O capítulo 9 de Daniel contém uma das grandiosas orações da Bíblia. Em momentos cruciais de sua vida, o profeta recorreu à oração para enfrentar os desafios que estavam diante dele. Quando ele e seus colegas estavam prestes a ser mortos por causa do misterioso sonho de um rei pagão, o profeta se aproximou de Deus em oração (Dn 2). E quando um decreto real proibiu petições a qualquer deus, exceto ao rei, Daniel continuou fazendo suas orações diárias em direção a Jerusalém (Dn 6). Portanto, ao considerarmos a oração em Daniel 9, lembremo-nos de que a visão das 2.300 tardes e manhãs em Daniel 8 havia impactado grandemente o profeta. Embora os contornos gerais dessa profecia tivessem sido explicados, Daniel não conseguiu compreender o período de tempo comunicado no diálogo entre os dois seres celestiais: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Dn 8:14). Somente no capítulo 9 o profeta recebeu mais luz, e dessa vez, também, em resposta à fervorosa oração.
1. Leia Daniel 9:1, 2. Daniel disse que havia entendido “pelos livros” a profecia que ele estava estudando tão cuidadosamente. A qual livro ou livros da Bíblia ele se referiu? Assinale a alternativa correta:
A. ( ) O livro de Oseias.
B. ( ) Os livros de Moisés e dos profetas.
Ao examinarmos a oração de Daniel, fica claro que ela surge de um estudo aprofundado da revelação anterior de Deus a Moisés e aos profetas. Tendo descoberto, a partir do livro de Jeremias, que seu período de cativeiro duraria setenta anos (veja Jr 25:11, 12; 29:10), Daniel compreendeu a importância do momento histórico em que vivia.
Tenhamos em mente que Daniel fez essa oração em 539 a.C., o ano em que o Império Persa substituiu Babilônia. Portanto, quase setenta anos haviam se passado desde que Nabucodonosor tinha conquistado Jerusalém e destruído o templo. Sendo assim, de acordo com a profecia de Jeremias, os israelitas logo retornariam à sua terra natal. Confiando na Palavra de Deus, Daniel sabia que algo importante estava prestes a acontecer ao seu povo e que, assim como Deus havia prometido em Sua Palavra, o exílio em Babilônia terminaria em breve, e os judeus voltariam para seu país.
A partir do estudo das Escrituras que lhe eram disponíveis, Daniel também percebeu a gravidade dos pecados de seu povo. Por ter quebrado a aliança, ele havia rompido seu relacionamento com Deus; a consequência inevitável foi, portanto, o exílio (Lv 26:14-45). Assim, o estudo da revelação de Deus fez com que Daniel compreendesse os tempos e lhe deu um senso de urgência para pleitear com o Senhor em favor do povo.
Ao nos aproximarmos dos últimos dias da História da Terra, precisamos mais do que nunca estudar a Palavra de Deus e viver de acordo com ela. Somente as Escrituras podem nos apresentar uma explicação autoritativa do mundo em que vivemos. Afinal, elas narram o grande conflito entre o bem e o mal e, assim, revelam que a História humana se encerrará com a destruição do mal e o estabelecimento do reino eterno de Deus. Quanto mais estudamos a Bíblia, compreendemos melhor a situação contemporânea do mundo, percebemos nosso lugar nele e reafirmamos nossas razões para ter esperança em meio a um mundo que não oferece nenhuma esperança.
2. Leia Daniel 9:3-19. Com base em que Daniel fez seu apelo por misericórdia? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A. ( ) Com base no bom procedimento de Israel.
B. ( ) Com base na justiça do Senhor e em Sua misericórdia.
Devemos observar especialmente alguns pontos na oração de Daniel: Primeiramente, em nenhuma parte da oração o profeta pediu qualquer tipo de explicação para as calamidades que haviam acontecido com o povo judeu. Ele sabia o motivo. De fato, na maior parte da oração o próprio Daniel explicou a razão para essas calamidades: “Não obedecemos à voz do SENHOR, nosso Deus, para andarmos nas Suas leis, que nos deu por intermédio de Seus servos, os profetas” (Dn 9:10). A última vez em que vimos Daniel necessitando compreender alguma coisa foi no fim do capítulo 8, quando ele declarou que não compreendia a visão das 2.300 tardes e manhãs (Dn 8:27).
O segundo ponto é que essa oração é um apelo à graça de Deus, à Sua disposição de perdoar Seu povo, mesmo que tivesse pecado e feito o mal. Em certo sentido, vemos aqui uma poderosa ilustração do evangelho, de pessoas pecadoras que não tinham mérito próprio, mas que buscaram a graça que não merecem e o perdão ao qual não têm direito. Não é esse um exemplo da nossa situação individual diante de Deus?
3. Leia Daniel 9:18, 19. Que outra razão Daniel deu para que o Senhor respondesse à sua oração? Assinale a alternativa correta:
A.( ) A honra do nome de Deus.
B.( ) A promessa de que não pecariam mais.
Outro aspecto da oração de Daniel merece ser mencionado: o apelo à honra do nome de Deus. Ou seja, a oração não foi motivada pela conveniência pessoal de Daniel nem de seu povo, mas por causa do próprio Deus (Dn 9:17-19). Em outras palavras, uma resposta positiva à oração do profeta traria honra ao nome de Deus.
4. Leia Daniel 9:5-13. O profeta repetiu várias vezes a expressão “temos pecado”, incluindo-se assim nos pecados que, em última análise, trouxeram tamanha calamidade para a nação. Por que isso é significativo?
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A oração de Daniel é apenas uma entre outras importantes orações intercessórias contidas na Bíblia. Essas orações tocam o coração de Deus, evitando o juízo e trazendo, em vez disso, o livramento dos inimigos. Quando Deus estava pronto para destruir toda a nação judaica, a intercessão de Moisés reteve Suas mãos (Êx 32:7-14; Nm 14:10-25). Mesmo quando a seca severa estava prestes a consumir a terra, Deus respondeu à oração de Elias e derramou chuva para renovar a terra (1Rs 18).
Ao orarmos por membros da família, amigos e outras pessoas ou situações, Deus ouve nossas orações e pode intervir. Às vezes, pode levar certo tempo para que uma oração seja respondida, mas podemos ter a certeza de que Deus nunca Se esquece das necessidades de Seus filhos (veja Tg 5:16).
Em sua oração, Daniel desempenhou a função de intercessor, ou mediador, entre Deus e o povo. A partir de seu estudo das Escrituras, o profeta percebeu como o povo havia se tornado pecaminoso ao transgredir a Lei de Deus e se recusar a ouvir Suas advertências. Portanto, reconhecendo a condição espiritual desesperada da nação, Daniel orou por cura e perdão. Mas o profeta também se identificou com as pessoas. Em alguns aspectos, Daniel ilustrou o papel de Cristo como nosso Intercessor (Jo 17). No entanto, há uma diferença radical: Cristo é “sem pecado” (Hb 4:15) e, por isso, não precisa confessar pecado pessoal nem oferecer sacrifícios pelo perdão pessoal (Hb 7:26, 27). Mas Ele Se identifica com os pecadores de uma maneira singular: “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, Nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5:21).
A oração intercessória de Daniel aborda dois assuntos principais: os pecados do povo e a desolação de Jerusalém. Portanto, a resposta de Deus trata das petições a respeito dessas duas questões. Mediante a obra do Messias, o povo seria redimido, e o santuário seria ungido. Contudo, as duas petições específicas foram respondidas de maneiras que transcendem o horizonte histórico imediato de Daniel: a obra do Messias beneficiaria toda a humanidade.
5. Leia Daniel 9:21-27. Que obra deveria ser feita dentro do período de 70 semanas? Por que somente Jesus podia realizá-la?
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1. “Fazer cessar a transgressão”. A palavra hebraica para “transgressão” (pesha’) sugere a violação proposital da parte de um inferior contra um superior (por exemplo, Pv 28:24). Essa palavra também ocorre na Bíblia a respeito da declarada oposição dos seres humanos a Deus (Ez 2:3). Contudo, mediante o sangue de Jesus, a rebelião contra Deus é aniquilada, e o homem recebe os méritos que fluem do Calvário.
2. “Dar fim aos pecados”. O verbo ?lah?têm tem o significado de “selar” e, nesse texto, significa que o pecado é perdoado. Desde a queda, a humanidade tem sido incapaz de viver de acordo com os padrões de Deus, mas o Messias cuidaria de nossos fracassos.
3. “Expiar a iniquidade”. Como Paulo declarou: “Aprouve a Deus que, Nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio Dele, reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a Terra, quer nos Céus” (Cl 1:19, 20). De igual maneira, nesse texto somente Jesus pode proporcionar essa realidade.
4. “Trazer a justiça eterna”. Cristo tomou o nosso lugar na cruz e, por meio disso, concedeu-nos a bendita condição de “ser justos” diante de Deus. Somente pela fé podemos receber essa justiça que vem do Senhor.
5. “Selar a visão e a profecia”. Quando Cristo Se ofereceu em sacrifício, as profecias do Antigo Testamento que apontavam para Sua obra expiatória foram seladas, no sentido de terem sido cumpridas.
6. “Ungir o Santo dos Santos”. O Santo dos Santos mencionado aqui não é uma pessoa, mas um lugar. Portanto, a declaração se refere à inauguração do ministério de intercessão de Cristo no santuário celestial (Hb 8:1).
No fim da visão das 2.300 tardes e manhãs, Daniel ficou atônito porque não podia entendê-la (Dn 8:27). Dez anos depois, o anjo Gabriel veio para ajudar o profeta a “entender” a visão (Dn 9:22, 23). Essa última revelação apresenta as informações que faltavam e mostra que a obra do Messias devia ser cumprida no final de um período de setenta semanas. De acordo com o princípio do dia/ano e o decorrer dos eventos preditos, as setenta semanas devem ser entendidas como 490 anos. O ponto de partida para esse período é a ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém (Dn 9:25). Essa ordem foi dada por Artaxerxes em 457 a.C. e permitiu que os judeus, sob a liderança de Esdras, reconstruíssem Jerusalém (Ed 7). O texto bíblico diz que as setenta semanas estavam “determinadas” ou “cortadas”. Isso indica que os 490 anos foram cortados de um período maior, isto é, dos 2.300 anos designados na visão do capítulo 8. Portanto, os 2.300 anos e os 490 anos devem ter o mesmo ponto de partida, ou seja, 457 a.C.
As setenta semanas se dividem em três seções: sete semanas, sessenta e duas semanas e a septuagésima semana.
As sete semanas (49 anos) provavelmente se refiram ao tempo da reconstrução de Jerusalém. Depois das sete semanas, haveria sessenta e duas semanas (434 anos) até ao “Ungido, ao Príncipe” (Dn 9:25). Assim, 483 anos após o decreto de Artaxerxes, no ano 27 d.C., Jesus foi batizado e ungido pelo Espírito Santo para a Sua missão messiânica.
Na septuagésima semana, outros eventos cruciais aconteceriam: (1) seria “morto o Ungido” (Dn 9:26), o que se refere à morte de Cristo; (2) o Messias faria “firme aliança com muitos, por uma semana” (Dn 9:27). Essa era a missão especial de Jesus e dos apóstolos à nação judaica. Ela seria realizada durante a última “semana”, de 27 a 34 d.C.; (3) porém, “na metade da semana”, faria “cessar o sacrifício e a oferta de manjares” (Dn 9:27). Três anos e meio depois do Seu batismo (isto é, no meio da semana), Jesus encerrou o sistema sacrificial, no sentido de que este já não tinha mais significado profético, oferecendo-Se como o sacrifício final e perfeito da nova aliança, anulando assim a necessidade de sacrifícios de animais. A última semana da profecia das 70 semanas terminou em 34 d.C., quando Estêvão foi martirizado, e a mensagem do evangelho começou a alcançar não apenas os judeus, mas também os gentios.
6. Leia Daniel 9:24-27. Mesmo em meio à grande esperança e à promessa do Messias, lemos sobre violência, guerra, desolação. Como isso nos dá a certeza de que, em meio às calamidades da vida, ainda existe esperança?
O quadro abaixo revela como a profecia das 70 semanas de Daniel 9:24-27 se liga com a profecia dos 2.300 anos de Daniel 8:14 e constitui seu ponto de partida. Se contarmos 2.300 anos a partir de 457 a.C. (lembrando de apagar o ano zero inexistente), obtemos 1844; ou, se contarmos os 1810 anos restantes de 34 d.C. (2.300 menos os primeiros 490 anos), também chegaremos a 1844. Portanto, fica demonstrado que a purificação do santuário, mencionada em Daniel 8:14, começou em 1844.
Note igualmente como a data de 1844 se encaixa com o que vimos em Daniel 7 e 8. Isto é, o juízo em Daniel 7, que é igual à purificação do santuário em Daniel 8 (veja as lições das últimas duas semanas), ocorre após os 1.260 anos de perseguição (Dn 7:25) e, todavia, antes da segunda vinda de Jesus e do estabelecimento de Seu reino eterno.
Neste gráfico, considere os principais pontos da profecia dos 2.300 anos:
Perguntas para discussão
1. Os estudiosos têm dito, e com razão, que a profecia das 70 semanas faz parte da profecia dos 2.300 dias. Até certo ponto, as duas são realmente apenas uma profecia. Por que eles dizem isso? Quais evidências respaldam essa afirmação?
2. Como a oração de Daniel nos ajuda em nossa vida de oração intercessória?
3. O sacrifício de Cristo em nosso favor é a nossa esperança. Como isso deve nos manter humildes e, ainda mais importante, tornar-nos amorosos e perdoadores em relação aos outros? O que Lucas 7:40-47 nos ensina?
4. As Escrituras foram centrais à oração de Daniel e à sua esperança. Afinal, a nação havia sido barbaramente derrotada, devastada e exilada. Todavia, ele acreditava que o povo voltaria para o lar. Onde ele poderia ter obtido essa esperança a não ser na Bíblia e nas suas promessas? O que isso revela sobre a esperança que também podemos ter nas promessas da Palavra?
Respostas e atividades da semana: 1. B. 2. F; V. 3. A. 4. Isso revela o amor de Daniel por seu povo e como o profeta se sentia parte daquela nação. Isso mostra generosidade da parte do servo do Senhor, pois ele havia sido fiel a Deus e buscado o Senhor sempre, ao contrário de seus compatriotas. 5. Fazer cessar a transgressão; dar fim aos pecados; expiar a iniquidade; trazer justiça eterna; selar a visão e a profecia; ungir o Santo dos Santos. Somente Cristo poderia realizar essa obra, pois Ele é o único com as credenciais eternas para fazê-la. 6. O Senhor tem toda a História em Suas mãos. Embora coisas ruins aconteçam, podemos ter a certeza da Sua direção.
ESBOÇO
TEXTO-CHAVE: Daniel 9:19
FOCO DO ESTUDO: Daniel 9; Jeremias 25:11, 12; Jeremias 29:10; 2 Reis 19:15-19; Mateus 5:16; Tiago 5:16
Introdução
Os principais temas que convidam à reflexão em Daniel 9 são:
A oração intercessória de Daniel em favor do seu povo e a profecia sobre o Messias.
Temas da lição
1. A oração
Daniel oferece uma oração de intercessão por seu povo que serve como modelo para nossas orações hoje.
2. A profecia
Como resposta à oração de Daniel, Deus revelou Seu plano de salvação de longo alcance. A cidade seria reconstruída, o Messias viria e o santuário seria ungido.
Aplicação para a vida
Quando refletimos sobre a oração de Daniel e sobre o modo como Deus a respondeu, aprendemos que o Senhor não está longe de nenhum de nós. Embora o pecado tenha nos separado do Criador, mediante o sacrifício de Jesus, o Messias, somos perdoados e reunidos com Ele. A oração de Daniel estava firmada na confiabilidade do caráter de Deus e no que Ele havia feito por Seu povo no passado quando os tirou do Egito. Temos motivos ainda maiores para orar com firme confiança. O Messias já veio e está intercedendo em nosso favor no santuário celestial. De certa forma, o que era para Daniel uma esperança futura é, para nós, uma realidade presente. “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4:16).
Comentário
A seguir estudaremos com mais profundidade os temas da lição:
1. A oração
Essa é a mais longa e importante oração de Daniel. Duas motivações principais servem como pano de fundo dessa prece. Primeiro, vemos que depois da visão de Daniel 8 o profeta estava física e emocionalmente exausto (Dn 8:27). Ao servo de Deus foi mostrado um chifre pequeno que crescia e atacava o povo de Deus, estabelecendo um falso sistema de adoração. Ele também ouviu a intrigante mensagem de que depois de 2.300 tardes e manhãs (anos) o santuário seria purificado/restaurado/vindicado. Todos esses elementos misteriosos ainda permaneciam obscuros para ele dez anos depois. Especialmente a informação cronológica sobre as 2.300 tardes e manhãs, comunicadas mediante a manifestação/visão (mar’eh) de dois seres celestiais, permaneceu sem explicação. Portanto, Daniel concluiu o seu relatório da visão dizendo: “Espantava-me com a [manifestação/] visão” (Dn 8:27).
Segundo, a destruição de Jerusalém e do templo, além do exílio de sua nação, pesava grandemente sobre o coração de Daniel. Ele ansiava pela restauração de Jerusalém e pelo retorno do seu povo à sua terra natal. Assim, ele se aprofundou no estudo de Jeremias e entendeu que as assolações de Jerusalém durariam setenta anos (Jr 25 e 29). Portanto, o tempo estava maduro para Deus trazer de volta o Seu povo à terra deles e reconstruir a cidade. A partir das Escrituras, Daniel sabia que o verdadeiro motivo do exílio foi a obstinada rebelião de Israel contra Deus. Eles transgrediram a lei, rejeitaram os profetas e romperam com a aliança. Assim, movido pela palavra de Deus, o profeta ora pela restauração de Jerusalém e do templo, e para que seu povo fosse perdoado. Ao que tudo indica, essa oração foi feita em direção a Jerusalém, à semelhança das orações que desafiaram o decreto real de Dario (Dn 6).
Essa oração ensina algumas lições importantes que podem nos ajudar na nossa vida de oração e no nosso relacionamento com o Senhor. Uma análise mais minuciosa do texto das Escrituras revela que a oração de Daniel é profundamente bíblica. Uma busca através de uma Bíblia com referências cruzadas mostra que a oração de Daniel reflete várias passagens das Escrituras. Devemos destacar, por exemplo, as semelhanças entre essa oração e os textos de Levítico 26:40-45 e Deuteronômio 30:1-10. Posteriormente, Esdras e Neemias seguiram o exemplo de Daniel, misturando suas orações com alusões a outras passagens bíblicas e ecos de outros textos.
Além disso, a petição de Daniel é uma oração intercessória. Sua posição privilegiada como oficial do império não o impediu de se identificar com o seu povo. Algumas pessoas se esquecem de seu próprio povo uma vez que ascendem na escada social. Mas Daniel se identifica integralmente com seus compatriotas; ele intercede por eles como um deles. Várias vezes ele usa o pronome “nós”, compartilhando assim a responsabilidade pelos pecados da nação e clamando a Deus por graça e perdão (veja Dn 9:5, 18, 19). A oração intercessória pode ser uma oportunidade para imitar Jesus. Deixamos de ser o centro da atenção para nos concentrarmos nas necessidades das outras pessoas. Quando oramos pelos outros, somos os mais abençoados. “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos” (Jó 42:10). Além disso, a oração de Daniel foi franca e sincera. Ele admite e confessa o pecado de seu povo e de seus líderes. Ele não ignora o fato de que eles transgrediram a Lei de Deus e rejeitaram os profetas; portanto, Daniel reconhece que eles merecem totalmente a punição do exílio. Finalmente, a oração do profeta é motivada pelo desejo de defender o caráter do Senhor. Dessa forma, com a restauração do povo e da cidade, a honra e o caráter de Deus seriam vindicados entre as nações.
2. A profecia
Como resposta à oração, Gabriel, o mesmo anjo que se encontrou com Daniel no capítulo 8, veio revelar os planos de longo alcance de Deus para o povo. Vamos examinar Daniel 9:24-27 para entender alguns aspectos significativos da mais importante profecia messiânica.
Primeiro, Gabriel tocou Daniel “à hora do sacrifício da tarde” (Dn 9:21). Esse horário sugere que o anjo tinha uma mensagem relacionada ao santuário e seus serviços. Na verdade, o anjo veio anunciar a reconstrução de Jerusalém, a obra expiatória do Messias e o início do Seu ministério no santuário celestial.
Em segundo lugar, essa profecia é apresentada em um quadro cronológico de setenta semanas (70x7 = 490), que corresponde a dez jubileus (10x49). A ênfase no número sete pode indicar a perfeita salvação a ser alcançada por intermédio do Messias. Além disso, esse cronograma profético indica que Deus conhece o futuro e age dentro do tempo e do espaço para cumprir Seu plano de salvação.
Em terceiro lugar, Gabriel se apresenta a Daniel para fazê-lo “entender a visão” (Dn 9:23, NVI). O verbo “entender” aponta para Daniel 8, que foi concluído sem que o profeta tivesse entendido a visão (Dn 8:27). A palavra “visão” (mar’eh) é a mesma palavra hebraica usada para descrever a aparência dos dois seres angelicais e a purificação do santuário após 2.300 tardes e manhãs (Dn 8:13, 14).
Em quarto lugar, a profecia de Daniel 9 apresenta um detalhe essencial para entender o ponto de partida das 2.300 tardes e manhãs e, portanto, determinar quando ela termina. De acordo com Gabriel, setenta semanas estão “determinadas”; no hebraico, o verbo traduzido como “determinadas” significa “cortar”, o que implica que as setenta semanas estão cortadas ou separadas de um período maior. Portanto, ambas as profecias têm o mesmo ponto de partida, que é “a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” (Dn 9:25). Essa ordem se refere ao decreto de Artaxerxes em 457 a.C. autorizando os judeus a retornar à sua terra natal e reconstruir Jerusalém (Ed 7).
Em quinto lugar, as setenta semanas (490 anos) começaram em 457 a.C. e terminaram em 34 d.C. Os eventos que aconteceriam durante a última semana se cumpriram conforme as predições. No começo da semana, Jesus, o Messias, manifestou-se publicamente, sendo batizado por João Batista (27 d.C.). No meio da semana, Jesus foi crucificado (31 d.C.). E no final da semana (e dos 490 anos), o martírio de Estevão impulsionou a pregação do evangelho aos gentios.
Em sexto lugar, outro evento crucial que ocorreria durante a sétima semana seria a unção do “Santíssimo” (qodesh qodashim), que se refere à inauguração do santuário celestial. Esse santuário deve ser o celestial porque o templo de Jerusalém havia deixado de ter relevância salvífica em 31 d.C., quando a morte de Jesus tornou ineficaz o sistema sacrifical.
Em sétimo lugar, uma vez que 457 a.C. é também o ponto de partida das 2.300 tardes e manhãs, a purificação do santuário celestial anunciada em Daniel 8:13, 14 teve seu início em 1.844. Nesse ano, Cristo entrou no lugar santíssimo para realizar o juízo investigativo.
Em oitavo lugar, em meio à complexidade das figuras proféticas e outros detalhes, não percamos Jesus de vista. Os eventos descritos pela profecia culminam na obra expiatória do Messias, que não beneficiariam apenas Israel, mas o mundo inteiro. Dessa forma, Daniel recebeu muito mais do que pediu. Quantas vezes Deus faz o mesmo por nós! Ele pode responder nossas orações de maneiras que vão além das nossas expectativas.
Aplicação para a vida
1. Quais são as principais características da oração de Daniel e o que elas ensinam sobre sua vida pessoal de oração?
2. Observe que Daniel dedica cuidadosa atenção à confissão do pecado em sua oração. Como essa abordagem pode influenciar suas próprias orações intercessórias? Como esse estudo o ajudará a mudar os seus hábitos de oração?
3. Você está fazendo oração intercessória em favor de alguém hoje? Quanto você sabe sobre a situação dessa pessoa?
4. Quais são algumas atitudes inapropriadas que podem atrapalhar a oração intercessória?
5. Dados proféticos como as 70 semanas e as 2.300 tardes e manhãs ainda são relevantes nos dias atuais? O que esse tipo de simbolismo nos ensina sobre Deus? De que maneira esses cronogramas proféticos podem fortalecer o seu compromisso com Jesus?
6. Coloque-se no lugar de Daniel e reflita sobre as seguintes questões:
- Deus levou cerca de dez anos para esclarecer ao profeta certos aspectos da visão do capítulo 8. Quão paciente você tem sido enquanto aguarda as respostas de Deus às suas próprias questões existenciais e espirituais? De que maneira esse tempo de espera tem levado você a pesquisar as Escrituras em busca de esclarecimento e compreensão?
- Enquanto Daniel estava orando, Gabriel foi enviado em resposta às suas orações. Você já recebeu uma resposta tão imediata a uma oração? Esse tipo de resposta é a maneira como Deus geralmente responde às suas orações?
- Como você equilibra a oração e a leitura/estudo da Bíblia em sua vida devocional?
7. Entre os eventos preditos pela profecia de Daniel 9, qual deles, se houver, é o mais importante para a sua vida espiritual? Por quê?
O sonho de dez anos
Somente três crianças adventistas frequentavam a escola de ensino fundamental na capital da Romênia, Bucareste. Todas estavam no oitavo ano e eram colegas de Laurentiu Stefan Druga. Certo dia, as crianças o convidaram para a igreja, onde ele se apaixonou por Jesus e foi batizado. Logo, um desejo de ser pastor brotou no coração. Entretanto, a escola adventista de Bucareste, só tinha 20 vagas. Laurentiu precisava ser aprovado em um exame de admissão. No dia do exame, ele entrou na sala de aula e sentou-se diante de uma grande mesa. Ele pegou a folha de papel à sua frente e respondeu o exame, ficando em 21º lugar.
“Não há problema”, ele disse aos pais. “Vou tentar no próximo ano.” Porém, naquele ano, ele descuidou da vida espiritual. Quando chegou a época do exame, ele entrou na mesma sala de aula e sentou à mesma mesa. Ele olhou para o papel da prova. Mas, algo parecia errado. Ele sabia que sua vida não estava correta e sua mente deu um branco. Abruptamente, ele se levantou e saiu da sala.
Vários anos se passaram. Laurentiu mudou para a Espanha e começou a trabalhar na construção civil. Casou-se e se afastou de Deus. Aos 23 anos, encontrou um tio adventista, que também trabalhava na Espanha. Então, lembrou-se de seu primeiro amor por Deus e do seu desejo de se tornar pastor. Ele e a esposa decidiram ser batizados no mesmo dia. Antes desse grande dia, Laurentiu começou a planejar sua nova vida. “Senhor”, ele orou. “Qual é o Seu plano para mim?” No dia seguinte, orou novamente, “Deus, qual é Seu plano para minha vida?”
Duas noites depois do batismo, Laurentiu teve um sonho. Nele, ele entrava em uma sala de aula, sentava-se à grande mesa e olhava para uma folha de papel. Amedrontado, percebeu que estava em uma prova de matemática e não havia estudado no ano anterior. Sua mente sofreu um bloqueio. O medo se transformou em pânico e o coração batia freneticamente. Naquele momento, ele acordou. Eram três horas da manhã. “Foi apenas um sonho”, procurou tranquilizar-se. Voltou a dormir e teve um segundo sonho. Dessa vez, ele estava em pé, conversando e sorrindo no púlpito de sua igreja em Madri. As pessoas o ouviam com muito interesse. A paz encheu o coração. Ele sentiu a presença de Deus.
Amanheceu, e Laurentiu ignorou os sonhos. Naquela noite, como sempre fazia, orou: “Deus, qual é Seu plano para minha vida?” Em seu sono, sonhou que entrava em uma sala de aula e sentava diante de uma grande mesa. Dessa vez, ele estava fazendo uma prova de língua romena. Ele não estudava havia um ano e sua mente novamente bloqueou. Ele ficou em pânico. Entretanto, no momento seguinte estava sentado à outra mesa. Agora ele estava feliz e sorrindo enquanto falava para um grupo de pessoas que o ouviam com interesse. Feliz, ele sentiu a presença de Deus.
Sonhos similares ocorreram quase todas as noites. A sala de aula sempre era a mesma, mas os exames eram variados. Ele nunca estava preparado para a avaliação e sentia-se infeliz. Então a cena mudava para uma igreja, outra mesa ou uma multidão. Ele estava ensinando e percebeu a presença de Deus. Após três meses de sonhos, Laurentiu se perguntou se Deus desejava que tornasse pastor. “Mas como? Não posso abandonar meu emprego. Sou casado e tenho uma família para sustentar.”
Os sonhos continuaram. Um ano se passou. Então dois, três, quatro anos. Ele contou aos pais e vários amigos o sonho, mas eles descartaram, dizendo que era obra de seu subconsciente. Eventualmente, ele se acostumou com os sonhos. Enquanto dormia, esperava a parte do sonho que o preocupava para, em seguida, aproveitar a agradável segunda parte. Quase toda noite, Laurentiu continuou orando: “Deus, qual é Seu plano para minha vida?”
Após dez anos, Laurentiu falou sobre seus sonhos para a esposa. Certa noite, ele e a esposa assistiram a uma conferência de jovens com cerca de 250 pessoas. O pregador parecia ler seus pensamentos. Toda vez que Laurentiu levantava uma objeção em sua mente sobre se tornar pastor, o palestrante parecia responder da plataforma. A esposa de Laurentiu o cutucou. "Você tem que ir ao seminário", disse ela.
Três meses depois, Laurentiu, a esposa e o filho de nove anos se mudaram para o Centro Universitário Adventista de Sagunto, localizado há 380km a leste de Madri. A partir daquele dia, os sonhos pararam. Laurentiu está no segundo ano de seminário. “Cada aula e cada momento que vivo com os professores representa a segunda parte do sonho”, ele diz. “Não sinto falta da segunda parte do sonho. A segunda parte é a realidade da minha vida diária.”
Parte da oferta do trimestre ajudará a construir um edifício para o Seminário onde Laurentius estuda, no Centro Universitário Adventista de Sagunto.
Dicas da história
• Pronúncia de Laurentiu:
• Ler a história sobre quando Laurentiu tinha dez anos de idade no Informativo Mundial dos Menores.
• Assistir ao vídeo sobre Laurentiu no YouTube: bit.ly/Laurentiu-Druga.
• Fazer o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq) ou banco de dados ADAMS (bit.ly/same-dream-years).
• Fazer o download das fotos dos projetos do trimestre no site: bit.ty/eud-2020-
projects.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel
Lição 10 – 29 de fevereiro a 7 de março
Da confissão à consolação
Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega
O capítulo 9 de Daniel é chamado de “joia da coroa das profecias do Antigo Testamento”, sendo considerado por Isaac Newton como “a pedra fundamental da religião cristã”. Esse capítulo apresenta uma das profecias mais fantásticas de toda a Bíblia, que frequentemente é utilizada como prova da inspiração do livro sagrado pela sua precisão na cronologia, confirmada pelo seu cumprimento. Daniel 9 também é um exemplo do relacionamento intrínseco entre as promessas das profecias clássicas e seu cumprimento na profecia apocalíptica.
Daniel inicia o texto descrevendo sua aflição diante de um aparente choque de interpretação entre o cumprimento da profecia dos 70 anos do exílio babilônico feita por Jeremias (Jr 25:11; 29:10) e o conteúdo da visão de tempo (mar‘eh) apresentada em Daniel 8:13,14, que parecia indicar a continuação do exílio e a extensão do seu quadro de destruição até “dias ainda mui distantes” (Dn 8:26). Daniel busca a compreensão do assunto nas Escrituras e no livro de Jeremias, e seu estudo o leva a buscar a Deus em oração. Sua oração, registrada em Daniel 9:4-19, está repleta de referências bíblicas, principalmente de Levítico 26:40-45 e Deuteronômio 30:1-10. Esses textos profetizam o exílio como uma maldição da aliança, que recairia sobre o povo como resultado da quebra de seu compromisso com Deus, mas também garantiam que se o povo, mesmo habitando ainda na terra do seu exílio, se humilhasse em arrependimento e buscasse ao Senhor, seria novamente reunido, retornaria à terra de Israel e teria a aliança renovada de forma muito mais profunda, tendo seus “corações circuncidados” por Deus (Dt 30:7). O texto do livro de Jeremias determina profeticamente o tempo do exílio em 70 anos e descreve, nos capítulos 30 a 33, o processo de restauração a ser realizado por Deus. Ele chama esse processo de “boa palavra” de Deus para com Israel (Jr 29:10), envolvendo a restauração em três níveis: no povo (Jr 30:4, 10-11; 31:31-34; 32:38-42; 33:14,16, 25,26), na cidade de Jerusalém (Jr 30:18; 31:38-40; 32:43,44; 33:4-13) e na obra do Messias (Jr 30:9, 21; 33:15, 17, 21, 22, 26). A base para o cumprimento de todas essas promessas seria a morte sacrifical do Messias: “O seu príncipe procederá deles, do meio deles sairá o que há de reinar; Eu o sacrificarei e então será possível aproximar-se de mim, pois quem de si mesmo ousaria aproximar-se de mim? – diz o Senhor” (Jr 30:21). Certificando-se da “boa palavra” prometida no livro de Jeremias (o texto hebraico diz literalmente “a palavra que o Senhor falara ao profeta Jeremias”, em Dn 9:2), Daniel busca a Deus em oração intercedendo pelo seu povo, pela cidade e pelo templo destruído em Jerusalém. Como resposta a essa oração, Deus envia Gabriel (o mesmo anjo de Daniel 8:16) para explicar ao profeta como a “boa palavra” de restauração seria cumprida. Portanto, a profecia das 70 semanas possui uma mensagem de esperança para Daniel e seu povo, não é um tipo de ultimato dado por Deus a Israel, como frequentemente é considerada; antes, é a confirmação da fidelidade de Deus à Suas promessas. O anjo Gabriel se manifesta por volta das três horas da tarde, o horário do sacrifício oferecido no templo (Dn 9:21), curiosamente o mesmo horário da morte do Messias (Mt 27:46; Mc 15:34), para fazer Daniel considerar a “palavra” (não a “coisa”, como vemos em algumas traduções) e entender a visão (mar‘eh) dos 2300 anos que não haviam sido compreendidas no capítulo anterior, gerando o conflito de interpretação para Daniel.
Em Daniel 9:24-27, vemos que as ações divinas recaem sobre o povo, sobre a cidade e sobre o Messias, conforme profetizado por Jeremias. Por isso, a promessa de “selar a visão [hazon – cumprimento total do capítulo 8] e o “profeta”, refere-se à Jeremias e à sua promessa de restauração (Dn 9:24). Setenta semanas de anos são prometidas como separadas (hatah, literalmente, “cortadas”) do período maior dos 2300 anos, tendo início em 457 a.C. com o decreto de restauração de Jerusalém promulgado pelo rei persa Artaxerxes (Ed 7:1, 8 e 13). Depois de 483 anos desde a saída do decreto e da restauração da cidade (Dn 9:25: 7 semanas + 62 semanas = 49 anos + 434 anos), o “Messias Príncipe” surgiria e seria oferecido por Deus em sacrifício (Dn 9:25//Jr 30:21). Daniel 9:26 diz que o Messias seria “morto” (o verbo karat, usado aqui, apresenta uma forma passiva que apresenta Deus como o sujeito oculto da ação, além de ser usado para representar um tipo de morte violenta) e seria abandonado por todos, “já não [estaria]” (em hebraico diz eyn lo, literalmente, “ninguém por ele”). Sua morte aconteceria três anos e meio depois de Seu aparecimento público (na metade da última semana de anos), e por meio dela o Messias confirmaria a aliança de Deus não apenas com os judeus, mas com muitos, incluindo nela também os povos estrangeiros (Mt 26:28), anulando a validade dos sacrifícios de animais que eram oferecidos no templo (Dn 9:27). Após Sua morte, a cidade seria novamente destruída, desta vez pelos romanos, e outros cenários de guerras e conflitos aconteceriam na História até que a destruição profetizada no fim recaísse sobre esse poder (Dn 9:27). O texto hebraico, que apresenta uma certa confusão entre os personagens e acontecimentos da profecia em nossas Bíblias, mostra uma perfeita ordem e clareza quando separamos os acontecimentos relacionados ao Messias, com suas ações sempre estipuladas pela contagem do tempo das “semanas”, e as expressões relacionadas à restauração da cidade:
A1 A vinda do Messias: 7 semanas + 62 semanas (Dn 9:25) |
B1 Reconstrução da cidade (Dn 9:25) |
A2 A morte do Messias: Ele seria “cortado” após as 62 semanas (Dn 9:26) |
B2 Destruição da cidade: pelo povo de um príncipe (romanos) que há de vir; desolações determinadas (Dn 9:26) |
A3 A aliança do Messias : Ele fortaleceria a aliança com muitos na metade da última semana e daria fim ao sistema de sacrifícios (Dn 9:27) |
B3 Desolação da cidade: o desolador vindo nas asas da abominação; destruição determinada sobre esse poder (Dn 9:27) |
A profecia traz uma nota positiva em seu término porque os 490 anos se encerram em 34 d.C., ano em que Estêvão foi morto, mas também o ano da conversão de Paulo e do início da pregação do evangelho aos gentios. Dessa forma, Deus realizaria a consumação da justiça eterna, o perdão dos pecados do Seu povo e iniciaria o novo ministério sacerdotal do Messias no santuário celestial (“ungir o Santo dos Santos” – expressão aqui usada para referir-se à inauguração do santuário, como ocorreu em Ex 40:9-15) em prol de toda a humanidade. Partindo da profecia de Dn 9:24-27, temos em 1844 o término dos 2.300 anos e o início da última fase do ministério sacerdotal de Jesus no santuário: o julgamento de Dn 7:10, que corresponde à “purificação do santuário” de Dn 8:14. Essa interpretação das setenta semanas de Dn 9:24-27 é comprovada por diversos textos do Novo Testamento que fazem menção a esse texto: Gabriel (o mesmo anjo da profecia de Daniel) é o anjo encarregado de anunciar o nascimento do Messias (Lc 1:26-38); o “tempo cumprido” (referência aos 483 anos) para a chegada do Messias (Mc 1:15); a morte de Jesus como a ratificação da “aliança com muitos” (Mt 26:28); Roma como o “abominável da desolação” e responsável pela destruição de Jerusalém em 70 d.C. (Mt 24:15).
Conheça o autor dos comentários para este trimestre:
Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).
1 Desmond Ford, Dny‘l (Daniel), p. 198.
2 Para um estudo mais detalhado sobre esse assunto, leia o artigo escrito por Reinaldo Siqueira, A profecia apocalíptica como chave hermenêutica para a interpretação da profecia clássica do AT: um estudo em Isaías, Jeremias, Daniel e Apocalipse, publicado em O futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos, p. 85-101.
3 Essa tradução é proposta por Reinaldo Siqueira com base na compreensão da palavra hebraica “hikriv”, que pode ser traduzida como aproximar, sacrificar. Em Lv 1-6, a raíz desse verbo é usada diversas vezes para referir-se às ofertas sacrificais, e em Lv 21:21, vemos explícita a ideia de aproximar-se de Deus por meio de um sacrifício oferecido.
4 Jacques Doukhan, The mistery of Israel, p. 57.
5 William Shea, a profecia de Daniel 9:24-27 em setentas semanas: Levítico e a natureza da profecia, p. 70, 71.