A palavra manso não é muito ouvida, exceto talvez ao lermos sobre Moisés ou estudarmos as bem-aventuranças, e não é difícil descobrir o porquê. Mansidão é definida como “a capacidade de suportar danos com paciência e sem ressentimento”. Não é à toa que não se ouve muito sobre isso, visto que é uma característica não muito respeitada na cultura atual. Às vezes, a Bíblia traduz essa palavra como “humildade”, traço de caráter que também não é visto como desejável pela maioria das culturas.
No entanto, mansidão é uma das características mais poderosas de Jesus e Seus seguidores. Ela não é um fim em si mesma: a mansidão de espírito pode ser uma arma poderosa nas mãos daqueles que estão em meio à dor e ao sofrimento. Na verdade, o crisol é um ótimo lugar para se aprender a mansidão de coração, pois com ela podemos ser testemunhas poderosas de Deus.
Resumo da semana: Qual é a relação entre sofrimento e mansidão? Em meio às dificuldades, como podemos ser testemunhas aos outros sobre a mansidão? Como a mansidão pode realmente ser uma força, não uma fraqueza, para o cristão?
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1. Oswald Chambers disse que devemos nos tornar “pão quebrado e vinho derramado” para os outros. O que você acha que ele quis dizer com essas palavras?
Em toda a Bíblia, há exemplos de pessoas que foram “quebradas” para servir aos outros. Moisés foi chamado para suportar ondas intermináveis de fofocas e críticas enquanto conduzia o povo à terra prometida. José foi chamado para uma jornada que envolveu traição e prisão quando foi levado a uma posição de serviço no Egito. Em cada caso, Deus permitiu as situações para que a vida de Seu povo pudesse se tornar palco da manifestação da graça e cuidado divinos, não apenas para si mesmo, mas para o bem de outros. Deus pode nos usar da mesma forma. É fácil sentir raiva ou mágoa em tais situações, mas, como observamos ontem, mansidão é a capacidade concedida por Deus para suportar essas coisas “com paciência e sem ressentimento”.
2. Leia Ezequiel 24:15-27. O que aconteceu nesse relato? Por que Ezequiel foi colocado no crisol?
Em Ezequiel 24:24, Deus diz: “Assim, Ezequiel será um sinal para vocês: tudo o que ele fez vocês também farão. Quando isso acontecer, vocês saberão que Eu sou o Senhor Deus”. Por meio do exemplo de Ezequiel, o povo de Israel seria convencido da verdade sobre quem era Deus, o Soberano Senhor, e veria essa verdade no cumprimento da profecia simbolizada na vida de Ezequiel e no sofrimento que ele enfrentou. Quem sabe quantas pessoas verão “o Senhor Deus” através de nós em nossos sofrimentos também?
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3. Leia Êxodo 32:1-14. Que papel Moisés desempenhou nessa passagem?
Depois que os israelitas começaram a adorar o bezerro de ouro, Deus julgou que eles haviam ido longe demais e anunciou que destruiria o povo e faria de Moisés uma grande nação. Mas, em vez de aceitar a oferta divina, Moisés implorou ao Senhor para que mostrasse graça ao povo, e Deus cedeu.
Êxodo 32:1-14 levanta duas questões importantes. Em primeiro lugar, a oferta divina de destruir o povo rebelde e abençoar Moisés foi um teste para o profeta. Deus queria que ele demonstrasse quanta compaixão tinha por esse povo tão desobediente. Moisés passou no teste. Como Jesus, ele implorou misericórdia para os pecadores. Isso revela algo muito interessante: às vezes, Deus também pode permitir que enfrentemos oposição; Ele pode permitir que passemos por um crisol para que Ele, as pessoas e o universo observador vejam quanta compaixão temos pelos rebeldes.
4. Que razões Moisés deu para pedir ao Senhor que não destruísse Israel?
Em segundo lugar, essa passagem mostra que oposição e desobediência são oportunidades para revelar a graça. A graça é necessária quando as pessoas menos a merecem. Mas, quando elas menos merecem, temos menos vontade de oferecê-la. Quando a irmã de Moisés, Miriã, o criticou, ele clamou ao Senhor para curá-la da lepra (Nm 12). Quando Deus ficou irado com Coré e seus seguidores e ameaçou destruí-los, Moisés prostrou-se com o rosto em terra para implorar pela vida deles. No dia seguinte, quando Israel resmungou contra Moisés pela morte dos rebeldes e Deus ameaçou destruí-los, Moisés caiu sobre seu rosto e pediu a Arão rapidamente que fizesse expiação por todos eles (Nm 16). Com mansidão e abnegação em meio ao crisol, Moisés buscou a graça em nome daqueles que certamente não a mereciam.
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Alguém disse: “Amar nossos inimigos, então, não significa que devamos amar a lama em que a pérola está enterrada; significa que amamos a pérola que jaz na lama. [...] Deus não nos ama porque somos amáveis por natureza. Mas nos tornamos amáveis porque Ele nos ama.”
5. Quando você olha para seus “inimigos”, o que normalmente vê nessas pessoas – a pérola ou a sujeira ao redor?
6. Leia Mateus 5:43-48. Jesus nos chamou a amar nossos inimigos e orar por eles. Que exemplo da natureza Ele nos deu que nos ajuda a entender porque devemos fazer isso? O que Ele deseja nos ensinar?
Em Mateus 5:45, Jesus usou o exemplo de Seu Pai no Céu para ilustrar como devemos tratar quem nos fere, quem talvez nos coloque no pior tipo de crisol. Jesus disse que Seu Pai envia a bênção da chuva tanto para os justos quanto para os injustos; se Deus dá a chuva até aos injustos, então como devemos tratá-los?
Jesus não quis dizer que devamos sempre ter um sentimento caloroso por todos os que nos causam problemas, embora isso também seja possível. Basicamente, o amor pelos nossos inimigos não significa um sentimento, mas ações específicas em relação a eles que revelem cuidado e consideração.
Jesus concluiu essa passagem com um verso que muitas vezes causa debate: “Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês, que está no Céu” (Mt 5:48). Mas o significado é muito claro no contexto: quem deseja ser perfeito como Deus deve mostrar amor aos seus inimigos como Deus mostra amor aos Dele. Fazer isso requer uma mansidão de coração que só o Senhor pode dar.
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Os exemplos mais poderosos de mansidão no crisol vêm de Jesus. Quando Ele disse “aprendam de Mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29), quis dizer isso de maneiras que provavelmente não possamos imaginar.
7. Leia 1 Pedro 2:18-25. Que princípios de mansidão e humildade no crisol podemos aprender com o exemplo de Jesus Cristo, conforme expresso pelo apóstolo Pedro?
É terrível ver alguém tratar outra pessoa injustamente, e é doloroso demais quando somos tratados assim. Visto que em geral temos um forte senso de justiça, quando uma injustiça acontece, nossos instintos são de “consertar as coisas” enquanto carregamos o que cremos ser uma ira justa e correta.
Não é fácil viver assim. Talvez seja impossível, a menos que aceitemos uma verdade fundamental – a de que, em todas as situações injustas, devemos acreditar que nosso Pai celestial está no controle e que Ele agirá em nosso favor segundo Sua vontade. Isso também significa que devemos estar abertos à possibilidade de que, como Jesus, nem sempre seremos salvos da injustiça.
O conselho de Pedro, dado com base no exemplo de Jesus, é surpreendente porque parece que o silêncio em face do sofrimento injusto é um testemunho maior da glória de Deus do que “corrigir as pessoas”. Quando questionado por Caifás e Pilatos, Jesus poderia ter dito muitas coisas para corrigir a situação e Se justificar, mas não o fez. Seu silêncio foi um testemunho de Sua mansidão.
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Em geral, as pessoas mais orgulhosas, arrogantes e agressivas são aquelas que sofrem de baixa autoestima. Sua arrogância, orgulho e total falta de mansidão ou humildade existem como um disfarce, talvez até inconsciente, para algo que lhes falta por dentro. O que precisam é o mesmo de que todos nós precisamos: senso de segurança, de dignidade, de aceitação, especialmente em tempos de angústia e sofrimento. Podemos encontrar isso somente por meio do Senhor. Em suma, mansidão e humildade, longe de ser atributos de fraqueza, costumam ser a manifestação mais poderosa de uma alma firmemente alicerçada na Rocha.
8. Leia o Salmo 62:1-8. Qual parece ser o pano de fundo desses versos? Que princípios espirituais podemos aprender com o que Davi disse? Como podemos aplicar esses princípios em nossa vida?
“Sem causa, homens se tornarão nossos inimigos. Os motivos do povo de Deus serão mal interpretados, não somente pelo mundo, mas por seus próprios irmãos. Os servos do Senhor serão colocados em situações difí- ceis. Será criada uma tempestade num copo de água para justificar a ati- tude egoísta e a injustiça dos homens [...]. Por meio de falsas acusações, esses homens serão vestidos com as escuras vestes da desonestidade, pois circunstâncias além de seu controle tornaram complicada sua obra. Serão apontados como homens que não merecem confiança. E isso será feito pelos membros da igreja. Os servos de Deus devem armar-se com a justiça de Cristo. Não devem esperar que irão escapar do insulto e da injustiça. Serão chamados exagerados e fanáticos. Mas que não desani- mem. A mão de Deus está na direção de Sua providência, guiando Sua obra para a glória do Seu nome” (Ellen G. White, O Cuidado de Deus, [MM/1995, 15 de outubro] p. 295).
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Textos de Ellen G. White: A Ciência do Bom Viver, p. 453, 454 (“Buscar o verdadeiro conhecimento”); O Desejado de Todas as Nações, p. 231- 244 [298-314] (“Sermão do Monte”); Evangelismo, p. 630 (“O obreiro e suas habilitações”).
“As dificuldades que temos de enfrentar podem ser grandemente diminuídas por aquela mansidão que se esconde em Cristo. Se possuirmos a humildade de nosso Mestre, estaremos acima dos menosprezos, das repul- sas, dos aborrecimentos aos quais estamos diariamente expostos, e estes deixarão de lançar sombra sobre nosso coração. A mais elevada prova de nobreza em um cristão é o domínio próprio. A pessoa que, diante de maus- tratos ou de crueldade, deixa de manter a mente calma e confiante, rouba de Deus o direito de revelar nela Sua perfeição de caráter. A humildade de coração é a força que dá vitória aos seguidores de Cristo, é a garantia de sua ligação com as cortes do alto” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 234 [301]).
Perguntas para consideração
- Como a humildade nos permite “superar” as mágoas e aborrecimentos? Qual é a característica mais importante da humildade que nos permite fazer isso?
- Em sua cultura, como a humildade e a mansidão são vistas? Que tipo de pressão você enfrenta que contraria o cultivo dessas características?
- Existem exemplos de pessoas mansas e humildes hoje? Quem são, como expressam essas características e o que você pode aprender com elas?
- Por que tantas vezes igualamos mansidão e humildade com fraqueza?
- Davi buscou o Senhor como refúgio. Como podemos, como igreja, ser um refúgio para quem precisa? Como tornar sua igreja um lugar de refúgio para os aflitos?
Respostas e atividades da semana: 1. Que devemos ser um alento aos outros. 2. A esposa de Ezequiel morreu. Ele passou por esse crisol sem se lamentar para servir de exemplo sobre o que ocorreria com o povo. 3. O papel de intercessor. 4. Os egípcios diriam que Deus queria matar o povo, por isso o tirou do Egito. Moisés relembrou a Deus a promessa feita a Abraão, de que faria dele uma grande nação. 5. Comente com a classe. 6. Deus faz chover sobre justos e injustos. Também devemos mostrar graça e misericórdia. 7. Jesus não revidou os insultos, não fez ameaças, mas Se entregou a Deus. 8. A perseguição que Davi sofreu. Devemos aprender a depender de Deus e a confiar Nele. Ele é nossa Rocha e Refúgio.
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TEXTO-CHAVE: Mt 5:5
FOCO DO ESTUDO: Êx 32:1-14; Sl 62:1-8, Ez 24:15-27; Mt 5:43-48; 1Pe 2:18-25
ESBOÇO
A religião bíblica, tanto no AT quanto no NT, caracteriza-se pela mansidão. Moisés é conhecido por ter sido a pessoa mais mansa da Terra (Nm 12:3). Davi declarou que “os mansos herdarão a Terra” (Sl 37:11). Os profetas anunciaram que Deus abençoaria os mansos (Is 11:4; 29:19; 66:2; Sf 2:3; 3:11, 12). O próprio Deus é descrito como manso e promotor da mansidão (Sl 25:9; 45:4; 147:6). Jesus era manso (Mt 11:29; 21:5; 2Co 10:1) e considerava esse traço fundamental no cristianismo (Mt 5:5). Os apóstolos eram mansos (2Co 10:1) e exortavam os cristãos a cultivar essa característica (Gl 5:23; Ef 4:2; Cl 3:12; 1Tm 6:11; 2Tm 2:25; Tt 3:2; Tg 1:21; 3:13; 4:6; 1Pe 3:14; 5:5). Enquanto os impérios e reinos da Terra são construídos sobre valores como audácia, poder e conquista militar, a religião de Deus se constrói e se conquista com mansidão, amor e graça. No entanto, a mansidão divina não resulta em fraqueza. Em vez disso, é um traço essencial do caráter de Deus e Sua maneira de Se relacionar com o Universo e conosco, pecadores.
Temas da lição
A lição desta semana destaca dois temas principais:
- A mansidão é essencial no cristianismo e, tão essencial quanto ela, é a compreensão correta da mansidão bíblica, bem como colocá-la em prática. A mansidão bíblica não emerge de uma estratégia política; em vez disso, é uma visão genuína do mundo através do prisma do atributo mais fundamental de Deus, o amor.
- Os cristãos não são mansos em si mesmos. Sua fonte de mansidão está em seu amoroso e bondoso Deus triúno: o Pai; o Filho e Salvador, Jesus Cristo, e o Espírito Santo.
COMENTÁRIO
A mansidão é a moral do escravo?
No período moderno, um dos ataques mais fortes ao cristianismo e seu conceito de humildade e mansidão veio do filósofo existencialista alemão Friedrich Nietzsche (1844- 1900). O sofrimento era parte integrante de sua vida, mas também uma área de fundamental interesse em sua filosofia. Quando bem jovem, ele perdeu o pai e muitos outros membros de sua família. Nietzsche sempre lutou contra problemas de saúde debilitantes e acabou isolado por uma doença mental durante os últimos onze anos de sua vida. Ao estudar línguas clássicas e filosofia, interessou-se especialmente pela cultura e filosofia da Grécia Antiga. A partir dessa lente, concluiu que a Europa havia perdido seu antigo vigor. O culpado? Nenhum outro senão o cristianismo! O filósofo considerava que o cristianismo havia roubado da Europa sua cultura clássica grega e romana de heroísmo, poder e nobreza. O Ocidente e, de fato, a humanidade em sua totalidade, segundo ele, precisava resgatar essa mentalidade clássica se quisesse sobreviver e prosperar.
De acordo com Nietzsche, existem dois tipos de moralidade: a moral do senhor, do nobre, do homem obstinado, e a moral dos escravos ou dos fracos. A moral do senhor define seus próprios valores, decide seu próprio curso de ações e os avalia pelo prisma de suas consequências, como úteis (boas) ou prejudiciais (más). Assim, autonomia, poder, riqueza, nobreza, otimismo, exuberância e coragem são considerados bons, enquanto a fraqueza e a mansidão são consideradas más. Por outro lado, a moral do escravo não gera valores ou ações, meramente reage e se opõe aos valores ou ações estabelecidos pela moral do senhor. Enquanto a moral do senhor se concentra na ação, a moral do escravo é reacionária (ou, como Nietzsche diria, ressentida; enquanto a moral do senhor é opressora, a do escravo é subversiva e manipuladora; enquanto a moral do senhor é mais individualista, a do escravo é mais comunitária.
Sendo assim, como os fracos são incapazes de derrotar os poderosos somente pela força, recorrem à reinterpretação e depreciação do sistema de valores dos senhores. Em vez de desfrutar a moral do homem forte, os fracos projetam no absoluto sua situação de humilhação, universalizando seus valores.
Segundo o filósofo, o cristianismo é uma religião dos fracos, da moralidade dos escravos. Em suas próprias palavras: “O cristianismo assumiu o lado de tudo que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir de qualquer coisa que contradiga os instintos de preservação de uma vida forte; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas mais espirituais, ensinando as pessoas a considerar os valores espirituais mais elevados pecaminosos, enganosos, e como tentações. O exemplo mais lamentável foi a corrupção de Pascal, o qual acreditava que sua razão havia sido corrompida pelo pecado original, quando na verdade tinha sido corrompida pelo próprio cristianismo!” (Friedrich Nietzsche, The Anti-Christ, Ecce Homo, Twilight of the Idols and Other Writings, ed. Aaron Ridley e Judith Norman [Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2005], p. 5).
Para Nietzsche, o cristianismo é outra reação dos pobres e fracos, destinada a derrubar e controlar os poderosos por meio da manipulação. Os cristãos se resignaram ao seu destino de escravidão e não têm vontade de se tornar donos do próprio destino. Por isso, de maneira hipócrita, denunciam como pecaminoso o que os poderosos têm e exaltam como virtude o que os cristãos não podem ter, impondo a todos os humanos sua nova moralidade. Assim, pelo fato de não poderem dominar os ricos e poderosos por outros meios, os cristãos inventaram um modo de controlar os fortes com sua moralidade. Nessa moralidade cristã, por exemplo, os cristãos converteriam sua inevitável fraqueza e submissão a outros na virtude da obediência. E sua incapacidade de se vingar os levaria a inventar a virtude do perdão. Da mesma forma, projetariam outras virtudes como piedade, amor, reciprocidade e igualdade. Não importa quão nobres essas virtudes pareçam ser para muitos, para Nietzsche, a moralidade cristã era inaceitável, irracional e repulsiva, porque, em seu ponto de vista, os cristãos usavam essas virtudes para anular a moralidade do homem forte e nobre deste mundo, para escravizá-lo e até mesmo oprimi-lo. Para Nietzsche, a moralidade cristã mantém as pessoas sob controle, na obscuridade e as torna comuns, não excepcionais.
Obviamente, a crítica de Nietzsche à moralidade cristã e seu conceito fundamental de mansidão é uma compreensão lamentavelmente errada do cristianismo. A virtude cristã da mansidão não emana da fraqueza, mas do poder, da justiça e do amor divinos. Quando Jesus foi levado ao tribunal judaico e um oficial Lhe deu uma bofetada, Jesus exigiu uma resposta por aquele ato injusto (Jo 18:23). Os evangelhos deixam claro que Cristo morreu na cruz não porque Ele não tivesse como escapar (Mt 26:53), mas porque voluntária e amorosamente deu a vida pela nossa salvação (Jo 10:17, 18; 18:4-11; 19:11; Fp 2:6-9). A mansidão cristã não é resultado do medo, e sim do amor.
Paulo ensinou os cristãos a viver “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor” (Ef 4:2). Ele explicou que nos alegramos com nosso sofrimento e sabemos que “o amor de Deus é derramado em nosso coração” (Rm 5:3-5). Também esclareceu que Deus manifestou Seu amor por nós quando éramos fracos e pecadores (Rm 5:6-8). João afirmou essa verdade bíblica ao declarar: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4:17-21).
Ao descrever os humanos como fracos, Paulo não depreciou a humanidade, e sim descreveu a realidade da condição humana (ver também Rm 3:26; 7). A Bíblia não considera a fraqueza humana uma luta de classes; ela descreve todos os humanos como desamparados em face do pecado e da morte. Além disso, o cristianismo bíblico não deprecia falsamente a humanidade a fim de enganá-la, fazendo com que as pessoas clamem a Deus por graça. Em vez disso, a Bíblia descreve de forma realista a condição pecaminosa dos seres humanos e retrata um Deus que voluntária e amorosamente Se humilhou para salvar a humanidade arrogante e rebelde (Jo 1:11, 12; 3:16).
Como disse alguém, é preciso força para ser manso! E é preciso poder divino para amar pessoas pecadoras, arrogantes e rebeldes! Talvez um dos exemplos mais memoráveis da mansidão de Jesus tenha sido Sua oração na cruz pelas pessoas que O crucificaram e estavam zombando Dele: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34; veja também Mt 12:15-20; At 8:32; 1Pe 2:21-23). A mansidão é parte do fruto do Espírito; é Deus nos capacitando a vencer os crisóis deste mundo.
A mansidão de Moisés e a ira de Deus
Como poderia Moisés, o servo de Deus, ser apresentado como a pessoa mais mansa na Terra, ao passo que, ao mesmo tempo, a Bíblia retrata Deus como cheio de ira? Precisamos entender que a ira de Deus não é o oposto da mansidão. A ira divina é a reação de Deus ao pecado e Sua repulsa a ele. Contudo, Ele ama genuinamente o pecador. Se Deus fosse arrogante, não teria esperado cerca de 1.600 anos para que os antediluvianos voltassem para Ele. Tampouco teria esperado mais de 400 anos para que os cananeus enchessem o cálice de sua iniquidade, nem teria esperado cerca de 1.500 anos para que os israelitas Lhe fossem fiéis. Da mesma forma, Deus não teria esperado cerca de 2.000 anos para que os cristãos cumprissem sua missão. Um Deus arrogante teria exterminado cada um desses grupos imediatamente. Mas Deus Se dirige a cada um com amor e esperança, chamando-os a retornar a um relacionamento com Ele.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
- Nosso Deus é o comunicador perfeito. Ele diz às pessoas, de forma aberta e compreensível, o que Lhe agrada e o que Ele não aceita. Portanto, Ele não deixa dúvidas a respeito de Seus sentimentos sobre o pecado: o Senhor abomina o pecado. Ao mesmo tempo, Deus não humilha o pecador com o propósito de subjugá-lo. Em vez disso, fala sobre a situação gerada pelo pecado; e, ao mesmo tempo, oferece soluções. Sim, Sua reação contra o pecado é inequívoca, mas também é certo Seu convite aos pecadores para que se reconciliem com Ele. Como podemos ter mansidão e, ao mesmo tempo, denunciar o pecado em nossa vida, na nossa família e em nossa comunidade?
- Pense na ideia de que nossa vida seja uma peça de teatro à qual outros mundos assistem e dela aprendem. Compartilhe com a classe seus sentimentos ao pensar sobre isso. Sua vida muda quando você se conscientiza desse quadro mais amplo?
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De crítico a discípulo
Breno
Brasil | 27 de agosto
Breno nasceu em uma família que praticava uma mistura de cristianismo e ocultismo em Salvador, Brasil. Ele acabou estudando em uma escola adventista do sétimo dia e teve um professor que despertou seu interesse pela leitura da Bíblia.
Mas Breno cresceu e se tornou um adolescente rebelde. Como ele participava de festas e bebia álcool fora do terreno da escola, as regras da escola começaram a incomodá-lo. Parecia que a escola proibia tudo. As meninas não podiam usar brincos. As meninas não podiam usar saias curtas nem esmalte na unha. Pior ainda, os meninos não podiam sentar-se ao lado das meninas na capela da escola. As regras da escola para o comportamento cristão não faziam sentido para ele, e ele questionava toda autoridade.
Quando Breno se formou, parou de ir à igreja e de ler a Bíblia. Ele se tornou um crítico ferrenho do cristianismo e se gabava para seus amigos: “Eu irei para qualquer lugar do mundo, exceto para a igreja”. Ele questionava abertamente a Deus sobre as passagens da Bíblia que não entendia. Ele falava mal da igreja e até terminou com sua namorada adventista.
Cinco anos depois de se formar no colégio, ele recebeu um convite inesperado de um amigo do colégio, Victor, para assistir ao seu batismo. O dia do batismo foi um marco para Victor e Breno. Após seu batismo, Victor apresentou Breno ao pastor adventista. O pastor orou imediatamente por Breno e Victor. Após a oração, o pastor deu um abraço em Breno e convidou-o para ir à igreja para os cultos de adoração.
Breno deixou o batismo pensativo. A oração do pastor e as calorosas boas-vindas tocaram seu coração. Ele queria voltar para a igreja. Breno voltou à igreja para os cultos de sábado, e lá ele encontrou Deus pela primeira vez. Ele conheceu o Deus de amor. Por meio dos sermões do pastor, ele aprendeu mais e mais sobre Cristo, Seu evangelho e Sua graça. Os olhos de Breno foram abertos, e anos de pensamentos negativos desapareceram. Ele se sentiu bem-vindo e amado pelos outros membros da igreja, embora eles não o conhecessem. Eles refletiam o amor de Deus sobre o qual ele ouvia nos sermões de sábado. Pouco depois de voltar à igreja, Breno começou a fazer estudos bíblicos com o pastor. Então, durante a pandemia de COVID-19, em um sábado muito especial, ele foi batizado.
Agora Breno entende que o convite de seu amigo para o batismo mudou sua vida para sempre. “Cristo mudou minha vida completamente”, diz ele. “Em pouco tempo, passei de crítico a discípulo, não pelos meus próprios méritos, mas porque a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável.” Parte da oferta do décimo terceiro sábado ajudará a estabelecer quatro novas igrejas no Brasil, onde outros jovens, como Breno, poderão aprender sobre o amoroso Jesus da Bíblia. Obrigado por planejar uma oferta generosa para o dia 24 de setembro.
Dicas para a história
- Saiba que as regras da escola adventista mencionadas nesta história de missão refletem a Crença Fundamental nº 22 da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre “Conduta Cristã”, que diz em parte: “Somos chamados para ser um povo piedoso que pensa, sente e age em harmonia com os princípios bíblicos em todos os aspectos da vida pessoal e social. Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, só nos envolvemos naquelas coisas que produzem em nossa vida pureza, saúde e alegria semelhantes às de Cristo. Isso significa que nossas diversões e entretenimentos devem corresponder aos mais altos padrões do gosto e beleza cristãos. Embora reconheçamos diferenças culturais, nosso vestuário deve ser simples, modesto e de bom gosto, apropriado àqueles cuja verdadeira beleza não consiste no adorno exterior, mas no ornamento imperecível de um espírito manso e tranquilo”. Leia mais: bit.ly/das-FB22.
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- Baixe publicações sobre a missão e fatos rápidos da Divisão Sul-Americana: bit.ly/sad-2022.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2022
Tema geral: Provados pelo fogo
Lição 10 – 27 de agosto a 3 de setembro de 2022
Mansidão no crisol
Autor: Célio Barcellos
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Conta-se que o mestre Akiba viajava na companhia de um galo e um burro, e com uma lamparina na bolsa. À tardezinha, ao chegar perto de uma cidade, decidiu acampar numa colina que ficava distante daquele lugar. Acendeu a lamparina para ler e meditar um pouco. De repente, eis que um vento forte apagou a luz e Akiba decidiu pacientemente ir dormir, dizendo que Deus sabe o que faz. Ao pegar no sono, veio uma raposa e comeu o galo. Em seguida, surgiu um leão que devorou o burro. Ao amanhecer, Akiba ficou desesperado, pois precisava sair bem cedo, mas o galo não o despertou.
Para sua surpresa, havia percebido que só restavam as penas da ave; quando foi arrumar o burro para a viagem, notou que o animal também tinha servido de alimento para outro bicho. Por fim, Akiba decidiu ir até a cidade. Ao chegar lá, percebeu que uma turba assassina tinha destruído o lugar e matado todas as pessoas. Akiba, com mansidão e paciência, refletiu: “Em tudo dai graças. Se o vento não apagasse a lamparina, os bandidos teriam me encontrado; se o galo não tivesse morrido, eu teria acordado e correria riscos; e se o burro não tivesse sido devorado, o leão certamente teria me devorado”.
No Sermão do Monte, Jesus disse que felizes são “os mansos, porque herdarão a Terra” (Mt 5:5). Os crisóis que surgem na vida exigem do cristão alto controle nas reações. A mansidão faz parte do fruto do Espírito (Gl 5:23). Ser reativo a ponto de perder o controle nas muitas circunstâncias da vida não é uma atitude sábia, mas se torna algo extremamente perigoso. Jesus era muito gentil e amável. As pessoas tinham prazer em estar na Sua companhia por causa de Sua mansidão. A Sua revolta no templo, ao ver os cambistas fazendo comércio dos sacrifícios, é uma exceção que precisa ser analisada à luz da Sua divindade. Ellen White diz que aquela ação foi a manifestação divina.
A mansidão que Deus quer ver em Seu povo “é aquela disposição de espírito com a qual aceitamos Sua forma de lidar conosco como a melhor, sem, no entanto, disputar ou resistir […]. São aqueles que confiam inteiramente em Deus, mais do que em suas próprias forças, para defendê-los contra toda injustiça” (James Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong [Sociedade Bíblica do Brasil, 2002]).
A pessoa mansa não está centrada em seu egoísmo na busca da solução para os problemas e adversidades da vida. Na verdade, seu controle da situação passa pela obra do Espírito Santo em sua vida. Isso parece uma contradição em relação às reações e ensinamentos do mundo, mas o cristão é alguém “politicamente incorreto”. Se o mundo diz que é preciso ludibriar para se dar bem, o cristão reparte o que lhe pertence; se o mundo ensina que a regra deve ser “bateu, levou”, o cristão prefere se afastar para evitar danos; se o mundo prefere o egoísmo, o cristão defende o altruísmo. Esse é o papel da mansidão nos crisóis da vida.
O filme Terra Selvagem relata a história de um grupo de missionários que foi surpreendido por selvagens na ilha escolhida para uma missão evangelística. Embora os missionários tenham sido agredidos e brutalmente assassinados, demonstraram até o fim a mansidão que estava no coração. As viúvas desses missionários decidiram prosseguir com o trabalho dos maridos e foram até aquela terra selvagem para pregar o evangelho aos habitantes das tribos. Os assassinos se converteram e, num encontro do líder tribal com um dos filhos do pastor que ele havia assassinado, houve momentos de choro e arrependimento pelo crime que havia sido cometido. Numa atitude inesperada, aquele índio colocou a lança nas mãos do jovem para que ele vingasse a morte do pai. Naquele momento, o jovem permitiu que a mansidão e o perdão reinassem, e não a vingança.
Jesus disse que “os mansos herdarão a Terra. Não se deixe dominar por sentimentos contrários ao evangelho. Não permita que as circunstâncias, por mais difíceis que sejam, tire o controle da sua vida. A citação do Salmo 37:11 por Jesus no Sermão do Monte mostra que os mansos se “deleitarão na abundância de paz”. Não foi qualquer um que disse isso. Não foi uma promessa lançada ao vento, mas foi Cristo que garantiu que “os mansos herdarão a Terra”.
Entretanto, ainda que mansidão seja uma virtude de alguém que não alimenta rancor no coração, ela não pode ser confundida com fraqueza. O que precisa ficar entendido é que a “mansidão não consiste em possuir uma coluna vertebral elástica, uma característica da pessoa que está pronta a curvar-se ao sabor de toda brisa. Mansidão é submissão ante qualquer provação, a disposição de sofrer em vez de causar dano” (William Hendriksen, Mateus: Comentário do Novo Testamento [São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2ª ed., 2010], v. 1, p. 335).
Muitos cristãos desenvolvem a mansidão quando permitem que o Espírito os use. Para alguém acostumado a revidar e não deixar barato quando são ofendidos e provocados, não é nada fácil manter o autocontrole diante de tais afrontas. Porém, o evangelho é o remédio para todas as dificuldades que caracterizam os diversos temperamentos das pessoas que se unem à igreja de Cristo. Imagine o desafio de suportar falsas acusações e ter que lidar de forma mansa com a fúria da opinião pública.
Na noite de 17 de agosto de 1980, o bebê Azaria Chamberlain foi tirado de uma barraca por um cão selvagem em uma localidade próxima a Ayers Rock, na Austrália. A família Chamberlain estava em um acampamento quando foi surpreendida com essa situação desesperadora. Com o início das investigações, a culpa recaiu sobre a mãe da criança, Lindy Chamberlain, que foi condenada à prisão perpétua. No entanto, tempos depois, a prisão foi revogada. A vida dessa família foi destruída com as acusações de assassinato (ver o filme Um Grito no Escuro, estrelado por Meryl Streep e Sam Neil, e que conta esse drama real).
O que fazer numa situação dessa? Como suportar tamanho crisol? Como obter a mansidão necessária para sobrevier a uma enxurrada de acusações diante da morte de uma criança? Não é fácil, de uma hora para outra, ter que conviver com as ilações da opinião pública sem ter ninguém para defender você. Jesus passou por isso ao ser associado a Belzebu por ter libertado pessoas das garras de Satanás (Mt 12:22-24); Ele também foi chamado de pecador por estar próximo a pessoas desprezadas pela sociedade, além de receber o vitupério da cruz.
Parece fácil a atitude de Jesus ao lidar com todo tipo de acusação, pelo fato de que Ele é Deus. No entanto, é preciso reconhecer que Ele assumiu a natureza humana e, em Sua humanidade, Ele poderia ter reações diversas. No entanto, Cristo escolheu a cautela, a mansidão para lidar com tudo sem Se deixar afetar emocionalmente e colocar em risco a redenção humana. Ele escolheu a mansidão durante os crisóis da provação. Jesus entendeu que não adiantaria perder a paciência e resolver as coisas à maneira humana, mas devia depender de Deus e manter o equilíbrio em cada situação.
Portanto, para obter a mansidão que Cristo quer que tenhamos é preciso resiliência espiritual à semelhança de homens como Moisés em suas lutas com o povo, Daniel no reino na corte do rei Nabucodonosor, os três hebreus na fornalha ardente, Estêvão no momento da morte e tantos outros que escolheram a mansidão em lugar da reação negativa. Esses homens suportaram os crisóis na dependência do Espírito Santo. Não permitiram que os temperamentos fossem moldados pela carne, mas se submeteram à influência do Céu.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Célio Barcellos é pastor no distrito de Pirassununga, na Associação Paulista Central. Atualmente cursa jornalismo e possui MBA em Liderança Missional. Contribui com artigos em veículos denominacionais e seculares, além de transcrever palestras e pregações para auxiliar a igreja. É natural de Itaúnas/Conceição da Barra, ES. Casado com Salomé Barcellos, tem dois filhos, Kairos Álef, de 18 anos, ilustrador e estudante de Arquitetura, e Krícis Barcellos, de apenas 10 anos.