O reformador protestante João Calvino acreditava que a desunião e a divisão fossem as principais estratégias do diabo contra a igreja, e advertiu que os cristãos deviam evitar dissensões como se elas fossem uma peste.
No entanto, a unidade deve ser preservada à custa da verdade? Imagine se Martinho Lutero, o pai da Reforma Protestante, quando foi levado a julgamento na Dieta [assembleia] de Worms, tivesse decidido renunciar às suas convicções sobre a salvação unicamente pela fé em nome da unidade!
“Houvesse o reformador cedido num único ponto, e Satanás e suas hostes teriam ganho a vitória. Mas sua persistente firmeza foi o meio para a emancipação da igreja e o início de uma era nova e melhor” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 166).
No relato de Gálatas 2:1-14, o apóstolo fez tudo que estava ao seu alcance para manter a unidade do círculo apostólico diante das tentativas de alguns cristãos de destruí-la. Porém, apesar da importância que Paulo dava à unidade, ele se recusou a permitir que ela fosse alcançada de uma maneira que prejudicasse a verdade do evangelho. Embora haja espaço para a diversidade na unidade, o evangelho nunca deve ser comprometido no processo.
1. De acordo com 1 Coríntios 1:10-13, qual é a importância de manter a unidade na igreja? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Os que estão unidos a Cristo, estão unidos entre si e exaltam a Cristo.
B.( ) Cristo não está dividido. Por isso, devemos seguir Seu exemplo e nos unir.
C.( ) Uma igreja unida fica mais vulnerável às tentações do diabo.
Tendo refutado todas as alegações de que seu evangelho não havia sido dado por Deus, Paulo dirigiu sua atenção para outra acusação feita contra ele (Gl 2:1, 2). Os falsos mestres da Galácia declaravam que o evangelho de Paulo não estava em harmonia com o que Pedro e os outros apóstolos ensinavam. Eles diziam que Paulo era um traidor.
Em resposta a essa acusação, Paulo narrou a viagem que havia feito a Jerusalém cerca de catorze anos após sua conversão. Embora não tenhamos certeza de quando exatamente essa viagem aconteceu, nenhuma viagem na antiguidade era um empreendimento fácil. Se ele viajou por terra de Antioquia para Jerusalém, essa viagem de 501 quilômetros teria levado pelo menos três semanas e teria envolvido todos os tipos de dificuldades e perigos. No entanto, apesar dessas dificuldades, Paulo empreendeu a viagem, não porque os apóstolos o tivessem chamado, mas porque ele havia sido chamado pelo Espírito. E enquanto ele esteve ali, apresentou seu evangelho aos apóstolos.
Por que ele fez isso? Certamente não foi porque tivesse dúvidas sobre o que estava ensinando. Seguramente ele não precisava de nenhum tipo de reafirmação da parte deles. Afinal, ele já havia proclamado o mesmo evangelho durante catorze anos. E embora ele não precisasse da permissão nem da aprovação deles, valorizava em grande medida o apoio e o encorajamento dos outros apóstolos.
Portanto, a acusação de que sua mensagem era diferente foi um ataque não apenas a Paulo, mas também à unidade dos apóstolos e à própria igreja. Manter a unidade apostólica era fundamental, pois uma divisão entre a missão de Paulo aos gentios e a igreja matriz, em Jerusalém, teria trazido consequências desastrosas. Sem harmonia entre os cristãos gentios e judeus, “Cristo estaria dividido, e seria frustrada toda a energia que Paulo havia dedicado, e esperava dedicar, à evangelização do mundo pagão” (F. F. Bruce, The Epistle to the Galatians [A Epístola aos Gálatas], Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1982, p. 111).
2. Por que a circuncisão foi um ponto tão importante na controvérsia entre Paulo e alguns judeus cristãos? Gn 17:1-22; Gl 2:3-5; 5:2, 6; At 15:1, 5. Assinale a alternativa correta:
A.( ) Por causa da aliança que Deus havia feito com Abraão e seus descendentes, separando-os como Seu povo escolhido.
B.( ) Porque a circuncisão significava salvação.
A circuncisão era o sinal do relacionamento de aliança que Deus havia estabelecido com Abraão, o pai da nação judaica. Embora a circuncisão fosse destinada apenas aos descendentes de Abraão do sexo masculino, todas as pessoas eram chamadas a um relacionamento de aliança com Deus. O sinal da circuncisão foi dado a Abraão em Gênesis 17. Isso ocorreu após a desastrosa tentativa do patriarca de ajudar Deus a cumprir Sua promessa de lhe dar um filho, ao gerar uma criança com a escrava egípcia de sua esposa.
A circuncisão era um sinal apropriado da aliança, um lembrete de que os planos mais bem elaborados pelos seres humanos nunca podem realizar o que Deus prometeu. A circuncisão exterior devia ser um símbolo da circuncisão do coração (Dt 10:16; 30:6; Jr 4:4; Rm 2:29). Ela representa o despojamento da confiança própria e, em lugar disso, a constante dependência de Deus.
Na época de Paulo, no entanto, a circuncisão havia se tornado um importante sinal da identidade nacional e religiosa, tendo perdido o significado para o qual havia sido planejada. Cerca de 150 anos antes do nascimento de Jesus, patriotas excessivamente zelosos não só forçaram todos os judeus não circuncidados na Palestina a ser circuncidados, mas também exigiram isso de todos os homens que viviam nas nações vizinhas incluídas em sua jurisdição. Alguns acreditavam que a circuncisão fosse o passaporte para a salvação. Isso pode ser visto em sátiras antigas que confiantemente declaravam coisas como: “Os homens circuncidados não descem ao Geena [inferno]” (C. E. B. Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans [Um Comentário Crítico e Exegético sobre a Epístola aos Romanos], Edinburgh: T. & T. Clark Ltda., 1975, p. 172).
Seria um erro supor que Paulo fosse contrário à circuncisão em si. O que Paulo contestava era a insistência para que os gentios se submetessem à circuncisão. Os falsos mestres diziam: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos” (At 15:1, NVI). Portanto, a questão não era realmente sobre a circuncisão, mas sobre a salvação. Ou a salvação é pela fé unicamente em Cristo, ou é algo obtido pela obediência humana.
3. Leia Gálatas 2:1-10. Paulo disse: os falsos irmãos “infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que temos em Cristo Jesus e nos reduzir à escravidão” (Gl 2:4, NVI). Do que os cristãos são livres? Jo 8:31-36; Rm 6:6, 7; 8:2, 3; Gl 3:23-25; 4:7, 8; Hb 2:14, 15. Assinale a alternativa correta:
A.( ) Da condenação da lei e do poder do pecado.
B.( ) Da obediência à lei.
A liberdade, como condição da experiência cristã, era um conceito importante para Paulo. Ele usou essa palavra com mais frequência do que qualquer outro autor do Novo Testamento. Além disso, as palavras “livre” e “liberdade” ocorrem várias vezes no livro de Gálatas. No entanto, liberdade para os cristãos significa ser livre em Cristo. É a oportunidade de ter uma vida de livre devoção a Deus. Envolve a liberdade da escravidão dos desejos de nossa natureza pecaminosa (Rm 6), liberdade da condenação da lei (Rm 8:1, 2) e liberdade do poder da morte (1Co 15:55).
4. Os apóstolos reconheceram que a Paulo “havia sido confiada a pregação do evangelho aos incircuncisos, assim como a Pedro, aos circuncisos” (Gl 2:7, NVI). O que isso sugere sobre a natureza da unidade e diversidade dentro da igreja? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Não há espaço para a diversidade dentro da igreja. Para serem unidas, todas as pessoas devem ser iguais.
B.( ) O evangelho é um só, mas as maneiras de pregá-lo são diferentes, o que promove a diversidade na igreja.
Os apóstolos reconheceram que Deus havia chamado Paulo para pregar o evangelho aos gentios, assim como havia chamado Pedro para pregar aos judeus. Em ambos os casos, o evangelho era o mesmo, mas a maneira de ser apresentado dependia do povo ao qual os apóstolos estavam tentando alcançar. Implícito nesse verso “está o importante reconhecimento de que uma e a mesma fórmula deve ser ouvida de diversas maneiras e ter diferente força nos variados contextos sociais e culturais […]. É justamente essa unidade que é a base da unidade cristã, precisamente como a unidade na diversidade” (James D. G. Dunn, The Epistle to the Galatians [A Epístola aos Gálatas], Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1993, p. 106).
Algum tempo após o concílio de Jerusalém, Pedro fez uma visita a Antioquia da Síria, o local da primeira igreja gentílica e a base das atividades missionárias de Paulo descritas em Atos. Enquanto esteve ali, Pedro comeu livremente com os cristãos gentios, mas quando chegou um grupo de cristãos judeus da parte de Tiago, Pedro, com medo do que poderiam pensar, mudou totalmente seu comportamento.
5. Por que Pedro devia ter sido coerente? Qual é a influência da cultura arraigada e da tradição em nossa vida? Compare Gl 2:11-13 com At 10:28
Alguns têm erroneamente suposto que Pedro e os outros judeus que estavam com ele tinham deixado de seguir as leis do Antigo Testamento sobre alimentos puros e impuros. No entanto, esse não parece ter sido o caso. Se Pedro e todos os cristãos judeus tivessem abandonado as leis alimentares judaicas, certamente teria acontecido um grande tumulto na igreja. Se isso houvesse ocorrido, com certeza haveria algum registro a esse respeito, mas não há. É mais provável que a questão tenha sido sobre compartilhar a mesa com os gentios. Visto que muitos judeus viam os gentios como imundos, era uma prática entre alguns deles evitar o contato social com os gentios, tanto quanto possível.
Pedro havia lutado com esse assunto, e somente uma visão de Deus o ajudou a entender claramente a questão. Ele disse a Cornélio, o centurião romano, depois que entrou em sua casa: “Vocês sabem muito bem que é contra a nossa lei um judeu associar-se a um gentio ou mesmo visitá-lo. Mas Deus me mostrou que eu não deveria chamar impuro ou imundo a homem nenhum” (At 10:28, NVI). Embora tivesse consciência, ele estava com tanto medo de ofender seus compatriotas que voltou aos seus velhos hábitos. Aparentemente, essa foi a força da influência da cultura e da tradição sobre a vida de Pedro.
Paulo, porém, classificou as ações de Pedro o que eram exatamente: hipocrisia, o que é indicado pela palavra grega que ele usou em Gálatas 2:13 (NVI). Paulo disse a respeito de Pedro: “Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar”. Foram palavras fortes de um homem de Deus para outro.
A situação em Antioquia estava tensa: Paulo e Pedro, dois líderes da igreja, estavam em conflito aberto. Paulo não se conteve quando pediu a Pedro que explicasse seu comportamento.
6. Por que Paulo confrontou Pedro publicamente? Gl 2:11-14
Como Paulo percebeu, o problema não foi a decisão de Pedro de comer com os visitantes de Jerusalém. Antigas tradições sobre hospitalidade certamente exigiam o mesmo.
A questão era “a verdade do evangelho”. Ou seja, não era apenas uma questão de envolvimento social ou de comer juntos. Na realidade, as ações de Pedro afetavam toda a mensagem do evangelho.
7. Leia Gálatas 3:28 e Colossenses 3:11. Como esses textos nos ajudam a compreender a reação forte de Paulo?
Durante o encontro de Paulo com Pedro e outros apóstolos em Jerusalém, eles haviam chegado à conclusão de que os gentios podiam desfrutar de todas as bênçãos em Cristo, sem ter que primeiramente se submeter à circuncisão. A atitude de Pedro nessa ocasião colocava em perigo esse acordo. Onde antes os cristãos judeus e gentios haviam se unido em um ambiente de livre comunhão, agora a comunidade estava dividida, e isso trazia a perspectiva de uma igreja dividida no futuro.
Do ponto de vista de Paulo, o comportamento de Pedro sugeria que os cristãos gentios fossem fiéis de segunda categoria, na melhor das hipóteses. Além disso, ele acreditava que as ações de Pedro colocariam forte pressão sobre os gentios para que eles se sujeitassem, se quisessem experimentar uma comunhão plena. Assim, Paulo disse: “Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como judeus?” (Gl 2:14, NVI). A frase “viverem como os judeus” pode ser traduzida de maneira mais literal como “judaizar”. Essa palavra era uma expressão comum que significava “adotar o modo de vida judaico”. Era aplicada aos gentios que frequentavam a sinagoga e participavam de outros costumes judaicos. Essa foi também a razão pela qual os adversários de Paulo na Galácia, a quem ele chamava de falsos irmãos, foram muitas vezes chamados de “judaizantes”.
Sobre a questão da unidade e diversidade na igreja, leia, de Ellen G. White, O Outro Poder: Conselhos aos Escritores e Editores, p. 45, 47: “Investigação da Nova Luz”; Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 75: “Explicação de Antigas Declarações” [exemplo de como lidar com críticas]; Obreiros Evangélicos, p. 117-119: “Tato”; e Manuscript Release, 898, em 1888 Materials, v. 3, p. 1092, 1093.
“Mesmo os melhores homens, se deixados a si mesmos, cometerão graves erros. Quanto mais responsabilidades forem colocadas sobre o agente humano, quanto mais elevada for sua posição para mandar e controlar, mais dano ele certamente causará ao perverter mentes e corações, se não seguir cuidadosamente o caminho do Senhor. Em Antioquia, Pedro falhou nos princípios da integridade. Paulo teve que resistir face a face a sua influência ruinosa. Esse fato está registrado para que outros possam se beneficiar dele e para que a lição possa ser uma solene advertência aos homens que ocupam altas posições, para que não faltem com a integridade, mas se atenham aos princípios” (Comentários de Ellen G. White, em Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1236).
Perguntas para reflexão
1. Poucas pessoas gostam de confronto, mas, às vezes, é necessário. Em quais circunstâncias a igreja deve condenar o erro e disciplinar os que se recusam a aceitar a correção?
2. À medida que a Igreja Adventista do Sétimo Dia cresce, ela se torna cada vez mais diversificada. Quais passos a igreja pode dar para garantir que a unidade não se perca no meio de tanta diversidade? Como aprender a aceitar e até mesmo apreciar a diversidade de culturas e tradições entre nós?
3. Ao compartilhar o evangelho em uma cultura diferente, quais são os elementos essenciais que não devem mudar, e quais podem ser mudados? Como distinguir entre o que deve permanecer e o que podemos, se necessário, renunciar?
Resumo: Alguns cristãos judeus insistiam em afirmar que os gentios deveriam ser circuncidados para se tornar seguidores de Cristo. Isso foi uma ameaça para a unidade da igreja. Em vez de deixar essa questão dividir a igreja, os apóstolos trabalharam juntos, apesar dos conflitos entre si, para garantir que o corpo de
Cristo permanecesse unido e fiel à verdade do evangelho.
Respostas e atividades da semana: 1. V; V; F. 2. A. 3. A. 4. F; V. 5. Com uma semana de antecedência, escolha um aluno para responder a essa questão. Em classe, permita que os outros compartilhem suas respostas. 6. Divida a classe em duplas e peça que os alunos apresentem as possíveis razões para Paulo ter confrontado Pedro. Por que sua omissão teria prejudicado o verdadeiro evangelho? 7. Reflita com os alunos sobre o verdadeiro evangelho. Peça a um aluno que explique a relação entre o evangelho verdadeiro e a forte reação de Paulo.
TEXTO-CHAVE: Filipenses 2:2
O ALUNO DEVERÁ
Conhecer: A verdadeira base da unidade entre os cristãos, que são tão diferentes entre si como os judeus eram dos gentios.
Sentir: A tensão e preocupação envolvendo o assunto da circuncisão à luz do evangelho da graça.
Fazer: Tomar a decisão de se firmar nas doutrinas fundamentais da fé e da graça.
ESBOÇO
I. Conhecer: Uma nova face para uma antiga tradição
A. Como os mandamentos de Deus acerca da circuncisão haviam se tornado uma tradição legalista, cegando muitos para o verdadeiro meio de salvação?
B. Por que o evangelho da graça é a melhor maneira de unificar os membros da igreja, com sua grande diversidade?
II. Sentir: Conflito na igreja
A. Apesar da necessidade de unidade na igreja, por que Paulo sentiu que era necessário enfrentar publicamente Pedro, que tentava assumir uma posição menos conflitante em relação aos costumes judaicos?
B. Quais perigos ameaçavam os que não queriam enfrentar a questão a respeito da circuncisão?
III. Fazer: Unidade na diversidade
A. Quais desafios a diversidade traz para a igreja?
B. O que precisamos fazer para identificar a verdadeira base da unidade e edificar sobre ela, sem comprometer o evangelho?
RESUMO: Em função das tradições judaicas que cegavam a igreja primitiva para a questão fundamental da fé na obra de Cristo, a igreja estava em perigo de perder sua compreensão do evangelho.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Filipenses 2:2
Conceito-chave para o crescimento espiritual: A unidade é uma característica fundamental da verdadeira igreja cristã. No entanto, ela não significa apenas evitar conflitos ou ocultar legítimas diferenças. Ela deve ser fundamentada no evangelho.
Para o professor: Enfatize que, embora a tolerância e o respeito mútuo sejam normalmente requeridos na vida da igreja, às vezes, a unidade cristã é mais bem servida pela confrontação do erro de uma forma que aparentemente leve à divisão.
Você é um ajuntador ou separador? Na maioria das disciplinas (biologia, por exemplo), torna-se necessário classificar exemplos individuais dentro de uma estrutura maior. Digamos que você tenha uma criatura verde, escamosa. É um réptil ou um anfíbio? Se é um anfíbio, é uma rã? Um sapo? Poderia ser uma salamandra? É algo totalmente novo e desconhecido? Se você é biólogo, sua resposta dependerá de sua posição: se você é ajuntador ou separador. O ajuntador procura a categoria com a qual o novo espécime mais tem em comum e tende a considerar as diferenças como menos importantes. O separador focaliza as diferenças e tende a multiplicar categorias e subcategorias, a fim de definir estritamente a identidade do espécime. Um observador objetivo geralmente deve admitir que ambas as posições têm sentido.
Essas duas atitudes existem na igreja também, e a maioria das pessoas prefere uma das duas formas. Ajuntadores tendem a procurar a unidade. Na pior das hipóteses, essa tendência se torna a busca da paz a qualquer preço, em que imoralidade ou completa heresia é ignorada ou encoberta para evitar conflitos.
Separadores tendem a dividir a igreja a respeito de assuntos obscuros de doutrina ou prática que têm pouca importância em questões centrais à fé cristã. Temos ouvido falar de igrejas e denominações que se multiplicam em inúmeras facções rivais. Se examinássemos cuidadosamente, provavelmente encontraríamos um predomínio de separadores em tais grupos.
Paulo procurava a unidade e, nesse sentido, ele foi ajuntador. Contudo, ele não aceitaria a unidade a menos que fosse fundamentada no único evangelho. Ele não estava disposto a acolher os que pregavam outro evangelho que não fosse o seu evangelho e, nesse sentido, ele foi separador. Como cristãos, devemos saber quando ser ajuntadores e quando ser separadores. Somente Deus pode nos dar a sabedoria e o discernimento necessários para isso.
Pense nisto: O que é a verdadeira unidade no sentido do Novo Testamento? Por que as pessoas naturalmente predispostas a ser ajuntadoras ou separadoras não conseguem compreender o significado disso?
Compreensão
Para o professor: Enfatize a importância da unidade da igreja como uma forma de revelar a unidade e a harmonia personificadas na Divindade e a graça e paz que Deus nos dá individualmente.
Comentário bíblico
I. O fundamento da unidade cristã
(Recapitule com a classe Jo 17:21; 1Co 1:10-13.)
A unidade na igreja cristã era e é não apenas um imperativo organizacional, mas uma imposição teológica. Quando Jesus Cristo previu o futuro de Sua igreja, uma das primeiras coisas que Ele desejou para ela foi “que todos [fossem] um” (Jo 17:21). Havia muitas razões para esse objetivo. Obviamente, a igreja funcionaria com mais eficiência se seus membros fossem unidos na fé, na prática e nos objetivos. Por isso, até mesmo organizações seculares e empresas com fins lucrativos, muitas vezes, exigem que os empregados se comprometam com uma declaração de missão.
Para um grupo de pessoas que afirmam servir a Deus ou a um objetivo mais elevado, a desunião é ruim. Se a igreja deve promover a reconciliação entre Deus e a humanidade, as pessoas “adorariam ver o plano” (como os Beatles disseram). Elas podem ver o plano na maneira pela qual a igreja funciona diante de seus olhos. Quando veem uma igreja em desordem, de certa forma eles são justificados ao perguntar se ainda existe algum propósito nela. Assim, a unidade nos ajuda a representar melhor a Deus para as pessoas que ainda não O conhecem, mas estão abertas para conhecê-Lo.
E isso nos leva à questão teológica. A igreja representa Deus na medida em que é Seu corpo na Terra (Rm 12:5; 1Co 12:12-27; Ef 3:6; 5:23). Deixando de lado o fato de que um corpo é uma unidade funcional de muitas partes (não que essa distinção da diversidade não seja igualmente importante), em certo sentido, a igreja é Cristo. Jesus é Deus, e Deus é uma unidade harmoniosa de três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Se a igreja deve refletir Deus, precisa ser uma unidade harmoniosa de diferentes personalidades. Se isso não for verdade na maior parte do tempo, se a igreja não estiver trabalhando constantemente em direção a esse ideal, ela se tornará somente mais uma organização dedicada a se perpetuar e atender a interesses egoístas. Realmente é simples assim.
Ao mesmo tempo, a unidade cristã não é apenas união ou relacionamento harmonioso entre os membros. A unidade cristã é unidade em Cristo. Na igreja primitiva, grande parte da desunião que se manifestava era o resultado de confiança equivocada nos líderes humanos, como Paulo mencionou em 1 Coríntios 1:10-13. E, em certa medida, essa confiança equivocada também tinha muito a ver com o dilema da Galácia. Os adversários de Paulo sabiam que podiam lançar dúvidas e suspeitas sobre ele como pessoa e, talvez, inspirar confiança em si mesmos por causa de seu carisma, qualidades pessoais ou completa e ousada autoconfiança. Ao contrário, Paulo focalizava o único evangelho genuíno, que deveria ser a verdadeira força unificadora entre os cristãos.
Pense nisto:
Quais são algumas das armadilhas mais óbvias de se confiar em líderes humanos, e não no próprio Cristo?
II. Vamos falar sobre circuncisão
(Recapitule com a classe Gl 5:2-6.)
Dizem que os adversários de Paulo, conhecidos como judaizantes, queriam que os conversos ao cristianismo se tornassem judeus, e isso é verdade. Alguns usam essa declaração para indicar que os judaizantes queriam exigir que os cristãos gentios fossem circuncidados e observassem outros costumes judaicos menos conhecidos. A maioria dos estudiosos concorda, porém, que isso não era verdade em relação a todos os judaizantes. Além disso, havia lugar para os gentios justos tanto no judaísmo normativo da época quanto no regime de alguns cristãos judaizantes. Havia uma classe de pessoas conhecidas como tementes a Deus, gentios que haviam adotado algumas crenças, práticas e costumes judaicos. Eles participavam da vida na sinagoga, em certa medida, e haviam sido aceitos até certo ponto. Mas não eram totalmente convertidos, principalmente porque não tinham sido circuncidados. Assim, o status que ocupavam era evidentemente de segunda classe.
Na época, a igreja cristã ainda não tinha chegado a um consenso sobre o que fazer com os gentios convertidos, mas eles faziam parte dela e desempenhavam um papel importante nas igrejas cristãs primitivas. A partir das evidências bíblicas disponíveis, parece que os líderes da igreja em Jerusalém, embora judeus e muito obedientes às leis e costumes judaicos, não participavam ativamente da controvérsia enquanto ela estava se formando. Outros, sobretudo os judaizantes que Paulo enfrentava na Galácia, encarregavam-se ativamente de “aperfeiçoar” os gentios convertidos, mantendo a perspectiva de um maior nível de integração ou de realização espiritual para os gentios que resolvessem se converter totalmente ao judaísmo; um grupo de elite de superconversos, se você preferir.
Paulo viu corretamente que esse plano podia enfraquecer a unidade e a igualdade que devia existir na igreja, diante de Deus. Os judaizantes distorciam o evangelho sugerindo que ele poderia ser aperfeiçoado ou fortalecido por outra coisa, e que as pessoas que adicionassem (ou subtraíssem) essas pequenas coisas, de alguma forma ocupariam um lugar mais elevado. Por isso, Paulo disse em Gálatas 5:2 que qualquer pessoa que fosse circuncidada com base em tal pressuposto não traria nenhum proveito a si mesma e, possivelmente, haveria prejuízo espiritual para ela mesma.
Pense nisto: Todos têm suas ideias de como um bom cristão deve parecer ou agir. Algumas delas estão enraizadas na educação ou doutrinação em determinada tradição. Algumas ideias podem até ter algum fundamento bíblico. Como evitar que o evangelho seja poluído pela tentativa de controlar as pessoas com nossos conceitos de como elas devem parecer ou agir?
Aplicação
Para o professor: Use as seguintes perguntas para ajudar seus alunos a compreender a importância da verdadeira unidade cristã.
Perguntas para reflexão
1. De que maneira Paulo se esforçava para promover a unidade da igreja, mesmo enquanto enfrentava erro e difamação?
2. Os argumentos dos judaizantes poderiam ter sentido para pessoas que compreendiam o evangelho apenas parcialmente? (Afinal, a circuncisão é bíblica.)
Perguntas para aplicação
1. Como identificar quando determinada política ou prática é destrutiva para a unidade no evangelho, por erros na direção da rigidez ou da frouxidão?
2. As ações de Pedro, ao fingir que seguia costumes que ele não mais considerava relevantes (Gl 2:11-13; At 10:28), poderiam, em alguns contextos, ser vistas como preocupação com a unidade. Quando o desejo de proteger a sensibilidade dos outros se torna covardia e hipocrisia, como nesse caso?
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: Em Gálatas, vemos Paulo enfrentando pessoas que poderiam ser chamadas de apóstolos da desunião. Embora os adversários de Paulo representem um exemplo extremo do espírito de desunião, muitas vezes, com base em questões completamente arbitrárias, essa tendência existe em todos nós. Podemos valorizar e dar extrema importância a coisas que, à luz do evangelho e de sua mensagem de graça para todos, desvanecem-se na irrelevância e insignificância. A atividade seguinte nos ajudará a reconhecer e mudar essa tendência em nós mesmos.
Atividades
Pergunte à classe: “O que você considera manifestações exteriores do cristianismo interior? Por que você considera isso importante?” Tenha cuidado para não julgar o que as pessoas dizem. Visto que você está familiarizado com as personalidades e inclinações de sua classe, seja cuidadoso com tudo que possa ter uma tendência de se tornar polêmico ou pessoal.
Esposo cruel – parte 2
Resumo da primeira parte da história:
Frequentemente, a esposa de Chadamla visitava as reuniões espirituais e era possuída pelos espíritos. Ele não queria que ela fosse possuída pelos espíritos e exigiu que parasse. Quando ele soube que ela continuava indo aos festivais dos espíritos, ficou zangado e a espancou porque ela não tinha acatado seu pedido e havia deixado que os poderes dos espíritos a possuíssem. Ele sempre se arrependia por machucá-la, mas não conseguia controlar sua ira.
Então, certo sábado, ele passou por uma igreja adventista do sétimo dia perto de sua casa e ouviu alguém falando sobre uma pessoa chamada Jacó. Parou e ficou escutando por alguns minutos. Quando a programação terminou, ele entrou na igreja e pediu permissão para conversar com o homem que estava falando sobre Jacó. Quando o encontrou, descobriu que era o pastor daquela pequena igreja.
Chadamla disse ao pastor que tinha ouvido a mensagem do lado de fora da igreja e pediu mais explicações. O pastor lhe ofereceu um exemplar da Lição da Escola Sabatina que os membros da igreja estavam estudando naquele trimestre e uma Bíblia.
Conte-me mais
Em poucos dias, Chadamla leu toda a Lição da Escola Sabatina e os textos bíblicos mencionados. Então ele voltou à igreja e pediu: “Conte-me mais sobre o Deus de que essa Lição e a Bíblia falam.”
O pastor disse que ficaria feliz em contar a ele sobre Deus, e os dois homens começaram a estudar a Bíblia juntos.
Durante os estudos, Chadamla descobriu 1 Coríntios 3:16: “Não sabeis vós que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (ARC).
Ele pensou sobre esse versículo e raciocinou: “Visto que o corpo é o templo de Deus, ninguém tem o direito machucá-lo. Se estou espancando minha esposa, é o mesmo que causar dano à igreja, o templo de Deus.
Ele percebeu que era errado bater na esposa.
Nova vida, novo nome
Alguns meses depois de entrar pela primeira vez na igreja, ele foi batizado e mudou seu nome para Samuel.
Samuel contou à esposa o que ele estava aprendendo e convidou-a para se juntar a ele nos estudos bíblicos com o pastor. No início ela recusou; mas, quando percebeu as mudanças em seu marido, não resistiu. O marido irado, que gritava quando ela ia aos rituais espirituais, tornou-se humilde, gentil e parou de espancá-la. A esposa notou que ele ficava calmo quando lia a Bíblia, e percebeu que orava a este novo Deus todos os dias. O coração dela também ficou mais tranquilo. Então ela começou a estudar a Bíblia.
Ao estudar a Bíblia, pouco a pouco, a esposa se convenceu de que era realmente errado ser possuída pelos espíritos. Ela teve conhecimento a respeito de Deus e decidiu deixar de participar dos rituais nas casas das pessoas. Mas as pessoas continuavam chamando-a para participar dos rituais. Quando ela se recusava a participar, muitas vezes, as pessoas a amaldiçoavam. Entretanto, ela permaneceu firme, fiel a Deus, e não aos espíritos.
Uma família unida
Dois anos após o batismo de Samuel, a esposa também foi batizada. Ela mudou seu nome para Ruth.
Certo dia, Samuel ouviu o apelo do pastor para que mais pessoas se tornassem obreiros bíblicos. O coração dele foi tocado, e Samuel decidiu deixar o trabalho como motorista de táxi para se tornar obreiro bíblico. Porém, ele sentiu que precisava aprender mais sobre a Bíblia antes dessa nova ocupação. O pastor o inscreveu em um programa de quatro meses, a fim de prepará-lo para o novo trabalho. Depois disso, Samuel se juntou ao programa de treinamento para Amazing Facts India. Então, ele recebeu treinamento pastoral.
Hoje, Samuel tem 42 anos e é pastor de uma aldeia perto de sua cidade natal. Ele e a esposa, que perdeu dois filhos em abortos involuntários, quando atuava como médium espírita, agora são abençoados com dois filhos, com oito e dez anos.
Samuel distribui regularmente exemplares da Lição da Escola Sabatina em sua cidade. Ele espera que alguém, à semelhança dele, aceite Jesus.
Parte da oferta da Escola Sabatina deste trimestre ajudará a concluir a construção de um centro de treinamento evangelístico situado a cerca de 20 quilômetros da cidade natal de Samuel e Ruth, no centro da Índia. Esse centro de treinamento evangelístico servirá a toda a Divisão Sul-Asiática. Ele estará disponível para uso dos membros da igreja local como Samuel e Ruth, bem como para outras pessoas de toda a Divisão. Em suas orações, lembre-se desse projeto e do trabalho adventista na Índia, e participe com suas ofertas missionárias da Escola Sabatina.
Resumo missionário
• A igreja cresce rapidamente na Índia. Os recursos da igreja têm sido estendidos para treinar pastores, obreiros leigos e ministérios especializados, como ministérios da mulher e das crianças, treinamento de mordomia, evangelismo leigo e muitos outros.
• O novo Centro de Treinamento Memória dos Pioneiros abrigará pequenos e grandes eventos de treinamento e evangelismo da igreja no sul da Ásia. Ali será fornecido tudo o que for necessário para essas atividades. Inclui moradia, lanchonete e uma sala de reuniões com mil lugares.
• Quando o centro de treinamento não estiver sendo usado, um colégio interno que fica nas proximidades espera usar o centro evangelístico como igreja, o que é uma grande necessidade, e também para reuniões de grupos grandes.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 3: 8 a 15 de julho
A unidade do Evangelho
Autor: Pr. Nilton Aguiar
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
A igreja estava crescendo rapidamente e estabelecendo congregações em diversas partes. Como qualquer instituição que passa por um processo rápido de crescimento, a igreja primitiva também enfrentou problemas para manter sua identidade. Manter a unidade em meio à diversidade trazida pelo crescimento era uma questão de urgência e necessidade. Por essa razão, os apóstolos, e especialmente Paulo, falaram repetidamente sobre esse assunto. Eles aprenderam com Cristo.
A importância da unidade
Diversas passagens no Novo Testamento abordam o tema da unidade da igreja. Em João 17:20-23, Jesus apresentou a unidade que existe entre os próprios membros da Divindade como um modelo a ser seguido pela igreja. Ele disse: “a fim de que todos seja um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós... para que sejam um, como Nós o somos” (Jo 17:21-22). Jesus já havia falado sobre esse tema em João 15, onde Ele usou as metáforas da videira, do agricultor e dos ramos. Ele explicou: “Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o Agricultor... Eu sou a videira, vós, os ramos” (Jo 15:1, 5). Nessa passagem, Jesus deixou claro que a união entre os membros depende da união deles com Jesus. A palavra-chave é permanência em Cristo.
Paulo estava familiarizado com os ensinos de Jesus acerca da unidade da igreja. Em Filipenses 2:2, ele comentou: “de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento”. Porém, três versos depois, ele disse: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2:5). Jesus é o modelo. O discurso de Paulo não era vazio. Ele estava em consonância com os demais apóstolos, e conversava com eles sobre os temas que estava pregando (Gl 2:1-2). Paulo estava tão preocupado com a unidade da igreja, que esse era um tema frequente em suas cartas (1Co 1:10; Ef 4:3, 13; Fp 1:27).
Circuncisão e os falsos irmãos
O dilema da circuncisão se tornou um obstáculo para a igreja em seu início. Paulo enfrentou a crise com amor e cautela, mas também com a firmeza que a situação requeria. Aqueles que se opuseram a Paulo sobre o assunto da circuncisão se tornaram conhecidos como judaizantes. Eles eram judeus que confessavam Jesus como Messias, porém exigiam que “o rito da circuncisão devia ser requerido dos gentios”.[2] No centro da discussão, estava a questão se um gentio devia ou não primeiro tornar-se judeu antes de tornar-se cristão. É possível que a preocupação dos judaizantes tenha a ver com o interesse de manter “a essência do Cristianismo e a unidade da igreja”.[3] Porém, Paulo rejeitou esse fundamento para a fé e a unidade, uma vez que ele diminuía o significado do sacrifício de Cristo e, em função disso, introduzia um caminho alternativo para a salvação (At 15:1).
Unidade na diversidade
Embora defendesse fortemente a necessidade de unidade dentro da igreja, ao mesmo tempo Paulo acreditava que era necessário haver diversidade na unidade. A prova disso é o seu ensino sobre os dons. Três passagens no Novo Testamento apresentam o pensamento de Paulo acerca dos benefícios da diversidade dentro da igreja. Essas passagens também nos ensinam que diversidade é diferente de divisão.
Em Romanos 12, Paulo usou uma ilustração bastante comum no mundo antigo: um corpo e seus membros. Ele disse: “Como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros…” (Rm 12:4-5). A expressão num só aponta para a unidade da igreja, enquanto a palavra muitos aponta para a diversidade. O benefício da diversidade de dons é enfatizado na declaração “nem todos os membros têm a mesma função”. Esse benefício é confirmado no verso seis: “tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada”. O mesmo princípio pode ser visto em 1 Coríntios 12:4-6, onde a palavra mesmo é usada para indicar a unidade na ação dos membros da Divindade para a concessão da diversidade dos dons. Em Efésios 4:1-6, Paulo voltou a usar a metáfora do corpo para falar sobre a unidade da igreja. Ele exortou os efésios a se esforçarem diligentemente a fim de “preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (verso 3).
Paulo foi um homem de muitos dons. Ele falava várias línguas (1Co 14:18), recebeu educação em Tarso, que era um grande centro universitário, e, já em Jerusalém, foi treinado por Gamaliel (At 5:34; 22:3), que foi um dos maiores mestres em Israel. Ele era o homem indicado para o ministério aos gentios, e isso foi reconhecido pelos demais apóstolos.
Confronto em Antioquia
A maneira pela qual Paulo repreendeu Pedro em função de seu comportamento em Antioquia parece ter sido bastante dura (Gl 2:11-13), mas a situação requeria uma posição firme de Paulo. Aqui, há um ponto que precisa ser observado. Uma vez que Paulo repreendeu Pedro, isso significa que ele não era inferior aos demais apóstolos. Ao contrário, o texto dá a entender que Paulo exercia uma função de autoridade a ponto de estar na posição em que podia repreender outro apóstolo. Ao contrário do que alguns pensam, Pedro não tinha primazia sobre os demais líderes da igreja.
Nesse episódio, Pedro é apresentado como vacilante e inconsistente. Na verdade, “o velho Pedro, que uma vez negou seu Senhor diante de uma jovem no palácio do sumo sacerdote, estava vindo à superfície. Embora já tivesse decidido que comer com os gentios era correto aos olhos de Deus, ele agora temia como isto poderia parecer aos olhos dos homens”.[4] Se Pedro não tivesse sido prontamente repreendido, sua atitude poderia ter trazido trágicas consequências para a igreja tendo em vista a influência que ele exercia. Prova disso é que sua ação foi seguida não apenas por judeus cristãos, que faziam parte do grupo, mas também pelo próprio Barnabé (Gl 2:13), que era companheiro de viagem de Paulo.
A preocupação de Paulo
Embora qualquer ação vacilante e inconsistente seja reprovável, a preocupação de Paulo residia em algo maior. A atitude de Pedro em não comer com os gentios seguramente seria interpretada como uma confirmação de que eles precisavam ser circuncidados a fim de tornar-se cristãos. E, como já vimos nas lições anteriores, para Paulo essa era uma forma de negar o sacrifício de Jesus. Além disso, o comportamento de Pedro, que foi prontamente seguido pelos demais judeus e mesmo por Barnabé, provocaria uma divisão na igreja, o que comprometeria a pregação do evangelho. Esse episódio está registrado na Bíblia para mostrar que uma simples atitude errada pode trazer consequências trágicas para a igreja. Felizmente, Deus concedeu a Paulo a sabedoria necessária para lidar com a situação a fim de evitar que um grande obstáculo impedisse o bom andamento da pregação do evangelho em Antioquia, que era a base missionária de Paulo.
Além disso, devemos louvar a Deus pelo fato de que Pedro recebeu humildemente a repreensão. Prova disso é que, mais tarde, ao escrever suas cartas, ele demonstrou preocupação com os gentios (1Pe 2:12). Por outro lado, também fica claro que ele não guardou nenhum ressentimento em relação a Paulo. Isso fica claro pela sua forma de se referir a Paulo (2Pe 3:15) e às epistolas de Paulo, colocando-as no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento (2Pe 3:16).
Conclusão
Conforme afirma o Comentário Bíblico Adventista, “unidade na diversidade, e diversidade na unidade, é o arranjo que produz os melhores resultados”.[5] A igreja primitiva enfrentou alguns problemas, mas manteve o foco. Tinha consciência de que o sacrifício de Jesus é a mensagem central do Evangelho, o preço pago pela nossa salvação. Ao mesmo tempo, em função dos ensinos de Paulo e os demais apóstolos, ela sabia que cada pessoa tem uma parte a desempenhar. Existe, sim, diversidade na igreja: de dons, de ministérios, etc. Essa diversidade é não apenas saudável, mas indispensável.
Notas
[1] O autor é pastor, mestre em Ciências da Religião, mestre e bacharel em Teologia, licenciado em Letras e autor de diversos livros e artigos. É docente do curso de Teologia, no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Cachoeira/BA, e atualmente está cursando o doutorado em Novo Testamento, na Andrews University (EUA). É casado com a professora Cristiane Aguiar, e tem dois filhos: a Karol e o Lucas.
[2] T. R. Schreiner, “Circumcision”, In: Hawthorne, Martin, and Reid, eds., Dictionary of Paul and His Letters, p. 137.
[3] Robert E. Van Voorst, “Judaizing,” ed. David Noel Freedman, Allen C. Myers, and Astrid B. Beck, Eerdmans Dictionary of the Bible (Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans, 2000), p. 748.
[4] Kenneth L. Boles, Galatians & Ephesians, The College Press NIV Commentary (Joplin, MO: College Press, 1993), Ga 2:12.
[5] Francis D. Nichol, ed., The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, v. 6 (Review and Herald Publishing Association, 1980), p. 774.