver ou explicar por que não vemos por trás do véu, onde uma batalha espiritual está ocorrendo. Só podemos entendê-la vagamente quando refletimos sobre isso no contexto do grande conflito, enquanto observamos a guerra espiritual entre as forças do bem e do mal, verdade e mentira, luz e es-curidão, Cristo e Satanás. Esses vislumbres de percepção nos ajudam a confiar que nosso Senhor fará o melhor para salvar a todos.

Atrás da cortina do mundo invisível existem regras que regulam como os poderes do bem e do mal interagem. Teólogos falam sobre Deus “permitindo” que Satanás aja. John Peckham chama essas normas de “regras de engajamento”. (Veja Peckham, Teodiceia do Amor [CPB, 2022], p. 142). O diabo tem permissão para agir, e ele tem poder real, embora restrito, sob essas “regras de engajamento” (veja Jó 1; 2:6). Essas regras foram estabelecidas com a participação do conselho celestial (incluindo representantes de todos os seres celestiais), Satanás e Deus. Essas normas indicam que Deus concedeu a Satanás certas “permissões” para que ele pudesse demonstrar plenamente como seria o seu “governo”, permitindo uma comparação clara entre os dois lados.

Essas normas também significam que Deus nem sempre obtém o que deseja (Is 30:15, 18; Is 66:4; Ez 18:23; Mt 7:21; Mt 18:14; Mt 23:37; Lc 7:30). Além disso, Deus também é restrito em Suas ações. Ele não pode agir contra essas “regras de engajamento” porque Ele cumpre Suas promessas. “Um relacionamento genuíno de amor envolve a possibilidade de que as criaturas rejeitem a vontade ideal de Deus” (Peckham, Teodiceia do Amor [CPB, 2022], p. 194). Deus não restringirá nossa liberdade de escolher um lado ou outro porque isso impediria o pleno florescimento do amor entre Deus e Suas criaturas criadas. Não somos capazes de resolver essa aparente contradição porque não vemos por trás do véu dessa batalha espiritual. No entanto, Deus está comprometido com o “desenvolvimento do amor e com as regras pactuais de engajamento” (Peckham, Teodiceia do Amor [CPB, 2022], p. 195).

Sabemos várias coisas sobre Deus, mas algumas permanecem ambíguas ou intrigantes para nós. Paulo declara que “nosso conhecimento é incompleto” e que “vemos como num espelho, de forma obscura” (1Co 13:9, 12). Temos certeza de que Deus nos ama, nos salva e deseja salvar a todos. Sabemos que podemos confiar em Suas promessas, cuidado e ajuda. Sabemos que Ele quer o nosso bem e ouve nossas orações, mas não podemos manipulá-Lo. Sabemos que as orações são importantes, e Satanás treme quando o povo de Deus ora porque as coisas
avançam quando oramos. Não entendemos por que algumas orações são respondidas rapidamente, outras com aparente atraso e algumas nunca são respondidas, pelo menos de acordo com nossas expectativas. 

Deus nos convida a orar, não porque compreendemos o que ocorre nos bastidores ou como nossas orações são atendidas. Não controlamos o poder da oração, mas somos chamados, e até mesmo ordenados, a orar. Quando o povo de Deus ora, o reino do mal é enfraquecido e, de maneira misteriosa, a causa divina pode avançar.

APLICAÇÃO PARA A VIDA

1. Por que nós, seres humanos, temos uma memória tão curta para as grandes coisas que Deus fez por nós? Com que facilidade esquecemos! Como podemos renovar nossa caminhada com Deus e trazer à mente, nos momentos críticos, a Sua bondade, para que possamos tomar decisões acertadas e não pecar contra Ele?

2. O que pode ser um bezerro de ouro em nossa vida?

3. Como podemos nos tornar mais atentos e prestativos para com aqueles que precisam de nossas orações? A oração nos abre para Deus, permitindo que Ele realize em nós e por meio de nós milagres de transformação.

4. Moisés intercedeu pelos pecadores, colocando sua própria vida em jogo por eles. Esse exemplo serve como um modelo de como devemos orar por aqueles que falharam entre nós. Converse com a classe sobre diversas situações e explore maneiras de orar uns pelos outros nesses casos.

5. A oração intercessória de Cristo por Seus discípulos e por nós serve como um exemplo de como devemos orar pelos outros (Jo 17). Ao contrário de Moisés, que não precisava sacrificar sua vida para que os pecadores recebessem perdão, a morte de Jesus, nosso verdadeiro Intercessor, foi essencial para nossa redenção. Por quê?

6. Como podemos orar uns pelos outros sem ser ofensivos ou desrespeitosos?


Bebida, roubo e Deus

Zâmbia | Bethel

Bethel se matriculou na Universidade Rusangu, na Zâmbia, porque queria parar de beber. Ele esperava que estar na universidade adventista do sétimo dia mudaria sua vida.

Bethel foi criado em uma família adventista do sétimo dia, mas começou a beber quando sua mãe morreu. Ele tinha 15 anos e sentia muita falta dela. Amigos disseram a ele que beber o faria se sentir melhor. Em pouco tempo, ele desenvolveu um hábito e passou a beber todos os dias por dois anos. De alguma forma, ele conseguiu se formar no ensino médio.

Então, viu uma reportagem de televisão sobre a Universidade Rusangu. Ele viu que era um lugar sem álcool e esperava que sua vida melhorasse se ele estudasse lá. Porém, na universidade, Bethel simplesmente não conseguia se desvencilhar de sua antiga vida. Ele encontrou um lugar na fazenda da universidade onde podia beber escondido. Ele fez novos amigos que também bebiam. Às vezes, ia à igreja bêbado. A situação parecia desesperadora.

Então, uma noite, ele e três amigos precisavam de dinheiro para comprar álcool. Então, eles invadiram vários dormitórios masculinos e roubaram colchões, mas foram pegos. Na prisão, Bethel teve muito tempo para pensar em sua vida. Ele sabia que era culpado de roubo e não tinha esperança de ser libertado por muito tempo.

Com lágrimas, ele humilhou seu coração diante de Deus e se arrependeu. "Querido Deus", ele orou. "Se esta é uma lição Sua para que eu mude meus caminhos, prometo que me tornarei uma pessoa melhor com Sua ajuda. Por favor, liberte-me deste lugar."

Quinze dias depois, a polícia inesperadamente libertou Bethel e seus três amigos. Bethel não sabia o porquê.

A Universidade Rusangu deu as boas-vindas aos alunos de volta. Bethel também não sabia o motivo. Normalmente, a universidade expulsava estudantes que cometiam crimes. Bethel se perguntou se Deus tinha ouvido suas preces e estava lhe concedendo uma nova oportunidade.

Ele se lembrou de sua promessa a Deus na prisão e, em oração, fez mudanças em sua vida. Ele parou de beber. Ele estudou a Bíblia. Um mês depois de ser libertado da prisão, ele entregou seu coração a Deus através do batismo.

Professores e outros alunos viram a notável mudança em sua vida e ficaram surpresos. Quando os líderes da universidade realizaram uma cerimônia de premiação para os melhores alunos, eles o presentearam com um prêmio honorário pela maior mudança de comportamento. Bethel sorriu de alegria ao aceitar o prêmio.

Hoje, Bethel é líder estudantil e membro da equipe de mídia da igreja universitária. Ele está a apenas alguns meses de se formar em jornalismo, comunicação e paz e resolução de conflitos. Ele está pensando em voltar para a universidade após sua formatura para estudar Teologia e se tornar pastor.

Bethel disse que Deus mudou sua vida e pode mudar a vida de qualquer um que pedir. "Deus mudou a vida de ser um menino bêbado e muito problemático em Rusangu", disse ele.

Bethel está entre os muitos estudantes da Universidade Rusangu que foram abençoados por uma oferta trimestral. A oferta no segundo trimestre de 2009 ajudou a abrir a biblioteca da universidade. Assim como essa oferta ainda está sendo sentida na Zâmbia e além, a oferta deste trimestre também pode, com a bênção de Deus, ter um impacto duradouro. Obrigado por planejar uma oferta generosa para o dia 27 de setembro.

Por Andrew McChesney

Dicas para a história

• Mostre a Zâmbia no mapa. Em seguida, mostre a cidade de Monze, onde a Universidade Rusangu está localizada.

• Mostre um curto vídeo de Bethel no YouTube em: bit.ly/Bethel-SID.

• Baixe fotos desta história no Facebook: bit.ly/fb-mq.

• Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e fatos rápidos da Divisão Africana do Sul e do Oceano Índico: bit.ly/sid-2025.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2025

Tema geral: “O livro de Êxodo”

Lição 11 – 6 a 12 de setembro

Apostasia e intercessão

 

Autor: Felipe A. Masotti

Editor: Lucas Diemer de Lemos

Revisora: Rose Santos

 

O bezerro e o templo

O santuário israelita exercia duas funções fundamentais dentro da comunidade da aliança. Primeiro, ele servia como elemento perpetuador da experiência do monte Sinai. Através da contínua presença de Deus na tenda, cada nova geração podia experimentar, de forma individual e pessoal, a confirmação da aliança com o Rei de Israel.

A segunda função do santuário era agir como estrutura normalizadora da aliança. Ele equalizava a disparidade entre um Deus santo e um povo pecador. Por meio do santuário, a nação em pecado poderia revisitar sua relação quebrada com Deus e buscar purificação, restabelecendo sua comunhão com o Senhor. Dessa forma, a ausência do santuário no episódio do bezerro de ouro colocava Israel em uma posição extremamente difícil diante de Deus. Ainda não havia sido provido qualquer escape ritual para lidar com o pecado. A tenda sequer tinha sido construída.

 

A essência da idolatria

Êxodo 32 registra a quebra frontal da aliança recém-confirmada com sangue. Diversos elementos narrativos revelam o caráter insidioso e contencioso da atitude do povo. A forma verbal nikhal‘al, traduzida como “se ajuntaram contra” (Êx 32:1), indica uma ação hostil e intimidatória por parte do povo ao cercar Arão com exigências. Além disso, a expressão ki-zeh Mosheh (“esse Moisés”) carrega tom de desdém, demonstrando a desvalorização de seu líder, mesmo após os sinais poderosos realizados por meio dele. A ausência de Moisés, que havia intercedido e falado em nome de Deus (Êx 20:18, 19), gerou insegurança. Arão, extremamente fraco em sua liderança, permitiu que a ansiedade popular desse vazão a uma interpretação negativa, resultando em uma ruptura pactual grave. Essa é uma advertência clara para líderes religiosos: suas palavras e atitudes têm o poder de manter ou desestabilizar a coesão espiritual de uma comunidade.

Nos versos 2 a 5, a resposta de Arão é chocante. Ele ordena que tragam os brincos de ouro das mulheres, filhos e filhas. Esse detalhe, além de evidenciar a associação entre adorno e idolatria, remete a práticas cúlticas (cf. Gn 35:4; Jz 8:24-27). Mais grave ainda, Arão declara um “festival ao Senhor” (Êx 32:5), fundindo o culto ao Deus verdadeiro com elementos pagãos. Esse sincretismo contraria diretamente os primeiros mandamentos do Decálogo. A atitude de Arão revela um orgulho ferido e uma tentativa de assumir o papel de mediador, criando uma alternativa ao modelo de adoração divinamente estabelecido por meio de Moisés. Todo ato idolátrico, no fundo, é uma tentativa de autodeificação, de adorar uma versão desarranjada, esfacelada e desintegrada de si mesmo. Por isso, a licenciosidade e a degradação se tornam inevitáveis. Na falta do equilíbrio, o excesso é a norma, o vício é o culto e o resultado é a destruição da área da vida que foi deificada. A tragédia é que, como não conseguimos viver desintegrados na vida prática, a perda de uma parte significa a perda do todo. Assim, todo sacrifício é completo, mesmo aquele feito nos altares dos deuses que criamos.

Um aspecto teológico relevante em Êxodo 32 é a tensão entre memorialização e iconização. Ao longo do livro, Deus estabelece formas legítimas de memorializar a libertação do Egito: calendário, festivais, leis, estruturas sociais e, futuramente, o santuário. Em nenhum momento, porém, tais memoriais são produto da vontade humana. São sempre iniciativas divinas. Já o bezerro de ouro nasce da ansiedade humana diante do silêncio divino. O povo tenta continuar um processo legítimo de memorialização, mas, ao tomar para si a prerrogativa divina, termina por profanar o sagrado. Atribuem ao bezerro a libertação do Egito (Êx 32:4) e confundem a imagem com o próprio Senhor (Êx 32:5), evidenciando uma tragédia espiritual: transformar a memória do agir de Deus em instrumento de manipulação e idolatria.

 

A intercessão de Moisés

Êxodo 32:11 a 14 é uma das passagens lidas no judaísmo durante a tarde de Yom Kippur, revelando a profundidade da intercessão de Moisés. A oração do líder tem como foco reverter a linguagem dura de distanciamento usada por Deus, que se refere ao povo como “teu povo” (Êx 32:7), afastando-Se da identidade pactual. Moisés devolve a responsabilidade a Deus, relembrando que Israel é “Seu povo” (Êx 32:11), e apela à fidelidade às promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó (Êx 32:13). A resposta divina indica que o Senhor desejava envolver Moisés no processo de restauração e julgamento, e a oração do líder revela seu coração pastoral. Ao contrário de Arão, Moisés não pensa em si mesmo. Ele defende o povo e honra a Deus. Isso é liderança servidora.

Os versos seguintes (Êx 32:15-31) narram os eventos em rápida sucessão. Moisés quebra as tábuas da aliança, provavelmente como um ato simbólico e deliberado, e não impulsivo, representando a quebra real da aliança por parte do povo. Em seguida, uma série de dez verbos em Êxodo 32:19 e 20 descreve com intensidade a reação do líder, que busca purificar o acampamento e conter a crise espiritual. Nos versos 21 a 24, Arão é confrontado e responde com justificativas frágeis e evasivas. O verso 25 utiliza o termo hebraico raro shinmtsah para descrever o povo como totalmente fora de controle, reflexo direto de uma liderança frouxa. É uma advertência contundente: a fraqueza de quem lidera pode liberar o pior em quem é liderado.

Nos versos 26 a 31, vemos a tribo de Levi se posicionando com firmeza ao lado de Moisés. Essa atitude talvez explique a transferência do sacerdócio dos primogênitos para os levitas. Sua fidelidade os estabeleceu como herdeiros espirituais e líderes religiosos de Israel. Por fim, a segunda intercessão de Moisés (Êx 32:32-35) aprofunda o caráter sacrificial de sua liderança. Ele se oferece como substituto pelo pecado do povo, uma atitude que tipifica o ministério redentivo de Jesus. Embora Israel sofresse graves consequências pelo pecado, Deus, em Sua graça, providenciaria um meio de escape e restauração.

 

Referências:

DAVIDSON, R. M. A Song for the Sanctuary: Experiencing God’s Presence in Shadow and Reality. Biblical Research Institute, 2022.

DOUKHAN, J. B., e DAVIDSON, R. M. Genesis and Exodus. SDAIBC 1. Pacific Press, 2025.

HASEL, M. G. Êxodo. Em Comentário Bíblico Andrews. CPB, 2024.

SARNA, N. M., Exodus. JPSTC. JPS, 1991.

 

Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Felipe A. Masotti é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Formou-se em Teologia pelo UNASP-EC em 2008, atuando posteriormente como capelão do Colégio Curitibano Adventista Bom Retiro e pastor de jovens na Igreja Central de Curitiba. É mestre em interpretação bíblica pelo UNASP-EC e doutor (Ph.D.) em Teologia do Antigo Testamento pela Andrews University. Desde 2020, é professor de Antigo Testamento no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), no campus da Faculdade Adventista do Paraná (FAP). Felipe é autor, coeditor e coautor de várias obras, incluindo Daniel: Interpretação, História e Teologia (CPB), But the Wise Shall Understand (Mohr Siebeck) e Exploring the Composition of the Pentateuch (Eisenbrauns). É casado com Camila Masotti, também professora na FAP, e pai de Miguel e Helena.