Lição 11
04 a 10 de junho
José, mestre dos sonhos
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Jó 8–10
Verso para memorizar: Os irmãos de José “disseram uns aos outros: — Lá vem o grande sonhador!” (Gn 37:19).
Leituras da semana: Gn 37; Mt 20:26; At 7:9; Gn 38; 39; 40:1–41:36

A história de José (Gn 37–50) compreende a última seção do livro de Gênesis, desde seus primeiros sonhos em Canaã (Gn 37:1-11) até sua morte no Egito (Gn 50:26). Ele ocupa mais espaço no livro de Gênesis do que qualquer outro patriarca. Embora fosse apenas um dos filhos de Jacó, ele é apresentado em Gênesis como um grande patriarca, como Abraão, Isaque e Jacó.

Como veremos, também, a vida de José destaca duas verdades teológicas importantes: primeiro, Deus cumpre Suas promessas; segundo, Ele pode transformar o mal em bem.

No estudo desta semana, vamos nos concentrar no início da vida de José. Ele é o filho favorito de Jacó, que ironicamente é apelidado de ba’al hakhalomot, o “sonhador” (Gn 37:19), cujo significado literal é “mestre dos sonhos”, o que sugere que ele seria um especialista em sonhos. Esse título lhe cabe muito bem, porque ele não só recebia, entendia e interpretava sonhos proféticos, mas também os realizava em sua vida.

Nesses capítulos, veremos, novamente, que a providência de Deus é confirmada, apesar da maldade e da perversidade do coração humano.

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Domingo, 05 de junho
Ano Bíblico: Jó 11-14
Problemas familiares

Jacó finalmente se estabeleceu na terra. Enquanto Isaque era apenas “um forasteiro”, o texto diz que Jacó “habitou na terra” (Gn 37:1). No entanto, foi enquanto se estabelecia que os problemas começaram, dessa vez na família. A polêmica não dizia respeito à posse da terra nem ao uso de um poço; era, principalmente, espiritual.

1. Leia Gênesis 37:1-11. Que dinâmica familiar predispôs os irmãos de José a odiá-lo tanto?

Desde o início, entendemos que José, o filho da velhice de Jacó (Gn 37:3), tinha uma relação especial com seu pai, que “o amava mais do que todos os outros filhos” (Gn 37:4). Ele chegou a fazer para ele “uma túnica talar” (Gn 37:3), vestimenta de príncipe (2Sm 13:18), uma indicação da intenção secreta de Jacó de elevar José, o primeiro filho de Raquel, à condição de primogênito.

O futuro confirmaria os desejos de Jacó, pois José recebeu os direitos de primogênito (1Cr 5:2). Não é de admirar, então, que seus irmãos o odiassem tanto e não pudessem nem mesmo ter conversas pacíficas com ele (Gn 37:4).

Além disso, José levava relatórios ruins a seu pai sobre qualquer comportamento repreensível de seus irmãos (Gn 37:2). Ninguém gosta de delatores.

Então, quando José compartilhou seus sonhos, sugerindo que Deus o colocaria em uma posição mais elevada que seus irmãos, que eles se curvariam diante dele, eles o odiaram ainda mais. O caráter profético genuíno dos sonhos é confirmado pela repetição (ver Gn 41:32). Embora Jacó tivesse repreendido abertamente seu filho (Gn 37:10), guardou esse incidente na mente, refletindo sobre seu significado e esperando que se cumprisse (Gn 37:11). Talvez, no íntimo, o pai acreditasse que esses sonhos pudessem significar algo. E estava certo, por mais que não pudesse saber disso naquele momento.

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Leia Mateus 20:26, 27. Que princípio crucial é revelado nessa passagem, e como podemos aprender a manifestar em nossa própria vida o que ela ensina?


Segunda-feira, 06 de junho
Ano Bíblico: Jó 15-17
O ataque a José

Por mais horríveis que tenham sido os eventos que se seguiram, não são difíceis de compreender. Estar tão perto de alguém que você odeia, e até mesmo ter parentesco, levaria inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, a problemas.

2. Leia Gênesis 37:12-36. Até que ponto um coração não regenerado pode ser perigoso e mau, e o que ele pode levar qualquer um de nós a fazer?

Os irmãos odiavam José porque tinham ciúmes do favor de Deus (At 7:9), confirmado a cada etapa do seguinte curso de eventos. Quando José se perdeu, um homem o encontrou e o conduziu (Gn 37:15). Quando os irmãos de José planejaram matá-lo, Rúben interveio e sugeriu que fosse jogado em uma cova (Gn 37:20-22).

É difícil imaginar o tipo de ódio expresso aqui, especialmente por alguém de sua própria casa. Como esses jovens podem ter feito algo tão cruel? Eles não pensaram nem por um momento sobre como isso impactaria seu próprio pai? Por mais ressentimento que pudessem ter em relação ao pai por haver favorecido José, fazer isso com um de seus filhos era desprezível. Que manifestação poderosa da maldade do ser humano!

“No entanto, alguns deles estavam inquietos e não sentiam a satisfação que haviam esperado de sua vingança. Logo viram um grupo de viajantes se aproximando. Era uma caravana de ismaelitas de além do Jordão, a caminho do Egito, com especiarias e outras mercadorias. Judá sugeriu então que vendessem seu irmão àqueles mercadores gentios, em vez de o deixarem morrer. Assim, ele estaria fora do seu caminho, e não seriam culpados do sangue dele, ‘afinal’, insistiu, ‘é nosso irmão, é nosso próprio sangue’” (Gn 37:27, NVI; Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 172 [211]).

Depois de terem lançado José no poço, planejando matá-lo mais tarde, uma caravana passou e Judá propôs a seus irmãos que vendessem José. Ele foi vendido aos midianitas (Gn 37:26-28), e estes o venderam a alguém no Egito (Gn 37:36), antecipando assim sua glória futura.

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Por que é tão importante buscar o poder de Deus para mudar os maus traços de caráter antes que se manifestem em algumas atitudes que você nunca imaginaria ter?


Terça-feira, 07 de junho
Ano Bíblico: Jó 18, 19
Judá e Tamar

Essa história não está fora de lugar. Aconteceu após a venda de José no Egito (Gn 38:1) e é coerente com o fato de que Judá havia acabado de deixar seus irmãos, o que aponta para seu desacordo com eles. Além disso, o texto compartilha uma série de palavras e temas comuns com o capítulo anterior e traz a mesma lição teológica: um ato mau que se tornaria um acontecimento positivo ligado à salvação.

3. Leia Gênesis 38. Compare o comportamento de Judá com o de Tamar. Qual dos dois é o mais justo e por quê?

Judá encontrou uma esposa cananeia (Gn 38:2) com quem teve três filhos, Er, Onã e Selá. Judá deu a cananeia Tamar como esposa a Er, seu primogênito, a fim de garantir a genealogia própria. Quando Er e Onã foram mortos por Deus por causa da maldade deles, Judá prometeu seu último filho, Selá, a Tamar.

Quando, depois de algum tempo, Judá parecia ter esquecido essa promessa, indo se consolar após a morte da esposa, Tamar decidiu disfarçar- se de prostituta para forçá-lo a cumprir sua promessa. Como Judá não tinha dinheiro para pagar a prostituta, a quem não reconheceu, prometeu enviar a ela mais tarde um cabrito de seu rebanho.

Tamar, por sua vez, exigiu que lhe desse como garantia imediata de pagamento o seu selo, o seu cordão e o seu cajado. Tamar engravidou como resultado desse encontro único. Quando mais tarde foi acusada de se prostituir, mostrou ao acusador Judá seu selo, seu cordão e seu cajado. Judá entendeu e se desculpou.

A conclusão dessa história sórdida foi o nascimento de Perez, que significa “irromper”, o qual, de modo semelhante a Jacó, foi o segundo gêmeo a nascer mas acabou se tornando o primeiro e foi nomeado na história da salvação como o ancestral de Davi (Rt 4:18-22) e, finalmente, de Jesus Cristo (Mt 1:3). Quanto a Tamar, ela é a primeira das quatro mulheres, seguida por Raabe, Rute e a esposa de Urias (Mt 1:5, 6), que, na genealogia, precederam Maria, a mãe de Jesus (Mt 1:16).

Uma lição que tiramos dessa história: assim como Deus salvou Tamar por Sua graça, transformando o mal em bem, Ele salvará Seu povo por meio da cruz de Jesus. No caso de José, Ele transformou seus problemas na salvação de Jacó e seus filhos.

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Quarta-feira, 08 de junho
Ano Bíblico: Jó 20, 21
José, um escravo no Egito

Agora retomamos o fluxo da história de José, que tinha sido “interrompido” pelo incidente de Tamar. José trabalhava como escravo do “comandante da guarda”, que era encarregado da prisão dos oficiais reais (Gn 40:3, 4; 41:10-12).

4. Leia Gênesis 39. À luz do exemplo de José como mordomo de Potifar, o que o levou a esse êxito?

Quase imediatamente, José foi considerado alguém de sucesso (Gn 39:2, 3). Ele era tão bom e seu senhor confiava tanto nele que “lhe passou às mãos tudo o que tinha” e até o fez “mordomo de sua casa” (Gn 39:4).

O sucesso de José, no entanto, não o corrompeu. Quando a esposa de Potifar o percebeu e quis dormir com ele, José se recusou e preferiu perder o emprego e sua segurança a cometer tamanha maldade e pecar contra Deus (Gn 39:9). A mulher, humilhada com a recusa de José, relatou falsamente a seus servos e a seu marido que José quis tomá-la a força. Como resultado, José foi lançado na prisão.

Ele viveu o que todos nós por vezes vivemos: o sentimento de abandono por Deus, embora, mesmo nesse momento difícil, “o Senhor, porém, estava com José” (Gn 39:21).

Deus agiu e impactou o relacionamento de José com o oficial da prisão. Ali, bem como na casa de seu senhor, Deus abençoou José. Ele era obviamente um homem talentoso e, apesar das circunstâncias ainda piores (afinal, antes, ele era um escravo!), procurou tirar o melhor proveito disso. No entanto, não importavam quais fossem seus dons, o texto deixa claro que, foi somente Deus que lhe trouxe o sucesso. “O carcereiro não se preocupava com nada do que tinha sido entregue às mãos de José, porque o Senhor estava com ele, e tudo o que ele fazia o Senhor prosperava” (Gn 39:23). Quão importante é que todos os que são talentosos, que têm “sucesso”, se lembrem de onde tudo vem!

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Leia Gênesis 39:7-12. Como José resistiu aos avanços da esposa de Potifar? Por que ele disse que fazer o que ela pedia seria um pecado contra Deus? Que compreensão José mostrou sobre a natureza do pecado?


Quinta-feira, 09 de junho
Ano Bíblico: Jó 22-24
Os sonhos do Faraó

5. Leia Gênesis 40:1–41:36. Como os sonhos do Faraó se relacionam com os sonhos dos oficiais? Qual é o significado desse paralelo?

O caráter providencial dos eventos continua. Com o tempo, José foi encarregado dos prisioneiros, dois dos quais eram ex-oficiais de Faraó, um copeiro e um padeiro (Gn 41:9-11). Ambos estavam perturbados por sonhos que não compreendiam, porque não havia quem o interpretasse (Gn 40:8). José, então, interpretou seus respectivos sonhos.

Faraó também teve dois sonhos, que ninguém podia interpretar (Gn 41:1-8). Naquele momento, o copeiro lembrou-se de José e o recomendou ao governante (Gn 41:9-13).

Paralelamente aos outros sonhos, Faraó, como os oficiais, estava perturbado e, também como eles, revelou seus sonhos (Gn 41:14-24) a José, que os interpretou. Da mesma forma que os sonhos dos oficiais, os de Faraó exibiam símbolos paralelos: as duas séries de sete vacas (gordas e magras), assim como as duas séries de espigas (boas e mirradas) representavam duas séries de anos, bons e ruins, respectivamente. As sete vacas eram paralelas às sete espigas, repetindo a mesma mensagem, uma evidência de sua origem divina, assim como os sonhos de José (Gn 41:32; compare com Gn 37:9).

Embora José tenha interpretado o sonho para Faraó, ele garantiu ao soberano que a interpretação era de Deus, Elohim, que mostrou ao rei as coisas que Ele iria fazer (Gn 41:25, 28). Parece que o monarca entendeu a mensagem porque, quando decidiu nomear alguém para governar a terra, seu argumento foi o seguinte: “Visto que Deus revelou tudo isto a você, não há ninguém tão ajuizado e sábio como você. Você será o administrador da minha casa, e todo o meu povo obedecerá à sua palavra. Somente no trono eu serei maior do que você” (Gn 41:39, 40).

Que fascinante! Com a graça de Deus, José saiu da posição de mordomo da casa de Potifar para se tornar chefe da prisão e depois governante de todo o Egito. Que história poderosa de como, mesmo em meio ao que pareciam circunstâncias terríveis, as providências divinas se revelaram.

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Como podemos aprender a confiar em Deus e nos apegar às Suas promessas quando os eventos não parecem nada providenciais, e Deus parece estar em silêncio?


Sexta-feira, 10 de junho
Ano Bíblico: Jó 25-28
Estudo adicional

Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 174-182 [213-223] (“José no Egito”).

“No princípio de sua vida, exatamente quando passavam da adolescência para a idade adulta, José e Daniel foram separados de seus lares e levados como cativos a países pagãos. José esteve sujeito especialmente às tentações que acompanham grandes mudanças na vida. Na casa paterna, uma criança mimada; na casa de Potifar, escravo, depois confidente e companheiro, homem de negócios, educado pelo estudo, pela observação e pelo contato com os homens; no calabouço de Faraó, prisioneiro de Estado, condenado injustamente, sem esperança de reivindicação ou perspectiva de libertação; chamado em uma grande crise para dirigir a nação – o que o habilitou a preservar sua integridade? [...]

“Em sua infância, a José havia sido ensinado o amor e temor a Deus. Muitas vezes, na tenda de seu pai, sob as estrelas da Síria, foi contada a ele a história da visão noturna de Betel, da escada do Céu à Terra e dos anjos que por ela desciam e subiam, e Daquele que, do trono no alto, Se revelou a Jacó. Fora-lhe contada a história do conflito ao lado do rio Jaboque, quando, renunciando a pecados cultivados, Jacó se tornou conquistador e recebeu o título de príncipe com Deus. [...]

“No momento crítico de sua vida, quando fazia aquela terrível viagem do lar de sua infância em Canaã para o cativeiro que o esperava no Egito, olhando pela última vez as colinas que ocultavam as tendas de sua parentela, José se lembrou do Deus de seu pai. Recordou-se das lições da infância, e seu coração comoveu-se com a resolução de mostrar-se verdadeiro – agindo sempre como convém a um súdito do Rei celestial” (Ellen G. White, Educação, p. 36, 37 [51, 52]).

Perguntas para consideração

1. Quais são as semelhanças de José e Daniel com Jesus? Eles representaram Jesus?

2. Como confiar em Deus quando não temos aparentemente o mesmo sucesso de José?

Respostas e atividades da semana: 1. Jacó privilegiava José, por ser seu filho favorito. 2. Podemos cometer coisas que jamais imaginamos que poderíamos fazer. Devemos rogar a Deus para mudar nosso caráter. 3. Tamar foi mais justa, pois Judá deixou de cumprir sua promessa para com Tamar. 4. Deus era com ele. José temia a Deus, era confiável e fazia o melhor que podia. 5. Como os sonhos dos oficiais, os sonhos de Faraó exibiram símbolos paralelos: duas séries de sete vacas (gordas e magras) e duas séries de espigas (boas e mirradas), que representavam duas séries de anos, bons e ruins. As sete vacas eram paralelas às sete espigas, repetindo a mesma mensagem, uma evidência de sua origem divina.

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Resumo da Lição 11
José, mestre dos sonhos

TEXTO-CHAVE: Gn 37:19

FOCO DO ESTUDO: Gn 37–41:36

ESBOÇO

Introdução: Embora José fosse um dos filhos de Jacó, ele se destacou como uma grande figura patriarcal, semelhante a Abraão, Isaque e Jacó. José ocupa mais espaço no livro de Gênesis do que qualquer um dos três patriarcas. As histórias de José contrastam com as histórias anteriores de estupro, assassinato e prostituição. Ao contrário dos outros patriarcas que frequentemente tropeçavam e se comportavam mal, José permaneceu puro e compassivo. Como o profeta Daniel, José foi um profeta e homem sábio e se comportou de forma inteligente, encontrando as soluções certas para os problemas políticos e econômicos. Mas ele também foi um profeta que recebeu as revelações divinas para comunicar ao Seu povo. José não apenas recebeu sonhos de Deus, mas também foi capaz de interpretar os sonhos de outras pessoas, desde a prisão até a corte do Faraó. Ele representa a pessoa justa por excelência. Sobreviveu ao crime, ao engano e à violência. Deus derrotou os atos do mal e as armadilhas dirigidas a José e os usou para cumprir Seus desígnios. De fato, nosso Pai transformou todos os atos iníquos em oportunidades para promover José. Em cada situação, José surgia mais forte, fosse da cisterna, da escravidão, da prisão ou da corte do Faraó. A bênção divina para José não era apenas para sua felicidade, mas por meio dele a bênção de Deus a Abraão seria cumprida (compare Gn 12:3; 22:18). Por meio dele, não apenas a família de Israel, mas todas as nações seriam abençoadas e salvas.

COMENTÁRIO

Os sonhos de José

O fato de que José recebia sonhos de Deus era humilhante para seus irmãos; os sonhos eram um sinal divino de sua superioridade “espiritual”. Quando ele contou seus sonhos aos irmãos por causa do desejo ingênuo de compartilhar com eles a intrigante revelação, eles ficaram irritados e o odiaram ainda mais. A razão para sua raiva crescente foi que haviam entendido com bastante clareza o significado do primeiro sonho (Gn 37:8). Como pastores e pessoas que viviam da terra, entenderam o significado dos feixes, que relembravam a produção de alimentos básicos. O fato de seus feixes terem se curvado diante do feixe de seu irmão (Gn 37:7) sugeria que um dia eles seriam economicamente dependentes dele e até mesmo se comportariam como seus servos para esse propósito. A repetição de sonhos com a mesma mensagem confirmava sua veracidade e era um sinal de que esses sonhos vinham de Deus (Gn 41:32). Jacó interpretou os símbolos do Sol, da Lua e das 11 estrelas como se referindo, respectivamente, ao pai (ele mesmo), à mãe (sua esposa) e a seus 11 filhos (Gn 37:10). Jacó, portanto, entendeu que os sonhos se aplicavam à sua família e que um dia todos eles se prostrariam diante de José. Embora Jacó repreendesse José, ou pretendesse repreendê- lo (porque estava na presença do restante de sua família), ficou intrigado com o sonho e secretamente ponderou sobre isso, ansioso para ver seu cumprimento (Gn 37:10, 11).

No entanto, os irmãos ficaram preocupados e com ciúmes (Gn 37:11), porque sentiam que o sonho os ameaçava. Por isso, aproveitaram a primeira oportunidade para eliminar o sonhador. A ocasião se apresentou quando Jacó enviou José para visitar seus irmãos no campo. Quando o viram, ficaram entusiasmados antes mesmo que os alcançasse, pois perceberam que aquela era sua oportunidade de matá-lo (Gn 37:18). As exortações plurais dos irmãos (Gn 37:20) lembram as exortações plurais dos homens de Babel (Gn 11:3, 4), sugerindo uma mentalidade e atitude semelhantes. Como os homens de Babel, os irmãos assumiram o lugar de Deus e pretenderam determinar seu próprio destino e o de seu irmão. Os irmãos de José queriam matá-lo, não porque ele contasse más notícias sobre eles a seu pai nem porque tinham ciúmes dele, mas por causa de seus sonhos. A expressão hebraica que usaram para qualificá-lo é irônica: ba’al hakhalomot, que é traduzida como “sonhador” (Gn 37:19) e significa literalmente “mestre dos sonhos”.

No entanto, o que era para ser uma zombaria se tornou profético, porque José foi, de fato, um especialista na interpretação de sonhos. Embora estivesse sozinho e enfrentando perigo, a cada passo de sua jornada cheia de problemas, alguém inesperadamente intervinha em seu nome. Quando os irmãos planejaram matar José, Rúben os convenceu a jogá-lo em uma cisterna. Quando José foi lançado na cisterna, quando pensava que seria morto, Judá convenceu seus irmãos a vendê-lo para uma caravana que passava. Os irmãos queriam matar José porque se sentiam ameaçados por seus sonhos. O plano deles era matá-lo e depois lançar seu cadáver em uma cisterna (Gn 37:20). A cena dos irmãos sentados para comer enquanto José jazia em uma cisterna vazia, sem água (Gn 37:24), antecipa, ironicamente, a situação inversa em que José estaria bem alimentado enquanto seus irmãos estariam com fome e ameaçados por ela (Gn 42:2, 33; 43:1, 2; 44:1; 45:17, 18). A expressão técnica “levantando os olhos, viram” (Gn 37:25) marca a antecipação da intervenção divina para salvar (ver Gn 18:2; 22:13). A visão da caravana antecipa a salvação de José. Foi, de fato, providencial que a caravana tivesse aparecido naquele exato momento.

Judá foi o único que agiu com êxito em nome de José contra seus irmãos. Enquanto Rúben só pôde “ouvir” seus irmãos planejando matar José, Judá foi “ouvido” por eles, que foram convencidos por seus argumentos. Enquanto Rúben conseguiu apenas atrasar o assassinato, Judá foi capaz de salvar José para sempre das mãos de seus irmãos e desencadear o processo que levaria não apenas ao resgate de José naquele momento, mas também à futura salvação da família de Jacó e do Egito.

Judá, José e o Messias

Após a venda de José, Judá não mais se sentia confortável morando com seus irmãos e preferiu se dissociar deles. O desacordo de Judá com os demais deve ter começado antes, quando usou o argumento do parentesco contra eles (“é nosso irmão, é do nosso sangue”) para impedi-los de matar José (Gn 37:27). A consciência de Judá sempre foi forte e ativa, como evidenciado mais tarde em seu apelo por Benjamim (Gn 44:18-34). Além disso, a frase que descreve Judá como alguém que “desceu” (Gn 38:1, ARC) ecoa a descrição de José como alguém que “desceu” ao Egito (ver Gn 37:25, 35; 39:1).

Esse paralelo sugere que o movimento de Judá “para baixo” foi de alguma forma solidário à condição de José, já que este foi levado para o Egito. É por isso que a história do incidente de Judá com sua nora Tamar, que aconteceu imediatamente após a venda de José e sua chegada à casa egípcia de Potifar (Gn 38:1), pertence à sequência de eventos. Não apenas os eventos relatados no capítulo 38 seguem, em ordem cronológica, os eventos registrados no capítulo 37, conforme claramente indicado na fórmula introdutória, “por esse tempo” (Gn 38:1); os dois capítulos também compartilham paralelos linguísticos e temáticos: as mesmas palavras, “veja se é ou não” (Gn 37:32) e “veja se reconhece de quem é” (Gn 38:25); e a mesma referência a um “cabrito” (Gn 37:31, ACF; 38:17). Mais importante, as duas passagens transmitem a mesma lição teológica fundamental: elas testificam do mesmo poder providencial que prevalece para o bem do povo de Deus sobre os atos humanos perversos. A má conduta de Judá se transformou em um evento positivo, levando à salvação de Israel. O sórdido encontro sexual entre ele e Tamar não só resultaria no resgate dela, como também geraria o ancestral de Davi e, portanto, do Messias de Israel, o Salvador do mundo.

Sonhos de egípcios

Quando José foi posto no comando dos prisioneiros, conheceu o copeiro e o padeiro do Faraó, que estavam perturbados por sonhos que não conseguiam entender (Gn 40:1-8). José interpretou os sonhos como previsões do que aconteceria com eles no futuro: o sonho do copeiro significava que ele seria restaurado à sua posição anterior (Gn 40:9-15), enquanto o sonho do padeiro significava que ele seria enforcado (Gn 40:16-19). O capítulo termina com o relato do cumprimento desses sonhos (Gn 40:20-23), confirmando assim a veracidade dos sonhos e sua correta interpretação por parte de José.

Após os dois sonhos dos altos oficiais, o Faraó também teve dois sonhos, que ninguém podia interpretar (Gn 41:1-7). O copeiro-chefe, que de repente se lembrou de José, o recomendou ao Faraó (Gn 41:8-13). Apresentava-se, então, o mesmo cenário de antes. Como nos dois casos anteriores, o Faraó relatou seus sonhos a José (Gn 41:14-24), que os interpretou como uma mensagem divina a respeito do futuro econômico do Egito e aconselhou o rei sobre como administrar a situação (Gn 41:25-36). Impressionado com a sabedoria de José, o Faraó o promoveu e lhe confiou a administração do país (Gn 41:37-46). José administrou os grãos coletados e organizou a sobrevivência econômica do mundo (Gn 41:47-57).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Os sonhos de José. Leia e discuta Jeremias 28:8, 9. Por que a verdade é sempre ameaçadora? Que reações você tem quando lê uma passagem nas Escrituras e nos escritos de Ellen White que o perturba e desafia suas escolhas ou opiniões? Quais critérios você usa para determinar se o profeta fala a verdade? Encontre histórias em sua vida em que uma experiência dolorosa o tenha levado a uma descoberta importante ou a um novo evento de significado redentivo. Aplique essa observação a Jesus Cristo: discuta como e por que a cruz foi necessária para a salvação da humanidade.

Judá, José e o Messias. Discuta com sua classe a conexão entre o resgate de José por Judá e o encontro de Judá com Tamar, levando à descendência messiânica. O que os paralelos entre essas duas histórias nos ensinam sobre a maneira de Deus trabalhar na história e na existência humanas? Reflita sobre sua própria vida: Quais são algumas das falhas e lutas de seu passado que Deus usou para Sua glória? O que essas experiências lhe ensinam sobre Ele? Como essas experiências o ajudam com as lutas e dúvidas que você enfrenta no presente?

Sonhos de egípcios. Que lições missiológicas podemos aprender com o exemplo de José na prisão? Que método de comunicação ele usou em sua relação com seus companheiros de prisão e com o Faraó? Por que é importante testemunhar aos líderes do mundo? Que mensagem espiritual podemos transmitir por meio da qualidade de nosso trabalho?

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Proposta inesperada

Meu nome é Esmeralda, meu pai pertence a uma denominação cristã e minha mãe pertence a outra religião. Todos moramos na capital de Angola, Luanda. Quando criança, aos domingos, eu revezava entre ir à igreja do meu pai e a congregação da minha mãe. Mas, aos 18 anos, deixei de frequentar as duas igrejas. Deixei de cantar no coral da igreja da minha mãe e de participar das atividades dos jovens na igreja do meu pai.

“Por que não me acompanha mais na igreja?”, mamãe perguntou. “Eu não me sinto à vontade”, foi minha resposta. “Então encontre uma igreja onde você se sinta bem. Dê uma chance para Deus”, ela me aconselhou. Mas eu estava mais interessada em dar uma chance ao mundo. Quando minha irmã mais velha ficou noiva, ela e o noivo receberam aconselhamento pré-matrimonial de um pastor adventista. Então, decidiram frequentar a igreja adventista depois de casados; e minha irmã começou a enviar constantemente sermões e versos bíblicos. 

Então, uma série de eventos incomuns aconteceram. Uma amiga me incentivou a entregar o coração a Deus. Eu sabia que ela orava por mim e suas palavras tocaram meu coração. Naquela mesma semana, outra amiga pediu que eu vivesse para Deus. “O mundo não é bom”, ela disse. “Entregue-se a Deus!” Em seguida, orou comigo e pediu a Deus que enviasse para mim um bom marido e temente a Deus. Suas palavras tocaram meu coração. Alguns dias depois, minha irmã mais velha me disse que se sentiu repreendida por Deus. “O Senhor diz que se eu não avisá-la, seu sangue será exigido de mim”, disse ela, e leu Ezequiel 3:18-19, onde o Senhor diz:

“Quando eu disser a um ímpio que ele vai morrer, e você não o advertir nem lhe falar para dissuadi-lo dos seus maus caminhos para salvar a vida dele, aquele ímpio morrerá por sua iniquidade; mas para Mim você será responsável pela morte dele. Se, porém, você advertir o ímpio e ele não se desviar de sua impiedade ou dos seus maus caminhos, ele morrerá por sua iniquidade, mas você estará livre de culpa.”

Meu coração acelerou enquanto ela falava. Tentei me defender, lembrando-a de que eu ia à igreja. Porém, minha irmã disse: “Mas, você não se sente bem lá. Vá à igreja adventista. Vá a alguma igreja da cidade. Dê uma chance.” Prometi a ela que iria à igreja adventista no sábado seguinte. Mas, não fui porque recebi uma proposta de emprego. Trabalhei nos três sábados seguintes. Quando minha irmã ligou para perguntar sobre a igreja, expliquei que estava ocupada com o trabalho. “Alguns empregos não são bênçãos de Deus”, ela respondeu. “Você trabalha muito para nada. Você precisa deixar o trabalho de lado e colocar Deus em primeiro lugar.”

Eu não sabia o que fazer, mas deixei de trabalhar – não por escolha própria, mas porque adoeci. Na clínica, o médico me conhecia porque ele havia sido meu médico durante quatro anos. Nós tínhamos um bom relacionamento médico-paciente. Mas desta vez ele me surpreendeu. Durante uma consulta, de repente, ele pediu minha mão em casamento. Ele nunca havia mostrado interesse pessoal antes, e eu nunca pensei nele como esposo. Mas quando ele fez a proposta, gostei da ideia de ser sua esposa.

“Eu gostaria de casar com você”, respondi prontamente. Ele sorriu. “Sou adventista do sétimo dia, e gostaria que minha esposa também seguisse a mesma religião”, ele acrescentou e eu sorri enquanto respondia: “Sem problema.” Eu fui sincera. Muitas coisas inesperadas aconteceram nas semanas seguintes. Duas amigas e minha irmã incentivaram a entregar o coração a Deus. Uma amiga orou para que encontrasse um marido temente a Deus e minha irmã pediu que visitasse a igreja adventista. Agora, um médico adventista me pediu em casamento e para tornar-me adventista. Eu não pude resistir mais ao chamado de Deus. Entrei na classe batismal.

Hoje sou adventista. Não porque um médico quis casar comigo. Não sou adventista porque minha irmã pediu. Nem sou adventista porque me sinto à vontade na igreja. Sou adventista porque Deus me chamou para me unir a Seu povo que guarda os mandamentos e tem a fé em Jesus. Meu coração é Dele. Parte da oferta trimestral ajudará a construir uma escola adventista em minha cidade natal, Luanda, Angola. Agradecemos por sua liberalidade nas ofertas.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022

Tema Geral: Gênesis

Lição 11 – 4 a 11 de junho de 2022

José, mestre dos sonhos

Autor: Wilian S. Cardoso

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

A história de José e seus irmãos marca as últimas toldot (“gerações”, “histórias”) do livro de Gênesis. Embora a narrativa principal seja sobre José, essas são as toldot de seu pai Jacó (Gn 37:2), pois, como vimos, os filhos são o fruto máximo da vida de um ser humano da perspectiva bíblica (cf. Gn 3:15). Dos capítulos 37 a 50, José se torna o protagonista da narrativa. Mesmo não sendo listado entre os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, ainda assim ele desempenha um papel de fundador do povo de Deus, visto que sua vida ocupa mais páginas no livro do que qualquer outro relato ou personagem anterior a ele.

Uma das coisas mais interessantes sobre essa narrativa é precisamente a mudança no estilo literário do autor. Ainda que isso não possa ser plenamente percebido na tradução, o texto bíblico tem características que se parecem com uma novela1, tais como a conexão entre os enredos das múltiplas narrativas que compõem a história geral, a ordem sequencial em que o enredo é desenvolvido, o deslocamento dos personagens no espaço (ou seja, os cenários mudam conforme as ações do elenco), a linguagem que acompanha a cultura contemporânea e o fato de que o texto é mais descritivo em relação às ações dos personagens essenciais para o fluxo da história.2

Além disso, a história é recheada de situações dramáticas que envolvem mistério, intrigas, rivalidade entre irmãos, tentativas de assassinato, escravidão, prisão, humilhação, provações, resiliência, fidelidade, etc. Tudo isso é apresentado como acontecimentos naturais da vida humana sem qualquer explícita teofania ou intervenção divina.

A história de José também é significativa porque serve de ponte entre os patriarcas e o relato do Êxodo, uma vez que ela explica o motivo real da ida dos israelitas para o Egito e de sua escravidão ali. A propósito, a celebração do ritual da moderna Páscoa judaica é sempre iniciada pelo ato de mergulhar um vegetal chamado karpas (“linho”, “algodão”; cf. Et 1:6) em água com sal, o que, segundo os estudiosos da cultura judaica é uma referência ao mergulhar das vestes de José no sangue (Gn 37:34), ou seja, o objeto e o evento catalisador de tudo.3

Antes de chegarmos a esse momento, vamos retroceder um pouco. O capítulo anterior (Gn 36) é uma apresentação das gerações de Esaú e o seu estabelecimento na terra de Seir (36:1-8). Em outras palavras, o autor parece estar induzindo o leitor a pensar: “Essas são as bênçãos de descendência e terra prometidas a Abraão, agora conquistadas por Esaú. Mas, e quanto a Jacó? Assim, Gênesis 37 abre com a descrição de que Jacó habitava na terra de Canaã, mas a terra ainda não era sua possessão, além do fato de que sua prole não estava bem estabelecida, precisamente por existirem muitos problemas familiares. Ou seja, a partir de agora o foco dessa nova seção é apresentar o cumprimento das promessas de Deus a Jacó-Israel por meio da vida do personagem escolhido da vez – José. É por isso que um dos temas-chave dessa narrativa é que José é o escolhido (Gn 37:3). Ele é o filho preferido de Jacó e é o preferido de Deus para administrar a situação da fome e salvar Seu povo. Assim, Gênesis 37:1-11 introduz esse tema e o resultado disso para a história do protagonista e, consequentemente, para todo o Israel posteriormente.

Esse favoritismo de José, que ora é estampado em sua própria roupa ora pela descrição de seus sonhos, colocando-o em uma posição mais elevada do que seus irmãos mais velhos, conduziu a trama ao evento derradeiro de vendê-lo como escravo. A ação de seus irmãos primeiramente ao tentar matá-lo e, depois, vendê-lo, nos faz questionar como essas pessoas poderiam se tornar o povo de Deus? E a história seguinte não torna as coisas melhores.

Nesse ponto, precisamente, de clímax e transição, em que José sai de uma posição de príncipe em sua casa para a de escravo em uma terra muito distante, a narrativa é interrompida por outra história, criando um tipo de suspense. Uma espécie de “propaganda” que interrompe a cena marcante do enredo, um recurso que hoje é chamado de cliffhanger [momento de suspense], que é uma interrupção na trama do personagem em uma situação limite a fim de gerar tensão e expectativa intensa antes de apresentar o desfecho chocante que se segue. Porém, apesar de aparecer abruptamente como um recurso literário e de parecer deslocada do restante da história, o breve relato sobre Judá e Tamar serve igualmente para mostrar a falha de Judá em manter sua parte na continuidade da linhagem bendita de Deus. Resumidamente, o relato conta sobre filhos perversos, morte, ilegalidade, cilada, relações nora-sogro e um decreto de morte. É um emaranhado de pecados e resultados desastrosos em um curto relato do qual não parece ser possível tirar nenhuma coisa boa. Mas, na verdade, há algo bom aqui. Esse conto serve também para apresentar um personagem coadjuvante importante dentro da história de José: Judá. Pois foi Judá quem sugeriu vender José (37:26, 27). Ele se tornou o porta-voz dos irmãos (43:3-5, 8-10); igualmente foi ele quem intercedeu por Benjamin, oferecendo sua própria vida no lugar da dele (44:18-34); e, mais tarde, se tornou o filho-guia de Jacó para chegar ao Egito (46:28). Em outras palavras, foi a partir desse momento que Judá começou a ascender na história. Foi quando ele reconheceu seus erros e reformou suas atitudes que, apesar das falhas do passado, ele recebeu as bênçãos de Deus, a tal ponto que, por ações abnegadas e de arrependimento, ele, e não José, recebeu a bênção da primogenitura (49:8-12), que trouxe consigo a esperança da vinda do Messias libertador.

Em contraste com as ações corrompidas de Judá, que estava se aperfeiçoando, José é apresentado imaculado, um herói de caráter incorruptível. Ele foi colocado à prova e passou com louvor, mas as situações que se sucederam em sua vida não correspondem à justiça que ele merecia. Depois de ter sido vendido como escravo, foi acusado e preso injustamente. Quanto mais íntegro ele era, mais fundo ele caía no poço da injustiça. E apesar de tudo isso, o nome de Deus apareceu prontamente em sua boca em cada momento crítico: ao ser tentado sexualmente (39:9), ao interpretar os sonhos (40:8; 41:16), ao testar seus irmãos (42:18) e, finalmente, ao considerar o todo de sua própria história (45:7, 8). Com José aprendemos que as coisas só fazem real sentido quando do topo podemos observar o todo, mas só poderemos olhar o todo se conseguirmos chegar ao topo. E lá no topo, José entendeu que, em cada situação, Deus nunca o tinha abandonado, mas estivera o tempo inteiro preparando o terreno para que ele, um dia, pudesse ser quem ele se tornou.

Portanto, tudo isso foi permitido a fim de mostrar que Deus é capaz de tirar o bem do mal. Da perspectiva mais ampla que a Bíblia nos oferece, percebemos que: os irmãos de José tentaram torná-lo um escravo, mas Deus o transformou em “rei”; Judá cedeu às tentações sexuais de Tamar, mas José resistiu à sedução da esposa de Potifar. A nação de Israel, ainda em fase de crescimento, somente foi poupada porque Deus reajustou as más ações humanas em Seu favor – preservando Seu povo escolhido, bem como cuidando singularmente de cada pessoa de coração voluntário. Assim, enquanto grande parte do pecado envolto nessa história aponta para a graça de Deus em meio ao mal, a bondade de José aponta para o fato de que Deus pode levantar uma pessoa justa das piores situações.

Uma das mais importantes lições da história de José está no fato de que, apesar das dificuldades que todos enfrentamos na vida, devemos manter-nos fiéis à justiça e ao que é correto. Diferentemente dos três patriarcas, Deus não se revelou a ele pessoalmente (e essa é outra marcante característica dessa narrativa – a total ausência da intervenção divina direta), e ainda assim ele se manteve firme e fiel ao Deus de seus pais. E Deus Se manteve fiel a José em toda a sua vida, apesar das situações desagradáveis que lhe sobrevieram. No entanto, José revelou possuir um grande senso do cuidado divino e a certeza de que em tudo a mão condutora de Deus estava guiando os eventos aparentemente injustos e sem sentido da vida.4 Da mesma forma nós, hoje, não podemos dizer que temos uma revelação real de Deus em algum ponto da nossa vida, além do que entendemos pela consulta à Sua Palavra escrita. Como José, nossa narrativa também é sobre um servo que crê em Deus, cuja vida é repleta de problemas e, no entanto, o grande plot twist [reviravolta da história], quando finalmente veremos os “dias de glória” e seremos exaltados de servos/as a príncipes/princesas, depende unicamente da nossa maneira de reagir àquilo que enfrentamos hoje, sejam escolhas pequenas ou grandes. Como temos reagido? Como tem sido nossa consciência do cuidado divino? Entre o certo e o errado, somos parecidos com José?

Referências:

1 LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 181.

2 É apenas uma sugestão, mas esse fenômeno pode significar que essa história estava mais próxima, em tempo e local, do autor do que as demais. Daí ser mais desenvolvida e extensa.

3 Cf. MOFFIC, Rabi Evan. “The Hidden Meaning of Karpas” in My Jewish Learning. Disponível em https://www.myjewishlearning.com/article/the-hidden-meaning-of-karpas/, acessado em 31/03/2022.

4 SARNA, Nahum M. Genesis. The JPS Torah Commentary. Philadelphia, PA: Jewish Publication Society, 2001, p. 257.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem. É pai de Sarah, Noah e de Shai. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.