Lição 5
28 de outubro a 04 de novembro
A fé de Abraão
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Lc 23, 24
Verso para memorizar: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Rm 3:31).
Leituras da semana: Gn 15:6; 2Sm 11; 12; Rm 3:20, 31; 4:1-17; Gl 3:21-23; 1Jo 3:4

Em muitos aspectos, Romanos 4 vai ao fundamento da doutrina bíblica da salvação unicamente pela fé e ao cerne do que foi iniciado pela Reforma Protestante. Nesta semana, esse movimento que começou com Lutero completa 500 anos, e os protestantes fiéis nunca olharam para trás.

Ao usar Abraão, modelo de santidade e virtude, como exemplo de alguém que precisou ser salvo pela graça, sem as obras da lei, Paulo não deixou espaço para equívocos. Se as obras e o cumprimento da lei não foram suficientes para justificar perante Deus aquele que era o “melhor”, que esperança temos? Se a salvação de Abraão teve que ser pela graça, todos os outros, judeus e gentios, devem receber a salvação da mesma forma.

Em Romanos 4, Paulo revelou três etapas principais no plano da salvação: (1) a promessa da bênção divina (a promessa da graça), (2) a resposta humana a essa promessa (a resposta da fé) e (3) o pronunciamento divino da justiça creditada àqueles que creem (justificação). Foi assim com Abraão e é assim conosco.

Para provar seu argumento sobre a salvação unicamente pela fé, Paulo citou as seguintes palavras do livro de Gênesis: “Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gn 15:6, NVI). Perceba a justificação pela fé em uma das primeiras páginas da Bíblia.



Domingo, 29 de outubro
Ano Bíblico: Jo 1–3
A lei

1. Qual é o argumento de Paulo em Romanos 3:31? Por que ele é tão importante? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) Embora sejamos salvos pela graça mediante a fé, a obediência à lei moral continua valendo. A lei mantém sua função ética.

B.( ) A lei é superior à fé. Devemos nos apegar à lei, pois cumprindo-a, seremos salvos.

Nessa passagem, Paulo afirmou enfaticamente que a fé não anula a lei de Deus. Porém, mesmo aqueles que guardavam a lei ou todo o corpo de leis do Antigo Testamento nunca foram salvos por essa prática. A religião do Antigo Testamento, assim como a do Novo, sempre teve como base a graça de Deus, concedida aos pecadores pela fé.

2. Leia Romanos 4:1-8. Por que no Antigo Testamento a salvação era pela fé e não pelas obras da lei? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Abraão se tornou justo porque creu; Davi afirmou que é feliz aquele a quem Deus atribui justiça, independentemente da lei.

B.( ) Abraão teve que demonstrar que merecia ser salvo. Davi recomendou obediência à lei como meio de salvação.

De acordo com essa narrativa do Antigo Testamento, Abraão foi considerado justo porque “creu em Deus”. Portanto, o próprio Antigo Testamento ensina a justificação pela fé. Assim, é falsa a conclusão de que a fé “anula” (do grego katargeo, que significa “torna inútil” ou “invalida”) a lei. A salvação pela fé faz parte do Antigo Testamento. A graça é ensinada em todas as suas páginas. Por exemplo, o que foi o ritual do santuário, senão uma representação de como os pecadores são salvos, não por suas próprias obras, mas pela morte de um substituto?

Além disso, o que mais pode explicar o perdão concedido a Davi após seu caso sórdido com Bate-Seba? Certamente, não foi a lei que o salvou, pois ele transgrediu tantos princípios da lei que ela o condenou em inúmeros aspectos. Se Davi tivesse que ser salvo pela lei, ele jamais teria alcançado a salvação.

Paulo apresentou a restauração de Davi ao favor divino como um exemplo de justificação pela fé. O perdão foi um ato da graça de Deus. Aqui, então, está outro exemplo de justificação pela fé no Antigo Testamento. Na verdade, por mais legalistas que muitas pessoas fossem no antigo Israel, a religião judaica sempre foi uma religião da graça. O legalismo foi uma perversão dela, não seu fundamento.

Reflita sobre o pecado e a restauração de Davi (2Sm 11; 12; Sl 51). Que esperança você tem a partir dessa história? Como devemos tratar aqueles que caíram?


Segunda-feira, 30 de outubro
Ano Bíblico: Jo 4–6
Dívida ou graça?

A questão com a qual Paulo estava lidando era muito mais do que apenas teologia. Ela vai à essência da salvação e do nosso relacionamento com Deus.
Se alguém acredita que deve merecer aceitação, que deve chegar a um certo padrão de santidade antes de ser justificado e perdoado, então é muito natural olhar para si mesmo e para as próprias obras. A religião pode se tornar excessivamente egocêntrica, a última coisa de que alguém precisa.

Em contrapartida, se alguém compreende a grande notícia de que a justificação é um dom de Deus, totalmente imerecido, é muito mais fácil e natural que essa pessoa dirija seu foco para o amor e a misericórdia de Deus, não para si mesmo.

Afinal, quem refletirá mais o amor e o caráter de Deus: o egocêntrico ou aquele que está centrado em Deus?

3. Leia Romanos 4:6-8. Como Paulo expandiu o tema da justificação pela fé?

“O pecador tem que ir a Cristo, com fé, apropriar-se de Seus méritos, depor seus pecados sobre o Portador dos pecados e receber Seu perdão. Foi por causa disso que Cristo veio ao mundo. Assim é imputada a justiça de Cristo ao pecador arrependido e crente. Torna-se então membro da família real” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 215).

Paulo continuou explicando que a salvação pela fé não era apenas para os judeus, mas também para os gentios (Rm 4:9-12). Na verdade, tecnicamente, Abraão não era judeu; ele veio de uma linhagem pagã (Js 24:2). A distinção entre gentios e judeus não existia em seu tempo. Quando Abraão foi justificado (Gn 15:6), ele nem mesmo foi circuncidado. Assim, Abraão se tornou pai de ambos, circuncisos e incircuncisos, bem como um grande exemplo que Paulo pôde usar para apresentar seu argumento sobre a universalidade da salvação. A morte de Cristo foi em favor de todos, independentemente da origem ou nacionalidade (Hb 2:9).

Considerando a universalidade da cruz e o que ela nos revela sobre o valor de cada ser humano, por que é tão terrível o preconceito racial, étnico ou nacional? Somos preconceituosos? Como vencer essa atitude?

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Terça-feira, 31 de outubro
Ano Bíblico: Jo 7–9
A promessa

Hoje faz 500 anos que Martinho Lutero pendurou suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg. É maravilhoso o fato de que o assunto de hoje também aborda a essência da salvação pela fé.

Em Romanos 4:13, “promessa” e “lei” são contrastadas. Paulo estava buscando estabelecer um pano de fundo do Antigo Testamento para seu ensino da justificação pela fé. Ele encontrou um exemplo em Abraão, a quem todos os judeus aceitavam como antepassado deles. A aceitação ou a justificação havia ocorrido para Abraão completamente à parte da lei. Deus fez uma promessa a Abraão de que ele seria “herdeiro do mundo”. Abraão creu nessa promessa; ou seja, ele aceitou a função que ela envolvia. Como resultado, Deus o aceitou e trabalhou por meio dele para salvar o mundo. Esse é um exemplo poderoso de como a graça atuava no Antigo Testamento e, sem dúvida, foi por isso que Paulo o usou.

4. Leia Romanos 4:14-17. De que maneira Paulo continuou mostrando como a salvação pela fé era central no Antigo Testamento? Veja também Gl 3:7-9.

Como dissemos no início, é importante considerar as pessoas para quem Paulo estava escrevendo. Esses cristãos judeus estavam imersos na lei do Antigo Testamento, e muitos deles acreditavam que sua salvação dependia de quão bem eles guardassem a lei, embora o Antigo Testamento não ensinasse isso.

Na tentativa de corrigir esse equívoco, Paulo argumentou que Abraão recebeu as promessas mesmo antes da lei no Sinai, não pelas obras da lei (o que teria sido difícil, uma vez que a lei – isto é, toda a Torá e o sistema cerimonial – ainda não estavam em vigor), mas pela fé.

Se Paulo estivesse se referindo exclusivamente à lei moral ali, a que existia em princípio mesmo antes do Sinai, o argumento permanece o mesmo. Talvez ainda mais! Buscar receber as promessas de Deus por meio da lei, ele disse, torna a fé vazia, até inútil. Essas são palavras fortes, mas seu argumento foi que a fé salva, e a lei condena. Ele estava tentando ensinar sobre a inutilidade de buscar a salvação mediante a mesma coisa que nos leva à condenação. Todos nós, judeus e gentios, transgredimos a lei e, portanto, todos necessitamos da mesma coisa de que Abraão necessitou: a justiça salvadora de Jesus creditada a nós pela fé, a verdade que por fim levou à Reforma Protestante.



Quarta-feira, 01 de novembro
Ano Bíblico: Jo 10, 11
Lei e fé

Como vimos ontem, Paulo mostrou que a maneira pela qual Deus tratou Abraão prova que a salvação vem mediante a promessa da graça e não por meio da lei. Portanto, se os judeus desejassem ser salvos, teriam que abandonar a confiança em suas obras e aceitar a promessa abraâmica, agora cumprida na vinda do Messias. Assim também é para todos, judeus ou gentios, que pensam que suas “boas” obras são tudo o que é necessário para torná-los justos diante de Deus.

5. “O princípio de que o homem pode se salvar por suas próprias obras, […] está na base de toda religião pagã […]. Onde quer que seja mantido, os homens não têm barreira contra o pecado” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 21). O que isso significa? Por que a ideia de que podemos nos salvar por meio de nossas obras nos deixa tão abertos ao pecado?

6. Como Paulo explicou a relação entre a lei e a fé em Gálatas? (Veja Gl 3:21-23). Complete as lacunas:

A fé nos _________________ de estar debaixo da _________________, sob sua _________________.

Se houvesse uma lei que pudesse dar vida, certamente teria sido a lei de Deus. No entanto, Paulo disse que nenhuma lei pode dar vida, nem mesmo os mandamentos de Deus, pois todos transgrediram essa lei e, portanto, todos são condenados por ela.

Mas a promessa da fé, mais plenamente revelada por Cristo, liberta todos os crentes da condição em que estão “debaixo da lei”; isto é, a situação em que são condenados e oprimidos por tentar ganhar a salvação por meio dela. A lei se torna um fardo quando é apresentada sem fé, sem graça, pois sem fé, sem graça, sem a justiça que vem pela fé, estar debaixo da lei significa estar debaixo do fardo e da condenação do pecado.

 

A justificação pela fé é algo fundamental em sua caminhada com Deus?

De 19 a 26 de novembro, teremos o evangelismo de colheita, em toda a América do Sul. Para alcançar sucesso, é essencial: (1) realizar o trabalho das classes bíblicas; (2) acompanhar os resultados da atuação das duplas missionárias; (3) desafiar cada pessoa a orar por um amigo e convidá-lo a assistir ao evangelismo; (4) fortalecer os ministérios de visitação e recepção.

Quinta-feira, 02 de novembro
Ano Bíblico: Jo 12, 13
A lei e o pecado

Muitas vezes ouvimos pessoas dizendo que a lei foi abolida na nova aliança, e então elas citam textos que supostamente provam esse argumento. A lógica por trás dessa afirmação, no entanto, não é muito sólida, nem a teologia.

7. Leia 1 João 2:3-6; 3:4 e Romanos 3:20. O que esses textos revelam sobre a relação entre lei e pecado? Complete as lacunas:

“Ninguém será ___________ diante dEle por obras da ______________, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do ______________” (Rm 3:20).

Há centenas de anos, o escritor irlandês Jonathan Swift escreveu: “Mas será que algum homem dirá que, se as palavras ‘beber’, ‘trapacear’, ‘mentir’ e ‘roubar’ fossem expulsas da língua portuguesa e dos dicionários, deveríamos acordar na manhã seguinte temperantes, honestos, justos e amantes da verdade? Essa seria uma consequência razoável?” (Jonathan Swift, A Modest Proposal and Other satires [Uma Proposta Modesta e Outras Sátiras] [Nova York: Prometheus, 1995] p. 205).

Da mesma forma, se a lei de Deus foi abolida, então por que mentir, assassinar e roubar ainda é pecado ou errado? Se a lei de Deus foi mudada, então a definição de pecado também deve ser mudada. Ou se a lei de Deus foi abolida, então o pecado também deve ser, e quem crê nisso? (Veja também 1Jo 1:7-10, Tg 1:14, 15).

No Novo Testamento, aparecem tanto a lei como o evangelho. A lei mostra o que é o pecado; o evangelho indica o remédio para esse pecado, que é a morte e a ressurreição de Jesus. Se não há lei, não há pecado, e então, do que somos salvos? Somente no contexto da lei e em sua validade continuada o evangelho tem sentido.

Muitas vezes ouvimos que a cruz anulou a lei. Isso é bastante irônico, pois a cruz mostra que a lei não pode ser revogada nem alterada. Se Deus não revogou nem mesmo mudou a lei antes de Cristo morrer na cruz, por que fazê-lo depois? Por que não se livrar da lei depois que o homem pecou e assim poupá-lo da punição legal que a transgressão da lei acarreta? Dessa maneira, Jesus nunca precisaria ter morrido. A morte de Jesus mostra que, se a lei pudesse ter sido alterada ou abolida, isso deveria ter sido feito antes da cruz, não depois. Portanto, nada revela mais a validade continuada da lei do que a morte de Jesus, uma morte que ocorreu precisamente porque a lei não podia ser mudada. Se a lei pudesse ter sido alterada para satisfazer nossa condição caída, isso não teria sido uma solução melhor para o problema do pecado do que Jesus ter que morrer?

Se não existisse a lei divina contra o adultério, esse ato causaria menos dor e mágoa às vítimas da infidelidade? Sua resposta o ajuda a entender por que a lei de Deus ainda está em vigor? Qual tem sido sua experiência com as consequências da transgressão da lei de Deus?


Sexta-feira, 03 de novembro
Ano Bíblico: Jo 14, 15
Estudo adicional

Leia, de Ellen G. White, “Cristo, o Centro da Mensagem”, p. 388, em Mensagens Escolidas, v. 1; “A Vocação de Abraão”, p. 125-127; “A Lei e as Alianças”, p. 363, 364, em Patriarcas e Profetas; “O Sermão da Montanha”, p. 307, 308; “Conflito”, p. 608; “Está Consumado”, p. 762, 763, em O Desejado de Todas as Nações.

“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida” (Rm 4:4). O apóstolo explicou nesse verso a passagem citada (Gn 15:4-6) para concluir e provar que a justificação é pela fé e não pelas obras. Ele fez isso, em primeiro lugar, ao explicar o significado das palavras ‘e isso lhe foi imputado para justiça’. Essas palavras explicam que Deus recebe (pecadores) pela graça e não por causa de suas obras” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 82).

“Se Satanás consegue levar o homem a valorizar suas próprias obras como obras de mérito e justiça, ele sabe que pode vencê-lo mediante suas tentações e fazer dele sua vítima e presa […]. Passe nos batentes das portas o sangue do Cordeiro do Calvário, e estarás seguro” (Ellen G. White, Advent Review and
Sabbath Herald
, 3 de setembro de 1889).

Perguntas para discussão

1. Por que é importante entender a salvação somente pela fé, sem as obras da lei? De quais erros esse conhecimento nos protege? Quais perigos aguardam aqueles que perdem de vista esse ensinamento bíblico crucial?

2. Quais outras razões podemos dar para apoiar a validade da lei de Deus, mesmo quando entendemos que a obediência a ela não nos salva?

3. A questão fundamental no cerne da Reforma é: Como somos salvos? Quais são as diferenças entre protestantes e católicos quanto a esse assunto importante?

4. Sendo pecadores justificados, recebemos a imerecida graça de Deus, contra quem pecamos. Como esse fato deve impactar nossa maneira de lidar com os outros? Somos graciosos para com aqueles que nos prejudicam e realmente não merecem nossa graça nem favor?

Respostas e atividades da semana: 1. V; F. 2. A. 3. Peça que um dos alunos explique à classe o tema da justificação pela fé. 4. Peça aos alunos que façam duplas e encontrem novos personagens do Antigo Testamento a quem a graça alcançou poderosamente. 5. Peça que os alunos relacionem justificação pelas obras à exposição ao pecado. Pergunte a eles se desejam compartilhar suas respostas. 6. Liberta – lei – tutela. 7. Justificado – lei – pecado.



Resumo da Lição 5
A fé de Abraão

TEXTO-CHAVE: Romanos 3:31

O ALUNO DEVERÁ

Saber: Perceber, de modo adequado, o relacionamento entre a visão de Paulo acerca da justificação pela fé e o contexto do assunto no Antigo Testamento.

Sentir: Apreciação profunda e sincera pela unidade do Antigo e Novo Testamentos sobre a questão da justificação unicamente pela fé.

Fazer: Buscar maneiras de tornar esse assunto uma experiência que possa ser compartilhada com outros como algo fundamentado na Bíblia.

ESBOÇO

I. Saber: O ensino de Paulo acerca da justificação não é novo

A. Esse tema está fundamentado em importantes testemunhos do Antigo Testamento, inclusive a lei de Moisés e os Salmos de Davi. Por que isso é importante?

B. Qual foi o testemunho fundamental que Moisés e Davi deram quanto ao significado da justificação?

C. Qual é o contexto de Romanos 4 em relação a Romanos 3 e 5?

II. Sentir: O ensino de Paulo acerca da justificação não é algo moderno

A. Por que é importante saber que as realizações morais e cerimoniais não justificam os pecadores?

B. Pode surgir uma melhor consciência da certeza de salvação pelo conhecimento claro do que envolve a justificação pela fé?

III. Fazer: Compreender a relação correta entre perdão e obediência em Romanos 4

A. Por que o vínculo entre justificação e santificação é vital para a prosperidade moral e espiritual?

B. Como nossa compreensão clara acerca do correto relacionamento entre lei e graça pode nos auxiliar em nosso testemunho aos cristãos confusos e aos não cristãos que buscam a salvação?

RESUMO: É fundamental compreender que a justificação tem por base o testemunho da Bíblia como um todo.

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Romanos 3:31

Conceito-chave para o crescimento espiritual: A justificação unicamente pela fé pode ser somente uma convicção doutrinária para muitas pessoas, mas, para Abraão e Davi, foi uma realidade em sua experiência espiritual. E pode ser assim para todos os crentes.

Para o professor: Depois que Paulo introduziu a doutrina da justificação pela fé, ele passou a ilustrar a fé salvífica do Antigo Testamento na vida de Abraão (em Gênesis) e Davi (nos Salmos). Desse modo, esse ensino é confirmado por duas pessoas muito importantes no Antigo Testamento.

Discussão inicial: Pergunte aos alunos se eles já foram confrontados por cristãos que alegam estar no tempo do Novo Testamento e que, por isso, afirmam estar sob a graça, não sob a lei. Com base na lição desta semana, qual seria a melhor resposta?

Perguntas para discussão

1. Qual seria a consequência de afirmar que os santos do Antigo Testamento foram salvos pela lei e pelas obras, ao passo que os crentes do Novo Testamento são salvos pela fé? Explique.

2. Qual é a vantagem dos crentes do Novo Testamento, se há alguma, sobre os santos do Antigo Testamento?

Compreensão

Para o professor: Nas passagens bíblicas da lição desta semana, precisamos explorar especialmente a maneira pela qual Paulo utilizou o Antigo Testamento para demonstrar sua doutrina da justificação. Lembre-se de que sua exposição da justificação começou, de modo mais claro e completo, em Romanos 3:21 e vai até Romanos 5:20. Nesse contexto, quais são os argumentos bíblicos principais em Romanos 3 e 4?

Comentário bíblico

I. A conexão entre a fé em Cristo, a lei de Moisés e personagens importantes do Antigo Testamento

(Recapitule com a classe Rm 3:31; 4:1-8.)

Em Romanos 3:31, Paulo sabiamente expôs a questão da relação entre lei, graça e fé. A seguir, ele começou imediatamente sua exposição apresentando a vida e o testemunho do patriarca Abraão e do rei Davi, registrados nas Escrituras. Desse modo, demonstrou que não somente a lei (os primeiros cinco livros da Bíblia), mas também os profetas e os escritos (especialmente os salmos de Davi) apoiam sua tese. Em vista das suposições de seus oponentes judaizantes, essa abordagem foi uma brilhante jogada interpretativa. Paulo foi bem específico ao citar Gênesis 15:6 (a lei de Moisés): “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4:3). Ele também citou o Salmo 32:1, em que Davi (cuja história está inserida nos profetas do Antigo
Testamento) declarou: “Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4:6) da lei.

Pense nisto: Por que a lei não é anulada? Longe de ser anulada, ela foi positivamente confirmada pela demonstração de que o Antigo Testamento aponta para a justificação pela fé, não pelas obras da lei, como base para a salvação do pecado. Na verdade, se a justificação tivesse por base a obediência humana, facilmente ocasionaria desespero ou presunção. E, na prática, esses dois resultados costumam levar ao antinomismo (tornando a lei nula – inválida).

II. A justificação unicamente pela fé é especialmente poderosa no caso do rei Davi

(Recapitule com a classe 2Sm 11; 12; Sl 51.)

Em 2 Samuel 11, encontramos um dos mais sórdidos casos de pecado no Antigo Testamento. Ali estão registrados o adultério de Davi e os subsequentes atos de engano. Esses pecados ocasionaram o assassinato de Urias, o heteu, a perda do respeito por Davi, por seu governo real e por sua autoridade.

Pergunta para discussão: Como o elevado custo e prejuízos dos pecados de Davi inevitavelmente indicam o gracioso e elevado preço do perdão de Deus – a substitutiva e satisfatória morte de Cristo?

III. Paulo argumenta que a salvação não é somente para judeus, mas também para os gentios

(Recapitule com a classe Rm 4:9-12.)

O ponto central desses versos é que, no momento em que foi declarado justo diante de Deus, Abraão não era tecnicamente um judeu. E isso aconteceu antes da sua experiência da circuncisão. Assim, Abraão se tornou uma importante testemunha da justificação pela fé (sem as obras da lei) e da universalidade da salvação – para crentes judeus e gentios (Hb 2:9).

Pense nisto: Como um cristão pode se atrever a se envolver em discriminação racial (étnica), de classe e nacional, visto que a salvação está disponível a todos os seres humanos, e que eles receberam valor infinito? A morte de Cristo por todos os seres humanos foi planejada para dar um golpe mortal na intolerância. Quais versões dessa variedade de preconceito podem estar espreitando em nossa alma?

IV. Lutero, a Reforma e a salvação pela fé

(Recapitule com a classe Rm 4:13-17.)

De que maneira Paulo foi direto ao âmago dos temas contrastantes da “promessa” e da “lei” em Romanos 4:13, e como esses temas foram desenvolvidos no caso de Abraão? Para Paulo, a fé salva e a lei (inclusive a lei moral) condena o pecado. Assim, ele estava tentando demonstrar a inutilidade de buscar a salvação por meio do que causa a condenação (a lei). Portanto, porque todos pecaram, todos os seres humanos precisam do que Abraão descobriu: justiça salvadora. Essa justiça é creditada a todos os pecadores (judeus e gentios) unicamente pela fé – verdade fundamental que levou à Reforma Protestante.

Pense nisto: Precisamos nos lembrar de que exatamente 500 anos atrás, em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero pregou as famosas “95 teses” na porta da igreja do castelo de Wittenberg, Alemanha. De modo muito oportuno, o assunto da Lição da Escola Sabatina desta semana vai direto à essência da salvação pela fé.

Esta seção foi iniciada com uma pergunta: De que maneira Paulo foi direto ao âmago dos temas contrastantes da “promessa” e da “lei” em Romanos 4:13, e como esses temas foram desenvolvidos no caso de Abraão? Qual é a resposta?

V. A questão da “fé somente” inspirou a explicação de Paulo não apenas em Romanos, mas também em Gálatas 3:21-24

(Recapitule com a classe Gálatas 3:21-24.)

Paulo perguntou: “É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus?”. Então, ele imediatamente respondeu de modo enfático: “De modo nenhum!” (Gl 3:21). Na verdade, de maneira ousada ele continuou a sugerir que a lei mantém os crentes “sob tutela”, claramente indicando e preservando-os para a fé que “haveria de revelar-se”. Portanto, em Cristo e Sua justiça, a lei se transforma em “tutor” para levar os filhos de Deus a Cristo – o grande Justificador por meio da fé somente (Gl 3:23, 24).

Pense nisto: Por que podemos concluir que Gálatas é “cortado do mesmo tecido redentivo” de Romanos?

VI. A justificação somente pela fé esclarece as funções da lei na salvação

(Recapitule com a classe Rm 3:31.)

Muitos afirmam que Romanos 3:31 ensina que a graça elimina a lei. Mas efetivamente eliminar a lei seria negar o pecado. Então, a graça se tornaria desnecessária.

Qual seria uma resposta adequada aos que afirmam que Romanos 3:31 elimina a lei? Para responder essa questão, reflita sobre o incidente a seguir. Um evangelista experiente certa vez compartilhou a seguinte abordagem em resposta a pessoas que dizem que “a graça elimina a lei”: “Perguntei: ‘Vocês podem cantar ‘Graça Excelsa’ [Hinário Adventista, 208] com alguma lógica convincente?’ Então lhes disse que eles não podem cantar esse hino com convicção! Por quê? Porque, se você elimina a lei, você não tem pecado e por isso não precisa da graça! Tenho a lei como minha ‘tutora’ para me convencer do pecado, e isso me inspira a cantar ‘Graça Excelsa’”!

Pense nisto: Como o evangelista observou, sem a lei é impossível cantar “Graça Excelsa” com convicção. Por que a teologia que elimina a lei é hostil ao evangelho da graça?

Aplicação

Para o professor: Chegamos a um momento importante no estudo de Romanos. Paulo dedicou atenção adicional às implicações da graça justificadora em Romanos 5. O professor deve aproveitar a oportunidade para fazer as seguintes perguntas aos alunos:

Perguntas para reflexão

1. Você compreende bem a correta relação entre lei, pecado e graça perdoadora ou justificadora? Formule seu próprio testemunho para expressar sua compreensão acerca da dinâmica entre lei e graça.

2. Como distinguir entre legalismo e verdadeira obediência gerada pela graça?

3. Quais são algumas marcas de uma experiência genuína com a justiça imputada de Deus?

4. Como podemos tornar a experiência da graça justificadora mais relevante em nossa apresentação do tema do “grande conflito”?

Criatividade e atividades práticas

Para o professor: Para alcançar cristãos não adventistas, religiosos não cristãos e pessoas conhecidas secularizadas, convide os alunos a considerar e planejar as atividades abaixo.

Atividades

1. Em relação à saúde pública, quais ministérios podem ser úteis em seu bairro ou município? (Por exemplo, projetos de saúde, assistência social, etc.)

2. Reflita como nossos conceitos bíblicos acerca do livre-arbítrio dado por Deus poderiam ser apresentados para promover atividades relacionadas à liberdade religiosa em seu contexto político ou comunitário.

Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?


Três milagres no hospital

Natalya foi batizada aos 19 anos na Igreja Adventista do Sétimo Dia porque desejava ser integrada entre os fiéis, mas abandonou a igreja seis meses depois. Ela permaneceu afastada durante 33 anos. Mas três milagres, todos envolvendo familiares no hospital, trouxeram-na de volta a Jesus.

O primeiro milagre

O primeiro milagre aconteceu quando uma de suas irmãs, Olga, adoeceu. Ela é uma adventista fiel e vive em outra cidade. Ela havia sido submetida a três cirurgias complicadas. Quando o médico disse que ela precisaria de uma quarta cirurgia, Olga pediu que Natalya orasse.

“Estou com medo”, Olga disse. Ela explicou que a radiografia identificara uma massa estranha crescendo dentro do seu corpo e parecia câncer.

Natalya se ajoelhou e começou a orar. Ela prometeu que abandonaria a bebida alcóolica, o cigarro e a carne de porco se Deus curasse sua irmã. Durante as duas semanas em que orou, antes da cirurgia, ela parou de beber, fumar e comer alimentos imundos.

No dia da cirurgia, Olga enviou uma mensagem do hospital. Ela escreveu: “Eles não fizeram a cirurgia. Estou voltando para casa.”

Aparentemente, seus piores medos haviam se tornado realidade. Olga teria um câncer inoperável? Natalya telefonou para Olga e perguntou: “O que aconteceu? Por que os médicos não operaram?”

Olga disse: “Antes de entrar na sala de cirurgia, os médicos tiraram outra radiografia. Dessa vez, eles não encontraram nada errado. Estou curada!”

Que alívio! Natália agradeceu a Deus todos os dias daquela semana. Na manhã de sábado, entretanto, ela foi normalmente ao trabalho. Um conflito surgiu dentro do seu coração. Ela se sentiu muito mal por quebrar a lei de Deus trabalhando no sábado logo depois que Ele havia salvado a vida de sua irmã.

Finalmente, Natalya parou o que estava fazendo e foi à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela chegou a tempo para a Escola Sabatina. Imediatamente sua mente ficou em paz. Percebeu que estava em casa novamente. Naquele dia, entregou o coração a Jesus.

O segundo milagre

Quatro anos se passaram. Em 2015, sua idosa mãe sofreu um derrame. Natalya e as irmãs correram ao hospital e a encontraram deitada e olhando fixamente para as filhas. Essa mulher forte, uma adventista que havia criado quatro mulheres, não conseguia fazer nada a não ser encará-las sem expressão.

A família orou pela mãe durante duas semanas. Ela se recuperou lentamente, mas permaneceu paralisada. Finalmente, levaram-na para casa.

Uma semana após receber alta, a mãe se levantou repentinamente e começou a caminhar. Sua bisneta de nove anos de idade gritou de alegria quando viu o que havia acontecido. “Vamos agradecer a Deus!”, ela disse. E foi o que a família fez.

O terceiro milagre

Então, em 2016, seu idoso pai, com 79 anos de idade, ficou gravemente ferido ao sofrer um acidente de trânsito em outra cidade. Um ônibus o atingiu enquanto andava em sua bicicleta. Ele foi levado às pressas ao hospital em condições críticas.

O pai era um ateu declarado. Quando Natalya tinha 13 anos, seus pais se divorciaram. Posteriormente, ele se casou novamente. Ao descobrir que a filha havia retornado à igreja, o pai parou de conversar com ela e jogou fora todos os DVDs de sermões e filmes cristãos que ela enviara para ele pelo correio. Duas semanas antes do acidente, ele rasgou uma Bíblia que a filha lhe dera.

Agora ele estava hospitalizado e em coma. A família morava longe e não podia ir visitá-lo.

Quando Olga, irmã de Natalya, e a mãe estavam no hospital, todos oraram para que Deus as curasse. Mas no caso do pai, a mãe e o restante dos familiares suplicaram a Deus para que o acordasse, e tivesse tempo suficiente para se arrepender. Elas oraram para que ele aceitasse a Jesus.

No terceiro dia, o pai acordou lúcido e perguntou aos parentes o que havia acontecido. Ele queria saber por que estava no hospital. Três horas depois, ele faleceu. Somente Deus sabe o que se passou em sua mente durante esses momentos finais. Mas Natalya é grata a Deus porque o pai teve uma última oportunidade de arrependimento.

Depois da terceira resposta à sua oração, o coração de Natalya havia sido realmente atraído para Deus. Ela compreendeu que Deus realmente ouve e responde às orações.

Todos devem orar por sua família, por seus filhos, pais e vizinhos. Deus ouve e responde às orações fervorosas de Seus filhos.

Parte da oferta do trimestre ajudará na construção de um centro comunitário na cidade de Natalya, Rostov do Don, Rússia. Junte-se a ela nas orações por esse projeto e nas ofertas missionárias para a Escola Sabatina, que ajudarão a espalhar a Palavra de Deus por todo o mundo.

Resumo missionário

• Rostov do Don é uma grande cidade portuária no rio Don. No século 19, o porto foi um importante centro comercial no sul da Rússia, especialmente para a exportação de trigo, madeira e minério de ferro.

• Devido à sua localização e ao seu papel como importante centro de transportes, alguns se referem a Rostov do Don como a “porta de entrada para o Cáucaso”.

• A região ao redor de Rostov do Don produz um terço do óleo vegetal de girassol da Rússia.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 5: 28 de outubro a 4 de novembro
A fé de Abraão

 

Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Introdução

Há um padrão na argumentação de Paulo em todas as suas epístolas. O apóstolo recebeu visões de Deus e teve um encontro pessoal com Jesus. Contudo, para estabelecer seu ensino, ele sempre recorreu às Escrituras para fundamentar sua fé. Por mais que sua experiência fosse importante, ela não era o padrão de sua crença. A base de seu relacionamento com Deus estava na Palavra, a Bíblia. Por isso, nesta semana estudaremos o texto bíblico sobre a vida de Abraão para compreendermos que o ensino da justificação pela fé não foi algo revelado de maneira tardia a Paulo, mas se encontra em todas as Sagradas Escrituras. Comecemos recapitulando a conclusão de Paulo em Romanos 3:31.

A lei

Em Romanos 3:31, o apóstolo se antecipou a uma conclusão errônea a qual tanto seus leitores como seus opositores poderiam chegar, por conta da linguagem forte com que ele falava sobre a lei. Ele foi categórico ao afirmar que, diante de Deus, ninguém seria justificado por obras da lei (Rm 3:20). A justiça de Deus se manifestou sem lei (Rm 3:21) e a justificação é obtida independentemente das obras da lei (Rm 3:28). A fé, então, anula a lei? Paulo respondeu com um forte “não!”. A razão é simples: a lei mostra minha condição pecaminosa e a justificação me salva dessa condição. Cada uma opera dentro de sua própria esfera para a redenção dos que creem.

Abraão era e ainda é considerado o pai da fé judaica. Ele é o grande patriarca, aquele que deu início a tudo. O apóstolo sabia que se pudesse demonstrar como o pai da nação havia sido salvo, isso seria um forte argumento para os cristãos judeus de Roma e para seus opositores. Por isso, ele citou Gênesis 15:6, em que a experiência de Abraão é descrita nestes termos: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4:3). Como a justiça foi creditada na conta de Abraão (esse é o significado da expressão “imputado”)? Por meio da sua crença. Abraão demonstrou que desde os seus dias a justificação era pela fé, independentemente das obras.

Em seguida, Paulo mencionou Davi, o grande rei de Israel, que uniu as tribos sob um só governo, que trouxe a arca para Jerusalém, aquele com quem Deus fez uma aliança prometendo que não faltaria descendente seu que se assentasse no trono. Contudo, dada a sua grandeza, a queda de Davi foi estrondosa. Ele não poderia permanecer diante de Deus por nada que tivesse feito. Afinal, como lembra Paulo ao citar o Salmo 32, Davi não apresentava a Deus seus feitos para ser aceito, mas confiava na misericórdia do Senhor a quem servia.

A conclusão implícita é simples: o plano da salvação baseado na justificação pela fé não foi desenvolvido posteriormente, nem foi uma mudança da maneira pela qual Deus salvava no Antigo Testamento, em comparação com a maneira descrita no Novo Testamento. O legalismo, a tentativa de obter a salvação pelos próprios feitos, ainda que pautados na lei divina, é uma distorção da redenção. Não existem várias maneiras de ser salvo, mas apenas uma: a justificação pela fé.

Dívida ou graça?

Em Romanos 4:4, 5, Paulo trabalhou com a conclusão lógica do legalismo. Nesses versos, ele continuou traçando a analogia a partir das relações de trabalho. Se uma pessoa é contratada para trabalhar em qualquer empresa e recebe o salário no final de 30 dias, isso não é graça. Isso é o pagamento de uma dívida que a empresa contraiu com o trabalhador uma vez que ele prestou a ela os seus serviços. Nada o impede de cobrar dela os valores combinados antes do trabalho. E feito isso, não há nenhuma obrigação do trabalhador para com a empresa. Mas se ele recebe o valor de um mês de salário sem ter trabalhado, isso já não é uma dívida. É um ato de graça. O sentimento natural que brota nele é gratidão e assombro: como pode uma empresa dar um mês de salário a uma pessoa que não trabalhou?

Se a justificação fosse pelas obras, teríamos todo o direito de chegar a Deus e dizer: “Senhor, eu fui fiel durante todo esse mês. Não matei, não roubei, não traí minha esposa, não menti. Fui todos os sábados à igreja, devolvi fielmente meus dízimos e ofertas, e não me curvei diante de nenhuma estátua. O Senhor, portanto, tem que me salvar. Essa é Sua dívida para comigo”. Mas esse não é o caso. Nossas obras não têm poder de barganha diante de Deus. Contudo, segue a argumentação paulina, se eu creio, por causa da minha fé que lança mão da graça de Deus, Sua justiça me é imputada e eu estou salvo. Posso agora servir a Deus e cumprir Sua lei, não para ser salvo, mas porque fui salvo.

A promessa

Em Romanos 4:13, 14, Paulo contrastou a promessa e a lei. Ele argumentou a partir da história, como fez em Gálatas 3:17. A lei, especialmente a do Sinai, foi promulgada mais de 400 anos depois da promessa. Assim, ela não poderia anular a promessa que havia sido dada anteriormente.

A explicação do apóstolo segue assim: se somos herdeiros pela lei, não há lugar para a fé; na verdade, ela se torna nula e a promessa não tem valor algum. Tanto a lei como a promessa nos dão certas coisas; afinal, Deus é o autor de ambas. Mas elas não podem operar ao mesmo tempo. A lei demanda obediência, mas a promessa demanda fé. Em resumo, Romanos 4:15, 16 diz o seguinte: a lei de Deus exige certas coisas que não conseguimos cumprir, pois transgredimos. Por isso, ela traz ira; a graça de Deus faz promessas nas quais cremos. Por isso, recebemos bênçãos.

Lei e fé

Em Gálatas 3:21-29, o apóstolo explicou a relação entre lei e fé. O primeiro ponto é que a lei não pode dar vida. E a razão é simples: esse não é o propósito da lei. Nem mesmo a lei moral, os Dez Mandamentos, foram dados com esse propósito. Por isso, não há incompatibilidade entre a promessa e a lei de Deus, porque a lei foi dada para mostrar nosso estado e despertar em nós o desejo de mudar de situação. Assim, a lei nos deixa num estado de total desamparo para que a promessa possa cumprir sua função: salvar.

Paulo usou, então, a analogia do aio, do tutor, o paidagogos (Gl 3:24, 25). No sistema de ensino romano, o tutor era um escravo encarregado de educar formalmente uma criança em vários aspectos de sua vida. Ele era responsável por garantir que o menino fosse à escola, cumprisse as tarefas e se portasse de acordo com a etiqueta da época. Frequentemente o paidagogos, o tutor, era retratado como alguém com uma vara na mão, pronto para punir o mau comportamento. O apóstolo usou essa figura para mostrar que um dos propósitos da lei é mostrar nosso mau comportamento para que sintamos a necessidade de Cristo para resolver nosso problema.

A lei e o pecado

Em Romanos e Gálatas, podemos distinguir pelo menos três funções importantes da lei de Deus. Sua função mais básica é condenar o pecador. A lei mostra que o problema do pecado na vida de uma pessoa é muito grave (Rm 3:20). Ela suscita a ira de Deus, uma vez que o nosso comportamento seja comparado com suas exigências (Rm 4:15). Uma vez que existe lei, existe transgressão (Rm 5:13). A lei mostra, como numa radiografia, a verdadeira condição do ser humano. Ao expor o seu estado, a lei o condena.

O segundo propósito da lei, como já vimos, é conduzir a Cristo. A lei é como um espelho, mostrando em nosso rosto e em nosso corpo onde está a sujeira do pecado. O espelho, a lei, dirá que você precisa de água, da graça de Cristo, para lavar a sujeira que está em você. O espelho, intuitivamente, leva você à torneira ou ao chuveiro para que você, sob a ação da água, possa se ver livre da sujeira.

Nesse ponto surge a terceira função da lei. Uma vez que esteja limpa, a reação normal de uma pessoa é tomar o espelho, quebrá-lo e jogá-lo fora? Claro que não! Como saberei que permaneço limpo? Como poderei verificar as áreas do rosto e do corpo que ainda precisam de purificação? E se eu me sujar de novo, como saberei que preciso de um novo banho? Assim também é com a lei. Uma vez perdoados e justificados, a lei deixa de me condenar e passa ser um padrão de vida. De acordo com Hebreus 8:10, citando Jeremias 31:33, a lei, agora, não está fora de mim para me condenar, mas dentro da minha mente para guiar a minha vida.

Conclusão

Um dos textos mais alentadores do Novo Testamento é a declaração de 1 João 2:1. O discípulo amado falou aos que já tinham um relacionamento vivo com Jesus. Apesar de Seu constante amparo e proteção, inevitavelmente, falhamos em nosso compromisso com o Senhor e transgredimos Sua lei. João escreveu aos irmãos para reforçar sua fé e compromisso com Deus: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis”. Mas o discípulo amado sabia da condição dos cristãos, sabia que ainda lutamos contra uma natureza caída. Então, sem titubear, o discípulo do amor apontou para Jesus: “Se, todavia alguém pecar”, não se desespere, não perca a esperança; “temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.” Quando formos confrontados com nossas falhas, que o Espírito Santo nos leve, por meio de Sua palavra, a olhar mais uma vez para Jesus e Seu ministério intercessório no santuário celestial.