Lição 4
16 a 22 de outubro
Ame o Senhor, seu Deus
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Mc 7-9
Verso para memorizar: “Portanto, ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força” (Dt 6:5).
Leituras da semana: Dt 6:4, 5; 10:12; Ef 2:1-10; Ap 14:6, 7; Dt 4:37; 11:1; Mc 12:28-30

Para a religião judaica, uma das orações mais importantes está em Deuteronômio 6. É conhecida como “O Shema”, com base na primeira palavra hebraica da oração, da raiz, shama’, que significa “ouvir”, ou mesmo “obedecer” – palavra que aparece repetidamente em todo o Antigo Testamento.

A primeira linha do Shemá é assim: Shema Yísrael Adonai Elohenu Adonai echad, que significa: “Escute, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!” (Dt 6:4). Muitas vezes, quando os judeus fazem essa oração, eles cobrem os olhos. A ideia é não deixar que nada os distraia de pensar em Deus. Essa primeira linha do Shemá é considerada uma afirmação da natureza monoteísta de Adonai Elohenu, “o Senhor nosso Deus”, e a lealdade de Israel apenas a Ele e a nenhum outro “deus”. Também pode ser lido como “O Senhor é nosso Deus”.

Essa frase é parte do primeiro discurso que Moisés fez aos filhos de Israel quando estavam prestes a entrar na terra prometida. O que se segue a essa frase de abertura é uma expressão poderosa da verdade que permanece tão crucial no presente quanto outrora.



Domingo, 17 de outubro
Ano Bíblico: Mc 10-12
Amar a Deus

Depois que Moisés relembrou aos filhos de Israel sua história, deu-lhes instruções sobre o que deveriam fazer para tomar a terra e prosperar nela. Pode-se argumentar que a maior parte de Deuteronômio é apenas isto: o Senhor dizendo ao povo o que precisava fazer para cumprir sua parte na aliança feita por Deus com a nação em cumprimento da promessa feita por Ele a seus pais.

Deuteronômio 6 começa assim: “São estes os mandamentos, os estatutos e os juízos que o Senhor, seu Deus, ordenou que fossem ensinados a vocês, para que vocês os cumprissem na terra em que vão entrar e possuir, para que durante todos os dias da sua vida vocês, os seus filhos, e os filhos dos seus filhos temam o Senhor, seu Deus, e guardem todos os Seus estatutos e mandamentos que eu lhes ordeno, e para que os seus dias sejam prolongados” (Dt 6:1, 2).

1. Leia Deuteronômio 6:4, 5. Que ordem Deus deu aos filhos de Israel no verso 5? O que isso significa? 

“Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração”? É interessante que, em meio às advertências, regras e disposições, o povo foi chamado a amar o Senhor e a fazer isso “de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força”, o que aponta para a natureza absoluta desse amor.

Amar a Deus de todo o coração, alma e força significa que esse amor deve estar acima do amor por tudo e todos, pois o Senhor é o fundamento de todo o nosso ser, existência e tudo o mais. O amor por Ele deve colocar na perspectiva adequada o amor por todas as pessoas e por todas as coisas.

Em hebraico, a palavra “seu”, usada nas expressões “seu Deus”, “seu coração” e “sua força”, está no singular. Sim, Deus estava falando ao povo como um todo, mas o todo é tão forte quanto as partes. O Senhor deseja que cada um de nós, embora seja parte de um corpo maior, seja fiel a Ele, individualmente. O fundamento dessa fidelidade deve ser nosso amor por Ele, por quem Ele é e pelo que fez por nós.

O que significa amar a Deus de todo o coração, alma e força?


Segunda-feira, 18 de outubro
Ano Bíblico: Mc 13, 14
Temer o Senhor

Além da ordem para amar a Deus com tudo o que possuíam, Moisés ordenou ao povo que temesse o Senhor (Dt 6:2).

2. Leia Deuteronômio 10:12. O que o texto diz sobre amor e temor?

Em um verso, os israelitas são instruídos a temer a Deus, em outro a amá-Lo, e nesse verso são instruídos a temer e amar ao mesmo tempo. Pelo significado comum da palavra “temor”, isso pode parecer uma contradição, mas não é. Temer a Deus – no sentido de reverência e respeito por quem Ele é, por Sua autoridade, poder, justiça e retidão, especialmente em contraste com nossa pecaminosidade, fraqueza e total dependência Dele – deve ser uma reação natural. Somos seres caídos, violamos a lei de Deus e, exceto pela Sua graça, merecemos a condenação e a morte eternas.

3. Leia Efésios 2:1-10. Como temer e amar a Deus ao mesmo tempo?

Apesar de sermos “filhos da ira” (é por isso que devemos temer a Deus), Cristo morreu por nós e nos deu uma nova vida Nele, que inclui libertação do pecado e da condenação (é por isso que devemos amá-Lo).

Assim como isso é verdade para nós hoje, esse mesmo princípio se aplicava ao antigo Israel: eles tinham sido cativos no Egito, condenados à escravidão e à opressão, e foi somente o amor de Deus e a Sua misericórdia para com eles que os levou à sua grande redenção. “Lembre-se de que você foi escravo na terra do Egito e que o Senhor, seu Deus, o tirou de lá com mão poderosa e braço estendido. Por isso o Senhor, seu Deus, ordenou que você guardasse o dia de sábado” (Dt 5:15). Não é de admirar, então, que deviam amar e temer a Deus ao mesmo tempo. E se eles deviam fazer assim, quanto mais nós, pela morte de Jesus na cruz!

Leia Apocalipse 14:6, 7. Por que a ordem “temam a Deus” deve ser a primeira da mensagem do Senhor para os últimos dias? Visto que sabemos o que está por vir, por que essa ordem faz tanto sentido?


Terça-feira, 19 de outubro
Ano Bíblico: Ano Bíblico: Mc 15, 16
Ele nos amou primeiro

O livro de Deuteronômio apresenta regras, regulamentos e admoestações, advertindo que a nação judaica devia obedecer aos mandamentos, estatutos e juízos de Deus. Entretanto, em meio a todas essas leis, os israelitas aprenderam que, antes de tudo vinha o princípio de amar a Deus de todo o coração, alma e força. E eles tinham bons motivos para fazer exatamente isso. 

4. Leia Deuteronômio 4:37; 7:7, 8, 13; 10:15; 23:5; 33:3. O que esses versos ensinam sobre o amor de Deus por Seu povo?

Em Deuteronômio, repetidamente Moisés disse ao povo sobre o amor de Deus por seus pais e por eles. Mais do que apenas palavras, o Senhor revelou esse amor por meio de ações. Apesar das deficiências, falhas e pecados do povo, o amor de Deus foi constante, sendo manifestado poderosamente em Seu tratamento com eles. 

5. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4:19). Como esse texto nos ajuda a entender por que devemos amar a Deus? 

O amor de Deus por nós é anterior à nossa existência, no sentido de que o plano de salvação já existia “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4). Como disse Ellen G. White: “O plano da nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Ele foi ‘a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos’ (Rm 16:25). Foi um desdobramento dos princípios que, desde os séculos da eternidade, têm sido o fundamento do trono de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 22). Somos muito afortunados por ter um Deus tão amoroso que enviou Seu Filho à cruz por nós. Por Seu amor abnegado “Ele Se humilhou, tornando-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8). Temos uma revelação do amor de Deus por nós que os filhos de Israel provavelmente nem poderiam ter imaginado. 

E se a essência de Deus fosse ódio ou indiferença, em vez de ser amor? Que tipo de mundo teríamos? A revelação do amor de Deus por nós deve nos alegrar?


Quarta-feira, 20 de outubro
Ano Bíblico: Ano Bíblico: Lc 1, 2
Se Me amam, guardarão os Meus mandamentos

Israel foi chamado para amar a Deus, porém isso só poderia acontecer Deus e demonstrar esse amor por meio da obediência.

6. Qual é o tema comum nos textos a seguir?

Dt 5:10
Dt 7:9
Dt 10:12, 13
Dt 11:1
Dt 19:9

A Palavra de Deus não poderia ser mais clara. Deus não apenas diz que nos ama, mas revela esse amor por nós pelo que fez e ainda faz. Portanto, Seu povo também deve mostrar amor por meio de ações. Nesses textos, vemos que o amor a Deus está inseparavelmente ligado à obediência a Ele.

É por isso que, quando João diz: “Este é o amor de Deus: que guarde-mos os Seus mandamentos” (1Jo 5:3), ou quando Jesus diz: “Se vocês Me amam, guardarão os Meus mandamentos” (Jo 14:15), estão meramente expressando esse ensino básico. O amor a Deus sempre deve ser expresso pela obediência, e isso significa obediência à Sua lei, os Dez Mandamentos, que inclui o quarto mandamento, o sábado.

Embora a obediência a qualquer um dos mandamentos possa ser legalismo, esse tipo de obediência não demonstra amor a Deus. Quando de fato O amamos, especialmente por causa do que fez por nós em Cristo Jesus, queremos obedecer-Lhe, porque é isso o que Ele nos pede que façamos.

Quando Moisés disse vez após vez aos israelitas que amassem e obedecessem a Deus, fez isso depois que eles foram libertos do Egito. Ou seja, seu amor e obediência foram uma resposta à redenção que Deus lhes tinha dado. Eles foram redimidos pelo Senhor e responderiam obedecendo fielmente a Seus mandamentos. Hoje seria diferente? 

Qual é a sua experiência em obedecer a Deus? Quais são seus motivos para obedecer? Deve ser por amor? Segundo a Bíblia, qual é o papel do temor nessa questão?


Quinta-feira, 21 de outubro
Ano Bíblico: Ano Bíblico: Lc 3-5
O principal mandamento

Embora alguns, por várias razões, busquem separar o Antigo Testamento (AT) do Novo Testamento (NT), não é possível fazer isso sem tirar do NT seu verdadeiro significado. O NT, em sua revelação de Jesus e explicações teológicas de Sua vida, morte, ressurreição e ministério sumo sacerdotal, aponta para o cumprimento de profecias e tipos do AT. Em muitos aspectos, o AT forma o pano de fundo, o contexto, a base para o NT. Ambos revelam a bondade e o amor divinos.

Essa é uma das razões para que o NT, incluindo Jesus, cite o AT várias vezes. 

7. Leia Marcos 12:28-30. Que pergunta foi feita e que resposta deu Jesus? De onde Ele a obteve?

É interessante que um escriba, alguém que dedicou a vida a entender a lei e a maneira pela qual ela deve ser aplicada, tenha feito essa pergunta. No entanto, visto que ele possivelmente acreditasse que devia obedecer a muitas leis (a tradição judaica dizia que havia 613 leis), não é surpresa que ele quisesse tudo resumido em um mandamento.

E o que Jesus fez? Ele foi direto para Deuteronômio 6: “Escute, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6:4), e citou também o verso seguinte, sobre amar a Deus de todo o coração, alma e força. Ele apontou para a afirmação fundamental do Senhor como seu único Deus, e, com base nessa grande verdade, o povo é chamado a amá-Lo sobre todas as coisas.

O que poderia ser mais “verdade presente” do que essa ordem? Nos últimos dias, quando os eventos finais se desenrolarem e todos forem chamados a escolher um lado ou outro de forma dramática, os mandamentos de Deus (Ap 14:12) terão papel crucial.

No final das contas, mesmo diante da perseguição, escolheremos um lado com base na seguinte questão: amamos a Deus, ou não? Essa é a questão decisiva, e só podemos amar a Deus de todo o coração, alma e força se O conhecermos por nós mesmos e tivermos uma experiência individual com Sua bondade, Seu amor e Sua graça. Se for necessário, isso é algo pelo que valerá a pena morrer.

Se lhe perguntassem: Como amar a Deus se nunca O vimos, o que você diria?


Sexta-feira, 22 de outubro
Ano Bíblico: Ano Bíblico: Lc 6-8
Estudo adicional

“A cruz de Cristo será a ciência e o cântico dos remidos por toda a eternidade. No Cristo glorificado, eles contemplarão o Cristo crucificado. Jamais será esquecido que Aquele cujo poder criou e manteve os inumeráveis mundos através dos vastos domínios do espaço, o Amado de Deus, a Majestade do Céu, Aquele a quem querubins e resplendentes serafins têm prazer em adorar, humilhou-Se para reerguer a humanidade decaída. Nunca será esquecido que Ele suportou a culpa e a vergonha do pecado e a ocultação da face de Seu Pai, até que as misérias de um mundo perdido Lhe quebrantaram o coração e aniquilaram Sua vida na cruz do Calvário. O fato de o Criador de todos os mundos, o Árbitro de todos os destinos, deixar Sua glória e Se humilhar por amor ao ser humano despertará eterna-mente a admiração e a adoração do universo. Quando as nações dos salvos olham para seu Redentor e contemplam a glória eterna do Pai resplandecendo em Seu semblante; ao verem Seu trono, que existe de eternidade a eternidade, e saber que Seu reino não terá fim, irrompem num hino arrebatador: ‘Digno, digno é o Cordeiro que foi morto e nos remiu para Deus com Seu preciosíssimo sangue!’” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 651).

Perguntas para consideração:

1. Segundo Ellen G. White, por que nosso amor a Deus deve ser supremo?Aquele que “manteve os inumeráveis mundos através dos vastos domínios do espaço” foi à cruz por nós. Essa verdade deve ser a base do nosso relacionamento com Ele?

2. Devemos amar e temer a Deus ao mesmo tempo? Como fazer isso?

3. Uma coisa é amar a Deus quando tudo vai bem. E quando ocorrem tragédias? Nessas ocasiões, amar a Deus seria mais importante do que quando estamos bem?

4. Quais abordagens podemos usar para explicar a um incrédulo o que significa amar a Deus? É possível amar Alguém que nunca vimos fisicamente?



Resumo da Lição 4
Ame o Senhor, seu Deus

TEXTO-CHAVE: Dt 6:5

FOCO DO ESTUDO: Dt 6:4-6; 7:9; 4:37; 10:15; 23:5; Mc 12:28-30; Ef 2:1-8; 1Jo 4:19

ESBOÇO

Nas Escrituras hebraicas, a palavra “amor” aparece principalmente nos livros de Deuteronômio e Cântico dos Cânticos. Essa semelhança entre esses dois livros sugere a natureza relacional particular do amor. Visto que o livro de Deuteronômio é essencialmente sobre a aliança, isto é, sobre o relacionamento entre Deus e Seu povo, o amor é um tema importante. Infelizmente, o livro de Deuteronômio não contém uma definição clara do “amor”, que é misterioso e está além da nossa compreensão (veja Ef 3:17-19). No entanto, ele aparece associado a Deus, ao temor e à lei.

Temas da lição

Nesta lição, vamos lidar com três temas complexos e com as questões difíceis que decorrem de cada um:

• Amor e Deus. O que é o amor? Se Deus escolheu Seu povo porque o amava, não porque eles O amavam (Dt 7:8), então o que é amor? Se o amor começa com Deus e não tem motivação no objeto do amor, por que Deus amou? Em resposta, do ponto de vista humano, como podemos amar a um Deus que não podemos ver? (Veja 1Jo 4:20).

• Amor e medo. Se “no amor não existe medo” (1Jo 4:18), como amar a Deus e temê-Lo ao mesmo tempo?

• Amor e a lei. Como amar a Deus livremente se somos ordenados a amá-Lo? Como conciliar

o aspecto imperativo e legalista da lei e o caráter espontâneo do amor?

COMENTÁRIO

A lei (Dt 6:1, NVI)

Leia Deuteronômio 6:1-9. A construção da primeira frase, “Esta é a lei”, indica que “lei” se refere ao que se segue: “os estatutos e os juízos” (Dt 6:1; compare com Dt 5:1), que Deus ordenou que Moisés ensinasse. Portanto, quando Moisés pronunciou as primeiras palavras, “Esta é a lei”, ele aludiu aos Dez Mandamentos, que havia acabado de listar (Dt 5:1-20). Além disso, o artigo definido antes da palavra mitswah (“lei” ou “mandamento”), sugere ênfase. Essa lei é o “mandamento” por excelência, que inclui todos os outros mandamentos. Curiosamente, o mesmo verbo tsawah, “ordenar”, que Moisés usou em sua introdução, reaparece no meio da passagem em conexão com o mandamento do amor (Dt 6:6); e ali também, como na introdução (Dt 6:1), aparece em conexão com o verbo “ensinar”. Portanto, esse eco sugere claramente que o mandamento do amor era o que Moisés tinha em mente. Quando Jesus identificou o mandamento do amor como “o primeiro mandamento” (Mc 12:29-31), Ele estava em harmonia com o comentário de Moisés sobre a lei.

Perguntas para discussão e reflexão: Por que o mandamento de amar o Senhor do amor inclui todos os outros mandamentos? Por que o mandamento de amar o próximo é como o mandamento de amar a Deus, e não apenas outro (segundo) mandamento distinto (Mc 12:31)?

Para que vocês temam o Senhor (Dt 6:2)

Seguindo o raciocínio de Moisés, o propósito do “mandamento” é “que temam o Senhor, seu Deus”. Em outras palavras, amar a Deus significa, antes de tudo, “temer a Deus”, ter a consciência de que Ele existe. O amor implica a existência da outra pessoa que amamos. Amar o Senhor não é amar um princípio abstrato, uma sabedoria profunda ou uma bela história, não é uma teologia ou tradição cultural. Amar a Deus é amá-Lo como Pessoa. Temê-Lo significa ter e nutrir o forte senso de Sua presença em todos os lugares e em todos os momentos. Deus está presente não apenas na igreja ou quando oramos. Ele também está presente no escritório, na cozinha, no quarto, no mercado, quando estamos acompanhados ou quando estamos sozinhos, na luz ou na escuridão (veja Sl 139:2-12).

Perguntas para discussão e reflexão: O que significa amar a Deus como Pessoa? Por que não é possível amar a Deus sem considerá-Lo uma Pessoa? Leia Eclesiastes 12:13, 14. Por que o temor do Senhor está associado a Ele como Juiz?

Para que guardem todos os Seus estatutos e mandamentos (Dt 6:2)

Portanto, temer a Deus é andar com Ele, viver continuamente em Sua presença. Não podemos amar alguém e seguir um caminho em que a pessoa não esteja. O amor leva aos mandamentos. Primeiro, o amor leva aos mandamentos porque os mandamentos de Deus são a expressão do Seu amor: “Porque o Senhor os amava” (Dt 7:8). Em segundo lugar, o amor leva à obediência aos mandamentos porque amamos o Senhor: “Aos que O amam e cumprem os Seus mandamentos” (Dt 7:9). Observe que a sintaxe hebraica dessa frase sugere que a conjunção waw (“e”) deve ser entendida como a introdução de uma explicação: “Aos que O amam, isto é, que cumprem os Seus mandamentos”. Observar os mandamentos de Deus não é algo separado do ato de amar, é amar. Porque amamos a Deus, amamos Sua lei (Sl 119:70, 92, 97).

Perguntas para discussão e reflexão: O fato de que “amar a Deus” significa guardar Seus mandamentos afeta nossa compreensão do amor? Como a rejeição dos mandamentos de Deus afetará nosso amor por Ele? Por que nossa observância dos mandamentos afetará nossa compreensão de quem Ele é como Pessoa e, portanto, nosso amor por Ele?

Ame o Senhor (Dt 6:5)

O fato de Deus nos ordenar amá-Lo não é um problema, porque “Deus é amor” (1Jo 4:8). “Ame o Senhor” é o mandamento porque não pode ser diferente; é o imperativo absoluto por causa de quem Deus é. Assim, visto que Deus é amor, o mandamento envolve a totalidade do nosso ser. O amor nasce do coração, isto é, de dentro, do que não é visível, dos pensamentos e sentimentos mais íntimos, das intenções profundas. Não por acaso, o mandamento que conclui o decálogo, “não cobice” (Dt 5:21), oferece, no final da lei, a chave para todos os mandamentos. Não basta ter a lei, ter a verdade, saber que não devemos matar nem cometer adultério. Além disso, abster-se de cometer adultério ou de matar não é suficiente; não devemos nem mesmo pensar nem desejar isso (Mt 5:28).

Visto que o “amor” é uma emoção, nossa resposta de amor a Deus é urgente, ela emana do coração (Dt 6:6). Não é apenas uma lembrança ou uma esperança para o futuro. É algo presente e envolve nosso cotidiano. Amar a Deus, que está sempre presente em Seu amor, é tornar Deus relevante em nossa vida. Portanto, amar a Deus, que ama, é total; abrange “tudo”. Não apenas “de todo o seu coração”, mas também “de toda sua alma”, que significa “todo o seu ser”. E não para por aí. Por ser o amor, isso implica intensidade. Não podemos amar a Deus de maneira medíocre ou opaca. 

Perguntas para consideração: Nosso amor ao Criador se limita à obediência aos Seus mandamentos? É possível amar o Senhor além de Seus mandamentos? Se não, por quê? Como o fanatismo afeta a genuinidade de nosso amor a Deus? Por que o fanatismo é contrário ao amor ao Senhor?

Você deve ensiná-los (Dt 6:1, 7)

Assim como o Senhor ordenou a Moisés que ensinasse os Seus mandamentos (Dt 6:1), também ordenou a nós (Dt 6:7). Visto que a ordem de ensinar os mandamentos de Deus deriva do Seu amor, a missão de ensiná-los não pode derivar da força ou do desejo de lucro pessoal. Se as pessoas aceitarem Jesus sob a ameaça da espada ou sob a perspectiva de algum benefício, elas não entenderão o significado da lei divina e de quem Deus realmente é. Observe que essa passagem bíblica foi escolhida para indicar a missão de Israel como testemunha de Deus. Na primeira linha do texto hebraico, “Escute, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6:4), a letra ‘ayin, que termina a primeira palavra shema’, “escutar”, e a letra dalet, que termina a última palavra, “único”, formam a palavra “testemunha”. Para os antigos escribas que copiaram a Torá, essa linha continha a própria essência da identidade de Israel e sua missão como povo de Deus de testemunhar ao mundo, em qualquer lugar e em qualquer hora, pela manhã e à noite, no nascimento e na morte, sobre quem é Deus; isto é, o Deus único que ama Seu povo.

Perguntas para discussão e reflexão: O que significa o ensino dos mandamentos de Deus? Qual é a conexão entre a noção de um Deus único e a noção de um Deus amoroso que deseja ser amado? A missão se limita à lei? Como tal compreensão limitada distorceria o significado da lei? 

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Leia Deuteronômio 6:8, 9. Esse texto e outros (compare com Êx 13:9, 16; Dt 11:8) são usados como fonte para justificar a tradição judaica do tefilin (“filactérios”), ou seja, a prática de atar esse texto à mão e entre os olhos. Embora não haja evidência convincente dessa prática nos tempos bíblicos como uma aplicação literal dessa passagem, essa tradição parece ser muito antiga. Ela aparece no NT (Mt 23:5), nos escritos de Flávio Josefo e em alguns artefatos de Qumran. O que está claro, no entanto, é o significado simbólico desse ritual. Visite uma sinagoga ou pesquise esse ritual na internet para melhor compreendê-lo.

Questões para reflexão

Medite nas lições de fé e devoção simbolizadas em todos os gestos da tradição judaica:

• Deve amarrá-las. A lei de Deus deve estar intimamente ligada à pessoa. A ligação sugere também a ideia de fidelidade e um relacionamento de amor com o Senhor.

• Na sua mão. A lei de Deus deve afetar nossas ações.

• Entre os olhos. A lei de Deus deve afetar nossa mente e nosso discernimento.

• Escreva-as nos umbrais de sua casa e nas suas portas. A lei de Deus deve permear nosso lar.

Perguntas para discussão e reflexão

• Como a compreensão da prática citada anteriormente pode nos ajudar em nosso relacionamento com Deus? Como essa prática pode prejudicar nosso relacionamento com Ele?

• Leia Apocalipse 14:9. Como a prática do tefilin pode nos ajudar a entender a identidade do remanescente de Deus?


Três mistérios solucionados

Três perguntas intrigavam Batzul. Quando garoto, ele se perguntava porque cavalos eram chamados de cavalos, cachorros de cachorros, lobos de lobos. Mas ninguém lhe informava quem nomeara os animais. Em uma rua da capital da Mongólia, ele viu cartazes alertando contra o fumo, e perguntou ao pai porque as pessoas fumavam se sabiam que era prejudicial. O pai simplesmente sorriu. Ele não conseguiu explicar porque as pessoas fumavam.

O garoto começou a pensar sobre a morte, quando o pai morreu de insuficiência renal. Ele começou a se perguntar o que acontecia após a morte. Mas ninguém conseguia lhe explicar. A vida mudou drasticamente após a morte do pai. Batzul, que estava com 16 anos, encontrou um emprego em um mercado ao ar livre para ajudar a mãe a alimentar os três irmãos mais novos. E começou a fumar.

Certo dia, a irmã mais velha ligou da Coreia do Sul, para onde havia se mudado, e sugeriu que Batzul fosse à Igreja. Ela começara a frequentar uma igreja. “Visite uma igreja em U-B”, ela disse. Os mongóis referem-se à capital da Mongólia, Ulaanbaatar, como “U-B.”

Batzul não era cristão e nunca havia pensado em se tornar um deles. Mas, decidiu pedir ajuda à operadora telefônica. “Por favor, me dê o endereço da igreja UB”, ele pediu à telefonista, que prontamente o atendeu. Batzul começou a frequentar os cultos. Alguns meses depois, sua irmã perguntou se ele estava frequentando a igreja, e ficou feliz ao ouvir que ele estava frequentando regularmente. “Como você encontrou tempo livre para ir todos os domingos?”, ela perguntou. “Domingo?!”, ele respondeu. “Eu vou aos sábados!” Sua irmã ficou chocada. “Que igreja você está frequentando?”, perguntou. Batzul explicou que estava frequentando a igreja adventista.

Certo sábado, alguém lhe deu um livro que ensinava a desistir dos maus hábitos. Enquanto lia, se convenceu de que fumar era pecado. Em 1Coríntios 3:15 ele leu que o seu corpo é o tempo do Espirito Santo. Mas não conseguia deixar de fumar. Até que um dia, enquanto estava em casa, trancou-se em um galpão, tirou um maço de cigarros e orou desesperadamente: “Se Deus existe, por favor, ajude-me a parar de fumar!” E jogou o maço no galpão. Após respirar profundamente, ele sentiu alegria e paz invadir seu coração.

No dia seguinte, Batzul enfiou a mão no bolso em busca de alguma coisa e tirou um isqueiro. De repente, percebeu que nem havia pensado em fumar por um dia inteiro. Havia perdido o desejo de fumar. Na igreja, ele tirou o isqueiro do bolso e, entusiasmado, contou seu testemunho à líder dos estudos bíblicos. “Já estou sem usar esse isqueiro há quatro dias!” “Você encontrou Jesus!”, ela disse.

Determinado, Batzul começou a estudar a Bíblia. Em Gênesis, descobriu que Adão nomeou os animais. Também leu sobre o grande conflito entre Cristo e Satanás. Ele percebeu que Satanás tenta as pessoas com o vício do fumo porque deseja destruir a obra de Cristo. Batzul descobriu que a morte é como um sono profundo e, quando ele morrer, não terá consciência até o retorno de Jesus. Isso fez muito sentido. Enfim, ele descobriu as respostas às suas perguntas na Biblia e decidiu entregar o coração a Jesus.

Atualmente, Batzul tem 30 anos e junto à sua esposa são pioneiros da Missão Global na Mongólia. Ele fala a todos os seus conterrâneos mongóis que as respostas para todos os mistérios da vida podem ser encontradas na Bíblia. Seu verso favorito é Jeremias 29:13, onde Deus diz: “Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração” (NVI).

Há três anos, as ofertas trimestrais ajudaram a abrir a primeira instituição de Ensino Médio adventista na Mongólia. As deste trimestre ajudarão a abrir um Centro de Estilo de Vida Adventista em Ulaanbaatar. Agradecemos por sua liberalidade

 

Informações adicionais

• Pronúncia de Batzul: .

• Os pioneiros da Missão Global são leigos que se voluntariam por, no mínimo, a trabalhar um ano fundando igrejas em uma área não penetrada em sua própria cultura. Eles têm a vantagem de conhecer a cultura, falar a língua e se relacionar com a gente local. Mais de 2.500 pioneiros da Missão Global estão trabalhando agora em todo o mundo. Desde 1990, os pioneiros estabeleceram mais de 11 mil novas igrejas adventistas do sétimo dia.

• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.

• Para outras notícias sobre o Informativo Mundial e informações sobre a Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/nsd-2021.

 

 

Essa história ilustra os componentes seguintes do plano estratégico da Igreja Adventista “I Will Go”: Objetivo de crescimento espiritual nº 1 – “reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um modo de vida envolvendo não apenas pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e idosos, na alegria de testemunhar por Cristo e fazer discípulos”, através do “aumento do número de membros da igreja que participam em iniciativas evangelísticas pessoais e públicas com o objetivo de Envolvimento Total dos Membros” (KPI 1.1). Objetivo de crescimento espiritual nº 6 – “aumentar a adesão, retenção, recuperação e participação de crianças, jovens e adultos jovens”; e Objetivo de Crescimento Espiritual No. 7 – “ajudar jovens e adultos a colocar Deus em primeiro lugar e exemplificar uma visão bíblica de mundo” incentivando “jovens e adultos a abraçar as doutrinas (FB22) que o corpo é o tempo do Espirito Santos, abstraindo-se do álcool e tabaco.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

 


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: Deuteronômio:

Lição 4 – 16 a 22 de outubro de 2021

Ame o Senhor, seu Deus

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

A declaração central da fé de Israel é encontrada no texto de Deuteronômio 6:4: “Ouve, Ó Israel, O Eterno é Nosso Deus, o Eterno é Um.” Nesta semana, estudamos o que significa de fato essa declaração e quais são suas implicações para nós, como cristãos.

Na cultura judaica, esse texto é chamado de Shemá, em referência à sua primeira palavra hebraica, cujo significado é escutar e acentua aspectos da relação entre o homem e Deus. O principal objetivo do texto é lembrar ao judeu que Deus deve ser o centro de suas afeições e de seu viver. Nesse sentido, o shemá introduz como obrigação religiosa o ensino dessa verdade no processo educacional judaico. Não é apenas quando adulto que Deus deve fazer parte da vida, mas no período formativo da identidade, ou seja, na infância.

Com o objetivo de cumprir essa obrigação religiosa, que em hebraico é conhecida como Mitzvá, cujo significado é mandamento, o texto demanda que essa declaração e os ensinos da aliança devem ser falados aos filhos, antes de deitar, ao levantar, ao caminhar e ao sentar, ou seja, em todos os momentos da vida familiar. Além de falar, há a obrigação de mostrar, e isso é feito ao afixar a lei nos batentes das portas e atá-la no braço esquerdo e na fronte (Dt 6:5-10). Dois tipos de ensino são apresentados aqui: o ensino falado e o demonstrado, ou, na linguagem educacional moderna: teórico e prático. No aspecto teórico, cada ato passado e a história dos outros de seu povo deveriam ser apresentados aos filhos. Mas não apenas as relações históricas e vivenciais do passado. Também era necessário o ensino de conceitos encontrados na aliança, como amor e obediência, Divindade e povo e a própria aliança. Em termos práticos, cada ensino deveria ser literalizado em uma ação, como afixar a lei na mezuzá, traduzida por batentes das portas, atar a lei no coração e na fronte. Ou seja, de maneira prática, os membros do corpo, bem como as partes da habitação deveriam servir de exemplificadores e motivadores para a compreensão dos referenciais teóricos apresentados pelos pais e a comunidade, levando, por fim, ao cumprimento do principal mandamento da fé bíblica.

Antes de refletirmos sobre o uso do shemá no debate sempre presente sobre a Trindade e o monoteísmo judaico, precisamos nos perguntar qual é o significado do mandamento que segue ao shemá, textualmente, mas que faz parte da proclamação de fé de Israel: “amarás ao Eterno teu Deus [...]” O que é amar a Deus? Qual é o alcance do amor a Deus, dentro do livro de Deuteronômio, na Torá e na Bíblia?

A ideia de amor no mundo moderno é pesadamente romantizada. A grande maioria entende amor como um sentimento arrebatador e consumidor, que faz você se esquecer de si mesmo e pensar apenas no outro. Amor, nesse sentido quase adolescente, resulta em medo constante da perda do outro e entrega muitas vezes manipuladora, cujo objetivo é afastar essa possibilidade de perda. Esse amor não é um compromisso duradouro com base em escolhas feitas a cada dia, nem na busca da felicidade própria pela felicidade do outro. Não é um indisfarçado movimento de aproximação para o perdão, sem buscar nada em troca, que não seja a felicidade mútua.

Fora do âmbito mais íntimo descrito acima, muitos entendem o amor como o ato de ajudar a minimizar o sofrimento dos outros. Não se pode negar, de forma nenhuma, que essa ideia de amor existe nas Escrituras e é requerida do cristão. De fato, no texto bíblico, não poucas vezes Deus acusa Israel de faltar com o amor aos pobres, e um dos itens da aliança é justamente o cuidado com os menos favorecidos. Mas, embora isso seja importante e central, esse amor não é central no texto e na mensagem bíblica, mas resultante do que está no centro: o amor a Deus.

De maneira clara, não é possível definir o amor a Deus como mero sentimento, ou como arrebatamento místico. Muito menos a partir da ideia oriental de um Nirvana de encontro com a Divindade, ou em um paraíso preparado para mim. Tampouco, é possível, em termos bíblicos restringir, limitar ou confundir o amor a Deus com o amor ao próximo, ou com uma centralização de atividades sociais e humanitárias, como se essas coisas fossem o centro da religião bíblica. No primeiro caso, o amor não é concreto o suficiente e padece da volatilidade da paixão, sendo fácil a mudança das afeições. Busca-se de Deus a Sua entrega e a Sua entrega peremptória, mas de forma alguma a minha entrega. Cria-se um “deus” idealizado de acordo com meus sentimentos e compreensões e um amor que está centrado nesse “deus”. No segundo caso, a inversão do objeto central e do foco do amor acabam por destronar Deus e divinizar os humanos necessitados, transformando a mensagem de Deus sobre salvação, amor e juízo em articulações filosóficas e sociais, e diluindo o evangelho em meras ações sociais.

O amor a Deus deve incluir tudo o que dissemos, mas não se limitar a nada dessas coisas. De fato, o termo hebraico ahav está associado a uma raiz semítica que provavelmente signifique respirar profundamente, estar animado, entusiasmado e, nesse sentido, deve responder por um sentimento que não conhece limites. Por outro lado, o uso desse termo no texto hebraico está também associado a ações, primariamente relacionadas ao relacionamento, dentre os quais o relacionamento entre Deus e Seu povo e entre seres humanos também. E essas ações não são abstratas, como meras declarações ou lindos sentimentos, mas cuidado, desvelo e zelo. E aqui se insere, como resultado e não como equivalente o amor ao próximo, mormente expresso em ações sociais.

Amar a Deus, não obstante, engloba todos os aspectos emotivos, racionais, teóricos e práticos, como o texto de Deuteronômio 6:5-10 expressa. Não é apenas amar a Deus com sentimentos (levav), mas com o todo o ser (nefesh) e o total compromisso (me’od). Essa construção hebraica busca expressar a totalidade da psicologia hebraica em níveis concêntricos que abarcam o todo da existência: Levav, coração, expressa a totalidade da vontade humana, seus sentimentos e afeições. nefesh é a sua própria existência, o eu, o seu ser. Me’od, por seu turno, indica a necessidade de consagração total e de tudo que ao homem “pertence” ao Eterno. Esse tudo final, abarca sua posição, bens e tempo. Como no exemplo de Josias, envolve o reconhecimento de erros passados e o retorno à aliança de Deus, por submeter o todo de sua existência ao Eterno (2Rs 25:23). E esse é o alcance do amor a Deus na Torá e em Deuteronômio.

Por fim, com essa ideia em mente, podemos olhar com outros olhos ao shemá, para além das discussões sobre monoteísmo e politeísmo. Na sua essência, o texto não está preocupado em descrever a unidade ou pluralidade de Deus, mas Sua singularidade como Deus de Israel. Aqui, a obrigatoriedade exigida é da fidelidade a Deus, YHWH, como único Deus de Israel. Entretanto, é preciso abandonar a ideia de que o termo hebraico echad indique pluralidade na divindade. De fato, o termo é praticamente um sinônimo de yachid, podendo ser usado de forma a indicar algo absoluto como em Deuteronômio 17:6, ou Eclesiastes 4:8. Echad aqui deveria ser lido como uma declaração de fé na singularidade do Deus de Israel: Somente (echad) HaShem é digno de ter meu amor, meu ser e meu total comprometimento.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos  Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International  Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.

 

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: Deuteronômio

Introdução a Deuteronômio

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

Nome do livro

O quinto livro das Escrituras, completando o chamado Pentateuco é “Deuteronômio”. O título do livro significa “Segunda Lei”, em português, e deriva do termo utilizado na Septuaginta (tradução grega da Bíblia hebraica, datada do 3º ou 4º século a.C.). O título original do livro, entretanto, como era comum nas Escrituras Hebraicas, deriva de suas primeiras palavras: “eleh hadevarim”, ou “estas são as palavras”. O título hebraico acentua a característica discursiva do texto, enfatizando o que é dito nele mesmo, segundo o qual, Deuteronômio se constitui em um discurso feito por Moisés, antes de sua morte (Dt 1:3). Já o título grego enfatiza o conteúdo legal do livro, com sua ampla repetição da Lei. Parece indicar, também, que os tradutores da Septuaginta viam o texto como sendo o texto encontrado pelos auxiliares do rei Josias, e que guiou suas reformas religiosas no 7º século a.C., como já sugerido pelos pais da igreja. Sendo isso um fato ou não, o título grego Deuteronômio se harmoniza de maneira perfeita com o conteúdo do livro, assim como o título hebraico se harmoniza com a forma dele (o que, diga-se de passagem, não aconteceu com outros livros cujo título grego causa apenas confusão, como “Números”, cujo título hebraico é Bamidbar: “no deserto”).

Essa dupla nomenclatura deverá ser mantida em nossa jornada nos próximos três meses, enquanto estudamos o guia da Lição da Escola Sabatina sobre Deuteronômio. Ele nos ajudará a compreender vários aspectos do livro, que podem ser perdidos de outra forma. Devemos, portanto, lembrar em cada leitura que estamos lidando com um discurso de Moisés, carregado do impacto de sua sabida despedida. Nesse discurso, ele relembra ao povo as experiências históricas que o levaram até aquele momento, dando-lhe, por seu turno, uma repetição da própria legislação que brotou de cada uma das experiências vividas.

Autoria e data

De longa data Deuteronômio foi reconhecido e recebido como um texto mosaico. Ele provinha da pena de Moisés e do período mosaico. Foi apenas com Baruch Spinoza, judeu espanhol do século 17, que dúvidas foram levantadas quanto à autoria mosaica do Pentateuco. Ele afirmou, por exemplo, que Moisés não poderia haver escrito sobre sua própria morte (Dt 34) e, portanto, o livro de Deuteronômio não era de sua autoria.

A principal teoria quanto à autoria do Pentateuco é que o texto é da época da reforma de Josias, por volta de 621 a.C., tendo sido produzido pelo palácio para dar validade a um projeto de poder que se centralizava em Jerusalém em torno do palácio, da figura real, do sacerdócio e do templo. Não obstante, evidências internas demonstram que o livro de Deuteronômio é anterior aos profetas literários, que são datados do 8º século a.C., é anterior ao período da monarquia dividida do 10º século a.C., e à conquista da terra por Josué, entre os séculos 15 e 14 a.C.

Quanto aos profetas, a expressão “O Eterno Deus dos seus pais”, que aparece em Deuteronômio, não é encontrada em nenhum dos profetas literários, mas está registrada três vezes em Êxodo (3:6; 15:12 e 18:4). Igualmente, a situação descrita em Deuteronômio 16 não condiz com o que conhecemos do tempo de Josias, no sétimo século a.C. A reforma de Josias tinha por objetivo especialmente três problemas: os Kemarim (sacerdotes idólatras), os bamot (lugares altos) e os cavalos de bronze para adoração ao deus sol. Nenhum desses itens é mencionado em Deuteronômio, criando uma tremenda dificuldade para os que enxergam uma data no 7º século a.C.

Evidência de que o texto tenha sido anterior à divisão do reino inclui a ausência de qualquer menção ou sugestão de que houvesse divisão entre Judá e Efraim e a frequência de expressões que entendem Israel como uma nação única (cf. Dt 1:13, 15, etc.). Igualmente, o relato demonstra que o livro foi ambientado em um período no qual Israel ainda não habitava em Canaã. Por exemplo, quando as fronteiras da terra são mencionadas, elas são descritas como “terra dos amorreus” e “Líbano” (1:7), e não como “de Dã até Berseba”, como em livros posteriores. A própria legislação de Deuteronômio pressupõe uma sociedade ainda em preparo para a entrada na terra, não uma que já estivesse ali estabelecida. Dos 346 versos dos capítulos 1–26, mais da metade é religioso e moral, enquanto 93 lidam com mandamentos sobre a iminente entrada na terra.

Em resumo, a melhor data para Deuteronômio é aquela apresentada no próprio texto: a iminente entrada na terra, quando Moisés ainda vivia, no fim dos 40 anos de peregrinação no deserto, por volta de 1405 a.C. No esteio da datação, faz todo sentido a autoria mosaica, estabelecida pelo texto de forma indireta e pelas referências posteriores a Deuteronômio como a Lei de Moisés.

Crítica textual

Como todos os livros da Bíblia, Deuteronômio possui também uma longa história textual. Os livros do Pentateuco, por sua vez, não têm uma história textual com variações muito importantes, uma vez que sempre foram considerados no pensamento judaico como ditados por Deus. Dessa forma, o processo de cópia respeitava – e respeita – estritas regras que visam impedir a corrupção do texto. Mas, com o decurso do tempo e principalmente com o surgimento de divisões internas no judaísmo, ainda que não tenha diminuído a importância e sacralidade da Torá/Pentateuco, surgiram tradições textuais diferentes, vistas no próprio texto, sendo as três principais o Pentateuco Samaritano, a Septuaginta e os Manuscritos do Mar Morto.

O texto padrão é conhecido como texto massorético por haver sido preservado por escribas especializados que preservaram a massorá, cujo significado é tradição, reconhecida como a que remontava até Moisés.

Os principais manuscritos massoréticos são o Códice de Alepo, datado de por volta de 920 a.C. e o Códice de Leningrado, datado em 1008 a.C. Esses dois manuscritos são a base do texto das Bíblias Hebraicas de hoje. Esses dois textos são comparados a outros manuscritos e, através de procedimentos próprios da crítica textual, o texto original é restaurado.

O Pentateuco Samaritano é o texto utilizado pelos samaritanos, escrito em alfabeto samaritano, que em poucas coisas se assemelha ao alfabeto hebraico que possuímos, mas que representa o alfabeto utilizado, provavelmente, por Israel antes do exílio da Babilônia. Ele possui não apenas uma língua diferente, mas também versos com versões alternativas, como a versão samaritana dos dez mandamentos, que conclama o povo a fazer um altar no monte Gerizim para adoração. No texto de Deuteronômio, encontramos duas interessantes mudanças também relacionadas com o lugar de adoração. No capítulo 27:2-8, o texto massorético emprega o futuro para indicar que Deus “escolherá” o lugar de adoração. Já no texto samaritano, o verbo utilizado está no passado, informando que ele já “escolheu” e essa escolha é o monte Gerizim, que, no Pentateuco Samaritano, toma o lugar do monte Ebal (v. 4).

A Septuaginta, ou a versão dos LXX, é a versão grega da Bíblia Hebraica, produzida por volta do 3º século a.C., com permissão do Sinédrio. De acordo com a tradição judaica, ela foi produzida por 72 sábios da Torá que, mesmo isolados, produziram um trabalho coerente. O que conhecemos como LXX, entretanto, tem em si mesmo uma história textual, que nos entregou versões, com a LXX propriamente dita e as versões de Teodócio, Símaco e Áquila. As alterações que a LXX preservou no texto de Deuteronômio são de tal importância que geraram toda uma disciplina de estudos. Os resultados desses estudos mostraram que, em algum momento, houve o surgimento de uma tradição textual que divergia do texto hebraico e tinha sido preservada pela LXX. O caminho dessa tradição textual foi no sentido de aproximar Deus do ser humano, focalizando mais em Sua imanência do que em Sua transcendência. Além disso, é clara a influência helenística na tradução da LXX.

A descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1947, deu novo impulso à pesquisa do texto original dos livros bíblicos. Em relação a Deuteronômio, foram encontrados manuscritos em quase todas as cavernas, sendo a caverna quatro a principal, com 22 manuscritos encontrados. Alguns desses manuscritos concordam com o texto massorético do 9º século a.C., enquanto outros preservam uma leitura próxima da leitura da LXX.

Em suma, hoje possuímos como nunca, uma variedade de manuscritos de Deuteronômio que nos permite, por meio de análises textuais, nos aproximar muito, ou mesmo tocar, os textos como saíram das mãos de Moisés.

Estrutura

O livro de Deuteronômio consiste basicamente em discursos de despedida de Moisés. Reconhecem-se três discursos principais com apêndices curtos lidando com aspectos da aliança. A estrutura abaixo é um resumo da descrição apresentada por Gleason Archer em Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 170, 171:

I. Primeiro Discurso: Revisão Histórica, cap. 11–4:43

II. Segundo Discurso: Leis Pelas Quais Israel Deve Viver, 4:44–26:19

III. Terceiro Discurso: Advertência e Predição, 27:1–30:20

IV. Lei Escrita Entregue aos Líderes, 31:1-30

V. O Cântico de Moisés: A Responsabilidade de Israel Diante da Aliança, 32:1-43

VI. Despedida e Recomendações Finais, 32:44–33:29

VII. A Morte de Moisés, 34:1-12

Tematicamente, é possível perceber uma estrutura circular, tendo o código da aliança, nos capítulos 12–26 como centro e duas molduras: uma interna (capítulos 4–11 e 27–30) e outra externa (capítulos 1–3 e 31–34). Essa estrutura demonstra o papel central da aliança no pensamento apresentado no livro.

Temas

São três os temas centrais do livro de Deuteronômio: Deus, Israel e Aliança.

Deus

Ele é o centro do livro, além de ser o centro das Escrituras. No Pentateuco, e em Deuteronômio em particular, Deus é apresentado por meio das lentes da revelação histórica, mais do que da natureza. Aliás, essa é uma das contribuições e polêmicas da Bíblia Hebraica: Deus é melhor conhecido por meio da Sua ação histórica. A história é o palco da revelação divina e a natureza apenas demonstra Seu poder criador, mas não Sua vontade redentora!

Israel

É o povo escolhido de Deus. Na Torá isso se torna explícito e claro. Em Deuteronômio, somos constantemente relembrados disso. Essa escolha, totalmente fundamentada em um ato livre da graça divina, não se baseia em nada que Israel houvesse apresentado para atrair a Divindade. Ao contrário, Israel havia sido infiel e desobediente e seguiria assim. Entretanto, por ser fiel à Sua aliança, o Eterno Se manteria ligado a esse povo.

Aliança

É o centro do relacionamento entre o Eterno e Israel. Embora nosso conceito de aliança precise ser revisto para perceber como a aliança é puramente divina, feita entre os membros da Divindade para benefício da ordem criada em geral e dos seres humanos em particular, não resta dúvida de que a aliança é o que liga o Céu à Terra, funcionando como um reino no qual os seres criados, perdidos e redimidos são convidados a entrar e viver. O coração de Deuteronômio pulsa com a aliança. No seu próprio centro, nos capítulos 12–26, encontramos o código de conduta dessa aliança, repetida por Moisés, que conclamou os israelitas a entrar nesse compromisso com o Senhor.

Lendo Deuteronômio

Moisés, em seus discursos carregados de emoção, inicia com a lembrança resumida de que eles ali chegaram porque, um dia, Deus prometeu aos seus pais a terra como herança, e isso não foi em decorrência de qualquer ação dos pais, mas pela livre graça amorosa de Deus. Essa é a lembrança fundamental que irá permear a caminhada de Israel, ou que deveria fazê-lo: o único antídoto para a apostasia e fundamento da esperança é a compreensão de que a origem de Israel é o chamado histórico de Deus. Embora Moisés não se preocupe em traçar as origens do povo até a criação, não resta dúvida de que na figura dos “pais” a história primordial está incluída, porque na visão bíblica, os patriarcas, como todos os seres humanos, são resultado dos primeiros 11 capítulos de Gênesis.

Por isso, um método sadio de interpretar e entender Deuteronômio deve levar em consideração alguns aspectos essenciais:

1. O texto é narrativo e apresenta um discurso de despedida de Moisés;

2. Grande parte do discurso apresenta palavras de Moisés e não de Deus.

3. O texto de Deuteronômio serve com um fechamento apropriado para a história iniciada em Gênesis, permitindo perceber várias nuances do amor de Deus individualizado.

O primeiro item deve nos levar a compreender o peso de cada palavra do texto. Os cinco discursos de Moisés que compõem o livro, mais a narrativa de sua morte, quando lidos a partir da perspectiva de um discurso de despedida, trazem uma visão diferente de cada tema apresentado. Não estão ali apenas palavras éticas de um grande professor, ou a narrativa histórica distante de um historiador, nem mesmo as palavras bem equilibradas de um poeta, mas a viva expressão da certeza de sua partida, temperada com a vívida fé histórica, moldada não pelas experiências de outrem, mas dele mesmo, como testemunho para aquela geração que descendia da geração que tinha morrido no deserto, mas também para futuras eras. A emoção é sensível nas palavras de repetição da legislação para aqueles jovens.

E por serem carregadas do tempo de vivência e da emoção do fim, as narrativas históricas de Deuteronômio são pintadas com a tinta da reflexão, e as pinceladas legislativas não são apenas repetidas menções de artigos do código levítico, mas vívidas interpretações daquele código. E aqui somos agraciados com uma oportunidade única: podemos ver Moisés, não como o mediador da entrega da Lei, mas como um intérprete. É possível, e isso é único, pensar nas palavras repetidas da Lei como a maneira pela qual o próprio Moisés entendeu a legislação dada a Ele por Deus e, por meio dele, ao povo! E precisamos permitir que essa realidade, a de que estamos escutando e lendo o que Moisés (certamente guiado pelo Espírito Santo) compreendeu da legislação que Deus lhe havia entregue, quando lermos os textos legais, apareça e faça parte do modelo de intepretação e restrinja nossa vontade de ser independentes em demasia.

Por fim, se mantivermos os dois primeiros artigos de nosso método em foco, aliados ao terceiro, quando estudarmos cada lição durante este trimestre, poderemos perceber que Deuteronômio trata precisamente da história como revelação, usando a expressão tão precisa de Wolfhart Pannemberg. Sim, a história sempre foi vista como um dos meios pelos quais Deus Se revela de forma geral, mas o fato, percebido por Pannemberg em Deuteronômio, é que a história é o palco por excelência da revelação especial, ou do plano da salvação. Por isso, podemos, e mais do que isso, devemos ler Deuteronômio como uma franca declaração histórica de um Deus que não legisla no vácuo, mas fundamenta Suas leis na Sua autorrevelação, contínua e constante, que se dá no palco da história. Ele quer ser não apenas o Autor distante da história, mas parte dela, interagindo com o ser humano e se relacionando com o mundo criado. Nessa verdade impressionante e transformadora apresentada na Torá (Pentateuco) e emocionalmente declarada e repetida nas palavras de Moisés, encontramos o foco do próprio Deuteronômio.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.