Cristo foi o Agente Divino por meio de quem Deus trouxe o Universo e o mundo à existência (Jo 1:1-3, 10; Cl 1:16; Hb 1:2). Mas, quando Deus Pai conferiu honra especial a Cristo e anunciou que juntos criariam este mundo, “Lúcifer ficou com inveja e ciúme de Jesus Cristo” (Ellen G. White, História da Redenção, p. 10) e conspirou contra Ele.
Ao ser expulso do Céu, Satanás decidiu “destruir a felicidade de Adão e Eva” na Terra e assim causar “tristeza no Céu”. Ele imaginou que, “Se pudesse, de alguma forma, induzi-los à desobediência, Deus faria provisão pela qual pudessem ser perdoados, e então, ele e todos os anjos caídos teriam uma oportunidade de participar da misericórdia de Deus” (História da Redenção, p. 20). Plenamente ciente da estratégia de Satanás, Deus advertiu Adão e Eva para que não se expusessem à tentação (Gn 2:16, 17). Isso significa que, mesmo quando o mundo ainda era perfeito e irrepreensível, já havia restrições claras às quais os seres humanos deviam obedecer.
Nesta semana refletiremos sobre a queda de Adão e Eva, a respeito de como o pecado e a morte tomaram conta do nosso mundo e acerca de como Deus plantou uma semente de esperança para a humanidade ainda no Éden.
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O mundo criado pelo Senhor era perfeito (Gn 1:31). A morte era desconhecida para Adão e Eva. Nesse contexto, Deus advertiu: “De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá” (Gn 2:16, 17).
1. Gênesis 2:16, 17 mostra a existência do livre-arbítrio no Éden? Caso não pudessem escolher livremente, por que Deus os teria advertido?
Algum tempo depois dessa advertência divina, Satanás assumiu a forma de uma serpente e também entrou no Éden. Eva viu a serpente comer alegremente o fruto proibido e não morrer. “Ele próprio havia comido do fruto proibido” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 30), e nada lhe aconteceu.
2. Leia Gênesis 3:1-4. Imagine-se no lugar de Eva. Por que essas palavras poderiam ter soado convincentes?
Da perspectiva da lógica humana, o argumento da serpente soou muito mais convincente do que a Palavra de Deus. Primeiro, não havia evidência no mundo natural, até aquele momento, da existência do pecado e da morte. Segundo, a serpente estava comendo o fruto proibido e o apreciava. Então, por que Eva deveria se conter para não fazer o mesmo? A ordem de Deus parecia ser restritiva demais e sem sentido.
Infelizmente, ao decidir entre as duas declarações conflitantes, Eva ignorou três princípios básicos: (1) a razão humana nem sempre é a maneira mais segura para se avaliar questões espirituais; (2) a Palavra de Deus pode parecer ilógica e sem sentido para nós, mas é sempre correta e confiável; e (3) há coisas que não são más nem erradas em si mesmas, mas Deus as escolheu como testes de obediência.
Devemos estar cientes de que a experiência de Eva não é caso único. Todos os dias precisamos decidir entre a Palavra de Deus (que pode ser impopular) e os apelos sedutores de nossa cultura. Nossa escolha terá consequências eternas.
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3. Leia Gênesis 3:1-7. Quais critérios Eva usou para escolher entre a Palavra de Deus e a da serpente?
Gênesis 3 é um exemplo claro da psicologia da tentação. Deus havia advertido Adão e Eva de que, se comessem do fruto proibido, morreriam (Gn 2:16, 17). Assumindo a forma da serpente, Satanás usou várias estratégias retóricas para levar Eva a pecar.
Primeiro, ele generalizou a proibição específica de Deus ao perguntar: “É verdade que Deus disse: ‘Não comam do fruto de nenhuma árvore do jardim?’” (Gn 3:1). Eva contra-argumentou que a proibição se referia apenas àquela árvore específica, pois, se alguma vez comessem dela ou a tocassem, morreriam.
Então, Satanás contradisse a declaração de Deus, afirmando categoricamente: “É certo que vocês não morrerão!” (Gn 3:4).
Por fim, Satanás acusou Deus de suprimir deliberadamente de Eva e de Adão conhecimento essencial: “Deus sabe que, no dia em que dele comerem, os olhos de vocês se abrirão e, como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5).
A curiosidade de Eva a levou ao terreno encantado de Satanás. Ali ela foi forçada a decidir se permaneceria fiel à ordem restritiva de Deus ou se cederia aos apelos sedutores de Satanás. Ao duvidar da palavra divina, usou seus próprios sentidos – o método empírico, o da observação pessoal – para decidir entre as duas declarações conflitantes.
Primeiro, ela viu que, do ponto de vista dietético, “a árvore era boa para se comer”. Segundo, do ponto de vista estético, viu que era “agradável aos olhos”. Terceiro, partindo de uma análise lógica, a árvore era “desejável para dar entendimento”. Portanto, de seu ponto de vista, ela tinha boas razões para dar atenção às palavras da serpente e comer da árvore proibida. Infelizmente, foi isso que ela fez.
Alguns argumentam que todas as formas de conhecimento são válidas, desde que retenhamos “o que é bom” (1Ts 5:21). Mas as experiências trágicas de Adão e Eva no Jardim do Éden demonstram que o conhecimento, em si, pode ser muito prejudicial. Há algumas coisas sobre as quais, definitivamente, é melhor não saber.
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Uma das manifestações dessa mentira é vista na crença da imortalidade da alma, que foi a base de muitas religiões e filosofias antigas. No Egito antigo, motivou as práticas de mumificação e a arquitetura funerária, como se vê, por exemplo, nas pirâmides.
Essa teoria também se tornou um dos principais pilares da filosofia grega. Por exemplo, em A República de Platão, Sócrates pergunta a Glauco: “Ainda não percebeste que nossa alma é imortal e que nunca pode perecer?” Em Fédon, de Platão, Sócrates argumentou em tom semelhante, dizendo que “a alma é imortal e imperecível, e nossas almas realmente existirão no Hades”. Esses conceitos filosóficos moldaram grande parte da cultura ocidental e até mesmo o cristianismo pós-apostólico; contudo, se originaram muito antes, já no Jardim do Éden, com o próprio Satanás.
No cerne da tentação, Satanás assegurou a Eva: “É certo que vocês não morrerão!” (Gn 3:4), colocando sua palavra acima da Palavra de Deus.
5. Como os seguintes versos podem ser usados para combater a mentira da imortalidade da alma? Sl 115:17; Jo 5:28, 29; Sl 146:4; Mt 10:28; 1Co 15:51-58
A teoria satânica da imortalidade natural da alma tem persistido, mesmo em nosso mundo moderno. Livros, filmes e programas de TV continuam a promover a ideia de que, quando morremos, simplesmente passamos para outro estado de consciência. Quão lamentável é que esse erro também seja proclamado em muitos púlpitos cristãos! Até a ciência se envolveu. Há uma fundação nos Estados Unidos que tenta criar uma tecnologia que nos permitirá entrar em contato com os mortos, os quais, creem os cientistas, ainda estão vivos, existindo como PPMs (“pessoas pós-materiais”). Tendo em vista a prevalência desse erro, não é de se surpreender que esse engano irá desempenhar um papel crucial nos eventos finais da história humana.
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6. Com base em Gênesis 3:7-19 e Romanos 5:12, quais foram as principais consequências do pecado?
Cativada pelo discurso persuasivo da serpente, Eva não previu as consequências de longo alcance do caminho que havia escolhido seguir. Comer do fruto proibido não era tão significativo quanto o que representava. Com esse ato de desobediência, Eva quebrou sua lealdade a Deus e assumiu uma nova lealdade, a Satanás.
Gênesis 3 descreve a queda de Adão e Eva e algumas de suas consequências mais trágicas. De uma perspectiva teológica, ambos foram acometidos de teofobia (medo de Deus) e se esconderam do Senhor (Gn 3:8). A partir de uma avaliação psicossocial, sentiram vergonha de si mesmos e começaram a se acusar mutuamente (Gn 3:7, 9-13). Do ponto de vista físico, suavam, sentiam dor e, por fim, morreriam (Gn 3:16-19). E de uma perspectiva ecológica, o mundo natural havia se deteriorado (Gn 3:17, 18).
O Jardim do Éden não mais era o lugar bonito e agradável que costumava ser. “Ao testemunharem, no murchar da flor e no cair da folha, os primeiros sinais da decadência, Adão e sua companheira choraram mais profundamente do que as pessoas costumam chorar pelos seus mortos. A morte das débeis e delicadas flores era realmente um motivo para tristeza, mas quando as belas árvores perderam suas folhas, essa cena lembrou- lhes o fato cruel de que a morte é o destino de todo ser vivente” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 37, 38).
Adão e Eva não morreram de imediato, no sentido de terem deixado de viver, mas naquele mesmo dia receberam sua sentença de morte. O Senhor disse a Adão: “No suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, pois dela você foi formado; porque você é pó, e ao pó voltará” (Gn 3:19). A queda trouxe consequências trágicas para a humanidade, como a morte (Rm 5:12).
O fato doloroso é que temos sofrido as consequências do que aconteceu no Éden. No entanto, podemos ser gratos porque, por meio de Jesus e de Sua cruz, temos esperança de vida eterna sabendo que o pecado jamais se levantará novamente.
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7. Que esperança há para a humanidade? Gn 3:15, 21
Gênesis 3 descreve a terrível tragédia que afetou o mundo. Tudo mudou, e Adão e Eva puderam ver a diferença entre o que o mundo costumava ser e o que havia se tornado.
Mas, em meio à frustração e ao desespero, Deus proporcionou segurança para o presente e esperança para o futuro. Primeiro, amaldiçoou a serpente ao declarar: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o Descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você Lhe ferirá o calcanhar (Gn 3:15).
A palavra “inimigo” (Heb. ’eybah) sugere não apenas uma controvérsia cósmica de longa duração entre o bem e o mal, mas também uma aversão pessoal ao pecado, implantada pela graça de Deus na mente humana. Por natureza, somos transgressores (Ef 2:1, 5) e “escravos do pecado” (Rm 6:20). No entanto, a graça que Cristo implanta na vida cria inimizade contra Satanás. É essa “inimizade”, uma dádiva do Éden, que nos permite aceitar Sua graça salvadora. Sem a graça que converte e o poder que renova, seríamos cativos de Satanás, sempre cumprindo suas ordens.
Deus usou um sacrifício para ilustrar a promessa messiânica (Gn 3:21). “Quando Adão, de acordo com as especiais determinações de Deus, fez uma oferta pelo pecado, foi para ele a mais dolorosa cerimônia. Sua mão devia se levantar para tirar a vida, que somente Deus podia dar, e fazer uma oferta pelo pecado. Pela primeira vez teria que testemunhar a morte. Ao olhar para a vítima ensanguentada, contorcendo-se na agonia da morte, ele devia contemplar pela fé o Filho de Deus, a quem a vítima prefigurava, e que devia morrer em sacrifício pelo ser humano” (Ellen G. White, História da Redenção, p. 36).
8. Leia 2 Coríntios 5:21 e Hebreus 9:28. O que esses textos ensinam sobre o que foi revelado pela primeira vez no Éden?
Sabendo que morreriam (Gn 3:19, 22-24), Adão e Eva deixaram o Jardim do Éden, mas não saíram nus nem com suas vestes de folhas de figueira. Deus “fez roupas de peles” para eles, e os vestiu (Gn 3:7, 21), um símbolo de Sua veste de justiça (Zc 3:1-5; Lc 15:22). Desde o Éden, o evangelho havia sido revelado à humanidade.
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Textos de Ellen G. White: Patriarcas e Profetas, p. 28-38 (“A queda da humanidade”) e p. 39-46 (“O plano da redenção”); Educação, p. 15-18 (“O conhecimento do bem e do mal”).
Estudos sobre as experiências de quase morte (EQMs) sugerem que pessoas “morrem”, pois o coração para de bater; porém, elas voltam à vida, com histórias sobre flutuar em outro reino, ver um ser de luz e encontrar parentes mortos. Muitos, mesmo cristãos, que não entendem a verdade sobre a morte, acreditam que essas histórias provem a imortalidade da alma. Porém (e este deveria ser o alerta mais claro de que algo está errado), muitos que têm essas experiências afirmam que os seres que conheceram durante as EQMs lhes disseram palavras de conforto, mas não disseram nada sobre a salvação em Cristo, nem sobre o pecado e o julgamento. Nessas experiências, os cristãos não deveriam ter recebido ensinos cristãos? No entanto, o que ouvem soa como dogma da Nova Era, o que explicaria por que eles saem menos inclinados ao cristianismo do que antes de “morrer”. Por que muitos que creem que suas EQMs foram uma prévia do Céu jamais receberam qualquer teologia cristã enquanto estiveram lá, em contraste com o sentimentalismo da Nova Era? Porque foram enganados pelo mesmo que enganou Eva no Éden, e com a mesma mentira (veja a lição 11).
Perguntas para consideração
- A experiência de Adão e Eva demonstra que o perdão de Deus não reverte necessariamente todas as consequências do pecado? Essa verdade é importante?
- A árvore do conhecimento do bem e do mal foi o “terreno encantado” do inimigo para Adão e Eva. Quais são os “terrenos encantados” aos quais somos atraídos?
- Satanás tenta levar o povo de Deus a crer que “as reivindicações de Cristo são menos estritas do que uma vez creram e que pela conformação com o mundo exercerão maior influência sobre os mundanos” (Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 474). Como evitar cair nessa armadilha?
Respostas e atividades da semana: 1. Deus deu ao ser humano o livre-arbítrio para que pudesse escolher amá-Lo ou não. Não há amor genuíno sem livre escolha. 2. Eva jamais havia presenciado a morte. Viu que a serpente comia do fruto e nada lhe acontecia. 3. Seus próprios sentidos e a observação pessoal. 4. Filmes, desenhos, novelas, músicas, literatura, religiões, etc. 5. Mostrando que eles ensinam o real estado dos mortos: os mortos não louvam ao Senhor; o Espírito volta ao pó para aguardar no túmulo a ressurreição e não estão cientes de nada. 6. Medo de Deus; fuga; vergonha; acusações mútuas; suor e cansaço; dor; morte sobre a humanidade, os animais e os seres vivos; de terioração do mundo natural. 7. O Messias prometido viria para pagar o preço pelo pecado. 8. O evangelho, a justificação por meio de Cristo e a salvação.
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TEXTO-CHAVE: Gn 3
ESBOÇO
Deus criou um mundo perfeito sem pecado, mal, violência, insegurança, doença e morte. Ele é o Deus da vida, a Fonte da vida e o Doador da vida. Há um grande contraste entre o mundo de Gênesis 1 e 2, onde tudo é significativo, belo e harmonioso, retratado em cores vibrantes, alegres e claras, com melodia edificante, e o mundo do restante de Gênesis, em que tudo o que é bom é de súbito atingido por uma tempestade de pecado e, consequentemente, prejudicado com relacionamentos amorosos arruinados. As cores tornam- se escuras, e a música, dissonante. O potencial puro e excelente para crescimento e exploração é comprometido.
No entanto, em Sua misericórdia, Deus foi em busca da humanidade e ofereceu esperança e uma solução para o problema do pecado e da morte. Nenhum sistema filosófico ou religião pode trazer uma solução para a morte, para o processo de morrer, e efetuar a restauração plena da vida em nosso mundo, eliminando a morte. Somente o Deus vivo, por meio de Suas ações graciosas, pode fazer isso. Assim, nada nem ninguém pode ser comparado ao nosso Criador e Redentor. Ele é, acima de toda a Sua criação, único e soberano.
A rebelião e a desobediência começaram no Céu, mas foram transferidas para a Terra quando Adão e Eva pecaram; assim, o grande conflito entre o bem e o mal se estabeleceu também na Terra. Deus não deixou a humanidade em seu pecado, mas liderou uma guerra contra os poderes das trevas e seu comandante, Satanás. O Criador colocou inimizade entre o mal e a humanidade para que os humanos não fossem encantados e enlaçados por ele, mas fossem capazes de dizer não enquanto se apegavam a Deus em busca de sabedoria e força. O Deus Criador trouxe uma solução para o problema do pecado enviando a Semente prometida (Gn 3:15), Jesus Cristo, como Salvador da humanidade (Jo 3:16; 5:24; At 4:12). O pecado trouxe não apenas complicações, mas também a morte. No entanto, Jesus venceu a morte por Sua vida perfeita de serviço amoroso, sacrifício altruísta e obediência voluntária (Rm 6:23).
COMENTÁRIO
Satanás, o autor da destruição e da morte
Não foi Deus, mas a serpente que introduziu a desconfiança acerca de Deus no coração humano e fez da morte parte de nosso destino. Por meio da desobediência de Adão, “a morte passou a toda a humanidade” (Rm 5:12). Assim, a morte é um componente integrante de nossa existência neste mundo pecaminoso. Salomão diz: “Os vivos sabem que vão morrer, mas os mortos não sabem nada” (Ec 9:5). A morte é um intruso e nosso inimigo (1Co 15:26).
Houve um tempo em que a morte não existia, nem estava presente no mundo. Expressando esse ponto, Gênesis 2:5, 6 (ACF) contém uma expressão curta, mas extremamente significativa: “ainda não”. Houve um tempo em que “ainda não” havia espinho, trabalho penoso, dificuldades agrícolas e chuva. Esse verso de transição aponta para Gênesis 3, no qual as coisas mudaram drasticamente. A morte veio como resultado de se afastar de Deus e viver uma vida autônoma e independente Dele: “Você é pó, e ao pó voltará” (Gn 3:19).
Deus advertiu especificamente o primeiro casal contra a desobediência à Sua Palavra, e que o resultado culminaria em devastação e tragédia, a saber, a morte: “você certamente morrerá” (Gn 2:17). Satanás contradisse Deus ao declarar: “É certo que vocês não morrerão” (Gn 3:4). Observe que a serpente sabia exatamente o que Deus havia dito antes a Adão no Jardim do Éden e o negou com as mesmas palavras, incluindo “é certo”, como vemos na frase “É certo que vocês não morrerão”.
Assim, o leitor é alertado para o fato de que nossos primeiros pais lidavam com Satanás e não com um mero réptil, pois a serpente falou e se opôs diretamente a Deus. O Senhor usou “é certo” ou “certamente”, e Satanás também enfatizou isso. O diabo, então, apoiou sua afirmação com duas mentiras: “Os olhos de vocês se abrirão”, ou seja, vocês obterão perspectivas especiais, se tornarão sábios e, “como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal”, ou seja, capazes de decidir o que é bom e o que é mau (Gn 3:5). Satanás, um mestre das intrigas, apresentou a desobediência como uma questão de liberdade e lucro.
Ao comer, Adão e Eva experimentaram, de fato, a abertura de sua visão (Gn 3:7). Mas seus olhos foram abertos de forma diferente do que imaginavam. Eles perceberam que haviam perdido o que tinham antes. Sua pureza e inocência desapareceram e viram que estavam nus. Essa nudez era mais do que nudez física porque (1) eles também estavam nus antes, mas não se envergonhavam (Gn 2:25); e (2) quando Deus os visitou e perguntou ao homem: “Onde você está?” (Gn 3:9), Adão respondeu que se escondeu porque estava nu. Para ser claro, naquela situação eles não estavam fisicamente nus, pois estavam cobertos com roupas de folhas de figueira (Gn 3:7). Eles estavam moralmente nus porque, pela primeira vez, sentiram culpa.
A segunda promessa de Satanás também foi uma mentira. Adão e Eva não se tornaram como Deus por meio do conhecimento do bem e do mal, pois Deus não conhece o mal por experiência (Ele nunca pecou!). Mas Adão e Eva perderam o que tinham: a capacidade de discernir distintamente entre o bem e o mal. Uma tradução literal de Gênesis 3:22 revela este fato: “Eis que os humanos eram [não ‘se tornaram’] como um de nós, sabendo [discernindo entre] o bem e o mal, mas agora ...” (para detalhes, veja Ji?í Moskala, “‘You Will Be Like God Knowing Good and Evil’: Discernment of Truth and Lies” [Vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal: Discernimento da verdade e das mentiras], Journal of Adventist Mission Studies 12, no 2, 2016, p. 10-18). Assim, Adão e Eva perderam não apenas sua integridade, mas também a capacidade de saber o que era certo e errado. A partir de então, precisariam da revelação divina para saber o que era bom e o que era mau. Eles dependeriam do poder espiritual de Deus, um poder externo que devia ser recebido por meio da comunhão, para poder fazer o que era certo.
Consequências do pecado
O pecado é uma maldição que traz consequências terríveis. É como uma avalanche. Aparentemente começa como nada e então quebra e derruba tudo o que é belo, valioso e importante e destrói a vida completamente. É apenas uma questão de tempo para que essa força destruidora se torne claramente visível. Onde há pensamento errado, segue-se automaticamente que também haverá mau comportamento. O pecado destrói todos os tipos de relacionamentos significativos; traz apenas miséria, sofrimento, separação e complicações. Romper nosso relacionamento com Deus (a dimensão vertical de nossa existência) traz múltiplas rupturas horizontais. Dizer não a Deus é a causa de muitas consequências pecaminosas:
- A ruptura em nosso relacionamento com Deus leva a um relacionamento quebrado com o “eu”. Assim, a natureza de Adão e Eva foi corrompida como consequência do pecado. Eles viviam com uma consciência de culpa, vergonha, bem como com sentimentos de degradação e derrota.
- O pecado/a desobediência levou Adão e Eva a ter medo de Deus em vez de permitir que desfrutassem de Sua companhia (Gn 3:10).
-
O pecado/a desobediência levou Adão e Eva a culpar os outros por seu fracasso. Assim, eles experimentaram um relacionamento rompido um com o outro (Gn 3:12; 4:5-8). O pecado os alienou um do outro.
- O pecado/desobediência trouxe a morte à família humana porque o relacionamento de Adão e Eva com o Doador da vida foi rompido (Gn 3:19).
- O pecado/desobediência tornaria o parto e a criação de filhos uma experiência dolorosa (Gn 3:16).
- O pecado/desobediência tornaria o casamento uma experiência de luta pelo domínio e supremacia, fazendo com que deixasse de ser um relacionamento amoroso, carinhoso, emocional e íntimo entre parceiros heterossexuais iguais (Gn 3:16).
- O pecado/desobediência tornaria o trabalho uma experiência dolorosa. Suor e cansaço resultantes do esforço para obter o sustento se tornariam parte da vida (Gn 3:18).
- O pecado/desobediência de Adão e Eva resultou no prejuízo do seu senso do que era bom e na perda da sua capacidade de discernir entre o bem e o mal (Gn 3:5, 22).
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O pecado/desobediência quebrou o relacionamento de Adão e Eva com a natureza. Como resultado, o solo produziria espinhos e cardos (Gn 3:18; 6:11).
- O pecado/desobediência trouxe violência, dor, ódio, poligamia, etc. (ver Gn 4–19). Para mais detalhes sobre esse tema da natureza do pecado, suas consequências e o plano redentivo de Deus, veja Ji?í Moskala, “Origin of Sin”, em Salvation: Contours of Adventist Soteriology, editado por Martin F. Hanna, Darius W. Jankiewicz e John W. Reeve [Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2018], p. 119-143. Gênesis 3 é um modelo para se entender a natureza do pecado e da salvação. Nesse capítulo, todo o evangelho já está presente, como é visto na graça imerecida que flui do Calvário para Adão e Eva (Ap 13:8).
A solução divina
A esperança aparece contra toda desesperança. Em meio à escuridão, desespero e condenação, Deus assegura o futuro da humanidade, muito embora Adão e Eva não merecessem viver.
Primeiro, Deus procurou o ser humano: “Onde você está?” (Gn 3:9). Essa pergunta tinha vários propósitos. Serviu: (1) como convite ao diálogo; (2) como uma oferta de graça (Deus clamou por Seus filhos perdidos e desaparecidos a fim de fornecer uma solução muito cara para a situação deles); (3) para ajudá-los a perceber e entender sua atitude em relação a Deus após o pecado (isto é, em vez de desfrutar de Sua presença, eles se esconderam Dele); e (4) como um juízo/julgamento investigativo, que foi realizado porque eles eram responsáveis por suas ações passadas em relação a Deus como seu Criador e Juiz.
Segundo, Deus provê uma vestimenta real (Gn 3:21). Como a nudez do primeiro casal foi mais do que um fenômeno físico, segue-se por analogia que as vestes de Deus representavam mais do que roupas físicas. Deus lhes deu uma vestimenta de pele que Ele mesmo havia feito e assim cobriu os pecadores com o manto de Sua justiça (1Co 1:30; 2Co 5:21). A solução para o problema do pecado é o Messias (Ef 1:4; 1Pe 1:20). O perdão e a redenção devem ser garantidos por meio do sacrifício gracioso de Deus, representado pela morte do animal de cuja pele foram feitas as vestes que Adão e Eva usaram.
Terceiro, Deus criou inimizade entre os poderes do bem e do mal para que pudéssemos odiar o mal (Gn 3:15).
Quarto, Deus prometeu enviar a Semente (Gn 3:15) para derrotar nosso inimigo, Satanás. A declaração divina à serpente está no centro desse capítulo. O Messias Se tornaria o Redentor e Salvador da humanidade, e Sua morte deliberada e vitoriosa acabaria destruindo Satanás e, consequentemente, tudo e todos associados a ele. O Messias seria o Vencedor e daria a vitória a todos os que se ligam a Ele (Rm 8:1-4). A vitória final é assegurada por Ele (Ap 12:7-12; 19:6, 7, 15-21; Jd 24, 25).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
- A morte é uma realidade implacável, e a perda de entes queridos é uma parte inevitável deste mundo caído. Como podemos levar esperança em meio à decepção e ao desespero para aqueles que estão sofrendo?
- Discuta com sua classe por que o pecado parece tão atrativo como um ganho, e não como a perda que de fato é. O que é tão enganoso na natureza do mal? Explique.
- Estamos todos condenados à morte porque somos pecadores (Rm 3:23; 6:23). Como a morte de Jesus na cruz derrotou a segunda morte para que possamos viver eternamente?
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Encontrando esperança
Christie
Nova Zelândia | 1º de outubro
Christie cresceu em uma família sem nenhuma crença religiosa na Ásia. Quando adolescente, ela se perguntou: “Qual é o sentido da vida?” Ela pensou que se uma pessoa tivesse apenas uma vida para viver, então a melhor maneira de viver era comer, beber e ser feliz. Mas tal vida parecia sem sentido para ela.
Em um verão, Christie teve aulas de inglês. O professor era dos Esta- dos Unidos e tinha doutorado em teologia. No início da primeira lição, ele se apresentou compartilhando um milagre sobre como Deus havia poupado sua vida em um acidente de carro. Seu carro havia sido gravemente danificado no acidente, mas ele sentiu como se tivesse sido coberto por um copo enorme, permitindo que ele escapasse ileso do acidente. Christie ficou impressionada com a história do milagre e com- partilhou-a com seus pais imediatamente após a aula.
Uma década se passou, e Christie pensou novamente em Deus quando foi para o Canadá de férias. Havia uma igreja perto de seu hotel na cidade de Vancouver. Ela viu um homem parado no portão da igreja, segurando uma placa que dizia: “Volte para casa”. Mais tarde naquele dia, ela passou pela igreja novamente e viu o mesmo homem ainda segurando a placa que dizia: “Volte para casa”. O vento soprava forte naquele dia, e ela se perguntou por que o homem estava disposto a enfrentar o tempo para segurar a placa. A imagem do homem segurando a placa permaneceu em sua mente por meses. Ela decidiu que deveria haver algo especial nas crenças cristãs.
Voltando para casa, Christie se matriculou em estudos de pós-graduação. Ela ficou surpresa quando um professor deu de presente um livro devocional para ela e outros alunos. Ela ficou impressionada com o livro, porque ele respondia a algumas de suas perguntas sobre o sentido da vida. Ela escreveu um e-mail para o professor para agradecer pelo livro e disse que queria saber mais sobre Jesus. O professor a apresentou a outra professora que liderava um grupo semanal de adoração à noite em sua casa. Christie se sentiu amada e aceita pelo grupo de adoração e começou a ler a Bíblia diariamente. Depois de um tempo, ela entregou seu coração a Deus.
Christie visitou várias igrejas e eventos da igreja, mas sentiu que algo não estava certo em seu relacionamento com Deus.
Dois anos se passaram, e Christie descobriu o Hope Channel na tele- visão durante uma viagem à Nova Zelândia. Ao voltar para casa, ela pesquisou on-line e encontrou o programa Hope Sabbath School (Escola Sabatina da Esperança) no YouTube.
Ela começou a assistir à Hope Sabbath School e não conseguia parar. Assistir à Hope Sabbath School tornou-se o momento mais feliz de seu dia. Em apenas alguns meses, ela assistiu a três anos da Hope Sabbath School – todos os episódios on-line que estavam disponíveis na época. Os participantes da classe tornaram a Bíblia fácil para ela entender, e ela adorava seus sorrisos.
Ao assistir, ela atingiu uma imagem mais clara de Deus. Ela percebeu que Deus é cheio de misericórdia, ansioso para chamar as pessoas de volta a Ele para salvá-las e sempre disposto a perdoar. Pela primeira vez, ela se sentiu completa em seu relacionamento com Deus. Ela decidiu se unir à Igreja Adventista do Sétimo Dia e ser batizada por imersão.
“Graças a Deus por ter trazido a Hope Sabbath School para minha vida para que minha espiritualidade pudesse crescer”, diz ela. “Agora estou disposta a dar toda a minha vida a Jesus e desejo viver uma vida que glorifique a Deus. Esse é o verdadeiro sentido da vida.”
Obrigado por sua oferta do décimo terceiro sábado em 2016, que ajudou o Hope Channel a se tornar um canal aberto que cobre toda a Nova Zelândia. Por causa do amplo alcance do Hope Channel, Christie pôde assistir no mesmo canal quando visitou a Nova Zelândia por alguns dias em 2016 – o mesmo ano em que sua cobertura foi aberta em todo o país. Sua oferta do décimo terceiro sábado deste trimestre ajudará a expandir a TV Hope Channel e a Rádio FM Hope para Papua-Nova Guiné.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Baixe publicações e fatos rápidos sobre a missão da Divisão do Pacífico Sul: bit.ly/spd-2022.
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Esta história de missão é baseada em um relato em primeira pessoa que apareceu na Adventist Record da Divisão do Pacífico Sul.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2022
Tema Geral: Vida, Morte e Eternidade:
Lição 2 – 1º a 8 de outubro de 2022
Morte em um Mundo de Pecado
Autor: Sérgio H. S. Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
A lição passada lidou com o surgimento do pecado no Universo e a lição atual nos convida a estudar como esse pecado adentrou e modificou nosso mundo. Existe uma relação de causa e efeito muito clara entre a rebelião ocorrida nos Céus e a entrada do pecado na Terra. Vários elementos reforçam essas ligações existentes:
- Criador e criatura;
- Desconfiança da criatura para com seu Criador;
- Discurso que expressa essa desconfiança;
- Ação que opõe criatura ao Criador
Há, entretanto, um elemento novo no cenário terrestre: a figura de um tentador. Como vimos na lição da semana passada, a rebelião iniciada pelo poderoso anjo que chamamos de Lúcifer não pode ser explicada como uma escolha entre duas propostas, a de Deus e a de um oponente. Já no cenário terrestre, a entrada do pecado no mundo é, de fato, uma escolha entre duas propostas: novamente a proposta de Deus e a do adversário. Logo, ela é completamente explicável quando consideramos que Deus dota Suas criaturas com a liberdade de escolher, ainda que essa escolha as afaste Dele.
A liberdade de escolher dada pelo Criador às criaturas, de acordo com as Escrituras, é, de fato, outro aspecto interessante da Teologia Bíblica, e sua inclusão na história primordial e originária do pecado é notória. Poucas religiões e filosofias do mundo possuem algo sequer próximo disso. No Egito, por exemplo, ainda que a noção de liberdade exista, sendo seu resultado o surgimento de Isfet, ou o caos, em contraposição a Ma’at, ou a ordem, essa liberdade não é plena, mas responde aos ditames irrecusáveis da ciclicidade do Universo, na qual ordem e caos se sucedem. Os babilônios, por seu turno, aceitavam o mal como um elemento primordial e intrínseco à humanidade, cuja natureza mesma impossibilitava a coexistência pacífica e a bondade. Nesse contexto, liberdade é impossível, porque o ser humano é sempre escravo da tendência para o mal. No Zoroastrismo, por sua vez, o pecado é o resultado da escolha que o ser humano faz de agir em conformidade com a eterna batalha entre Ahuramazda e Anhrymaniu, e o conceito de liberdade é, de fato, muito próximo ao conceito bíblico. No hinduísmo e no budismo, o pecado é resultado do carma eterno e cíclico, no qual a liberdade é, na verdade fruto das inescapáveis leis do Universo, sempre existente. Entre os gregos, a noção de liberdade parece haver entrado na pauta desde Demócrito, no quinto século a.C., ainda que a noção precisa de liberdade de escolha ou livre-arbítrio não possua uma expressão linguística maior do que a frase ef hemin (“depende de nós”), com a qual eles definiam a responsabilidade do ser humano em todos os momentos e atos, inclusivo o que era mal.
Voltando ao testemunho bíblico, que é o mais importante, pecado e liberdade andam de mãos dadas, porque o pecado é, em última instância, um ato de escolha voluntária, sendo assim, um elemento moral. No texto de Gênesis, essa característica do pecado é desenvolvida na dinâmica narrativa da queda do homem, no capítulo 3.
Essa dinâmica narrativa envolve a construção de contrastes entre os textos do capítulo 2 e o próprio capítulo 3. Se em Gênesis 2:35 o casal é descrito como ‘arum (“nus”), uma palavra homógrafa é utilizada para descrever a serpente em Gênesis 3:1, ao dizer que ela era astuta (‘arum). Podemos entender que a ideia do texto é preparar o leitor para o resultado da aceitação da proposta da serpente por parte de Adão e Eva. O conteúdo dessa proposta envolvia uma mudança de estado da inocência do ‘arum para o conhecimento igual ao de Deus. A serpente primordial joga com o conhecimento dizendo que Deus sabe (yodea) que a árvore os faria como Deus, conhecedores (yodea) do bem e do mal. A atração do mal aqui não está em prometer que eles seriam superiores ao mundo criado, pois já o eram. Nem que seriam semelhantes a Deus, pois assim foram criados, mas na obtenção de um novo estado de ciência, que os tornaria não apenas semelhantes a Deus por forma e natureza, mas em Seu conhecimento, que os tiraria da inocência e os vestiria. O resultado, entretanto, não é o yodea de Deus, mas o ‘arum da serpente: eles não compartilham do conhecimento de Deus, mas da astúcia da serpente, como vemos no diálogo escorregadio e cheio de desculpas de ambos com Deus, utilizando várias vezes a mesma palavra ‘arum, nos versos 10 em diante. Eles buscaram ser iguais a Deus, não no que Deus havia concedido e planejado para a sua existência, e se transformaram à semelhança da serpente. E isso ocorreu por sua própria escolha.
É preciso perceber a dinâmica do diálogo entre Eva e a serpente. Primeiro, a serpente se aproveitou de um momento em que Adão não estava próximo à sua mulher. Não tenho dúvidas de que Adão estava a alguma distância, mas que lhe possibilitava ouvir o diálogo, porque o verso 7 de Gênesis 3 diz que ele estava ‘imah (com ela). Não obstante, o diálogo não foi com Adão, mas com Eva. E isso, no texto bíblico, possui razões profundas: primeiro, em uma leitura atenta, que descarte o que sempre cremos ser a leitura do texto, destaca-se que a ordem para não comer do fruto, em Gênesis 2, NÃO foi dada para a mulher, pois ela ainda não existia. Essa ordem foi específica para o homem (Gn 2:17). E segundo, a ordem de Gênesis 2 jamais incluiu tocar. É possível que, com o passar do tempo no Éden, essa ordem tenha sido acrescentada. Mas o texto bíblico nada diz a esse respeito. Considerando apenas o texto bíblico, podemos ver o diálogo como uma sucessão de meias-verdades, tanto da parte de Eva quanto do adversário. Se ele mente ao dizer que Deus lhes havia proibido todas as árvores, Eva também vai além do que foi dito ao dizer que eles sequer podiam tocar. Embutida em meio à verdade declarada, essa pequena inverdade é aceita inconscientemente por Eva, talvez com o espanto de ver a serpente tocar no fruto, sem que nada lhe ocorresse. Ellen White descreve essa situação como um momento de desconcerto para Eva (Patriarcas e Profetas [CPB, 2021], p. 30), que se perguntava por qual razão eles não podiam provar tão belo e agradável fruto. O Midrash Bereshit Rabá 19 vai na mesma direção, dizendo que a serpente aproveitou que Eva incluiu o tocar nas palavras de Deus e a fez tocar na árvore, perguntando se ela havia morrido. Daqui é preciso aprender que nenhum diálogo com o mal resulta em bem!
Por fim, em Gênesis 2, Eva é chamada de ajudadora, indicando que seu papel era de auxiliar e acompanhar seu marido nas tarefas de cuidado do jardim edênico. Já no capítulo 3, é Eva quem toma a frente no diálogo com a serpente, algo que Adão não deveria permitir. Ainda que ele estivesse um tanto distante, a ausência de sua esposa ao seu lado, deveria tê-lo feito buscá-la, como ele deve ter feito, e ao encontrá-la com a serpente, sua ação deveria ter sido imediata. Entretanto, note que, embora a serpente fale com Eva, ela sempre se refere aos dois, o que passa a impressão na dinâmica do texto bíblico, de que Adão estivesse ali por perto, mas calado, sem participar ativamente da discussão, deixando a Eva um papel que Deus não lhe dera, e, aliás, como diz Ellen White, especificamente lhe advertira contra: a situação de estar sozinha e, por extensão dialogar com o inimigo (Patriarcas e Profetas, 30). Entretanto, mesmo que ela estivesse à frente e dialogando com o inimigo, não foi por ela que o pecado entrou ao mundo, mas, na teologia paulina, foi por Adão (1Co 15:22, 23). Isso porque, a ele foi dada a tarefa de conduzir o casal e representar a humanidade.
O resultado da falha de ambos foi a morte. A morte que, embora não lhes tenha advindo imediatamente, ainda assim lhes adveio. Não mais poderiam ter a comunhão direta com Deus, com os animais e com a natureza. Até mesmo o relacionamento entre eles seria dificultado, e conheceriam o sofrimento que os levaria à morte. Eles, que até ali possuíam a imortalidade, deveriam provar o sofrimento de ver seus queridos partirem para o reino da intrusa que eles convidaram para viver em seu mundo: a morte. Para eles, isso era algo desconhecido, mas passou a ser seu destino comum. A expulsão do Éden refletiu, de imediato, a sua condição de morte, devido ao afastamento de Deus, o que os impediria estar em Sua presença, da qual se esconderam naquela tarde. Eles não mais poderiam comer da árvore da vida que simbolicamente lhes dava o poder de viver eternamente, enquanto fossem obedientes. Tudo parecia perdido, não mais estavam apenas nus, inocentes, mas sua nudez agora era maior, pois era a privação da vida, o afastamento da fonte de sua existência. O enganador os havia levado a acreditar que Deus lhes escondia a sua própria condição imortal. Ele disse que a Palavra de Deus era mentirosa e que eles viveriam para sempre. Mas a Palavra de Deus não pode ser contestada: eles morreriam.
Não obstante, o Santo – bendito seja Ele! – não os deixou desprovidos de esperança, e ali, antes mesmo de expulsá-los, apresentou um plano de resgate. Ele não lhes ignorou a falta, rebaixando Sua Lei, nem os condenou indelevelmente, o que daria razão ao adversário. Não, Ele conhecia uma terceira via, uma alternativa, jamais pensada pelo inimigo das almas, nem por anjos: o próprio Criador morreria para cumprir a sentença dada por Ele mesmo, de modo que o homem pudesse viver.
Daquele momento em diante, a vida era questão de escolha, a escolha entre a proposta de morte do adversário e a de vida do Criador, que agora era também, o Redentor. Essa mesma proposta ainda é feita a cada um de nós: escolha hoje, pois, a vida, para que vivas!
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica pela Theologische Universiteit Apeldoorn. Pastor da Brazilian Adventist Community Church na Associação do Norte da Nova Zelândia e membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.