Paulo, em Hebreus 5:11–6:20, interrompe a exposição teológica sobre o sacerdócio de Jesus em nosso favor para advertir sobre o perigo de se afastar de Cristo.
Ao que parece, os crentes corriam o perigo real de descer a ladeira escorregadia da autopiedade e da falta de fé. A preocupação do apóstolo era que seus leitores e ouvintes pudessem ter seus sentidos espirituais embotados devido às situações difíceis que estavam enfrentando e, assim, parassem de crescer em sua compreensão e experiência no evangelho.
Não é um perigo potencial para todos nós desanimar por causa das provações e nos afastarmos da fé em Cristo e em Suas promessas?
No entanto, a severa advertência culminou em um encorajamento afetuoso. Paulo expressou fé em seus leitores e exaltou Jesus como a personificação da promessa divina inquebrantável de salvação (Hb 6:9-20). Esse ciclo de advertência e encorajamento é repetido em Hebreus 10:26-39.
Estudaremos esse ciclo e nos concentraremos nas fortes palavras de encorajamento de Jesus a nós.
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1. Leia Hebreus 6:4, 5. O que Cristo concede aos crentes fiéis?
Ter sido “iluminado” significa ter experimentado a conversão (Hb 10:32). Refere-se àqueles que se converteram das “trevas” do poder de Satanás para a “luz” de Deus (At 26:17, 18). Implica libertação do pecado (Ef 5:11) e da ignorância (1Ts 5:4, 5). A forma verbal nessa passagem sugere que essa iluminação seja um ato divino realizado por meio de Jesus, “o resplendor da glória de Deus” (Hb 1:3).
“Provaram o dom celestial” e “se tornaram participantes do Espírito Santo” são expressões sinônimas. O “dom” de Deus pode se referir à Sua graça (Rm 5:15) ou ao Espírito Santo, por meio do qual Ele a concede (At 2:38). Aqueles que “se tornaram participantes” do Espírito Santo (Jo 7:37-39; 1Co 12:13) provaram “o dom celestial”, que inclui o poder de cumprir a vontade divina (Gl 5:22, 23).
Provar “a boa palavra de Deus” (Hb 6:5) é experimentar a verdade do evangelho (1Pe 2:2, 3). “Os poderes do mundo vindouro” se referem aos milagres que Deus fará para os crentes no futuro: ressurreição (Jo 5:28, 29), transformação do corpo e vida eterna. Porém, os crentes provam isso no presente por meio da ressurreição espiritual (Cl 2:12, 13), renovação da mente (Rm 12:2) e vida eterna em Cristo (Jo 5:24).
É provável que Paulo estivesse falando da geração do deserto, que experimentou a graça de Deus e Sua salvação. Essa geração foi “iluminada” pela coluna de fogo (Ne 9:12, 19; Sl 105:39), desfrutou do dom celestial do maná (Êx 16:15), experimentou o Espírito Santo (Ne 9:20), provou a “boa palavra de Deus” (Js 21:45) e “os poderes do mundo vindouro” nas “maravilhas e sinais” realizados em sua libertação do Egito (At 7:36). Paulo sugere, no entanto, que assim como a geração do deserto apostatou de Deus, apesar dessas evidências (Nm 14:1-35), os leitores de Hebreus estavam em perigo de fazer o mesmo.
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2. Compare Hebreus 6:4-6, Mateus 16:24, Romanos 6:6, Gálatas 2:20, 5:24 e 6:14. O que essa comparação sugere sobre o significado de crucificar Cristo?
O texto grego enfatiza a palavra “impossível”. É impossível para Deus restaurar aqueles que “caíram”, pois, “de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus” (Hb 6:6). Paulo enfatizou que não há outro meio de salvação exceto por Cristo (At 4:12). A salvação por qualquer outro meio é tão impossível quanto “que Deus minta” (Hb 6:18) ou agradar a Deus “sem fé” (Hb 11:6).
Crucificar novamente o Filho de Deus é uma expressão figurativa que busca descrever algo que acontece na relação pessoal entre Jesus e o crente.
Quando os líderes religiosos crucificaram Jesus, o fizeram porque Ele representava uma ameaça à sua supremacia e autonomia. Desejavam eliminá- Lo e destruir um inimigo poderoso e perigoso. O evangelho desafia a soberania e autodeterminação de uma pessoa no nível mais fundamental. A essência da vida cristã é tomar a cruz e negar a si mesmo (Mt 16:24). Isso significa crucificar “o mundo” (Gl 6:14), a “velha natureza” (Rm 6:6) e “a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5:24). O propósito da vida cristã é que soframos uma espécie de morte. A menos que experimentemos essa morte para o eu, não podemos receber a nova vida que Deus deseja nos dar (Rm 6:1-11).
A luta entre Jesus Cristo e o eu é uma batalha espiritual mantida até a morte (Rm 8:7, 8; Gl 5:17). É uma batalha difícil que não se ganha de uma vez. Essa passagem não se refere à pessoa que às vezes falha na batalha contra a “velha natureza” e a “carne”. Esse pecado se refere à pessoa que, após ter experimentado a salvação genuína e o que ela envolve (Hb 6:4, 5), decide que Jesus é uma ameaça ao tipo de vida que deseja ter e se dedica a matar seu relacionamento com Ele. Ou seja, enquanto a pessoa não escolher se afastar totalmente de Cristo, ainda há esperança de salvação.
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A advertência de Hebreus 6:4-6 é muito semelhante à encontrada em Hebreus 10:26-29. Paulo explicou que rejeitar o sacrifício de Jesus deixaria as pessoas sem nenhum meio para o perdão dos pecados, porque não há outra fonte de perdão além de Jesus Cristo (Hb 10:1-14).
3. Leia Hebreus 10:26-29. Como o autor descreve o pecado para o qual não há perdão?
O autor não disse que não haveria expiação por pecados cometidos após receber o conhecimento da verdade. Deus designou Jesus como nosso Advogado (1Jo 2:1). Por meio Dele temos o perdão dos pecados (1Jo 1:9). O pecado para o qual não há sacrifício ou expiação é pisar o Filho de Deus, profanar o sangue da aliança e insultar o Espírito Santo (Hb 10:29). Revisemos o significado dessas expressões.
A expressão “pisou o Filho de Deus” (Hb 10:29) descreve a rejeição do governo de Jesus. O título “Filho de Deus” relembrava aos ouvintes que Deus colocou Jesus sentado à Sua direita e prometeu pôr os inimigos por “estrado” dos Seus pés (Hb 1:13; Hb 1:5-12, 14). Pisar Jesus implica que o apóstata trata Jesus como inimigo. No contexto do argumento da epístola (Hb 1:13), pode estar implícito que, no que diz respeito à vida do apóstata, Jesus foi tirado do trono (que agora é ocupado pelo próprio apóstata) e colocado no estrado. Isso é o que Lúcifer queria fazer no Céu (Is 14:12-14) e o que o “homem da iniquidade” tentaria fazer no futuro (2Ts 2:3, 4).
A expressão “profanou o sangue da aliança” refere-se à rejeição do sacrifício de Jesus (Hb 9:15-22), isto é, afirmar que o sangue de Jesus é desprovido de poder purificador.
A expressão “insultou o Espírito da graça” é muito poderosa. O termo grego enybrisas (“insulto”, “ultraje”) envolve manifestação de arrogância, que se refere à “insolência” ou ao “excesso de orgulho”. Esse termo está em forte contraste com a descrição do Espírito Santo como “o Espírito da graça”. Isso implica que o apóstata respondeu à oferta da graça de Deus com um insulto e que, por isso, está em uma posição insustentável. Ele rejeita Jesus, Seu sacrifício e o Espírito Santo.
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Após a forte e sincera advertência de Hebreus 6:4-8, Paulo expressou confiança de que os leitores não haviam se afastado do Filho, nem o fariam no futuro. Ele acreditava que seu público receberia a advertência e produziria os frutos adequados, como a “terra”, que é cultivada por Deus e produz os frutos que Ele espera. Eles receberiam a bênção divina (Hb 6:7), que é a “salvação” (Hb 6:9).
4. Leia Hebreus 6:9-12. Quais foram as boas atitudes que os crentes tiveram?
Os crentes mostravam amor a Deus por meio do serviço aos santos. Essas não foram ações isoladas no passado, mas ações sustentadas que se estenderam. Atos excepcionais não revelam o verdadeiro caráter de alguém. A evidência mais importante de amor para com Deus não são atos “religiosos”, por assim dizer, mas atos de amor para com outros, especialmente aqueles que estão em desvantagem (Mt 10:42; 25:31-46). Paulo exortou os crentes a não se esquecerem de fazer o bem (Hb 13:2, 16).
Em Hebreus 6:12, ele advertiu contra se tornarem “preguiçosos”, característica de quem não amadureceu e que está em perigo de cair (Hb 5:11; 6:12). A esperança não é mantida viva por exercícios intelectuais de fé, mas pela fé expressa em atos de amor (Rm 13:8-10).
Paulo desejava que os leitores imitassem aqueles que, pela fé e paciência, herdaram as promessas. Ele já havia apresentado a geração do deserto como um exemplo negativo daqueles que, por falta de fé e perseverança, falharam em herdar o que lhes foi prometido. Em seguida, apresentou Abraão (Hb 6:13-15) como um exemplo de alguém que, “depois de esperar com paciência”, herdou as promessas. A lista de exemplos positivos é ampliada com os heróis da fé em Hebreus 11 e chega ao clímax em Hebreus 12 com Jesus como o maior exemplo de fé e paciência (Hb 12:1-4). Em Apocalipse 14:12, fé, paciência e observância dos mandamentos são características dos santos nos últimos dias.
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Paulo alcançou o ponto mais alto de sua advertência contra a apostasia e do encorajamento ao amor e à fé com uma bela exposição da segurança e certeza em Cristo.
5. Leia Hebreus 6:17-20. Como Deus garantiu Suas promessas?
Deus garantiu Suas promessas para nós de várias maneiras. Primeiro, garantiu Sua promessa com um juramento (Hb 6:17). De acordo com as Escrituras, os juramentos de Deus a Abraão e Davi se tornaram a base fundamental da confiança no favor permanente do Senhor para com Israel. Quando Moisés procurou assegurar o perdão divino a Israel após a apostasia com o bezerro de ouro, ele se referiu ao juramento divino a Abraão (ver Êx 32:11-14; Gn 22:16-18). A força implícita de seu apelo foi que o juramento de Deus era irrevogável (Rm 9:4; 11:28, 29).
Da mesma forma, quando o salmista intercedeu diante de Deus por Israel, ele reivindicou o juramento divino a Davi. Deus disse: “Não violarei a Minha aliança, nem modificarei o que os Meus lábios prometeram. Uma vez jurei por Minha santidade que nunca mentiria a Davi. A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o Sol diante de Mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha nos Céus” (Sl 89:34-37). De acordo com o NT, ambos os juramentos se cumpriram em Jesus, a semente de Abraão, que ascendeu e Se assentou no trono de Davi (Gl 3:13-16; Lc 1:31-33, 54, 55).
Em segundo lugar, Deus garantiu Suas promessas ao colocar Jesus à Sua direita. A ascensão de Jesus tem o propósito de confirmar a promessa feita aos crentes, pois ascendeu “como Precursor” em nosso favor (Hb 6:20). Assim, a ascensão nos revela a certeza da salvação. Deus conduziu o Filho à glória por meio do sofrimento da “morte por todos”, para que pudesse conduzir “muitos filhos à glória” (Hb 2:9, 10). A presença de Jesus diante do Pai é a “âncora da alma” (Hb 6:19), que foi presa ao trono de Deus. De quais outras garantias precisamos?
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Textos de Ellen G. White: Atos dos Apóstolos, p. 539-545 (“João, o discípulo amado”); O Desejado de Todas as Nações, p. 716-722 (“Judas, o traidor”).
“A luta contra o eu é a maior de todas as batalhas. A renúncia ao eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer uma luta; mas a pessoa deve se submeter a Deus antes de ser renovada em santidade” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 43).
“João desejava ser semelhante a Jesus; e, sob a transformadora influência do amor de Cristo, tornou-se manso e humilde. O eu estava escondido em Jesus. Mais que todos os seus companheiros, João se rendeu ao poder dessa extraordinária vida. [...]
“Foi o profundo amor de João por Cristo que o levou a desejar estar sempre ao Seu lado. O Salvador amava todos os Doze, mas o espírito de João era mais receptivo. Ele era mais jovem que os outros e, com a confiança de uma criança, abria o coração a Jesus. Assim, João desenvolveu maior afinidade por Cristo e, por meio dele, os mais profundos ensinos espirituais do Salvador foram transmitidos ao povo. [...]
“Com adoração e amor, ele contemplou o Salvador até que se assemelhar a Cristo e se familiarizar com Ele se tornaram seu único desejo, e em seu caráter se refletiu o caráter de seu Mestre” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 544, 545).
Perguntas para consideração
1. A vida de João e de Judas são contrastantes. Jesus chamou João de Boanerges (“filho do trovão”). Os defeitos de Judas não eram mais sérios que os de João. Por que João foi transformado enquanto Judas pecou contra o Espírito Santo?
2. Jesus nos convida a tomar a cruz e segui-Lo. Existe diferença entre tomar a cruz e se submeter ao ultraje de outras pessoas?
3. Por que Deus exige a entrega total da vida a Ele? Qual é a relação entre o livre-arbítrio e a salvação?
Respostas e atividades da semana: 1. Luz; o dom do Espírito; a boa Palavra de Deus; os poderes do mundo vindouro. 2. Crucificar a Cristo significa ter experimentado a salvação genuína e mesmo assim decidir afastar-se de Jesus. Em vez de andar em novidade de vida, a pessoa decide desfazer seu relacionamento com Jesus, decide ser escrava do pecado. 3. É a rejeição a Jesus, ao Seu sacrifício e ao Espírito Santo. 4. Demonstraram amor a Deus e serviram aos santos. 5. Com juramento e com a ascensão de Jesus, quando Deus O colocou à Sua direita.
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TEXTOS-CHAVES: Hb 6:4-6; Mt 16:24; Rm 6:6; Hb 10:26-29; 6:9-13; 6:17-20
ESBOÇO
Temas da lição
Hebreus 5 termina de forma um tanto sombria, com Paulo repreendendo sua audiência por não progredir na jornada espiritual. No entanto, o apóstolo queria avançar em seu sermão para percepções teológicas mais profundas, apesar de uma audiência que tinha “preguiça de ouvir” (veja Hb 5:11). Somente se o tempo permitisse, retomaria os ensinamentos básicos, como “arrependimento de obras mortas”, “fé em Deus”, “ensino de batismos”, “imposição de mãos”, “ressurreição dos mortos” e “juízo eterno” (Hb 6:1, 2).
Além disso, o público havia experimentado, em algum momento no passado, uma série de bênçãos divinas. Essas bênçãos são enumeradas em Hebreus 6:4, 5. Eles foram “iluminados”, “provaram o dom celestial”, “se tornaram participantes do Espírito Santo” e “provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”, ou seja, haviam experimentado a conversão, a graça de Deus, o Espírito Santo por meio de sinais e maravilhas, a verdade do evangelho e a salvação.
Em meio a tudo isso, parece que alguns tinham apostatado da fé. Sobre os que se haviam afastado, Paulo disse: “É impossível outra vez renová-los para arrependimento” (Hb 6:6). Um juízo similarmente devastador foi proferido em Hebreus 10:26-29 contra aqueles que, de modo intencional, persistiam no pecado após terem recebido o conhecimento da verdade. O comportamento do apóstata é caracterizado por metáforas que equivalem a rejeitar Cristo, Seu sacrifício e o Espírito Santo.
COMENTÁRIO
A impossibilidade de arrependimento
Os textos de Hebreus 6:4-6 e de Hebreus 10:26-29 falam sobre a impossibilidade de arrependimento? Isso significa que, se um cristão apostatar, ele não pode ser renovado para o arrependimento? Não há como ter uma segunda chance? A ideia de que o arrependimento não pode ser renovado tem sido o entendimento predominante de Hebreus 6:4-6, mantido pelos cristãos ao longo da história da igreja, levando alguns a adiar o batismo até o leito de morte. Como avaliar essas fortes advertências quando olhamos para a experiência de Pedro após o Getsêmani (Mt 26:69-75)? No exame que se segue, pretendemos entender a passagem de Hebreus 6:4-6 e harmonizá-la com a experiência de Pedro, bem como com toda a Escritura.
Primeiro, queremos entender o que o público de Hebreus experimentou. Alguns foram iluminados, experimentaram o dom celestial, compartilharam do Espírito Santo, experimentaram a boa Palavra de Deus e então se afastaram. A primeira metáfora usada para descrever a comunidade cristã é “iluminados”, um termo que aparece em Hebreus 10:32, onde está escrito: “Lembrem-se dos dias passados, quando, depois que foram iluminados, vocês suportaram grande luta e sofrimentos”. Essa metáfora parece descrever sua experiência cristã inicial. Pelo Espírito de Deus, o público fez a transição de “obras mortas” para “fé em Deus” (Hb 6:1) e para o “conhecimento da verdade” (Hb 10:26).
A segunda metáfora, “provaram o dom celestial” (Hb 6:4), mostra que o público teve uma experiência espiritual no gracioso dom divino da salvação. O verbo “provar” aparece em Hebreus 2:9, onde está escrito que Cristo, “por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Quando Cristo experimentou a morte como ser humano, estava experimentando algo até então desconhecido para Ele. Os cristãos de Hebreus experimentaram o dom celestial, algo até então desconhecido para eles, a saber, a “tão grande salvação” (Hb 2:3).
Intimamente associada à experiência do dom celestial está a terceira metáfora. Os cristãos “se tornaram participantes do Espírito Santo” (Hb 6:4), evocando a linguagem da participação, que lembra os textos de Hebreus 3:1 e Hebreus 3:14, em que o público é descrito como “participantes da vocação celestial” e “participantes de Cristo”. A distribuição do Espírito Santo foi algo que esse público experimentou vividamente em sua fase inicial de evangelização (Hb 2:4).
A série de metáforas continua com uma repetição de imagens de degustação. A declaração de que eles “provaram a boa palavra de Deus” (Hb 6:5) refere-se a ouvir o evangelho, recebido quando aceitaram as boas-novas da salvação (Hb 2:3). Algumas vezes, a Bíblia hebraica compara a Palavra de Deus ao alimento (veja Dt 8:3). O público não era apenas o destinatário da boa Palavra de Deus, mas também tinha experimentado os “poderes do mundo vindouro” (Hb 6:5), que incluíram “sinais, prodígios” e “vários milagres” (Hb 2:4).
Depois de quatro metáforas longas e positivas, ocorre uma mudança dramaticamente repentina. A última metáfora transmite o fenômeno da apostasia: “e caíram” (Hb 6:6). O verbo “cair” ou “cometer apostasia” pode significar “pecar” em um sentido geral. Mas por causa da frase que se segue, a saber, “visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-O à zombaria” (Hb 6:6), o pecado deve ser entendido no sentido mais radical de romper com toda experiência de salvação descrita até então nos versos 4 e 5. Em termos simples, o público experimentou a conversão, a salvação, o Espírito Santo por meio de sinais e maravilhas e a boa palavra de Deus e, depois, apostatou.
Uma vez que tenhamos compreendido o que a audiência de Hebreus experimentou, examinaremos a noção da impossibilidade de arrependimento em Hebreus 6:4-6. Precisamos ser um pouco técnicos em nossa abordagem. Todas as cinco metáforas mencionadas anteriormente são adjetivos verbais (particípios) em grego que estão no pretérito (aoristo), tempo que descreve uma ação no passado. As ações ocorrem uma vez, de uma vez por todas. A cadeia de particípios descreve um e o mesmo grupo de pessoas, de modo que esse grupo da audiência passou de “iluminado” a “apóstata”, havendo recebido uma série de experiências religiosas algum tempo atrás.
A última parte de Hebreus 6:6 emprega um segundo bloco de particípios (“de novo, estão crucificando” e “expondo-O à zombaria” [Hb 6:6]). Dessa vez, Paulo usou os particípios do tempo presente. Ele repentinamente mudou do tempo passado (aoristo) para o tempo presente, que expressa a ação em processo. O que isso indica? O tempo presente representa a ação conforme ela se desenvolve, o que está acontecendo no momento da fala. Ambos os particípios descrevem apostasia no tempo presente. Assim, a ação é vista como um crime que impede a renovação para o arrependimento, pois torna o apóstata inimigo de Cristo. A pessoa crucifica o Filho de Deus novamente e O expõe à vergonha de maneira contínua. O que isso sugere? Envergonhar Cristo é reencenar a crucifixão. Essa reencenação mostra o impacto devastador e contínuo da apostasia naqueles que já foram iluminados. Eles não podem ser restaurados ao arrependimento por causa da atitude presente e contínua que têm para com Cristo. Suas ações descrevem a causa da apostasia e sua atitude contínua. Quando rejeita a Cristo, o apóstata abraça a impossibilidade de arrependimento.
Mas, e quem não tem essa atitude? Essa pessoa tem uma chance? Mas é claro! Nesse caso, o exemplo de Pedro é útil como ilustração. Enquanto negava a Cristo três vezes, ele de repente “se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: ‘Antes que o galo cante, você Me negará três vezes.’ E Pedro, saindo dali, chorou amargamente” (Mt 26:75). Essa tristeza é uma atitude completamente diferente da dos apóstatas em Hebreus 6, que crucificavam o Filho de Deus e o envergonhavam abertamente. Além disso, 1 João 2:1 declara: “Escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Mas, se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. O Advogado só pode ser útil se for aceito, não envergonhado nem crucificado.
Em resumo, Hebreus 6:4-6 deixa claro que o público passou por toda a gama de experiências religiosas da conversão à apostasia. O que impossibilitou alguns deles de serem renovados para o arrependimento foi a atitude de envergonhar Cristo e, assim, encenar o processo da crucifixão. Basicamente, essa atitude equivalia a declarar Cristo como seu inimigo. No entanto, com uma atitude de humilde arrependimento, como a de Pedro, o perdão é sempre possível. O Advogado, Cristo Jesus, está disposto a renovar-nos para o arrependimento.
O mesmo se dá no caso de Hebreus 10:26-29. Essa passagem começa com o pecado deliberado, arbitrário e intencional. “Porque, se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10:26). Mais uma vez, se descreve uma persistência presente, contínua e deliberada no pecado, o que priva qualquer pessoa do perdão. Um grupo “pisou o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado e insultou o Espírito da graça” (Hb 10:29). Suas ações retratavam Jesus como um inimigo, com Seu sangue desprovido de poder salvífico. Esses indivíduos insultaram e rejeitaram arrogantemente a oferta da graça divina; e nem mesmo quiseram se arrepender, visto que demonstraram uma atitude desafiadora contra Cristo e Sua obra. Portanto, o arrependimento é impossível.
Coisas melhores os esperam
Depois de uma advertência tão severa, Paulo se voltou para sua audiência com uma mudança de tom e palavras encorajadoras. “Quanto a vocês, meus amados, ainda que falemos desta maneira, estamos certos de que coisas melhores os esperam, coisas relacionadas com a salvação” (Hb 6:9). Esse público era como a terra boa mencionada no verso 7, que produz uma colheita frutífera. Essas pessoas tinham um histórico de serviço cristão. Deus não ignora isso (Hb 6:10). Ao se dirigir a eles como “amados”, Paulo afirmou implicitamente que via esperança genuína para seus leitores.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Não é um fenômeno incomum na Igreja Adventista do Sétimo Dia que jovens adolescentes sejam batizados. Por mais genuína e sincera que tenha sido sua experiência com Cristo, quando ficarem mais velhos e entrarem na faculdade, sua fé pode enfraquecer e diminuir. Alguns deixam a igreja aos 19, até que, por volta dos 30 anos, após várias crises, muitos encontram o caminho de volta para a igreja. Qual é a melhor maneira de lidar com esses ex-membros que encontram o caminho de volta para casa?
1. O que você diria a essas pessoas se elas lessem Hebreus 6:4-6 e achassem que o arrependimento não mais é possível?
2. O que podemos fazer individualmente, e de forma coletiva, para evitar a apostasia em nossa família, bem como em nossa igreja?
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O teste de Tina
O dinheiro era escasso para Tina, o esposo e os quatro filhos em Timor-Leste. Ela trabalhava como contadora e recepcionista, o esposo era mecânico. Eles conseguiam se manter precariamente, mas quando enviaram o filho ao internato adventista na vizinha Indonésia, a situação econômica piorou. Não havia uma instituição adventista de Ensino Médio no Timor-Leste. A mensalidade era cara e o casal atrasou as mensalidades devido a contas inesperadas de funerais familiares e uma crise familiar prolongada.
Sem perspectiva, Tina se candidatou para trabalhar em uma plantação de morangos na Austrália. Os membros da igreja lhe aconselharam, recordando que tinha um filho de um ano, mas ela estava determinada a trabalhar como funcionária temporária na Austrália. Seu objetivo era saudar a dívida e voltar com uma quantia guardada, depois de seis meses.
Tina foi trabalhar em uma fazenda na Tasmânia. Durante a primeira semana, o administrador da fazenda anunciou que, aos sábados, o pagamento seria em dobro. No sábado de manhã, sua companheira de casa, que também era de Timor-Leste, se dirigiu à plantação de morangos. Entretanto, Tina permaneceu do quarto.
Durante dois meses, ela guardou o sábado dentro de seu quarto. Mas, certo sábado, decidiu procurar uma igreja adventista na cidade mais próxima, Launceston. Sem conhecer a cidade, sentiu-se perdida. Tudo era tão diferente de Timor-Leste, com quase nenhum transeunte nas ruas, inclusive crianças. Preocupada, tentou voltar para a fazenda. Após caminhar por duas horas, viu um homem limpando o quintal.
“Bom dia senhor! Você pode me ajudar, por favor? Onde é a rodoviária?” O homem quis saber de onde ela vinha e para onde ia, ao que Tina respondeu: “Eu sou de Timor- Leste e quero ir à uma igreja adventista.” Então, o homem disse: “Oh! Minha esposa é adventista, mas não está frequentando a igreja. Mas eu conheço outros membros da igreja.” E levou Tina até a casa de um membro da igreja. A partir de então, ela passou a igreja.
Os membros a receberam cordialmente, doando alimento, roupas e até suprimentos de cozinha. Sua colega de quarto e outros colegas de trabalho ficaram zangados quando a viram voltar no sábado à noite com os braços cheios de presentes. “Qual o verdadeiro motivo para vir à Austrália?”, um funcionário perguntou. “Vim para ganhar dinheiro”, Tina respondeu. “Mas, então, por que você não trabalha aos sábados? Você sabe que o pagamento é em dobro!”, outro acrescentou. “Você está aqui só para se divertir”, disse o terceiro. Triste com as falsas acusações, Tina respondeu: “Tenho seis dias na semana para ganhar dinheiro e um dia para Deus. Sei que Ele proverá, mesmo que eu não receba o dobro do salário.”
Os funcionários exigiram que o administrador da fazenda a obrigasse a trabalhar aos sábados. Mas, ao falar com ele, Tina disse que havia informado ao proprietário da fazenda durante a entrevista que ela era adventista e não trabalharia aos sábados. O proprietário havia respondido que a Austrália era um país livre onde as pessoas poderiam guardar o dia que escolhessem. “Desculpa”, Tina disse ao administrador, “mas não importa o que aconteça comigo, nunca trabalharei no sábado. Você pode me enviar para o Timor-Leste”. Tina conseguiu os sábados livre.
Enquanto o tempo passava, cinco colegas de trabalho começaram a mostrar interesse na fé professara por Tina. Eles queriam acompanhá-la quando fosse à igreja no sábado. No fim dos seis meses, Tina se perguntava se havia tomado a decisão correta. O dinheiro que havia ganho mal dava para pagar o débito da escola. Porém, ao voltar para o Timor-Leste, ela possuía mais dinheiro que os amigos que trabalharam no sábado. O que teria acontecido?
No último sábado na Australia, os membros da igreja lhe deram um presente de despedida, vários envelopes. Tina entrou no banheiro da igreja e quando abriu os envelopes descobriu várias cédulas. Era mais dinheiro do que ganharia se tivesse trabalhado pelo dobro do salário aos sábados. Ajoelhada no chão do banheiro, lágrimas escorriam pelo rosto. “Deus, muito obrigada, por esta benção maravilhosa!”, ela orou. “É tão impressionante! Nunca esperei receber este tipo de benção sem trabalhar. Mas Deus preparou tudo para mim. Assim como Jesus diz em Lucas 18:27, “O que é impossível para os homens é possível para Deus” (NVI).
Parte das ofertas do Décimo terceiro Sábado, há seis anos, ajudaram a abrir a primeira Escola Adventista, onde os filhos de Tina estudam, em Timor-Leste. Neste trimestre, outra parte contribuirá para a construção de um dormitório para a escola. Muito agradecemos por sua liberalidade.
Informações adicionais
• Pronúncia de Launceston: .
• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Para outras notícias do Informativo Mundial das Missões e informações da Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/ssd-2022.
Esta história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico do “I Will Go” [Eu irei] da Igreja Adventista: objetivo de crescimento espiritual nº 5 – “discipular indivíduos e família na vida espiritual”. A construção da escola ajudará a concluir o objetivo missionário número 4 – “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º trimestre de 2022
Tema geral: Hebreus: mensagem para os últimos dias
Lição 7 – 5 a 11 de fevereiro de 2022
Jesus, a Âncora da alma
Autor: Adriani Milli Rodrigues
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Em seu contexto náutico, a âncora é fundamental para que um barco ou navio não fiquem à mercê dos movimentos da água e do vento. A imagem da âncora em Hebreus 6:19 transmite a ideia de desejada estabilidade na vida dos crentes, que muitas vezes é agitada e, até movida pela força impetuosa das dificuldades e problemas que surgem. Como vimos em lições anteriores, a audiência primária da epístola aos Hebreus passou por várias provações que geravam desânimo e, infelizmente, traziam o risco real de apostasia. Dada a ameaça espiritual dessas dificuldades, a epístola procura estimular a perseverança e a estabilidade por meio de uma profunda elaboração teológica acerca da Cristo, tanto em termos doutrinários quanto em tom exortativo. Na exortação da qual Hebreus 6:19 faz parte, a esperança em Cristo é a estável âncora dos crentes que enfrentam intensos desafios.
Considerando a alternância de seções de exposição doutrinária e exortação/aplicação pastoral em Hebreus, esses dois tipos de seções apresentam características significativas e distintas para o desenvolvimento do conteúdo da epístola. No caso das seções de exposição doutrinária, elas elaboram uma progressão linear de seu tema principal. Por outro lado, as seções de exortação pastoral tendem a retomar seu ponto principal de maneira circular, onde cada retorno torna a exortação ainda mais enfática. Vamos tentar exemplificar esses padrões de exposição linear e exortação circular observando a seção de exortação 5:11–6:20, em que se situa a passagem de 6:19, que, juntamente com o verso 20, constituem o texto bíblico para memorizar na lição desta semana. A seção de exortação de 5:11–6:20 está localizada no contexto da exposição mais ampla de 5:1–7:28, acerca da nomeação sumo-sacerdotal de Jesus Cristo. Por várias razões que vão além do foco da lição desta semana, a figura de Melquisedeque é útil para a explicação da nomeação e do estabelecimento celestial de Cristo como nosso Sumo Sacerdote. Curiosamente, a ideia deixada no final da subseção 5:1-10 (no verso 10) sobre Melquisedeque é retomada logo após a exortação de 5:11–6:20, no início da subseção 7:1-28, isto é, em 7:1. De maneira mais específica, experimente ler Hebreus 5:10 e, então, continuar a leitura em 7:1, em vez de prosseguir para o 5:11. A leitura será a seguinte: “E Deus O nomeou Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” (5:10). Então, “Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão, quando este voltava da matança dos reis, e o abençoou” (7:1). Note que a linha de raciocínio deixada em 5:10, que se centra na comparação com Melquisedeque, é retomada em 7:1, uma vez que a transição de 6:20 prepara essa retomada ao mencionar novamente a temática da ordem de Melquisedeque indicada em 5:10. Esse mesmo princípio pode ser observado na conexão de retomadas de outras seções de exposição doutrinária na epístola, como por exemplo a retomada dos conceitos sacerdotais de 2:17, 18 em 5:1-10, preparada pela transição de 4:14-16, que conclui a exortação de 3:1–4:13.
Ao passo que a progressão da exposição doutrinária tem caráter linear entre 5:1-10 e 7:1-28, a exortação de 5:11–6:20 tem caráter de intensificação circular em relação a outras seções anteriores de exortação pastoral na epístola. De fato, existem duas seções de exortação que precedem a exortação de 5:11–6:20, a saber, 2:1-4 e 3:1–4:16. A primeira destaca a necessidade de perseverança dos crentes e a realidade do juízo divino. A indagação “Como escaparemos nós, se não levarmos a sério tão grande salvação?” (2:3) constitui um significativo resumo dessa exortação, que é precedido pelo seguinte apelo: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Porque, se a palavra falada por meio de anjos se tornou firme, e toda transgressão ou desobediência recebeu o justo castigo, como escaparemos nós, se não levarmos a sério tão grande salvação?” (2:1-3). A segunda exortação nos capítulos 3 e 4 também ressalta a importância da perseverança e a realidade do juízo divino. Mas agora esses conceitos são enfatizados à luz do exemplo negativo da geração do deserto que, infelizmente, respondeu à voz divina com incredulidade e reagiu à promessa do descanso divino com apostasia.
Essa breve explicação estrutural sugere que a melhor maneira de compreender a exortação de 5:11–6:20 é por meio da comparação com outras seções de exortação na epístola. Essa é uma comparação que leva em conta a intensificação das ênfases de uma exortação para a outra. À semelhança das exortações de 2:1-4 e dos capítulos 3 e 4, a audiência na exortação de 5:11–6:20 necessita ouvir com maior atenção a voz divina. De acordo com 2:1, é necessário se apegar “com mais firmeza às verdades ouvidas”. Em 3:7-8, há o apelo para que a voz de Deus não encontre um coração endurecido pela incredulidade. Na exortação de 5:11–6:20, esse problema se intensifica explicitamente pela própria realidade da audiência primária de Hebreus: “Vocês ficaram com preguiça de ouvir” (5:11). Essa negligência em ouvir não é apenas um problema pontual. Parece um processo contínuo que resulta no atraso do crescimento espiritual dos crentes, que nessa altura já deveriam ser mestres e ter um discernimento bem desenvolvido (5:12-14).
É nesse contexto que aparece a forte advertência de 6:4-6: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, se tornaram participantes do Espírito Santo, provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-O à zombaria.” Em vez de uma apressada preocupação com a menção à impossibilidade de arrependimento, é importante observar o quadro geral dessa situação. Em primeiro lugar, a “queda” em questão é de um cristão que já foi convertido por algum tempo e que teve uma experiência genuína de transformação e dotação do Espírito Santo (cf. 2:4; 6:11). Em segundo lugar, o problema dessa “queda” tem a ver com o processo de negligência constante em ouvir a Palavra de Deus, o que bloqueou o crescimento e o discernimento espiritual (6:11, 14). Para piorar a situação, essa negligência é qualificada como inimizade aberta contra o Filho de Deus (6:6), que é a nossa única fonte de esperança (6:19, 20). O exemplo dado da terra nos versos 7 e 8 sublinha a noção de que esse é um processo, e não uma situação isolada. A terra “frequentemente” recebe chuva para produzir “plantas úteis” que são cultivadas. Mas se essa chuva constante for usada para “produzir espinhos e ervas daninhas”, a terra terá como fim o fogo. A exortação de 10:19-25 intensifica essas ênfases de 5:11–6:20 ao ressaltar o problema da continuidade progressiva do pecado, que representa inimizade contra o Filho e contra a atuação do Espírito Santo: “Se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (10:26). Não resta mais sacrifício para perdão, porque o cristão está pisando “o Filho de Deus”, profanando “o sangue da aliança com o qual foi santificado e” insultando “o Espírito da graça” (10:29).
Felizmente, essa ainda não é a condição final da audiência primária de Hebreus, mas é imperativo mudar de atitude enquanto há tempo. Embora o apóstolo seja firme em sua linguagem, seu profundo desejo é afirmar que “coisas melhores os esperam” e que a experiência prévia desses crentes com Deus é genuína e pode ser revitalizada (6:9-12). Além disso, em última instância, a estabilidade espiritual dos crentes não se encontra em seus próprios esforços, mas em Cristo Jesus, nosso Sumo Sacerdote que entrou no santuário celestial para que nós também tenhamos acesso ao reino e ao santuário celestial (6:19, 20). Ele é a esperança que constitui nossa âncora, que não foi lançada nas profundezas do mar, mas no alto dos Céus, no santuário celestial. Nossa estabilidade, fonte de nossa constância espiritual, está nesse santuário, na obra sacerdotal de Jesus Cristo. Amém!
Conheça o autor dos comentários para a Lição deste trimestre: Adriani Milli Rodrigues é o coordenador da graduação em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo. Possui doutorado (Ph.D) em Teologia Sistemática na Andrews University (EUA) e mestrado em Ciências da Religião pela Umesp. Natural do Espírito Santo, ele trabalha no Unasp desde 2007. É casado com a professora Ellen e tem uma filha, a Sarah, de 7 anos.