Com raras exceções, genealogias não interessam às pessoas comuns. Dificilmente queremos saber quem foi o tataravô de um colega, por exemplo. Talvez por isso, nosso RG se limite a apresentar apenas o nome de nossos pais. Mas, no Oriente, desde os tempos bíblicos até hoje, é importante saber quem são os ancestrais.
É comum os beduínos do deserto citarem de cor entre 10 e 14 gerações de seus antepassados. Eu mesmo vi isso quando estive com os hawawires no deserto de Baiuda, no Sudão. Para eles, não dá para saber quem você é se não souber de onde você vem.
Conhecer a ancestralidade pode salvar uma criança que se perde. Diferentes clãs podem compartilhar uma linhagem comum, o que pode facilitar o encontro caso desconhecidos a encontrem. Foi assim que Rebeca se apresentou para o servo de Abraão (Gn 24: 24) e Jacó para Raquel (29:12).
Na Babilônia, as linhagens garantiam direitos e privilégios aos chamados mar bane, ou “filhos dos ancestrais”. A genealogia era mais valorizada do que a individualidade, e o mesmo ocorria com os hebreus. Podemos observar isso na preocupação de Esdras e Neemias em resgatar as genealogias dos que retornaram do exílio (Ed 2:59-63; 10:9-44; Ne 13:23-28).
O que podemos aprender desse costume oriental? A importância de saber quem realmente somos. Psicólogos recomendam que os pacientes avaliem a árvore genealógica de sua família. Isso permite aprofundar as raízes inconscientes que explicam muito de sua angústia. A psicogenealo-
gia parte do pressuposto de que uma pessoa pode carregar o fardo emocional de seus ancestrais, o que afeta significativamente seu presente.
Além disso, em um contexto espiritual, reconhecer nossa ancestralidade de fé revela nossa identidade e pertencimento. Desde a infância, somos ensinados a decorar nosso nome completo, os de nossos pais e o endereço de nossa casa. Por quê? Para que, se nos perdermos, saibamos
para onde voltar.
Você está perdido, longe de casa? “Volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55:7). Saber de onde viemos e quem somos nos dá a certeza de para onde iremos.