No Antigo Oriente Próximo, os “deuses” das nações não apenas eram inconstantes, imorais e imprevisíveis, mas também ordenavam atrocidades, como o sacrifício de crianças. Mesmo assim, os adoradores pagãos não podiam contar com o favor deles e, por isso, não ousavam contrariar as suas “divindades” tribais.
De acordo com Deuteronômio 32:17, quem estava por trás desses “deuses” eram demônios (veja também 1Co 10:20, 21). E suas formas de culto eram propícias à exploração, deixando o povo em profundas trevas espirituais e morais.
O Deus da Bíblia não poderia ser mais diferente em comparação com essas forças demoníacas. Yahweh é perfeitamente bom, e Seu caráter, imutável. E é somente por causa da constante bondade de Deus que podemos ter esperança, tanto agora quanto na eternidade.
Em contraste absoluto com os falsos deuses do mundo antigo e mesmo com os “deuses” modernos de hoje, Yahweh Se preocupa profunda- mente com o mal, o sofrimento, a injustiça e a opressão – e condena essas realidades de forma constante e explícita. E, o que é mais importante, um dia Ele porá fim a tudo isso.
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Na Bíblia, o amor e a justiça andam de mãos dadas. O verdadeiro amor requer justiça, e a verdadeira justiça só pode ser regida pelo amor e executada por meio dele. Não estamos acostumados a pensar nesses dois conceitos juntos, mas isso ocorre apenas porque tanto o amor quanto a justiça foram grandemente distorcidos pela humanidade.
1. Leia Salmo 33:5; Isaías 61:8; Jeremias 9:24; Salmo 85:10; 89:14. Como esses textos demonstram o compromisso de Deus com a justiça?
Deus ama a justiça (Sl 33:5; Is 61:8). Na Bíblia, as ideias de amor e justiça estão inseparavelmente ligadas. O amor e a justiça de Deus andam juntos, e Ele está comprometido com o estabelecimento da retidão e da justiça no mundo.
Por boas razões, então, os profetas condenavam regularmente todos os tipos de injustiça, incluindo leis injustas, balanças falsas, além da opressão dos pobres e das viúvas ou de outras pessoas vulneráveis. Embora as pessoas cometam muitos erros e injustiças, Deus exerce constantemente “misericórdia, juízo e justiça na terra” (Jr 9:24). Consequentemente, em toda a Bíblia, aqueles que eram fiéis a Deus aguardavam ansiosamente pelo juízo divino como um evento extremamente positivo, porque traria punição contra malfeitores e opressores, ao mesmo tempo em que proporcionaria justiça e libertação para as vítimas da injustiça e da opressão.
De fato, a retidão e a justiça são o próprio fundamento do governo de Deus. O divino governo moral de amor é justo e reto, bastante diferente dos governos corruptos deste mundo, que muitas vezes perpetuam a injustiça para ganho e poder pessoal. Em Deus, “a graça e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10).
E Deus deixa claro o que espera de nós. “Ele já mostrou a você o que é bom; e o que o Senhor pede de você? Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus” (Mq 6:8). Entre todos os aspectos que podemos refletir do caráter de Deus, um dos mais importantes é o amor – junto com a justiça e a misericórdia que dele decorrem.
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Deus não só afirma amar a justiça e chama as pessoas para amá-la e praticá-la, mas Ele mesmo exemplifica de maneira perfeita e inabalável essa característica. As Escrituras ensinam que Deus é inteiramente santo, fiel, justo e amoroso. Ele sempre age de maneira amorosa, justa e reta, nunca fazendo nada de errado.
2. Leia Deuteronômio 32:4; Salmo 92:15. O que essas passagens ensinam sobre a fidelidade e a justiça de Deus?
Esses e inúmeros outros textos bíblicos declaram que Deus é justo e amoroso – “Nele não há injustiça” (Sl 92:15; compare com Sl 25:8; 129:4). O Senhor “não comete injustiça. Manhã após manhã, Ele traz o Seu juízo à luz; não falha. Mas o injusto não sabe o que é vergonha” (Sf 3:5). Observe o contraste direto entre o caráter de Deus e o daqueles que amam a injustiça.
Deus sabe o que é melhor para todos, deseja o melhor para todos e age continuamente para alcançar o melhor resultado para todos.
3. Leia os Salmos 9:7, 8 e 145:9-17. O que esses versículos ensinam sobre Deus?
O Deus da Bíblia é um “justo juiz” (Sl 7:11), e, com Ele, o “mal não pode habitar” (Sl 5:4, NVI). Como 1 João 1:5 ensina: “Deus é luz, e não há Nele treva nenhuma.” De fato, Deus não só é perfeitamente bom, mas, de acordo com Tiago 1:13, Ele “não pode ser tentado pelo mal” (compare com Hc 1:13).
Em tudo isso, a bondade e a glória de Deus estão inseparavelmente ligadas. Embora muitos idolatrem o poder, Deus é todo-poderoso, mas exerce o poder apenas de maneira justa e amorosa. Não é por acaso que quando Moisés rogou ao Senhor: “Peço que me mostres a Tua glória”, Ele respondeu: “Farei passar toda a Minha bondade diante de você” (Êx 33:18, 19).
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4. O que a Bíblia ensina sobre o caráter imutável de Deus? Ml 3:6; Tg 1:17
Deus declara: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3:6). Embora alguns entendam que isso significa que Deus não muda em nenhum aspecto, o restante do verso e seu contexto imediato mostram que a imutabilidade de Deus afirmada aqui é a Sua imutabilidade moral. O restante do verso indica que Deus pode mudar em termos de relacionamento, pois Ele diz: “Por isso, vocês, filhos de Jacó, não foram destruídos”. E, no verso seguinte, o Senhor diz ao povo: “Voltem para Mim, e Eu voltarei para vocês” (Ml 3:7).
Portanto, Deus Se envolve nos altos e baixos do relacionamento da criação com Ele. Mas apesar dessas oscilações e de todas as situações que as acompanham, o caráter de Deus permanece constante. Isso é afirmado em Tiago 1:17: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. Assim, Deus não é a fonte do mal.
Nesse e em outros textos, as Escrituras ensinam repetidas vezes que o caráter de Deus é imutável. Em outras palavras, a Bíblia ensina constantemente que Deus é imutável em termos morais. No entanto, o Senhor possui a capacidade de Se envolver e, de fato, Ele Se envolve em relacionamentos reais com as criaturas, às quais o Senhor responde sempre com amor e justiça.
5. Leia 2 Timóteo 2:13; Tito 1:2; Hebreus 6:17, 18. O que esses textos ensinam sobre Deus?
Deus não pode negar a Si mesmo; Ele nunca mente e não pode quebrar Suas promessas. Podemos ter certeza de que o Deus da Bíblia é o mesmo que (em Cristo) Se entregou voluntariamente por nós na cruz. Ele é um Deus em quem podemos confiar sem reservas, e podemos ter confiança e esperança em relação ao futuro porque, como diz Hebreus 13:8, “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre”.
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Deus “Se arrepende”? Se sim, o que isso significa? O caráter de Deus não muda. No entanto, alguns textos bíblicos dizem que Ele “muda de ideia” (ou “Se arrepende”). Pelo menos no contexto humano, isso envolve o reconhecimento de que erramos. Como, então, vários textos bíblicos retratam Deus como Alguém que “muda de ideia”?
6. Qual é a sua conclusão sobre os textos que declaram que Deus “muda de ideia” (ou “Se arrepende”)? Êx 32:14; Jr 18:4-10
Deus muda de ideia quanto ao juízo em resposta ao arrependimento ou à intercessão das pessoas. Deus promete que, se o povo se converter da maldade, Ele deixará de enviar o juízo que havia planejado. O fato de Deus deixar de trazer juízo em resposta ao arrependimento humano é um tema frequente na Bíblia.
7. Em que sentido Deus não muda? Nm 23:19; 1Sm 15:29
A Bíblia declara que Deus “não é homem, para que mude de ideia” (1Sm 15:29) e que Ele “não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que mude de ideia. Será que, tendo Ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23:19). O termo traduzido como “mudar de ideia” também pode ser traduzido como “arrepender-Se” (ARA). Levando em consideração outras passagens, esses textos não podem ser interpretados como significando que o Senhor não “muda de ideia” de forma alguma, mas transmitem a verdade de que Ele não “muda de ideia” (nem “Se arrepende”) como os seres humanos o fazem. Pelo contrário, Deus cumpre Suas promessas e, embora possa voltar atrás diante do arrependimento humano, Ele sempre faz isso de acordo com Sua bondade e Sua Palavra. Deus muda de ideia sobre o juízo em resposta ao arrependimento porque Seu caráter é bom e amoroso.
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As Escrituras ensinam que o Senhor “é Deus; Ele é o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e cumprem os Seus mandamentos” (Dt 7:9). Seu caráter de bondade e amor foi demonstrado de forma suprema por Jesus na cruz (veja Rm 3:25, 26; 5:8). De acordo com o Salmo 100:5, “o Senhor é bom, e o Seu amor leal dura para sempre; a Sua fidelidade permanece por todas as gerações” (NVI; compare com Sl 89:2). Assim, podemos confiar em Deus, pois Ele dá apenas boas dádivas aos Seus filhos (Tg 1:17; compare com Lc 11:11-13). Na verdade, Ele concede coisas boas até mesmo àqueles que se posicionam como Seus inimigos.
8. Leia Mateus 5:43-48. O que esse texto ensina sobre o amor de Deus? Como devemos agir em relação aos outros à luz desse ensino de Jesus?
O amor de Deus é perfeito. O amor imperfeito é aquele que expressamos apenas a quem nos ama. O Senhor, porém, ama até mesmo os que O odeiam, inclusive os que se colocam como Seus inimigos. Seu amor é completo e, portanto, perfeito.
Embora o amor e a misericórdia de Deus excedam grandemente todas as expectativas razoáveis, nunca anulam nem contradizem a justiça. Pelo contrário, o amor divino une a justiça e a misericórdia (Sl 85:10). Da mesma forma, a Bíblia exorta: “Siga o amor e a justiça, e espere sempre no seu Deus” (Os 12:6; Lc 11:42).
No fim, o próprio Deus trará justiça perfeita. Romanos 2:5 ensina que o Seu “justo juízo” será revelado. Por fim, os redimidos cantarão: “Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o Teu nome, ó Senhor? Pois só Tu és santo. Por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus atos de justiça se fizeram manifestos” (Ap 15:3, 4; compare com Ap 19:1, 2).
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Leia, de Ellen G. White, Caminho a Cristo [CPB, 2024], p. 7-11 (“O amor de Deus”).
“A Palavra de Deus revela Seu caráter. Ele mesmo declarou Seu infinito amor e misericórdia. Quando Moisés rogou que Deus lhe mostrasse Sua glória, o Senhor respondeu: ‘Farei passar toda a Minha bondade diante de você’ (Êx 33:18, 19). Essa é a Sua glória. [...] ‘O Senhor Deus [é] compassivo e bondoso, tardio em irar-Se e grande em misericórdia e fidelidade; [Ele] guarda a misericórdia em mil gerações’, [...] (Êx 34:6, 7; Jn 4:2), ‘porque tem prazer na misericórdia’ (Mq 7:18).
“Deus uniu nosso coração a Ele por meio de incontáveis provas no céu e na Terra. Através das coisas da natureza e dos mais profundos e ternos laços que o coração humano pode conhecer, Deus procura revelar-Se a nós. Embora de maneira incompleta, isso representa Seu amor. Apesar de todas essas evidências, o inimigo do bem cegou o entendimento das pessoas, de modo que elas passaram a olhar para Deus com medo e a considerá-Lo inflexível e incapaz de perdoar. Satanás levou o ser humano a pensar que Deus é um ser cujo principal atributo é a justiça severa, como se Ele fosse um juiz austero, um credor duro e implacável. Ele retratou o Criador como Alguém que fica vigiando desconfiado, buscando erros e falhas nas pessoas para que possa condená-las. Foi para remover essa sombra escura e revelar ao mundo o infinito amor de Deus que Jesus veio viver com a humanidade” (Caminho a Cristo, p. 8).
Perguntas para consideração
1. É importante reconhecer que a glória de Deus está ligada à Sua bondade? Isso corrige uma teologia que destaca o Seu poder absoluto sem enfatizar o Seu amor?
2. Você já questionou a bondade de Deus? Conhece alguém que já fez isso por causa da maneira como agem os que afirmam seguir a Deus, ou por causa do mal que existe? Como você lidou com essa questão? Como ajudar alguém que enfrenta esse dilema? (Abordaremos esse tema em mais detalhes na próxima semana.)
3. A realidade do grande conflito nos ajuda a compreender o mal que existe?
Respostas às perguntas da semana: 1. Deus ama a justiça e a retidão, mas odeia a maldade. 2. Tudo o que Deus faz é justo e perfeito. Nele não há injustiça. 3. O Senhor é um Rei justo, que governa Suas criaturas com justiça e misericórdia. 4. O caráter de Deus é digno de total confiança e não muda. 5. Deus não mente, e Suas promessas não podem ser quebradas. 6. Quando as pessoas se arrependem, o Senhor deixa de enviar o juízo que havia planejado. Ele muda em Seu relacionamento com as pessoas. 7. Deus não é inconstante como os seres humanos. O Seu caráter e as Suas promessas não mudam. 8. O amor de Deus é perfeito e imparcial; Ele ama bons e maus. Devemos imitar a Deus.
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TEXTO-CHAVE: Jeremias 9:24
FOCO DO ESTUDO: Salmo 33:5; Jeremias 18:7-10; Malaquias 3:6; Tiago 1:17
ESBOÇO
Introdução: Ao longo das Escrituras, o amor e a justiça de Deus são intrínsecos ao Seu caráter. Esses atributos revelam Sua pro- funda preocupação com a justiça e a retidão.
Temas da lição: A lição desta semana enfatiza três ideias principais.
1. Amor e justiça caminham de mãos dadas – Talvez não estejamos habituados a pensar em amor e justiça juntos, mas, ao longo das Escrituras, o verdadeiro amor exige justiça, e a verdadeira justiça é movida pelo amor. Por outro lado, um suposto amor sem justiça significa ser conivente com o mal; e a justiça sem amor consiste em legalismo frio. Portanto, o amor e a justiça genuínos descrevem o caráter perfeito de Deus. Ele ama a justiça e deseja ver a justiça praticada no mundo.
2. A justiça amorosa requer constância – A justiça é o fundamento do governo de Deus. Suas ações se baseiam na constância do caráter moral divino, e não em decisões aleatórias e atos injustos. A justiça de Deus provém da Sua constância, pois Ele nunca mente e Suas promessas são inquebráveis. Embora as Escrituras ensinem a imutabilida- de moral de Deus, também indicam que Suas ações podem mudar, em termos relacionais, em resposta às decisões humanas.
3. A justiça amorosa leva em conta o ar- rependimento – Encontramos declarações nas Escrituras sobre o fato de que Deus não “muda de ideia”, o que signifi ca que Ele não mente. Além disso, passagens do AT in- dicam que Deus “Se arrepende”, no sentido de não trazer o juízo que Ele havia anuncia- do devido aos erros humanos. A mudança de Deus não signifi ca que Ele havia mentido em relação ao Seu juízo, mas que Ele modifica Suas ações no relacionamento com as pes- soas quando elas se arrependem e decidem ter uma vida de comunhão com Ele.
Aplicação para a vida: Considerando que o Senhor pode mudar o relacionamen- to que tem com Seu povo quando este es- colhe aceitá-Lo ou rejeitá-Lo, como refl etir a justiça amorosa de Deus ao reagirmos à injustiça e aos erros no mundo?
COMENTÁRIO
Amor e justiça caminham de mãos dadas Muitos estão acostumados a pensar que o amor e a justiça são coisas opostas. Nessa perspectiva, não se pode ser totalmente justo e amoroso ao mesmo tempo. Nessa visão, o amor é permissivo e impede, ou pelo menos confunde, a devida aplicação da justiça.
Por outro lado, muitos argumentam que a justiça deve ser objetiva e imparcial. Assim, necessariamente exclui qualquer manifestação autêntica de misericórdia e amor.
Esse entendimento, no entanto, não é a única (nem a melhor) forma de pensar a respeito da relação entre amor e justiça. Segundo a Bíblia, o amor e a justiça não estão desconectados nem se opõem, mas são combinados de forma coerente na descrição do caráter perfeito de Deus. No relato bíblico integral do amor e da justiça, um não pode ser compreendido adequadamente sem o outro. Uma pretensão de amor sem justiça significa ser parcial e tendencioso, enquanto a ideia de justiça sem amor é um legalismo frio. A Bíblia vai ainda um passo além na descrição do caráter divino. Deus não apenas combina perfeitamente amor e justiça, mas Ele ama a justiça (Sl 33:5; Is 61:8).
O termo hebraico traduzido como justiça, no Salmo 33:5 e em Isaías 61:8, é mishpat, que transmite a ideia de um governo íntegro e correto. Robert Culver explica que as concepções modernas de governo democrático costumam separar as funções legislativa, judicial e executiva, mas a ideia bíblica de mishpat não está “restrita apenas aos processos judiciais”, mas se refere a “todas as funções do governo”. Nessa perspectiva, não havendo separação de funções, o governo nos tempos bíblicos estava centrado especialmente na figura do governante, e não em códigos legais. Além disso, o governante, que também era o juiz, exercia poderes executivos e judiciais. Em outras palavras, o governante/juiz não apenas tomava decisões judiciais, mas também as executava ou fazia com que fossem executadas. Por exemplo, quando Davi apelou a Deus como Juiz em sua disputa com Saul, ele não estava apenas pensando em uma decisão jurídica, mas na execução judicial de libertação e vindicação. Assim, Davi disse: “Que o Senhor Deus seja o meu Juiz e julgue entre nós dois. Que Ele examine e defenda a minha causa, me faça justiça e me livre das mãos do rei” (1Sm 24:15; veja Robert D. Culver, ed. R. Laird Harris, Gleason L. Archer Jr. e Bruce K. Waltke, Theological Wordbook of the Old Testament [Moody Press, 1980], p. 948).
Se levarmos em conta essa compreensão mais ampla de justiça, dizer que Deus ama a justiça revela pelo menos duas ideias essenciais em nosso estudo a respeito Dele. Em primeiro lugar, a justiça divina não está apenas relacionada com códigos legais, mas diz respeito fundamentalmente ao coração e ao caráter de Deus. Em segundo lugar, Ele não ama apenas a deliberação da justiça, mas também sua execução.
A justiça amorosa requer constância
Se a justiça se refere a um governo sólido, com um julgamento e execução adequados, como vimos anteriormente, então deve excluir a possibilidade de decisões aleatórias ou arbitrárias por parte do governante. Nessa perspectiva, justiça exige constância e regularidade. Quando dizemos que Deus é imutável, geralmente citamos duas passagens bíblicas em especial, uma do AT e outra do NT: Malaquias 3:6 e Tiago 1:17. Quando se trata da doutrina de Deus, o conceito de imutabilidade está fortemente carregado de premissas filosóficas em diversas tradições da teologia cristã. No entanto, é seguro dizer que Malaquias 3:6 e Tiago 1:17 destacam que o caráter moral de Deus é constante e confiável. Ou seja, Ele é imutável em Seu caráter moral.
Malaquias 3 enfatiza a ideia da justiça de Deus. Ainda no fim do capítulo 2 é introduzida a questão da justiça divina: “Onde está o Deus da justiça?” (Ml 2:17). Em outras palavras, o que vai acontecer com “aqueles que fazem o mal”? Em resposta a essa questão fundamental, Malaquias 3 destaca a vinda do juízo divino: “Quem poderá suportar o dia da Sua vinda? E quem poderá subsistir quando Ele aparecer?” (Ml 3:2). O juízo tem em vista especialmente a história de rebeldia do povo de Deus, mas essa mensagem bastante séria pretende, na verdade, ser um apelo ao arrependimento. Portanto, a tônica do juízo futuro de Deus é, em última análise, cheia de esperança.
Nesse contexto de juízo e esperança, o Senhor enfatiza que Ele não muda, e esse fato é exatamente a razão pela qual Seu povo não é destruído (Ml 3:6). A versão NET Bible traduz esse versículo da seguinte forma: “Eu, o Senhor, não volto atrás em Minhas promessas” (Ml 3:6). Essa paráfrase deixa claro que, pelo contexto da passagem, a aliança de Deus possui imutabilidade moral. O próximo versículo diz: “Voltem para Mim, e Eu voltarei para vocês” (Ml 3:7). A ênfase desse texto destaca uma mudança de atitude relacional e positiva da parte de Deus, que é o que Ele deseja fazer, dependendo do arrependimento do povo.
Tiago 1:17 também destaca a ideia de que Deus é constante e imutável em termos morais. O contexto desse capítulo indica que as tentações não são motivadas por Deus, pois Ele, de maneira consistente e constante, nos concede dádivas boas e perfeitas vindas do alto. Assim, em vez de uma combinação arbitrária de tentações e dádivas, Deus sempre nos oferece consistentemente apenas dádivas. Como o “Pai das luzes”, Ele não mostra nenhuma “variação ou sombra de mudança” (Tg 1:17). A conexão entre Deus como o Criador da luz e Sua constância também é mencionada no Salmo 136: 7-9. Esse Salmo repete várias vezes: “O Seu amor leal dura para sempre” (NVI). Nesses versículos, o salmista destaca o poder criativo e a constância de Deus: “Àquele que fez os grandes luzeiros, porque a Sua misericórdia dura para sempre. Fez o sol para presidir o dia, porque a sua misericórdia dura para sempre. Fez a lua e as estrelas para presidirem a noite, porque a Sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136:7-9).
A justiça amorosa leva em conta o arrependimento
À primeira vista, algumas declarações do AT a esse respeito parecem apresentar ideias opostas. Por um lado, temos passagens que afirmam que o Senhor não muda: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que mude de ideia. Será que, tendo Ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23:19). “Também a Glória de Israel não mente, nem muda de ideia, porque não é homem, para que mude de ideia” (1Sm 15:29). A ideia central desses textos bíblicos é que Deus não mente, o que está em harmonia com o ensino do NT sobre Deus, em Tito 1:2 e Hebreus 6:18.
Por outro lado, várias passagens do AT dizem que Deus “muda de ideia” (NAA) ou “Se arrepende” (ARA) no sentido de não trazer o juízo que havia anunciado contra aqueles que praticaram o mal. Um dos exemplos mais conhecidos é a misericórdia divina demonstrada a Nínive (Jn 3:10). Em Jonas 4, o próprio profeta questiona o arrependimento de Deus. Ao explicar por que tinha se recusado a anunciar o juízo divino contra Nínive, Jonas reforçou a misericórdia de Deus: “Ah! Senhor! Não foi isso que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que Tu és Deus bondoso e compassivo, tardio em irar-Se e grande em misericórdia, e que mudas de ideia quanto ao mal que anunciaste” (Jn 4:1, 2).
Jonas 4:2 contém pelo menos três razões importantes pelas quais essa “mudança” ou “arrependimento” da parte de Deus não deveria ser uma surpresa. Em primeiro lugar, o próprio Jonas indica que suspeitava, desde o início, que aconteceria exatamente isso. Essa suspeita de que Deus iria manifestar Sua misericórdia foi a verdadeira razão pela qual Jonas fugiu para Társis. Em segundo lugar, a declaração do profeta sobre Deus remete a Êxodo 32:14 e 34:6, 7, onde Deus havia “mudado de ideia” ou “Se arrependido” em relação ao próprio Israel. Portanto, bem antes de demonstrar misericórdia por Nínive, Deus havia feito o mesmo por Israel. Em terceiro lugar, esse tipo de arrependimento não significa que Deus tenha mentido sobre os juízos que Ele havia anunciado, pois Ele explica em Jeremias 18:7-10: “No momento em que Eu falar a respeito de uma nação ou de um reino para o arrancar, derrubar e destruir, se essa nação se converter da maldade contra a qual Eu falei, também Eu mudarei de ideia a respeito do mal que pensava fazer-lhe. E, no momento em que Eu falar a respeito de uma nação ou de um reino, para o edificar e plantar, se ele fizer o que é mau aos Meus olhos e não obedecer à Minha voz, então Eu mudarei de ideia quanto ao bem que havia prometido fazer.” Portanto, Deus muda Suas ações para com as pessoas, em termos relacionais, se elas mudarem sua atitude para com Ele também em termos relacionais.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
As Escrituras ensinam que Deus é imutável em termos morais, mas Ele pode mudar o relacionamento com o Seu povo quando este escolhe aceitá-Lo ou rejeitá-Lo. Com essa ideia em mente, discuta as seguintes questões:
1. Como podemos refletir a justiça de Deus ao reagirmos à injustiça e aos erros que existem no mundo?
2. Deus Se arrepende e muda Seu juízo dependendo da atitude das pessoas em relação a Ele. A justiça divina envolve apenas vingança e punição, ou também alguma forma de restauração? Explique. O arrependimento de Deus está ligado à restauração?
3. Deus está disposto a mudar de ideia e restaurar o relacionamento com Seu povo. Nessa perspectiva, como promover a justiça e o amor para restaurar relacionamentos rompidos?
4. Houve momentos em que você tentou enfrentar a injustiça e isso deu errado? Como você respondeu? Como buscar a justiça e ajudar as pessoas mais vulneráveis?
5. Você já foi tratado injustamente? Em caso afirmativo, qual foi o resultado dessa situação? Sua experiência influencia a maneira como você trata os outros?
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Ajudante do professor - Parte 2
Mongólia | Bold Batsukh
Nota do editor: Esta é a história de como Bold Batsukh, o primeiro pastor adventista do sétimo dia da Mongólia, entregou seu coração a Deus no início dos anos 1990. A história começa com Bold, de 73 anos, buscando amargamente respostas sobre por que seu pai morreu inesperadamente. Ele percebeu que sua mãe estava encontrando respostas para suas próprias perguntas com um professor de uma religião tradicional da Mongólia. A mãe concordou em levar o menino para encontrar o professor.
Muitas pessoas se aglomeravam do lado de fora da casa do professor todos os dias para pedir conselhos sobre como resolver seus problemas na Mongólia. As pessoas se sentavam e aguardavam para serem chamadas para entrar na casa.
Quando alguém entrava na casa, o professor perguntava: "Qual é o seu problema?"
Então ele escutava por um longo tempo. Depois disso, ele abria seus escritos sagrados e recitava algo na língua tibetana.
Ninguém entendia o que ele dizia porque ninguém falava tibetano, mas as pessoas saíam da casa felizes.
O professor não conseguiu explicar a Bold por que seu pai havia falecido, mas o menino ficou impressionado com ele e seus textos sagrados. Boi d pensou: "Se eu pudesse ajudá-lo, poderia passar mais tempo com ele, e seria uma boa desculpa para faltar à escola!"
De volta para casa, ele disse para a mãe: "Talvez eu também me torne um professor. Você poderia perguntar ao seu professor se ele poderia me treinar?"
A mãe estava relutante, mas concordou em perguntar.
Alguns dias depois, ela voltou da casa do professor com um grande sorriso.
"O professor ficou tão feliz quando eu contei a ele sobre o seu pedido", disse ela. "Ele disse que queria ser mentor de um menino há muito tempo."
Bold foi morar com o professor.
Todas as manhãs, às 6 horas, o professor cutucava Bold com um pedaço de madeira para acordá-lo. Então Bold ficava sentado por horas, aprendendo a língua tibetana e memorizando textos das escrituras sagradas. Ele também tinha muitas tarefas, cozinhar para o professor e limpar sua casa.
Bold morou com o professor por dois anos. Ele memorizou todos os textos que o professor lhe disse para memorizar. Ele fez tudo o que o professor lhe disse para fazer.
Quando ele tinha 15 anos, o professor o levou a um mosteiro onde ele poderia ser treinado para se tornar um professor também.
O diretor do mosteiro questionou Bold. "O que você aprendeu?", ele perguntou. "Você pode entoar este texto? Você pode entoar esse texto?"
Bold, o menino que uma vez fez muitas perguntas, agora era capaz de fornecer muitas respostas a partir dos escritos sagrados.
O diretor do mosteiro ficou impressionado.
"Ele é bem treinado", disse ele ao professor de Bold. "Mas acabamos de aceitar outros meninos e não temos mais espaço. Se você voltar no próximo ano, vamos aceitá-lo primeiro."
Foi um ponto de virada. Se Bold não pudesse treinar para se tornar professor, ele queria voltar para a escola regular. Ele voltou para casa, para a mãe e sua irmã, que era sua gêmea.
Bold não frequentava a escola havia dois anos e estava muito atrasado em relação aos seus antigos colegas de classe. Mas ele queria estudar com eles mais uma vez.
A mãe falou com o diretor da escola, e ele concordou em permitir que Bold estudasse com seus antigos colegas de classe por dois meses. Se conseguisse acompanhá-los, ele poderia permanecer na turma.
Bold sentou-se na fileira da frente. Ao contrário de antes, quando tinha 13 anos, agora ele estava ansioso para aprender.
Para sua surpresa, as tarefas escolares eram fáceis, e ele rapidamente se destacou como o melhor de sua turma. Os colegas de classe não entendiam por que ele estava se saindo tão bem. Ele havia perdido dois anos de escola enquanto eles estavam estudando. Bold só percebeu mais tarde que dois anos de memorização de textos haviam limpado e disciplinado sua mente, permitindo-I he completar facilmente suas tarefas escolares.
Depois de se formar no ensino médio, Bold decidiu aprender inglês e se tornar professor de inglês. Ele já falava mongol e russo e pensava que aprender mais um idioma não seria tão difícil.
Mas depois de alguns dias de aulas na universidade, ele estava indo mal. O inglês era muito mais difícil do que ele esperava. Ele se perguntou o que fazer. Sua irmã gêmea teve uma ideia. Ela conheceu alguns americanos, e eles estavam lhe ensinando inglês. "Venha conhecer os americanos", ela disse.
Bold não estava interessado.
Mais tarde, sua irmã lhe mostrou um Novo Testamento na língua mongol.
"Os americanos são cristãos", ela disse. "Eles estão falando sobre Cristo."
Bold ficou assustado. "Não vá mais até eles", disse ele. "Temos nossa própria religião tradicional na Mongólia."
Mas sua irmã não quis ouvir. "Essas pessoas são realmente simpáticas", disse ela.
Bold continuou a ter dificuldades com suas aulas de inglês. Um dia, enquanto se dedicava aos seus estudos, ele se lembrou dos americanos. Ele pensou: "Quem sabe eles possam me ajudar com meu inglês". Ele prometeu a si mesmo que, se os americanos falassem sobre o cristianismo, ele mostraria lhes mostraria que a religião deles era totalmente inaceitável para os mongóis. Ele perguntou à irmã se poderia conhecê-los.
A irmã contou aos americanos sobre seu irmão. Um deles respondeu: "Traga-o para nossa igreja doméstica neste sábado".
Ore pelo povo da Mongólia que, assim como Bold, está procurando respostas. Parte da oferta deste trimestre ajudará a abrir um centro de recreação infantil para compartilhar o evangelho em Ulan Bator, Mongólia. Obrigado por planejar uma oferta generosa.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2025
Tema geral: O amor e a justiça de Deus
Lição 6 – 1º a 8 de fevereiro
O amor de Deus pela justiça
Autor: Erico Tadeu Xavier
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
O salmista Davi afirmou: “Deus é um juiz justo” (Sl 7:11). O Senhor prova as pessoas e retribui as ações do homem íntegro, mas também apresenta Sua ira como parte dessa justiça. Por isso, é comum a Bíblia relatar os atos de Deus também na forma de castigos, de punição ao pecador.
O Deus de amor e a justiça
A justiça e o amor são inseparáveis. Ambos são partes do caráter de Deus. Nessa perspectiva, alguns fatos podem ser salientados:
Deus é amor (1Jo 4:8). Dizemos que Ele tem amor. O fato é, porém, que Ele é amor. Sempre age por amor. Deus é a própria “justiça” (Ne 9:33; Is 45:21).
Cristo sofreu a ira de Deus. “A espada da justiça estava desembainhada, e a ira de Deus contra a iniquidade repousava sobre o Substituto do homem, Jesus Cristo, o Unigênito do Pai” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 1229).
Nossa escolha é importante. “A ira de Deus não cairá sobre uma alma que Nele procura refúgio. Deus mesmo declarou: ‘Vendo Eu o sangue, passarei por cima de vós” (Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 157).
Rejeitar a Cristo é o maior pecado. “A morte de Cristo traz sobre o que rejeita Sua misericórdia a ira e os juízos de Deus, sem mistura de misericórdia. Esta é a ira do Cordeiro. Mas a morte de Cristo é esperança e vida eterna a todos os que O recebem e Nele creem” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 1234).
Os pecadores não precisam sofrer. A justiça requer que a transgressão da lei de Deus receba a devida punição, como ocorreu com nosso Substituto, o Cristo inocente. Mas a maravilhosa graça de Deus oferece perdão a homens e mulheres que não o merecem. Aceitando o sofrimento de Cristo podem ficar livres das consequências finais de seu pecado (Rm 8:1).
O evangelho de Cristo apresenta o juízo de Deus como parte integrante dos fatos que conduzem ao Reino de Deus. Assim sendo, “no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo” (Rm 2:16), será cumprido o juízo final. Conforme destaca Ellen G. White, temos hoje a oportunidade de aceitar a Cristo e obter o perdão de Deus. Nossa decisão hoje é que nos condenará ou nos fará participantes da glória de Deus.
“É nesta vida que devemos afastar de nós o pecado, pela fé no sangue expiatório de Cristo. Nosso precioso Salvador nos convida a nos unirmos a Ele, a ligar nossa fraqueza à Sua força, nossa ignorância à Sua sabedoria, e nossa indignidade aos Seus méritos. A providência de Deus é a escola na qual devemos aprender a mansidão e humildade de Jesus. O Senhor está sempre colocando diante de nós não o caminho que preferiríamos, o qual nos parece mais fácil e agradável, mas os verdadeiros objetivos da vida. Cabe a nós cooperar com os meios que o Céu emprega na obra de adequar nosso caráter ao modelo divino. Ninguém poderá negligenciar ou adiar essa obra sem correr sério risco de perder a salvação” (Ellen G. White, O Grande Conflito [CPB, 2021], p. 517, 518).
Diante dessas considerações, fica claro que os juízos divinos provêm de justiça e que essa justiça é inerente ao caráter de Deus. E é por ser justo e verdadeiro que Jesus, ainda hoje, intercede por nós, como nosso Advogado diante do Pai (1Jo 2:1, 2), buscando o perdão para nossos atos e, ao mesmo tempo, julgando esses atos, tendo em vista que o próprio Deus assim o fez Juiz: “O Pai a ninguém julga, senão que todo o juízo deu ao Filho” (Jo 5:22).
O “Dia do Senhor”, ou “Dia do Juízo” pode causar medo, assombro em muitas pessoas, por esperarem um Deus vingativo, que pune o pecador com fogo, consumindo-o. Mas a realidade é que o juízo de Deus cairá somente sobre os que não O aceitam, que não vivem em conformidade com Sua vontade. Assim sendo, o Dia do Juízo é dia de recompensar a cada um segundo as suas obras (Rm 2:6). Para os salvos, o juízo de Deus é um dia de receber o galardão, a vida eterna; já para os perdidos, que fizeram o mal, sendo desobedientes à verdade e cometendo iniquidade, resta o pagamento pelos seus atos (Rm 2:7-9).
Juiz bom e justo
Existem pelo menos três razões ou motivos para o crente justificado pela fé não temer o juízo
Jesus é o Cordeiro = nosso Substituto (Jo 1:29)
Ele carregou as nossas enfermidades, tomou as nossas dores e os nossos pecados lá na CRUZ (Is 53:4; 1Pe 2:24). Sofreu a ira de Deus em nosso lugar (Rm 3:25, 26). Se confessarmos os nossos pecados, Ele nos perdoará (1Jo 1:9)
Jesus é o nosso advogado (1Jo 2:1)
João chama nosso Salvador no Céu de nosso “Advogado” (parakletos) “junto ao Pai”, “alguém que fala ao Pai em nossa defesa”. Ele é advogado justo, que nunca perdeu uma causa. Esse advogado nos oferece segurança. Com Ele o juízo é uma boa notícia.
Jesus é o juiz no tribunal divino (Jo 5:22)
Romanos 2:2: “O juízo de Deus é segundo a verdade”.
Romanos 2:5: “Revelação do justo juízo de Deus”.
O verdadeiro crente justificado pela fé em Cristo não está isento do exame final, mas ele não precisa temer o julgamento, porque Cristo como Juiz jamais o condenará, mas apenas vindicará aquele que for achado em Cristo (Rm 8:1, 33, 34; Zc 3:3-5).
Seremos salvos da ira (Rm 5:9, 10). Será o último ato expiatório de Cristo no Céu em favor do Seu povo. Jesus, o Juiz, então dirá aos justificados: “Venham, benditos de Meu Pai! Venham herdar o Reino que está preparado para vocês desde a fundação do mundo” (Mt 25:34). O juízo final selará nossa eterna reconciliação com Deus. Não precisamos temer o juízo, o qual é um fato que deve provocar alegria, louvor e gratidão a Deus.
No AT encontramos o santuário. Ali o sumo sacerdote (a pessoa mais santa) entrava no santuário (no lugar mais santo) para realizar a mais santa obra (o juízo) no dia mais santo (o 10 dia do sétimo mês). Desde 1844, a pessoa mais santa (Jesus Cristo) está no lugar mais santo do Universo (o lugar santíssimo) realizando a obra mais santa (o juízo investigativo).
Não é, portanto, uma boa notícia a mensagem do juízo? O justificado pela fé não precisa sentir medo do juízo.
Justiça final
Compreendendo essas verdades, é possível aceitar que o amor de Deus é santo. Assim sendo, o amor divino e a justiça divina são dois lados da mesma moeda. Eles são atributos do mesmo Deus. A justiça requer adequada punição da transgressão, e não é invalidada pela verdade de que o pecado destrói a si mesmo. Um homem iníquo pode morrer por causa do uso de drogas, pode contrair uma doença fatal por não cuidar do próprio corpo, ou pode ser morto num tiroteio com a polícia. E diremos que ele destruiu a si mesmo. Mesmo assim, terá de enfrentar o julgamento no tribunal do Deus Criador. Terá de prestar contas (Rm 14:10-12; At 24:25). Ele será punido de acordo com as suas ações e destituído então do dom da vida (2Co 5:10; Rm 2:6; 6:23). A execução dos ímpios será um ato do Deus-Criador. De modo algum se pode dizer que será simplesmente a retirada de Sua bênção e proteção. A fase executiva do juízo final abrangerá tanto os anjos caídos quanto os seres humanos impenitentes.
Ellen G. White declarou a esse respeito: “Deus mostra claramente em Sua Palavra que punirá os transgressores de Sua lei. Quem gosta de dizer que Ele é misericordioso demais para exercer justiça contra o pecador apenas olhe para a cruz do Calvário. A morte do imaculado Filho de Deus testifica que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23), que toda violação da lei de Deus deve receber sua justa retribuição. Cristo, que não tinha pecado, Se fez pecado pelo ser humano. Carregou a culpa da transgressão, e o rosto do Pai Lhe foi ocultado até que Seu coração foi quebrantado e Sua vida desfeita. Todo esse sacrifício foi feito para que os pecadores pudessem ser redimidos. De nenhum outro modo o ser humano conseguiria se livrar da pena do pecado. E todo aquele que se recusa a tornar-se participante da expiação provida a tal preço deve levar sobre si mesmo a culpa e o castigo da transgressão” (O Grande Conflito, p. 450, 451).
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Erico Tadeu Xavier é Pós-doutor em Teologia Sistemática e Missão Integral pela FAJE (Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta de BH), Doutor em Ministério pela FTSA, Faculdade Teológica Sul-Americana e Doutor em Teologia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do RJ). Iniciou seu ministério em 1991 como pastor distrital e atuou em três diferentes regiões. Foi professor do Seminário Adventista de Teologia na Universidade Adventista da Bolívia, da Faculdade Adventista da Bahia (antigo IAENE), e da FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Noemi Pinheiro Xavier, Doutora em Educação. O casal tem dois filhos: Aline (psicóloga) e Joezer (designer gráfico).