O livro do Apocalipse mostra as soluções de Deus para nosso mundo caído. Nos capítulos finais, o acesso à árvore da vida é restaurado, a maldição é suspensa e somos readmitidos à presença de Deus. O Apocalipse, de certa forma, é o livro de Gênesis ao contrário, e é por isso que Gênesis é uma chave importante para entender como os problemas do mundo se iniciaram.
Um dos temas centrais de Daniel e Apocalipse é o governo terrestre, uma sucessão de tentativas humanas de controlar um planeta que pertence legitimamente a Deus. Essa horrível história de pecado e rebelião terminará para sempre. Depois disso, haverá apenas o justo governo de Deus.
Até esse tempo, há um processo bastante longo, envolvendo milhares de anos em que os seres humanos têm tentado governar a si mesmos. Esses governos nunca funcionaram. Mesmo aqueles que expressaram os ideais mais elevados sempre ficaram longe, e muitas vezes terrivelmente longe desses ideais. Grande parte da triste história da humanidade ao longo dos milênios nada mais é do que relatos da tragédia que esses sistemas fracassados trouxeram sobre nós. E isso só vai piorar até que o “reino eterno” (Dn 7:27) de Deus seja estabelecido.
O Éden era o lar ideal. Depois que o pecado entrou no mundo, Deus não teve escolha a não ser separar a humanidade do jardim e da árvore da vida, pelo menos por enquanto.
Fora do jardim, os seres humanos foram obrigados a trabalhar para garantir sua existência. A vida se tornou difícil; temos que viver com a dor e com o suor do nosso rosto (Gn 3:16-19). Nossos primeiros pais confiaram que o Rei legítimo forneceria um caminho de volta para o jardim, e levavam sacrifícios aos portões do Éden, aguardando fielmente a redenção que Deus, desde o início, ofereceu ao mundo caído.
“O jardim do Éden permaneceu na Terra muito depois que o homem fora expulso de seus agradáveis caminhos (Gn 4:16). [...] Adão e seus filhos iam ali [à porta do paraíso] para adorar a Deus. Ali renovaram seus votos de obediência àquela lei cuja transgressão os havia banido do Éden. Quando a onda de iniquidade se propagou pelo mundo e a impiedade dos homens determinou sua destruição por meio do dilúvio, a mão que plantara o Éden o retirou da Terra. No entanto, na restauração final de todas as coisas, quando houver ‘novo céu e nova Terra’ (Ap 21:1), ele será restabelecido, mais gloriosamente adornado do que no princípio” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 38).
Alguns procuraram “soluções” humanas para esses problemas. Então surgiram as cidades-estados, uma tentativa de tornar a vida mais fácil, e talvez conquistar o que havia sido perdido no Éden.
1. Em Gênesis 10:1-12, vemos a origem de poderes que se destacariam no restante da Bíblia, incluindo Nínive e Babilônia. Pelo que sabemos da história dessas cidades, o que concluímos dessa passagem?
Alguns concluíram que Ninrode era um herói nobre, parecido com os conquistadores das mitologias pagãs. No entanto, a expressão “valente caçador diante do Senhor” (Gn 10:9) não é um elogio. Ninrode era poderoso aos seus próprios olhos, e estava “diante do Senhor” no sentido de que O desafiava. Gênesis 10 descreve o aumento da rebelião contra Deus, o que existirá até que o mal seja eliminado.
Em Gênesis 10, vemos o nascimento de inúmeras nações. A palavra geralmente traduzida como “nações” é goyim, que também pode se referir aos gentios. Esse capítulo diz que a raça humana se dividiu em terras, línguas, famílias e “nações” (Gn 10:5; compare com Ap 14:6).
Logo depois que o conceito de nação é introduzido na Bíblia, Deus chamou Abraão para sair de uma dessas nações para ser diferente delas e do que elas representavam.
2. Leia Gênesis 12:1-9. Por que Deus chamou Abraão para sair de seu país?
Deus pretendia usar Abraão para estabelecer uma nação diferente dos reinos humanos. Essa nova nação não deveria ter nenhum rei além de Deus. Deveria mostrar o que aconteceria se a humanidade retornasse ao Criador. Israel foi estabelecido para ser uma bênção para “todas as famílias da terra” (Gn 12:3). Deus lhes concedeu tanta luz e privilégios que provavelmente não eram vistos no mundo desde antes do dilúvio.
3. Leia Deuteronômio 4:5-9. O que o Senhor disse aos descendentes de Abraão, a nação que havia se tornado um cumprimento da promessa que Deus havia feito a esse patriarca?
Agora não era mais uma pessoa testemunhando em uma única comunidade; era uma nação inteira que, trabalhando em cooperação com Deus, poderia exibir a glória de Seu caráter. O que os tornavam especiais não eram apenas os “estatutos e juízos” que Deus lhes dera (Dt 4:5), mas o fato de os praticarem. Era isso que levaria as outras nações a dizer: “De fato, este grande povo é gente sábia e inteligente” (Dt 4:6). Por mais maravilhosas que fossem as verdades dadas ao povo, a falha em vivê-las e obedecer a elas traria maldições em vez de bênçãos, e morte em vez de vida.
Deus estabeleceu que Israel não deveria ter um monarca humano, como as outras nações. Com o tempo, porém, a fé de Israel falhou, e eles se viram desejando aquilo que as “nações”, os gentios, tinham.
4. Leia 1 Samuel 8:4-18. Por que os líderes do povo acharam a ideia de um rei tão atrativa? De que maneira caímos em tentações semelhantes?
O pedido por um rei foi uma rejeição do reinado de Deus sobre Seu povo. A nação devia responder diretamente ao Criador, e seu relacionamento com Ele foi exposto por meio do santuário e seus serviços, entre outras coisas. Ao pedir um rei, os israelitas trariam sobre si o mesmo sofrimento que os reinos gentios experimentavam: recrutamento militar nas guerras do rei, confisco, impostos e outros males. Eles descobririam que os líderes humanos tendem a governar em seu próprio favor, em vez de fazê-lo com bondade, como Deus faz.
Além disso, aquela nova condição seria permanente: Israel teria o que pediu, mas quando percebessem as consequências nocivas, ficariam presos a isso (1Sm 8:18).
Deus conhece as fraquezas de Seu povo e previu, desde o início, que Israel pediria um rei humano. Os israelitas pediram, e grande parte da história bíblica é o relato das consequências dessa escolha.
Em Deuteronômio 17:14-20 Deus não disse que lhes daria um rei, mas que Seu povo decidiria ter um rei. Diante disso, o Senhor colocou limitações para proteger Seu povo dos males do governo humano. Ainda assim, como ficou claro na história da nação e de seus reis, as orientações divinas frequentemente eram ignoradas.
A história de Israel registra os efeitos negativos da decisão de ter um rei. Até mesmo os “bons” reis cometeram vários erros (veja o exemplo de Davi e Bate-Seba). Na maior parte do tempo, a nação foi governada por reis que fizeram “o que era mau aos olhos do Senhor” (ver 1Rs 11:6; 15:26; 16:30; 2Rs 3:2).
A maneira como Deus Se relacionava com Israel nos ajuda a compreender como Ele lida com a igreja do NT. Em vários aspectos, os erros de Israel foram repetidos pela igreja cristã. Longe de poderem reivindicar qualquer tipo de superioridade sobre o antigo Israel, os cristãos foram, e ainda são, suscetíveis às mesmas tentações.
5. Leia Mateus 20:25-28. Contra que erro Jesus advertiu Seus discípulos ao estabelecer a missão da igreja cristã?
Israel pediu um rei humano, o que levou à queda moral da nação. Os reis se tornaram cada vez mais ímpios até que Deus permitiu que os babilônios levassem Seu povo cativo como forma de correção.
Algo semelhante aconteceu na história da igreja cristã. Embora os cristãos não devessem se organizar como uma nação gentílica, quando Constantino chegou ao poder e professou ser cristão, os crentes ficaram aliviados: a perseguição havia terminado! Isso em si foi uma bênção, mas os cristãos tiveram a ideia de que poderiam explorar o poder do imperador em seu próprio benefício.
No 4o século d.C., surgiram inúmeras discussões importantes entre os cristãos, e quando a igreja se viu incapaz de resolvê-las, ela permitiu que o imperador interviesse. Gradualmente ganhou destaque o bispo de Roma, que até então havia tido o mesmo poder que os outros bispos. A igreja permitiu que o Estado interferisse em questões religiosas e, uma vez que isso começou a ocorrer, as coisas foram de mal a pior.
Assim como ocorreu com o antigo Israel, muitos dos capítulos mais sombrios da história cristã foram o resultado direto do envolvimento da igreja com o mundo. Israel se voltou para a adoração de ídolos, e seus reis foram corrompidos pelo desejo de poder – a ponto de oferecer crianças aos ídolos. De maneira semelhante, a igreja cristã gradualmente adotou muitas práticas de um império pagão, a ponto de inúmeros crentes fiéis serem martirizados porque eram percebidos como ameaças à instituição que unia igreja e Estado.
O propósito principal para o qual Deus estabeleceu a nação de Israel não era condenar o restante do mundo, mas salvá-lo. Geralmente nos sentimos condenados quando somos confrontados pelo comportamento correto de outra pessoa. Então, a existência de Israel também serviu para destacar o pecado e o egoísmo das nações ao redor. Os crentes que vivem em harmonia com Deus revelam Seu caráter justo, o que naturalmente leva outras pessoas a perceber seus erros. A vida daqueles que “guardam os mandamentos de Deus” (Ap 14:12) deverá expressar Seu caráter.
No entanto, se os israelitas tivessem agido como deviam e feito o que o Senhor havia orientado que fizessem, as nações teriam ido até eles em paz, buscando conhecer mais sobre eles e sobre o seu Deus. Infelizmente, como o cativeiro babilônico mostrou, essas nações vieram para travar guerra.
Obviamente, a expressão suprema do caráter de Deus foi Jesus – o único Ser humano que demonstrou esse caráter perfeitamente. No entanto, Seu exemplo perfeito, que certamente trouxe convicção de pecado a muitos corações, também pretendia ser um convite ao arrependimento (ver Jo 3:16-21).
O propósito final para o estabelecimento da nação de Israel foi o mesmo propósito de Deus ao estabelecer a igreja: Ele anseia usar Seu povo para atrair pecadores para Cristo. O chamado das três mensagens angélicas, que é proclamado por Sua igreja, não é dirigido a alguns poucos escolhidos, mas a “cada nação, tribo, língua e povo” (Ap 14:6). Apocalipse 18:1 prevê que toda a Terra será iluminada com a glória de Deus antes do retorno de Cristo.
6. O que as seguintes passagens ensinam sobre o que Deus pretende para Seu povo neste mundo? Como aplicar esses princípios à nossa vida?
a) Números 14:17-21
b) Isaías 42:6; 49:6; 60:3
c) Apocalipse 18:1-4
Leia Isaías 44:24-28; 45:1-13.
“Pouco a pouco, a princípio de forma discreta e silenciosa e depois mais às claras, à medida que crescia em força e conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniquidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente, os costumes do paganismo ingressaram na igreja cristã.
“O espírito de transigência e conformidade fora restringido durante algum tempo pelas terríveis perseguições que a igreja suportou sob o paganismo. Mas, ao cessar a perseguição e entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, ela deixou de lado a humilde simplicidade de Cristo e de Seus apóstolos em troca da pompa e do orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e, em lugar das ordenanças de Deus, colocou teorias e tradições humanas” (Ellen G. White, O Grande Conflito [CPB, 2021], p. 38).
Corremos o risco de deixar “de lado a humilde simplicidade de Cristo e de Seus apóstolos”, trocando-a por ostentação, poder, elogios e tentações deste mundo? Se acharmos que não corremos esse risco, estaremos enganando a nós mesmos.
Perguntas para consideração
1. O exílio babilônico foi uma experiência dolorosa. Abraão havia sido chamado para fora da terra dos caldeus, a fim de tornar o povo da aliança uma luz para o mundo, e agora eles foram levados acorrentados. No cativeiro, Deus mostrou o que teria ocorrido se Israel tivesse sido fiel. Nabucodonosor, líder do sistema oposto a Deus, se voltou para Ele (Dn 4). No fim do cativeiro, o Senhor levantou um rei persa para representar Cristo, libertando Israel de Babilônia e devolvendo-o à terra prometida. Ciro não era israelita, mas Deus o escolheu para revelar o plano da salvação ao restabelecer o povo da aliança em Jerusalém. Deus usou pessoas de fora de Israel para cumprir Seus objetivos. O que aprendemos sobre como Deus vê a humanidade?
2. Se não estamos em Babilônia, quanto de Babilônia está em nós? É possível mudar?
Respostas às perguntas da semana: 1. Como a vida de Ninrode ilustra, essas nações foram fundadas em rebelião contra Deus. Muitas delas seriam inimigas do Seu povo e o perseguiriam. 2. Deus queria estabelecer uma nova nação, que tivesse somente Ele como Rei e que mostrasse o Seu propósito para a humanidade. 3. O Senhor pretendia que as outras nações vissem as bênçãos de Israel e fossem atraídas para o Deus verdadeiro. 4. O pecado nos leva ao desejo de governarmos a nós mesmos, rejeitando a soberania de Deus. Israel foi atraído pelos costumes dos povos ao redor. 5. Jesus advertiu contra a tendência de buscar domínio e supremacia. A missão da igreja é servir. 6. a) Revelar o caráter de Deus; b) Ser luz para as nações, levando a salvação divina; c) Iluminar a Terra com a glória de Deus.
TEXTO-CHAVE: Daniel 7:14
FOCO DO ESTUDO: Gn 12:1-9
ESBOÇO
Introdução: Quando Deus criou a Terra, Ele tinha um plano de felicidade e amor para as pessoas que viveriam nela. No entanto, em vez de seguirem o plano de Deus, as pessoas sucumbiram à tentação de escolher seus próprios caminhos. Nas próximas duas lições, estudaremos como as nações falharam em encontrar o caminho certo e como Deus guiou as pessoas em sua luta para encontrar luz na escuridão, a qual foi gerada pelo desejo das pessoas de governar a si mesmas.
O desejo de autogoverno se manifestou pela primeira vez no Jardim do Éden, quando Adão e Eva, sob a influência da serpente, desobedeceram a Deus e caíram na tentação de desejar ser “como Deus” (Gn 3:5). Consequentemente, Adão e Eva, como seres caídos, ganharam conhecimento do pecado e, assim, perderam o poder moral de escolher o bem em vez do mal (Gn 3:22). Depois, na história inicial da humanidade, os homens de Babel decidiram erguer uma torre para chegar à porta de Deus (“Bab-El”) no céu para que pudessem usurpar o lugar do Senhor (Gn 11:1-4). Mas os construtores de Babel ficaram confusos e, como resultado de sua presunção, Deus os dispersou pela terra.
Até mesmo o povo de Israel tentou governar a si mesmo; em vez de aceitar o governo de Deus, buscaram um rei entre os homens de suas tribos. Em resposta a esses esforços humanos, Deus tomou a iniciativa com planos divinos. Primeiro, Deus chamou Abraão para ser uma bênção para as nações. Posteriormente, Israel e, depois, a igreja foram chamados para testemunhar às nações sobre o reino de Deus. Contra a tentação de confiar no poder humano para construir reinos na Terra e, assim, cair na escuridão, a Bíblia oferece a esperança do reino de Deus, a única luz para as nações.
COMENTÁRIO
Adão e Eva
No Jardim do Éden, a história do confronto entre Eva e a serpente revela a raiz do fracasso humano; ou seja, a ambição de substituir Deus. A serpente aparece primeiro na narrativa. Quando fala, soa como Deus, o próprio Criador. A serpente “disse” (Gn 3:1), assim como Deus “disse” dez vezes na história da criação. A mesma forma verbal wayyo’mer, “Ele disse”, é usada em ambas as histórias. A construção da frase é preocupante, pois o sujeito do verbo “ele disse” não é indicado. Na verdade, esse é o único caso em toda essa passagem em que o sujeito não é claramente dado. E, para aumentar a confusão, o verbo é até precedido pelo nome Elohim, “Deus”, dando a impressão de que Deus está falando. O texto em hebraico tem a seguinte sequência de palavras: “E ele disse à mulher”. Assim, a serpente parece ter substituído Deus.
Curiosamente, o mesmo fenômeno ocorre quando a mulher se envolve em desobedecer a Deus. A frase que descreve seu comportamento, dizendo que a mulher viu “que a árvore era boa para se comer” (Gn 3:6), é uma reminiscência da avaliação de Deus sobre Sua criação: “Deus viu que [...] era bom” (Gn 1:4, 10, 12, 18, 25, 31). Esse eco entre as palavras de Deus e as palavras de Eva sugere que ela já substituiu o Criador divino por sua própria opinião. De fato, ela se comporta como Deus: “tomou do seu fruto e comeu; e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3:6). Esses três verbos (em itálico na citação) foram até agora associados apenas ao Criador. Deus “deu de comer” (Gn 1:29). Deus “tomou” o homem (Gn 2:15) e Deus “tomou” uma de suas costelas (Gn 2:21, ARA). Assim, Eva se identifica como a Criadora e unilateralmente impõe seu “domínio” sobre Adão.
Mais tarde, tanto Adão quanto Eva tentaram tomar o lugar de Deus novamente quando perceberam que estavam nus. O texto bíblico relata que eles “fizeram cintas para si” (Gn 3:7). O verbo “fazer” até agora tem sido usado apenas em conjunto com Deus, o Criador (Gn 1:31; 2:2, etc.). Significativamente, Adão e Eva tentam resolver seu problema colocando-se no lugar de Deus, o Divino, um movimento que já havia sido iniciado pela mulher. É preocupante que o casal humano agora tenha se juntado à agenda da serpente, que é usurpar o papel de Deus. Sua blasfêmia também é sugerida no eco entre a palavra ‘erum, descrevendo sua “nudez”, e a palavra ‘arum, retratando a “astúcia” da serpente (Gn 3:1).
Os construtores de Babel
A linguagem usada para descrever o trabalho dos construtores de Babel ecoa o relato da criação, com a intenção deliberada de reverter o trabalho da criação e substituir o Deus da criação. Essa intenção já é indicada na tabela das nações na qual a fundação do reino de Babel por Ninrode é introduzida com a palavra técnica re’shit “começo” (Gn 10:10), que ecoa o relato divino da Criação (Gn 1:1). Ninrode, cujo nome significa “nós nos rebelaremos”, é apresentado como o criador de Babel, assim como Deus é o Criador dos céus e da Terra.
Na história da Torre de Babel, observamos uma tentativa similar de usurpação. A expressão al peney, que se referia ao estado da Terra antes da criação (Gn 1:2), reaparece aqui (Gn 11:4). Enquanto o relato da criação se moveu de um estado de unidade (águas) para multiplicidade e diversidade, Babel tenta reverter essa multiplicidade para uma unidade simples. A palavra de Deus, wayyomer ’Elohim (“Deus disse”), é substituída pela palavra dos construtores, wayy’omeru (“eles disseram”; Gn 11:3, 4). A realização divina da criação, wayehi (“e houve”; Gn 1:3), é substituída pela realização humana, wattehi (“e foi”; Gn 11:3). A auto-deliberação divina do Criador, na‘aseh (“façamos”; Gn 1:26), é substituída pela auto-deliberação humana, na‘aseh (“façamos”; Gn 11:4). Assim, os construtores de Babel compartilham a mesma ambição que Eva: eles desejam ser iguais a Deus.
O chamado de Abraão
Com essas palavras, Deus chama Abraão: “Farei de você uma grande nação [...] e engrandecerei seu nome” (Gn 12:2). O chamado de Deus para Abrão responde e se opõe aos desígnios dos construtores de Babel. Portanto, não é por acaso que o chamado de Deus para Abrão partir acontece na terra de Ur dos caldeus. É realmente impressionante que a antiga cidade suméria de Ur esteja localizada na região da Babilônia que tem a ligação mais próxima com o incidente de Babel.
Que Abrão tenha ouvido o chamado para deixar um lugar carregado com a memória de Babel faz sentido e não deveria nos surpreender, não apenas por razões históricas e geográficas, mas também por suas implicações teológicas. Desde o clamor dos profetas até a súplica apocalíptica, o chamado divino para sair da Babilônia (o nome em grego para Babel) tem uma longa tradição teológica na Bíblia (ver Is 48:20, Ap 18:4). Esse chamado divino não representa apenas a libertação de condições exílicas opressivas e a restauração nacional à terra prometida, mas também um retorno à aliança.
Os construtores de Babel queriam fazer para si um grande nome e se tornar uma nação universal única (Gn 11:4). Mas é Deus quem faz um nome grande e somente Deus faz uma nação particular grande e única em contraste com as outras nações. Curiosamente, o verbo “fazer” é uma palavra-chave do relato da criação, a qual ocorre sete vezes, com Deus como sujeito (Gn 1:7, 16 [2x], 25, 26; Gn 2:2 [2x], 3). O mesmo verbo foi usado três vezes para descrever a atividade dos construtores de Babel (Gn 11:4, 6 [2x]), e um deles, em particular, em relação ao seu “nome” (Gn 11:4). Babel estava, então, no lugar do Criador.
O chamado a Abrão restaura as prerrogativas de Deus. Somente Deus, como o Criador, pode verdadeiramente “fazer”; e somente Deus pode “fazer um nome”. Além disso, somente o nome de Deus é descrito como “grande” (Js 7:9).
A bênção de Abraão
A palavra barak, “abençoar”, é uma palavra-chave no chamado de Deus a Abrão e aparece cinco vezes. O uso dessa palavra é particularmente preeminente no livro de Gênesis, onde ela ocorre 88 vezes (em comparação com 356 vezes no restante da Bíblia em hebraico). O conceito hebraico de “bênção” é frequentemente associado à perspectiva de fecundidade (Gn 1:21-23). Assim, o chamado a Abrão derruba a ideologia de Babel. Contra os construtores de Babel, que se recusaram a seguir o plano divino da criação, de se multiplicarem, a bênção de Abrão restaura as forças da criação e a promessa do futuro.
Enquanto os construtores de Babel basearam sua segurança exclusivamente em seus próprios esforços, a bênção das nações depende unicamente da bênção de Deus a Abrão. A razão fundamental para essa bênção está em um evento histórico futuro: “Em você serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3). A expressão preposicional “em você” significa “em tua semente” ou “por meio da tua Semente”. Em outras palavras, a bênção não vem diretamente de Abrão, mas da sua Semente, que é a mesma “Semente” messiânica mencionada em Gênesis 3:15, com o qual o nosso texto compartilha muitas palavras, formas gramaticais e associações de palavras e temas. Paulo usa uma linguagem semelhante para descrever o efeito universal da aliança “em Cristo Jesus” (Gl 6:15, ARC).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Substituindo Deus. Sabendo que a essência do pecado é substituir Deus, pergunte a si mesmo: Se não tomarmos cuidado, como Deus pode ser substituído em todos os níveis da nossa vida? Discuta os seguintes aspectos em sua classe:
Em suas palavras: quando você mente, você esconde ou distorce um fato. Você substituiu a verdade (o que Deus vê) pela sua versão dela. Quando você se vangloria, você geralmente exagera seu valor às custas do seu próximo ou até mesmo às custas do próprio Deus, assim como Nabucodonosor fez quando construiu a cidade da Babilônia (Dn 4:30).
No seu trabalho: quando você trabalha demais, você ignora as leis da saúde ou sua família que precisa de sua presença e atenção. Quando você é preguiçoso, você faz um trabalho desleixado. Quando você trapaceia, plagia, você rouba o trabalho ou as descobertas de outra pessoa, fingindo que são suas.
Na sua religião: quando você adora outra pessoa ou algo diferente de Deus, seja dinheiro, trabalho, um carro, uma casa ou você mesmo, você comete idolatria.
Respondendo ao chamado de Deus. Sabendo que substituir Deus é um pecado, o que você pode fazer para permitir que Ele retire o eu do trono do seu coração e o coloque no lugar que lhe pertence? Busque exemplos na Bíblia que mostrem como Deus Se interpõe para ocupar o lugar central em nossa vida.
Reflita sobre a resposta de Deus ao pecado humano e a questão da substituição – o fato de que Deus escolheu morrer em seu lugar para que você pudesse viver. Medite sobre eventos específicos na história de Israel em que Deus atuou em favor dos seres humanos, como a criação, o êxodo, o exílio babilônico, ou momentos específicos em que Deus lutou por Seu povo, como em Êxodo 14:14.
Missionário ou missionário de férias
Tailândia | Renato
Renato se espreguiçou no saguão de seu prédio enquanto se preparava para uma corrida matinal em Bangkok, Tailândia. O voluntário adventista do sétimo dia de 36 anos havia chegado um dia antes para servir como professor missionário em uma escola adventista.
Uma mulher idosa se aproximou dele e perguntou, sem rodeios: "Quem é você?"
"Um novo professor", disse Renato.
"De onde você é?"
"Brasil."
"Você está longe de casa. Você vai dar aula na escola?"
"Sim."
"Então, a partir deste dia, você será meu filho. Eu vou cuidar de você."
O dia seguinte era sábado, e a mulher apresentou Renato ao marido na igreja. "Então, você é meu novo filho", disse o homem. "Não se preocupe com sua casa ou sua comida. Apenas faça o seu melhor no trabalho, e nós cuidaremos de você."
Nas duas semanas seguintes, o casal de idosos convidou Renato para seu apartamento todos os dias. "Venha aqui e tome chá conosco", disse a mulher.
"Vamos ouvir o que você tem em mente para o dia seguinte", disse o homem. "Você precisa de alguma coisa?”
No décimo quinto dia, o homem fez uma nova pergunta a Renato: "Você veio para a Tailândia para ser missionário ou missionário de férias?" Renato não sabia o que dizer. Ele não respondeu.
O homem fez a pergunta novamente. "Eu preciso que você pense", disse ele. "Você veio aqui para ser missionário ou missionário de férias?"
Renato entendeu o que ele queria saber. A Tailândia é um lugar maravilhoso. Não só tem belas praias no sul, mas também é conhecida como "a terra dos sorrisos". Os visitantes são muito bem tratados. Os missionários podiam se distrair com oportunidades de diversão. Renato não conseguiu responder ao homem.
No décimo sexto dia, um sábado, Renato foi à igreja e cumprimentou o casal de idosos, que agora via como seus pais adotivos. Ele queria conversar, mas não tinha tempo. Primeiro, ele teve que participar do culto de adoração da igreja. Então, ele estava liderando um junta-
panelas para um grupo de jovens adultos. Depois disso, ele planejava ir para casa tirar uma soneca às 15h30. Ele estava exausto.
Enquanto tirava a soneca, Renato recebeu um telefonema. Era a filha de seus pais adotivos.
«Por favor, ore pelo papai", disse ela. "Ele não está se sentindo bem.»
Renato saiu do apartamento de pijama. Ele viu duas ambulâncias chegando e saindo. Então ele ouviu a notícia de que seu pai adotivo havia morrido. Foi tudo tão repentino. Ele se perguntou: "O que vai acontecer agora? O que vai acontecer com a mamãe?".
Renato teve uma conversa franca com Deus durante o funeral.
"Dê-me forças para responder à pergunta que meu pai adotivo me fez", orou ele. "Eu vim aqui para ser missionário ou missionário de férias?"
Após o funeral, Renato fez uma promessa à mãe adotiva.
"Vim aqui para ser missionário e não missionário de férias", disse ele.
Ele sabia que era uma decisão tomada por trauma. Mas foi o trauma que lhe deu forças para tomar a decisão. Ele gostaria de ter tomado a decisão muito antes.
Depois de resolver ser missionário, tudo parecia se encaixar. Antes, Renato se perguntava se estava começando o trabalho missionário tarde na vida. Ele tinha 36 anos, e muitos voluntários missionários estavam na casa dos vinte. Ele se perguntava: "Por que comecei agora?" Ele também ficava confuso quando as pessoas perguntaram: "Por quanto tempo você servirá como voluntário?". Ele não conseguira responder. Quando chegou à Tailândia, ele não tinha certeza se era missionário ou missionário de férias. Mas não mais. Agora ele seria um missionário na Tailândia e em qualquer lugar que Deus o enviasse.
"Mesmo se eu deixar a Tailândia, oro para que Deus me mantenha conectado ao Serviço Voluntário Adventista ou a qualquer outro ministério que me permita servir como missionário e não como missionário de férias", disse ele.
Ore por missionários como Renato, na Ekamai International School em Bangkok, Tailândia, enquanto eles proclamam a breve vinda de Jesus. Obrigado por sua oferta do trimestre que ajudará a espalhar o evangelho na Divisão Sul-Asiática do Pacífico, que inclui a Tailândia.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
• Mostrar o Brasil e a Tailândia no mapa. Então, mostre Bangkok, na Tailândia, onde Renato trabalha como missionário.
• Assista a um curto vídeo no YouTube com Renato em: bit.ly/Renato-mission.
• Baixe fotos para esta história no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os Fatos Rápidos da Divisão Sul-Asiática do Pacífico: bit.ly/ssd-2025.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2025
Tema geral: "Alusões, imagens e símbolos"?
Lição 4 – 19 de abril a 24 de abril
As Nações – parte 1
Autor: Elton de Lima Alves Júnior
A falta de fé se revela numa postura de independência de Deus e Sua vontade. Essa é a mais terrível consequência do pecado. Ao longo da história, vemos essa atitude nas diversas tentativas humanas de ter o controle do mundo em suas mãos. Contudo, somente Deus é seu legítimo líder.
Gênesis revela que o pecado ocorre pela falta de fé e resulta em mais falta de fé ainda. A narrativa da tentação e queda (Gn 3) demonstra isso: o primeiro casal desconfia de Deus e de Seus planos, e essa desconfiança os leva à queda. Como consequência, a falta de confiança deles se acentua. Isso fica muito claro quando eles se escondem de Deus.
A partir desse momento, outros repetem esse roteiro. Caim é o primeiro. Depois, aparecem os antediluvianos. Mais tarde, Ninrode. Também acontece com aqueles que querem tornar seu nome célebre, ao construir a torre de Babel. Até mesmo Israel segue por esse caminho. Por fim, a igreja também decide viver nessa realidade.
No entanto, as profecias deixam claro que Deus estabelecerá Seu reino para todo o sempre (Dn 2; Ap 21 e 22), pois, Ele é o legítimo Rei do Universo. E enquanto isso não acontece, Ele quer que Seu povo ilumine o mundo, fazendo Sua vontade.
Ninrode e Nínive
Gênesis 10 apresenta diversas informações importantes para uma correta leitura da história. Dois fatores sugerem isso. O primeiro envolve sua posição no texto bíblico. O segundo se revela na própria descrição do capítulo.
Não por acaso, Gênesis 10 vem logo após a ordem de Deus para que Noé e seus descendentes se multiplicassem e enchessem a terra (Gn 9:1, 7), sugerindo um aparente cumprimento dessa ordem. No entanto, o capítulo aparece antes da história da torre de Babel (Gn 11), mesmo que seja posterior cronologicamente (Gn 11:9). É nesse contexto que os adjetivos dados a Ninrode, fundador de Babilônia e Nínive, devem ser interpretados.
Na passagem, 70 nações são mencionadas. De Jafé se originam 14. Sete diretamente dele e sete de dois de seus filhos (Gômer e Javã). De Cam são 30. E de Sem, 26. Mais tarde, tais nações fizeram fronteira com Israel (Dt 32:8).
Todos esses detalhes sugerem que o Deus criador e salvador é o Deus das nações. Portanto, elas têm responsabilidade diante Dele. E deveriam servi-Lo. Afinal, Ele tem o controle da História em Suas mãos.
O chamado de Abraão
O chamado de Abraão para se tornar uma grande nação revela que as nações não aceitaram sua responsabilidade diante de Deus. Por isso, ele deveria sair do meio de uma delas. Em contraste com as nações, Abraão deveria ser fiel em todas as situações, servindo de exemplo para sua descendência.
As razões para o chamado divino parece envolver três pontos essenciais. Primeiro, a cidade de Ur dos caldeus pertencia à mesma região de Babilônia, a cidade que tentou construir uma torre, desafiando a vontade de Deus. Segundo, Ur era uma cidade idólatra. E, por último, a família de Abraão adorava essas divindades (Js 24:2, 14), embora também adorasse a Deus (Gn 31:53).
A obediência de Abraão a todas as ordens divinas, ao ser chamado, é claramente evidenciada pelo uso dos verbos associados a ele (Gn 12:4-6, 8, 9). Em suma, ele agiu com grande fé. Os versos 4 e 6 sugerem isso, uma vez que indicam os desafios que ele enfrentaria ao cumprir a vontade de Deus.
Por isso, Abraão é um tipo do remanescente futuro, o qual será fiel a Deus (Ap 12:17). Além disso, o remanescente vivenciará a mesma experiência dele ao sair de Babilônia (Ap 18:4). Portanto, sua história tem implicações para o povo de Deus.
Atendendo ao pedido
Ao contrário de Abraão, Israel decidiu não viver pela fé. Por isso, pediram um rei humano para governá-los (1Sm 8:4-18), algo que já havia sido predito por Deus (Dt 17:14-20). E, claro, os resultados não poderiam ser bons.
Israel, que deveria ser uma influência positiva para o mundo, acabou sendo influenciado por ele. O pedido por um rei foi uma espécie de idolatria (1Sm 8:8) revelando uma postura contrária à de seu patriarca, que havia abandonado esse contexto. Ainda que a atitude de Israel tenha sido em parte motivada pelos filhos de Samuel (1Sm 8:1-3), o principal motivo foi a cobiça e o desejo de se igualar às outras nações (1Sm 8:5, 20).
Os resultados não foram bons ao longo do tempo. Sofrimento e escravidão foram as consequências de suas escolhas.
Os governantes das nações
Dizem que quem não conhece a história está condenado a repeti-la. Tal foi o caso no início do 4º século para a igreja cristã, que acabou cometendo os mesmos erros de Israel, apesar de já conhecer as consequências das más escolhas daquele povo.
A ascensão de Constantino ao poder no Império Romano, no 4º século, trouxe aparentes benefícios para os cristãos. A perseguição cessou e seus bens foram devolvidos. Pouco a pouco, Constantino passou a favorecê-los. Esse apoio foi ampliado por Teodósio, em 380 d.C., quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano Ocidental.
Contudo, isso abriu as portas para que o Estado tivesse muita influência nas decisões da igreja. Constantino, por exemplo, lutou contra as heresias de Donato e Ário. Influenciou os procedimentos dos Concílios de Arles em 314 d.C. e, especialmente, de Niceia em 325 d.C., pois ele o convocou e o presidiu.
A falta de conhecimento bíblico resultou na incorporação de várias crenças e práticas contrárias aos ensinos das Escrituras, incluindo a perseguição aos crentes fiéis aos textos sagrados (Ap 13:5-7).
Luz para os gentios
Não é possível mudar o mundo sendo igual a ele. Por isso, tanto Israel quanto a igreja deveriam ser uma luz para os gentios, cumprindo esse papel por meio da obediência aos mandamentos de Deus.
A posição geográfica de Israel sugeria sua proeminência para todas as nações (Dt 32:8). Porém, sem a observância dos mandamentos de Deus, sua influência seria impossível (Dt 4:5-6). Infelizmente, Israel fracassou.
A igreja também foi chamada por Jesus para ser a luz do mundo (Mt 5:14). Mas, de que maneira? Com suas boas obras (Mt 5:16), que, no contexto do sermão de Jesus, envolvem a prática dos mandamentos de Deus (Mt 5:17-48).
Conclusão
Graças a Deus, sempre houve um remanescente que resplandeceu Sua luz para o mundo, obedecendo a cada um de Seus mandamentos. Esse remanescente deixou um exemplo para o povo de Deus do tempo do fim.
Por isso, leia mais a sua Bíblia e aprenda com o passado, para que sua vida seja especial no presente e reserve a você um futuro na eternidade, pois Dele é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Elton Júnior é pastor adventista. Formou-se Bacharel em Teologia pelo UNASP-EC, em 2008. Iniciou seu ministério em Porto Alegre. Trabalhou em diversas funções em Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. É Mestre em Interpretação Bíblica pelo UNASP. Atualmente mora em Santiago, servindo como Secretário Executivo da União Chilena, desde 2023. É casado com Gisselle, pedagoga. O casal tem três filhos: Isaac, Rebecca e Giovanna.