Certa vez alguém perguntou a um político: “Você cumpriu todas as promessas que fez durante a campanha?” Ele respondeu: “Sim […]. Bem, pelo menos todas as promessas que eu pretendia cumprir”.
Quem já não quebrou uma promessa? Quem nunca recebeu uma promessa que veio a ser quebrada? Provavelmente, todos nós já tenhamos vivenciado uma dessas situações.
Às vezes, as pessoas fazem uma promessa com a plena intenção de cumpri-la, mas não a cumprem. Outros fazem uma promessa já sabendo que tudo que prometeram é mentira, desde o momento em que as palavras saem de sua boca, ou quando seus dedos escrevem as palavras.
Felizmente, para nós, as promessas de Deus são de natureza completamente diferente. A Palavra de Deus é certa e imutável. “O que Eu disse, isso Eu farei acontecer; o que planejei, isso farei, diz o Senhor” (Is 46:11, NVI).
Na lição desta semana, veremos que Paulo dirige nossa atenção para a relação entre a promessa de Deus a Abraão e a lei dada a Israel 430 anos depois. Como a relação entre as duas deve ser entendida, e quais implicações isso tem para a pregação do evangelho?
Mesmo que seus adversários admitissem que a vida de Abraão tinha sido caracterizada principalmente pela fé, Paulo sabia que eles ainda questionariam por que Deus havia concedido a lei a Israel cerca de quatro séculos depois de Abraão. A promulgação da lei não anulou algum acordo anterior?
1. De acordo com Gálatas 3:15-18, qual é o objetivo da analogia de Paulo entre o testamento de uma pessoa e a aliança de Deus com Abraão? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Demonstrar que as promessas são garantidas pela obediência humana.
B.( ) Sugerir aos seus oponentes a natureza mutável da promessa feita a Abraão.
C.( ) Mostrar que, assim como um testamento é imutável, a aliança feita com Abraão também era.
Uma aliança e um testamento geralmente são diferentes. Uma aliança é tipicamente um acordo mútuo entre duas ou mais pessoas, muitas vezes chamada de “contrato” ou “tratado”; em contrapartida, o testamento é a declaração de uma única pessoa. A tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, nunca traduz a aliança de Deus com Abraão com a palavra grega usada para os acordos mútuos ou contratos (syntheke). Em vez disso, ela usa a palavra para testamento ou vontade final (diatheke). Por quê? Provavelmente, porque os tradutores reconheciam que a aliança de Deus com Abraão não era um tratado entre dois indivíduos, no qual são feitas promessas mutuamente obrigatórias. Ao contrário, a aliança de Deus não tinha por base nenhuma outra coisa, a não ser Sua própria vontade. Nenhum “se”, “e” ou “mas” foi acrescentado. Abraão devia simplesmente confiar na Palavra de Deus.
Paulo mencionou esse duplo sentido de “testamento” e “aliança” a fim de destacar as características específicas da aliança de Deus com Abraão. Assim como acontece com um testamento humano, a promessa de Deus dizia respeito a um beneficiário específico, Abraão e seus descendentes (Gn 12:1-5, Gl 3:16); ela também envolve uma herança (Gn 13:15; 17:8; Rm 4:13; Gl 3:29). O mais importante para Paulo era a natureza imutável da promessa de Deus. Assim como o testamento de alguém não pode ser alterado uma vez que tenha entrado em vigor, a promulgação da lei por meio de Moisés não podia simplesmente anular a aliança anterior de Deus com Abraão. A aliança de Deus é uma promessa (Gl 3:16), e de maneira alguma Deus quebra Suas promessas (Is 46:11; Hb 6:18).
Paulo defendeu energicamente a supremacia da fé no relacionamento da pessoa com Deus. Ele afirmou repetidamente que nem a circuncisão nem quaisquer outras “obras da lei” são pré-requisitos para a salvação, “pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2:16). Além disso, a marca que caracteriza o cristão não são as obras da lei, mas a fé (Gl 3:7). Essa negação repetida das obras da lei levanta a questão: “Será que a lei não tem absolutamente nenhum valor, então? Será que Deus anulou a lei?”
2. Visto que a salvação é pela fé, e não pelas obras da lei, Paulo quis dizer que a fé anula a lei? Compare Rm 3:31 com Rm 7:7, 12; 8:3; e Mt 5:17-20
O raciocínio de Paulo em Romanos 3 se assemelha à sua argumentação sobre fé e lei em Gálatas. Sentindo que seus comentários poderiam levar alguns a concluir que ele estivesse exaltando a fé em detrimento da lei, Paulo fez a pergunta retórica: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei”. A palavra traduzida como “anulamos” em Romanos 3:31 é katargeo. Paulo a usou com frequência; ela pode ser traduzida como “anular” (Rm 3:3), “abolir” (Ef 2:15), “desfazer” (Rm 6:6, ARC), ou mesmo destruir (1Co 6:13). Claramente, se Paulo quisesse apoiar a ideia de que a lei foi de alguma forma abolida na cruz, como algumas pessoas hoje afirmam que ele ensinou, essa teria sido a oportunidade. Porém, Paulo não apenas negou essa opinião com um enfático “não”, mas afirmou que seu evangelho “confirma” a lei!
“O plano da justificação pela fé revela a consideração de Deus por Sua lei, ao exigir e oferecer o sacrifício expiatório. Se a justificação pela fé anulasse a lei, não haveria necessidade da morte expiatória de Cristo para libertar o pecador e, assim, restaurar-lhe a paz com Deus.
“Além disso, a fé genuína inclui uma disposição irrestrita para cumprir a vontade de Deus em uma vida de obediência à Sua lei […]. A fé verdadeira, com base no amor incondicional pelo Salvador, só pode conduzir à obediência” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 558).
3. Em Gálatas 3:19-29 Paulo fez várias referências à “lei”. A qual lei ele se referiu principalmente? Assinale a alternativa correta:
A.( ) À lei cerimonial.
B.( ) Às leis de saúde.
C.( ) À lei moral, ou os dez mandamentos.
Acreditando que a expressão até que, no verso 19, indique que essa lei foi apenas temporária, alguns têm pensado que a passagem se refira à lei cerimonial, porque o propósito dessa lei foi cumprido na cruz e, assim, ela chegou ao fim. Embora essa ideia tenha sentido em si mesma, não parece ter sido esse o pensamento de Paulo em Gálatas. Tanto a lei cerimonial quanto a lei moral foram “adicionadas” no Sinai por causa da transgressão. Porém, considerando a pergunta a seguir, veremos que Paulo parece ter pensado principalmente na lei moral.
4. Por que a lei foi acrescentada? A que ela foi acrescentada, e por quê? Compare Gl 3:19 com Rm 5:13, 20
Paulo não disse que a lei foi acrescentada à aliança de Deus com Abraão, como se fosse uma espécie de adendo que alterasse as cláusulas originais de um testamento. A lei já existia muito tempo antes do Sinai (veja a lição de amanhã). Paulo quis dizer, ao contrário, que a lei foi dada a Israel para um propósito totalmente diferente. Ela devia dirigir o povo de volta para Deus e à graça que Ele oferece a todos os que vão a Ele pela fé. A lei revela nossa condição pecaminosa e nossa necessidade da graça de Deus. A lei não foi destinada a ser uma espécie de programa para “conseguir” a salvação. Ao contrário, ela foi dada, diz Paulo, “para que a transgressão fosse ressaltada” (Rm 5:20, NVI), ou seja, para nos mostrar mais claramente o pecado em nossa vida (Rm 7:13).
Enquanto as leis cerimoniais apontavam para o Messias e enfatizavam a santidade e a necessidade de um Salvador, é a lei moral, com suas proibições, que revela o pecado, que nos mostra que o pecado não é apenas uma parte da nossa condição natural, mas, de fato, é a transgressão da lei de Deus (Rm 3:20; 5:13, 20; 7:7, 8, 13). Foi por isso que Paulo disse: “Onde não há lei, não há transgressão” (Rm 4:15, NVI). “A lei funciona como uma lupa. Esse dispositivo não aumenta realmente o número de marcas de sujeira que mancham uma roupa, mas faz com que elas se destaquem de maneira mais clara e revela muito mais delas do que a pessoa é capaz de ver a olho nu” (William Hendriksen, New Testament Commentary, Exposition on Galatians [Comentário sobre o Novo Testamento, Exposição sobre Gálatas], Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1968, p. 141).
5. A declaração de que a lei foi adicionada no Monte Sinai significa que ela não existia antes? Se já existia, qual era a diferença entre os períodos anterior e posterior ao Sinai? Gn 9:5, 6; 18:19; 26:5; 39:7-10; Êx 16:22-26. Complete as lacunas:
Antes do _______________, o povo obedecia à _______________ moral. Porém, aos poucos foi se distanciando dos padrões _______________ do Senhor, tornando-se necessário que Ele escrevesse a lei nas ______________ de _______________ dadas a Moisés.
Deus não precisou revelar Sua lei a Abraão com trovões, relâmpagos e pena de morte (Êx 19:10-23). Por que, então, o Senhor deu a lei aos israelitas dessa maneira? Foi porque, durante seu cativeiro no Egito, os israelitas haviam perdido de vista a grandeza de Deus e de Seus elevados padrões morais. Como resultado, eles precisavam ser conscientizados da extensão de sua própria pecaminosidade e da santidade da lei de Deus. Com certeza, a revelação no Sinai fez justamente isso.
6. O que Paulo quis dizer quando afirmou que a lei foi adicionada “até que viesse o descendente a quem se fez a promessa”? Gl 3:16-19
Muitos têm entendido que esse texto queria dizer que a lei dada no Monte Sinai era temporária. Ela foi introduzida 430 anos depois de Abraão e, então, teria sido anulada quando Cristo veio. Essa interpretação, porém, contradiz o que Paulo disse sobre a lei em Romanos, bem como em outras passagens da Bíblia, como Mateus 5:17-19.
O erro que os leitores muitas vezes cometem, em relação a essa passagem, é o de supor que a expressão “até que” sempre implique uma duração limitada de tempo. Esse não é o caso. Descrevendo a pessoa que teme ao Senhor, o Salmo 112:8 diz: “O seu coração, bem firmado, não teme, até ver cumprido, nos seus adversários, o seu desejo”. Isso significa que quando ele triunfar ficará com medo? Em Apocalipse 2:25, Jesus disse: “Tão-somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até que Eu venha” (NVI). Teria Jesus declarado que, depois que Ele vier, já não precisaremos ser fiéis?
O papel da lei não acabou com a vinda de Cristo. Enquanto a lei existir, ela continuará a apontar o pecado. O que Paulo disse foi que a vinda de Cristo marcou um momento decisivo na história humana. Cristo pôde fazer o que a lei jamais poderia ter feito: prover o verdadeiro remédio para o pecado, ou seja, justificar os pecadores e, pelo Seu Espírito, cumprir Sua lei neles (Rm 8:3, 4).
“Ele estava na congregação, no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos antepassados, e recebeu palavras vivas, para transmiti-las a nós” (At 7:38, NVI).
Em Gálatas 3:19, 20, Paulo continuou sua linha de pensamento sobre o fato de que a lei não anula a aliança da graça. Isso era importante porque, se a teologia de seus oponentes estivesse correta, a lei faria exatamente isso. Como pecadores, imagine qual seria a nossa situação, se, para nos salvar, tivéssemos que confiar em nossa observância da lei, e não na graça de Deus. Por fim, estaríamos sem esperança!
Embora os detalhes dos comentários de Paulo em Gálatas 3:19, 20 sejam difíceis, seu raciocínio básico é claro: a lei é subordinada à promessa, porque ela foi dada por intermédio de anjos e de Moisés. A relação entre os anjos e a entrega da lei não é mencionada em Êxodo, mas é encontrada em vários outros lugares nas Escrituras (Dt 33:2; At 7:38, 53; Hb 2:2). Paulo usou a palavra mediador em 1 Timóteo 2:5 em referência a Cristo, mas seus comentários neste contexto sugerem fortemente que ele tinha em mente Deuteronômio 5:5, em que Moisés disse: “Naquela ocasião eu fiquei entre o Senhor e você para declarar-lhe a Palavra do Senhor” (NVI).
Por mais majestosa que tenha sido a promulgação da lei no Sinai, com incontáveis anjos presentes, e por mais importante que Moisés tenha sido na função de legislador, a proclamação da lei foi indireta. Em forte contraste com isso, a promessa de Deus foi feita diretamente a Abraão (e, portanto, a todos os crentes), pois não havia necessidade de um mediador. No fim, por mais importante que seja a lei, ela não substitui a promessa da salvação pela graça mediante a fé. Ao contrário, a lei nos ajuda a entender melhor quanto essa promessa é realmente maravilhosa!
7. Qual era a natureza dos encontros diretos de Abraão com Deus? Qual era o benefício dessa proximidade com Deus? Gn 15:1-6; 18:1-33; 22:1-18
“Em seu cativeiro, os israelitas haviam perdido em grande medida o conhecimento de Deus e dos princípios da aliança abraâmica. Ao libertá-los do Egito, Deus procurou revelar a eles Seu poder e misericórdia, para que fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Para que percebessem seu completo desamparo e sua necessidade da ajuda divina, Ele os levou ao Mar Vermelho, onde, perseguidos pelos egípcios, a fuga parecia impossível. Então, Ele operou o livramento deles. Assim, eles se encheram de amor e gratidão para com Deus e de confiança no Seu poder para ajudá-los. […]
“Mas havia uma verdade ainda maior a ser gravada na mente deles. Vivendo no meio da idolatria e corrupção, eles não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da excessiva maldade de seu próprio coração, de sua total incapacidade de, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e de sua necessidade de um Salvador” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 371).
“A lei de Deus, proferida do Sinai com terrível solenidade, é para o pecador o pronunciamento de sua condenação. É da alçada da lei condenar, mas não existe nela nenhum poder para perdoar nem redimir” (Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1219).
Perguntas para reflexão
1. Como você se sentiu quando alguém quebrou uma promessa feita a você? Que diferença fez se a pessoa pretendia cumprir a promessa e, depois, não conseguiu, ou mudou de ideia, ou nunca quis cumpri-la? O que aconteceu com seu nível de confiança depois que a promessa foi quebrada, não importando o motivo? Por que você pode confiar nas promessas de Deus?
2. Estamos em perigo de ser corrompidos pelo nosso ambiente a ponto de perdermos de vista as importantes verdades que Deus nos deu? Como descobrir quais são essas influências corruptoras? Como podemos neutralizá-las?
Resumo: A proclamação da lei no Sinai não invalidou a promessa que Deus fez a Abraão, nem a lei alterou as disposições nela contidas. A lei foi dada para que as pessoas fossem conscientizadas da verdadeira extensão da sua pecaminosidade e reconhecessem sua necessidade da promessa de Deus a Abraão e seus descendentes.
Respostas e atividades da semana: 1. F; F; V. 2. Divida a classe em dois grupos. Peça a cada um dos grupos que pesquise razões pelas quais muitos defendem a abolição da lei e textos bíblicos que confrontem essa visão equivocada. Permita que os grupos apresentem suas conclusões durante a recapitulação da lição. 3. C. 4. Peça a opinião dos alunos. 5. Sinai – lei – morais – tábuas – pedra. 6. Com uma semana de antecedência, escolha um aluno para estudar a pergunta e compartilhar sua resposta com a classe no sábado. Em seguida, promova uma discussão acerca da duração da lei. 7. Ao refletirem sobre a pergunta, discuta com os alunos como podemos ter um encontro com Deus e ouvir Sua voz.
TEXTO-CHAVE: Gálatas 3:18
O ALUNO DEVERÁ
Conhecer: A relação entre a promessa da salvação e a lei.
Sentir: O contraste entre nosso relacionamento com Deus por meio da Sua promessa de graça e por intermédio da lei.
Fazer: Aceitar a promessa da graça mediante a fé, bem como os benefícios da lei.
ESBOÇO
I. Conhecer: A promessa da aliança
A. Como a consideração de Deus para com a lei se reflete em Seu plano de justificação pela fé?
B. Qual é o propósito da lei em um sistema fundamentado na promessa da graça de Deus?
II. Sentir: Encontros pessoais
A. Como o poder e o drama do encontro com Deus no monte Sinai ensinou Israel sobre a natureza de Deus?
B. Como esse encontro com Deus se compara e contrasta com o relacionamento íntimo que Deus teve com Abraão e Suas promessas para ele?
III. Fazer: O caminho para a promessa
A. Como podemos ser beneficiados pelo relacionamento com a lei, no qual ela funciona como espelho, professor e guia que nos leva a Cristo?
B. Como podemos usar essa relação com a lei para nos ajudar a desenvolver um relacionamento mais íntimo com o Doador da promessa?
C. Como a lei pode aumentar nossa fé?
RESUMO: Nossa salvação é fundamentada em nossa aceitação, pela fé, da justiça e redenção oferecidas por Cristo. A lei serve para ilustrar o caráter de Deus e refletir nossas próprias deficiências, levando-nos à única fonte de justiça.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Gálatas 3:18
Conceito-chave para o crescimento espiritual: A lição desta semana nos ajuda a entender o papel da “lei do amor”. Nossa capacidade de praticar essa lei, em nossa caminhada de fé, é a manifestação da graça divina.
Para o professor: Considere por que Paulo gastou tanto tempo fazendo a distinção entre o papel da fé na salvação e o papel da lei. Concentre-se no contexto cultural da época para ajudar a elucidar por que os gálatas necessitavam de instrução em relação ao papel da fé e da lei na salvação. Qual lição Paulo estava tentando transmitir?
Discussão inicial: Lendo a Bíblia e acompanhando a história do povo judeu, sabemos que a lei, tanto a moral quanto a cerimonial, era central para sua cultura e estava ligada intrinsecamente à sua fé na vinda do Messias. Em Êxodo, Deus pronunciou a lei e também as orientações sobre quais tribos e pessoas deveriam ser encarregadas da liderança. Seu objetivo era assegurar a execução e a permanência dessa lei. No entanto, não é interessante saber que Jesus teve bem pouco envolvimento com os líderes “religiosos” estabelecidos em seu tempo – rabinos, escribas, saduceus, fariseus, e assim por diante – quando esses eram os próprios líderes que estavam concentrados na preservação da lei?
Pense nisto: Pela falta de envolvimento de Jesus com esses líderes, podemos perceber que a lei em que eles se concentravam não era a lei pela qual Jesus Se interessava. Os fariseus e saduceus queriam o “cumprimento” das normas e, quando as pessoas as desobedeciam, eles estavam ali para julgar e punir os transgressores (Jo 8:1-11). Entre as coisas defendidas pela igreja estabelecida na época, poucas eram do interesse de Jesus e da lei com a qual Ele estava preocupado. Por que isso aconteceu?
Compreensão
Para o professor: Uma cultura de legalismo ocorre em comunidades de fé quando a compreensão e a prática da “lei” se afastam da divina “lei do amor” para se conformar com o modelo de leis e sistemas legais feitos pelo homem. A cultura religiosa em que Jesus nasceu havia se tornado legalista, embora, teoricamente, a religião judaica sempre foi orientada para a graça. Vemos evidências de que essa cultura legalista continuou durante toda a Sua vida e após Sua morte, sendo necessário que Paulo escrevesse a carta aos Gálatas, que procurava desesperadamente redefinir a ênfase no evangelho, ou seja, na verdade de que somos salvos pela graça mediante a fé e que a lei de Deus é uma lei “de amor e graça”. Talvez a amplitude da nossa luta com os conceitos apresentados em Gálatas, especificamente o papel da fé e da lei na vida dos cristãos, reflita o fato de que, muitas vezes, também precisemos reorientar nosso pensamento, como ocorreu com as pessoas nos dias de Jesus.
A fim de compreender plenamente a mensagem que Paulo buscou transmitir na carta aos Gálatas sobre o papel da fé e da fidelidade à lei e sobre a relação entre as duas, é ainda mais importante definir a lei que está em questão. Observar o contexto cultural em que Paulo escreveu pode nos ajudar a identificar a lei à qual ele estava se referindo, e a lei que ele não estava mencionando.
Numa época em que parecia que o mundo inteiro estava adotando a cultura grega, surgiram alguns grupos judaicos preocupados com a preservação de suas tradições culturais e religiosas. Os saduceus acreditavam que somente os cinco livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) tinham autoridade, e esses homens estavam interessados em preservar a lealdade às leis estabelecidas nesses livros. Os fariseus estavam interessados em defender os costumes judaicos e, especialmente, a lei de Moisés, para a qual desenvolveram aplicações para a vida cotidiana. É interessante notar que o fariseu mais famoso em toda a Bíblia tenha sido o próprio apóstolo Paulo (Fp 3:5). Haveria alguém melhor, então, para escrever as cartas da Bíblia, como Gálatas, que procuravam mudar o pensamento perpetuado pelos ensinamentos dos fariseus e grupos similares, fixados na aplicação rigorosa da lei a todos os aspectos da vida em sociedade?
O desafio dos fariseus e saduceus, e a maneira pela qual sua história é instrutiva para esta lição, é que a lei na qual se originou seu interesse era a mesma lei em que estamos interessados e valorizamos: Os Dez Mandamentos. Porém, sua preocupação não se limitava a eles. É de suprema importância, então, aprendermos com os erros que eles cometeram ao subverter a própria lei de Deus, que eles exteriormente alegavam defender. Quando Jesus esteve na Terra, reservou Suas palavras mais duras para esses homens.
A lei de Deus é derivada da natureza do código moral e do caráter perfeito de Deus. Ela é universal, transcendente e inspirada para nos exortar a viver plenamente na sombra de Sua graça. A lei de Deus existe para nos instruir e orientar sobre como nos aproximar do Divino e obter uma compreensão mais rica e profunda de Seu amor. Como Paulo afirmou em Gálatas 5:14, a lei se resume em uma só diretriz: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (NVI). Ter a lei de Deus no coração significa ter amor no coração (Sl 40:8). Uma comunidade de fé que tem a lei do amor no coração nunca poderá ser legalista, no sentido humano. Além disso, a crença em Deus e o foco em Seu dom de vida para nós nada podem fazer, a não ser inspirar em nós amor pelos outros, mostrando naturalmente como a fé leva à lei do amor em nosso coração.
Pense nisto: Considerando a mensagem de Paulo em Gálatas 3 no contexto cultural e religioso da época, como é esclarecida a relação entre a fé e a observância da lei? Como a lei nos faz crescer na graça de Deus, sendo o resultado dessa experiência o fruto do Espírito, mencionado em Gálatas 5:22? Note que o primeiro aspecto desse fruto é o amor, seguido pela alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
Aplicação
Para o professor: A lei funciona como um microscópio que nos permite ver melhor nossos pecados. Incentive a classe a comentar as diferentes maneiras pelas quais a lei pode ser usada para nos ajudar a focalizar a beleza do caráter de Deus e a manifestar os princípios divinos em nossa vida. Encoraje os alunos a pensar na lei de novas maneiras, pois o que enfatizamos e focalizamos se traduz em nosso modo de agir e viver. Como Hebreus 12:2 declara, devemos olhar “firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus”. Enfatizar o belo caráter de Deus nos ajuda a demonstrar os mesmos princípios que Ele estabeleceu, ao viver a lei.
Perguntas para reflexão
1. Como a compreensão do contexto da cultura religiosa do Novo Testamento ajuda a esclarecer o que Paulo disse em Gálatas 3?
2. Por que Gálatas 3 permanece tão relevante hoje, especialmente à luz do fato de que a questão da fé versus obras é um contínuo ponto de diálogo e discussão nas igrejas?
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: Dê aos alunos um momento para pensar nas seguintes questões: 1. Como era minha compreensão da relação entre lei e fé quando ingressei na igreja? 2. Como essa compreensão afetava meu relacionamento com as pessoas? 3. Como isso afetava meu envolvimento com as atividades da igreja? 4. O que melhorou com minha compreensão atual? Em que preciso melhorar? Dê oportunidade para que a classe compartilhe suas respostas. Ore com os alunos a respeito dos desafios para o futuro.
Atividade: Na intimidade do coração, muitas pessoas se sentem julgadas, seja por outros ou pelos próprios padrões internos, no que diz respeito às suas falhas no cumprimento da lei de Deus. Como a lição que Paulo compartilhou em Gálatas ajuda o nosso coração a seguir numa nova direção? Focalizar nossa fé em Deus e em Sua graça, mediante o perfeito dom e belo caráter de Jesus, pode inspirar em nós compaixão para com nossos próprios defeitos e os dos outros? Absorvendo esse espírito de perdão e graça, como podemos nos reorientar para viver nossa maior vocação, de ser filhos e filhas de Cristo unicamente pela graça, mediante a fé, vivendo de acordo com a lei de Deus e produzindo totalmente o fruto do Espírito?
1. O que você pode fazer, primeiramente em sua vida e, em seguida, em sua família, em seu círculo de amigos e, finalmente, na sua comunidade de fé, para reorientar a ênfase das conversas e atividades para uma experiência com Deus fundamentada na fé (e não com base nas obras)?
2. Se nossa compreensão da lei de Deus atualmente está mais alinhada com as aplicações legalistas humanas, como podemos reorientar nosso entendimento dessa lei como a lei do amor? Como isso pode se manifestar nas igrejas, escolas e outras comunidades para que possamos elevar outras pessoas por meio da lei do amor?
Bênçãos abundantes
Sunita, esposa de um fazendeiro, gostaria muito de frequentar os cultos com mais assiduidade, mas ela não quer irritar o marido, que não é cristão. Então ela, geralmente, passa o sábado adorando a Deus em silêncio, na própria em casa. No entanto, vai à igreja sempre que tem um pedido especial de oração. No ano passado, Sunita foi à igreja e orou por um poço.
Tendo crescido em uma família que guardava o domingo, Sunita deixou de frequentar a igreja quando se casou. Entretanto, ela continuou lendo a Bíblia e, enquanto isso, sentia-se atraída pela Igreja Adventista.
Orando por um milagre
Os tempos foram difíceis na fazenda da família. Havia pouca chuva, e os dois poços da fazenda quase secaram. A fazenda precisava desesperadamente de água. Porém, Sunita e o marido não tinham muito dinheiro.
Acreditando que um ritual hindu, realizado no terreno da fazenda, seria a única maneira de obter água, o marido de Sunita desejou realizá-lo, mas Sunita se opôs ao ritual. Ela disse que a única solução era orar a Deus.
Então Sunita foi à igreja pedir a Deus um milagre. Suplicou que a água fosse encontrada logo na primeira tentativa, quando fosse usado o perfurador. O casal não podia pagar para perfurar vários buracos.
O pastor e os membros da igreja se uniram a Sunita, orando pela fazenda de sua família. Eles agradeceram a Deus pela fidelidade de Sunita e seu amor pelo sábado, e pediram a ajuda de Deus para encontrar água.
No dia seguinte, o profissional que iria perfurar o solo chegou à fazenda. O pastor e os membros da igreja também foram. Eles queriam orar novamente. Ninguém sabia onde cavar. Sunita só tinha dinheiro suficiente para perfurar até 45 metros.
Os membros da igreja escolheram um local aleatório para cavar, e o pastor orou: “Senhor, abençoe este solo, e que ele forneça água suficiente para satisfazer as necessidades de Seus filhos.” Então o responsável pela perfuração começou a trabalhar.
Trrrr trrrr trrrr. Ele perfurou até 15 metros. Nada.
Trrrr trrrr trrrr. Ele alcançou 30 metros. Nada.
Trrrr trrrr trrrr. Ele perfurou 45 metros. Então, foi até Sunita e disse: “Eu perfurei 45 metros.” “Você deve pagar mais se quiser que eu continue cavando.”
Os membros da igreja oraram novamente e imploraram que o homem perfurasse apenas mais alguns metros. Relutantemente, ele concordou. Momentos depois, a água brotou do chão.
Sunita sorriu. “Estou muito feliz!”, ela disse. “Com fé, oramos, e Deus respondeu às nossas orações! Ele nos abençoou!”
Até hoje, o poço fornece água em abundância.
Os vizinhos ainda estão maravilhados com o milagre. Eles dizem à Sunita: “Você é pobre. Por que você é tão abençoada?”
Sunita diz que a resposta é simples: Deus honra aqueles que O honram.
Deus honrou Sunita por causa de sua fidelidade. O poço continua fornecendo água em abundância. Quando honramos a Deus, Ele também está disposto a nos dar um suprimento ilimitado da água da vida.
Perto da casa de Sunita está a Escola Adventista de Alate. Parte da oferta da Escola Sabatina deste trimestre será usada para construir 14 salas de aula para que mais crianças possam estudar ali e aprender sobre o Deus que responde às orações. Em suas orações, lembrem-se de Sunita e da Escola Adventista de Alate. Participem também com ofertas generosas para esse projeto da Escola Sabatina.
Resumo missionário
• Desde o início do adventismo na Índia, as escolas têm desempenhado um papel importante no crescimento da igreja. Além de treinar os filhos de pais adventistas, as escolas recebem muitas crianças de famílias não cristãs que querem receber uma educação de qualidade.
• A cada ano, muitos alunos são batizados como resultado de frequentar as escolas adventistas na Índia. Mesmo aqueles que não são batizados levam consigo importantes lições de fé.
• Parte da oferta da Escola Sabatina neste trimestre ajudará a construir novos dormitórios em duas escolas adventistas e prédios de salas de aula em dois outros colégios, tornando possível que ainda mais alunos possam estudar nessas instituições e aprender do grande amor de Deus.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 6: 29 de julho a 5 de agosto
A superioridade da promessa
Autor: Pr. Nilton Aguiar
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
Deus não proveu outro meio de salvar a humanidade a não ser o sacrifício expiatório de Seu Filho na cruz. O pecado é um problema tão sério que precisava de uma medida absolutamente radical para solucioná-lo. Nada que façamos pode nos justificar diante de Deus. Nem mesmo Abraão foi justificado por suas obras. A Bíblia diz que ele “creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15:6). A experiência de Abraão é um protótipo do que acontece com todos os crentes. Somos salvos porque Deus cumpriu Sua promessa de prover o Sacrifício necessário para nossa redenção. Como Abraão, temos uma vida de obediência a Deus como resposta de fé ao amor que Ele demonstrou ao enviar Seu Filho ao mundo.
Lei e fé
Em Gálatas 3:15-18, Paulo se antecipou a uma objeção que seguramente seus oponentes levantariam ao lerem o que ele escreveu em Gálatas 3:6-14. A objeção é que, se a justificação acontece pela fé, por que Deus teria concedido a lei a Israel depois de ter feito uma aliança com Abraão? Possivelmente Paulo imaginava que seus oponentes proporiam que a concessão da lei a Israel, cerca de 400 anos depois de Deus ter feito aliança com Abraão, implicaria que a lei pode ter revogado o acordo anterior. Em outras palavras, o ponto de discussão era: a lei anula a fé? (ver Romanos 3:31).
Promessa é uma palavra-chave para entendermos Gálatas 3:15-18. Ela aparece quatro vezes nessa curta passagem. É usada duas vezes no plural (v. 16, 21) e três vezes no singular (v. 17, 18). As promessas de Deus a Abraão incluíam (1) “um filho para ser seu herdeiro (Gn 15:4), (2) possessão da terra de Canaã (Gn 15:18), (3) a perspectiva de tornar-se uma grande nação (Gn 12:2; 15:5), (4) ser ascendente do Messias (Gl 3:16) e (5) o privilégio de ser um instrumento escolhido por Deus para proclamar salvação às nações da Terra (Gn 12:3; Gl 3:8,14). Essas promessas foram repetidas a Abraão em diferentes ocasiões num intervalo de aproximadamente meio século (Gn 12:1-4, 7; 13:15, 16; 15:4-5, 13-18; 17:1-8, 16-21; 18:10; 22:17, 18)”.[2] Paulo entendia todas essas promessas em sentido espiritual, embora não tomasse tempo para explicá-las. Assim, as promessas do verso 16 são mencionadas como “aliança” no verso 17, cujo conteúdo é a promessa de uma herança (verso 18). A herança prometida a Abraão envolvia principalmente possessão territorial (Gn 13:14-17; 15:7, 18-21; 17:3-8); porém, ela é tomada totalmente em sentido espiritual no Novo Testamento (Gl 5:21; At 20:32; 1Co 6:9, 10; Ef 5:5; Cl 3:24). Assim como a herança de Abraão estava fundamentada na promessa de Deus, e ele foi justificado pela fé nessa promessa, também, “os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl 3:7), e, portanto, herdeiros da mesma bênção (Gl 3:9).
Fé e lei
Uma vez que Paulo defendeu energicamente a salvação pela fé, seus oponentes podiam pensar que ele estivesse rejeitando completamente o papel da lei. Paulo negou essa ideia em Romanos 3:31, que diz: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei”.
A expressão “de maneira nenhuma” é a tradução do grego m? genoito. Essa expressão aparece quinze vezes no Novo Testamento. Das quinze, catorze estão registradas nas epístolas paulinas; e, curiosamente, das catorze ocorrências em Paulo, dez estão registradas em Romanos, e “sempre com a ideia de forte aversão por alguma ideia errônea, numa negação enfática das mais fortes”.[3] No caso de Romanos 3:31, a ideia errônea que Paulo estava combatendo está expressa na pergunta: “Anulamos, pois, a lei pela fé?”. Além de responder com o enfático “de modo nenhum”, Paulo complementou sua resposta dizendo: “antes, confirmamos a lei”. A palavra traduzida como “antes” é alla. Essa é uma partícula grega que indica intenso contraste. Nesse contexto, ela significa algo como “muito pelo contrário”. Paulo ensinou que a lei exerce uma função fundamental na vida do cristão: a de levá-lo a Cristo (Rm 10:4). Esse ponto é mais bem explicado em Romanos 5:20, 21, onde Paulo mostrou que a lei não pode resolver o problema do pecado, que só pode ser superado pela graça de Cristo. A lei torna clara a ofensa (Rm 5:20), e então desperta nossa necessidade de um Salvador, porém é a graça que oferece vida eterna (Rm 5:21).
Podemos usar a ilustração do espelho e da água. Se uma pessoa está com o rosto sujo, o máximo que o espelho pode fazer é mostrar a sujeira, mas somente a água pode limpar o rosto. De igual modo, a única coisa que a lei pode fazer é mostrar o pecado, mas somente a graça pode nos limpar do pecado. No entanto, assim como ninguém pode dizer que o espelho não é mais necessário depois de mostrar a sujeira, uma vez que ele mostra se determinado indivíduo permanece limpo ou não, também não se deve dizer que a lei não é mais necessária depois de apontar o pecado.
O propósito da lei
De maneira bem resumida, podemos afirmar que a lei tem o propósito de apontar nossa verdadeira condição. Ela mostra onde estamos falhando. Ela também nos incentiva a buscar a saída para uma vida vitoriosa. Paulo mencionou que “o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê” (Rm 10:4). Aqui, precisamos deixar claro o sentido da palavra fim. Ela deriva do termo grego telos, e não deve ser entendida no sentido de encerramento, mas de propósito. Em outras palavras, o propósito da lei é nos levar a Cristo.
Paulo confirmou a ideia mencionada em Gálatas 3:24, de que “a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé”. A palavra tutor (ou aio, como aparece em algumas versões da Bíblia) pode ser estranha a muitas pessoas, tendo em vista que não a utilizamos frequentemente. No entanto, a palavra grega paidag?gos (traduzida como tutor ou aio), de onde vem a palavra pedagogo, dá-nos uma visão clara do que Paulo estava tentando dizer. No mundo grego, o paidag?gos era o escravo que tinha a função de conduzir a criança até o mestre. De igual modo, a lei nos conduz a Cristo. E isso ocorre por uma razão bem simples: a função da lei é mostrar a nossa condição. Porém, só Jesus pode resolver o problema do pecado. Ao vermos como estamos, vamos a Cristo para que Ele nos purifique.
Alguns usam a afirmação de Paulo no verso seguinte para dizer que a lei foi abolida. Paulo afirma: “Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio” (Gl 3:25). Porém, é preciso levar em consideração que Paulo empregou a palavra tutor ou aio nessa passagem para se referir a todo o complexo de leis do Antigo Testamento.[4] De fato, as leis cerimoniais cessaram com a vinda de Cristo e as leis civis perderam seu significado porque Israel deixou de existir como nação. Porém, a lei moral, “o Decálogo, já não reside mais sobre duas tábuas de pedra, como algo separado do homem. Ao contrário, aqueles que são ‘justificados pela fé’ (v. 24) em Cristo se tornam novas criaturas (2Co 5:17), com a lei de Deus escrita na mente e no coração (Hb 8:10). E, assim, ‘a justiça [ou requerimentos] da lei’ é ‘cumprida’ neles (Rm 8:4). Corretamente, Paulo declarou que não mais estamos ‘debaixo de um tutor’”,[5] uma vez que, agora, a lei está gravada no coração.
A duração da lei de Deus
Alguns afirmam que a lei foi dada ao povo judeu por Moisés, o qual a recebeu de Deus no monte Sinai. No entanto, tendo em vista que pecado é a transgressão da lei (1Jo 3:4) e o pecado existia antes do Sinai, a conclusão lógica é que a lei também existia antes do Sinai. Afinal, como disse Paulo: “Eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é a cobiça, se a Lei não dissesse não cobiçarás” (Rm 7:7; ver também 3:20; 5:13, 20). A Bíblia mostra claramente que Adão e Eva pecaram (Gn 3:6; Rm 5:12); Caim cometeu homicídio (Gn 4:8), transgredindo o sexto mandamento (Êx 20:13); Gênesis 6:2 apresenta transgressão aberta do sétimo mandamento; um dos filhos de Noé desobedeceu ao quinto mandamento (Gn 9:24-25); Ló acolheu a cobiça em seu coração, desobedecendo ao décimo mandamento (Gn 13); Abraão mentiu para Abimeleque (Gn 20:2), quebrando o nono mandamento. Além disso, o fato de que a prática do sacrifício com derramamento de sangue existia antes do Sinai (Gn 31:54; Êx 12:27; Hb 9:22) é uma prova de que as pessoas tinham consciência de seus pecados.
Por outro lado, a ideia de que a lei de Deus foi abolida com a morte de Cristo não tem sentido. Primeiro, a própria morte de Jesus é a prova de que a lei não pode ser abolida. A lei requeria a morte do transgressor. Jesus, portanto, assumiu o lugar do transgressor e sofreu a morte que todos nós merecíamos. Se a lei pudesse ser abolida, Deus poderia tê-la abolido antes para que não fosse necessário que Jesus morresse. Porém, Jesus mesmo disse que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mt 5:17-19). É espantoso observar que muitas pessoas dizem que Jesus aboliu a lei, quando Ele mesmo disse que não a aboliu! Além disso, o pensamento de que não precisamos cumprir a lei porque Jesus a cumpriu é o mesmo que um pai dizer ao filho: “Eu vou fazer o certo em seu lugar para que você não precise fazê-lo”. Todos nós concordamos que essa seria uma decisão incoerente!
A superioridade da promessa
Em Gálatas 3:19, 20, Paulo deixou claro que o que aconteceu no Sinai não mudaria os termos da aliança de Deus com Abraão. De fato, ele já havia comentado que, se a herança viesse da lei, já não seria da promessa (Gl 3:18). A promessa é superior no sentido de que a salvação é fruto da provisão divina. Deus prometeu uma herança a Abraão, ele creu, e foi declarado justo. A experiência de Abraão é, portanto, uma espécie de protótipo do que acontece com todos os crentes: Deus nos promete uma herança eterna em Cristo Jesus; nós cremos, e somos declarados justos. Simples assim!
Porém, como seres humanos, temos a tendência de tornar complexo aquilo que é simples. Como acontece hoje, os oponentes de Paulo poderiam suscitar a pergunta: Qual, então, é a razão de ser da lei? Essa é a pergunta que Paulo responde em Gálatas 3:19. A resposta é simples: “Foi adicionada por causa das transgressões”. Em outras palavras, a lei foi dada para manter o pecado em cheque (cf. 1Jo 3:4). Como vimos acima, a lei já existia antes do Sinai e continua em vigor depois da morte de Cristo, porque ela é eterna. Ao dizer: “Até que viesse o Descendente a quem se fez a promessa”, Paulo não estava declarando que a morte de Cristo anularia a lei. Caso contrário, ele estaria negando o próprio ensino de Cristo (Mt 5:17-19). Na verdade, ele estava dando a entender que somente Cristo podia resolver o problema do pecado. Paulo queria ensinar que Deus cumpriu Sua promessa de enviar Seu Filho Unigênito ao mundo (Jo 3:16; cf. Gn 12:3; 26:4; 28:14).
Conclusão
Certa vez, o famoso escritor cristão C. S. Lewis disse que “os cristãos sempre tiveram o costume de polemizar sobre o que conduz o cristão à sua morada: se as boas ações ou se a fé em Cristo”. Nessa semana, vimos que recebemos a salvação única e exclusivamente mediante a fé em Cristo. Porém, também vimos que a graça de Cristo nos leva a uma vida de obediência. Como afirma Lewis, a Bíblia junta essas duas coisas em uma sentença: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar” (Fp 2:12-13). Porque Deus é quem realiza tudo em nós, nossa resposta é desenvolver nossa salvação com temor e tremor, renovando nossa mente e cumprindo a perfeita vontade de Deus (Rm 12:1-2).
Notas
[1] O autor é pastor, mestre em Ciências da Religião, mestre e bacharel em Teologia, licenciado em Letras e autor de diversos livros e artigos. É docente do curso de Teologia, no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Cachoeira/BA, e atualmente está cursando o doutorado em Novo Testamento, na Andrews University (EUA). É casado com a professora Cristiane Aguiar, e tem dois filhos: a Karol e o Lucas.
[2] Francis D. Nichol, ed., The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, v. 6 (Review and Herald Publishing Association, 1980), p. 957.
[3] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Candeia, 1995. v. 4, p. 607, 628.
[4] Jon L. Dybdahl, ed., Andrews Study Bible Notes (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2010), p. 1538.
[5] Francis D. Nichol, ed., The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, v. 6 (Review and Herald Publishing Association, 1980), p. 962.