Lição 10
26 de fevereiro a 04 de março
O caminho através do véu
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Dt 4-7
Verso para memorizar: “Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro santuário, porém no próprio Céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus” (Hb 9:24).
Leituras da semana: Hb 9:24; Êx 19:3, 4; Hb 12:18-21; Lv 16:1, 2; Hb 10:19-22; Cl 3:1

Quando os discípulos voltaram do Monte das Oliveiras, depois que Jesus ascendeu ao Céu, sentiram-se triunfantes e alegres. Seu Mestre e Amigo havia ascendido a uma posição de poder sobre o mundo e os havia convidado a se aproximarem de Deus em Seu nome com a confiança absoluta de que suas orações seriam atendidas (Jo 14:13, 14). Embora continuassem no mundo, atacados pelas forças do mal, sua esperança era forte. Eles sabiam que Jesus havia ascendido para preparar-lhes um lugar (Jo 14:1-3) e que era o Precursor de sua salvação, pois havia aberto um caminho para a pátria celestial por meio de Seu sangue.

A ascensão de Jesus ao Céu é central para a teologia de Hebreus. Ela marca o início do governo de Cristo e de Seu ministério sumo sacerdotal em nosso favor. Finalmente, e mais importante, Sua ascensão marca a inauguração da nova aliança, que provê os meios pelos quais podemos nos aproximar de Deus com ousadia mediante a fé, privilégio obtido por meio dos méritos de Cristo e de Sua justiça.

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Domingo, 27 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 8-10
Jesus diante do Pai

1. Leia Hebreus 9:24. De acordo com essa passagem, qual foi o propósito da ascensão de Jesus ao Céu?

Deus instruiu Israel que os homens fossem três vezes ao ano a Jerusalém para “comparecer diante do Senhor” com uma oferta: na festa da Páscoa (festa dos pães sem fermento), na Festa das Semanas (Pentecostes) e na Festa dos Tabernáculos (Êx 23:14-17; Dt 16:16). A Páscoa celebrava a libertação de Israel do Egito. O Pentecostes celebrava a colheita da cevada e, na época do NT, estava associada à promulgação da lei no Sinai. A Festa dos Tabernáculos celebrava o cuidado de Deus com Israel durante a peregrinação no deserto.

Hebreus 9:24 descreve a ascensão de Jesus à presença do Pai. Ele chegou ao santuário celestial, “o verdadeiro”, para “comparecer” diante de Deus com um sacrifício superior (Hb 9:23, 24): Seu próprio sangue.

Jesus celebrou as festas com incrível precisão. Ele morreu no dia da preparação da Páscoa na hora nona, momento em que os cordeiros pascais eram sacrificados (Jo 19:14; Mt 27:45-50). Ressuscitou no terceiro dia e subiu ao Céu para receber a confirmação de que Seu sacrifício havia sido aceito (Jo 20:17; 1Co 15:20), quando o sacerdote deveria mover o feixe de cevada madura como as primícias da colheita (Lv 23:10-12). Então, Ele ascendeu 40 dias depois para sentar-Se à direita de Deus e inaugurar a nova aliança no dia de Pentecostes (At 1; 2).

O propósito da peregrinação até Jerusalém era apresentar-se diante da “face de Deus” (Sl 42:2). Isso significava experimentar o favor divino (Sl 17:15). Da mesma forma, a expressão hebraica “buscar a face de Deus” significava pedir auxílio divino (2Cr 7:14; Sl 27:8; 105:4). Em Hebreus esse é o sentido da ascensão de Jesus. Ele ascendeu a Deus com o sacrifício perfeito e como nosso Precursor (Hb 6:19, 20) tornou real a promessa para os crentes que peregrinam “procurando uma pátria”, desejando “uma pátria superior” e ansiosos “pela cidade [...] da qual Deus é o Arquiteto e Construtor” (Hb 11:10, 13-16).

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Por que a realidade do que Cristo fez, não apenas na cruz, mas o que Ele faz no Céu, nos dá a certeza da salvação?


Segunda-feira, 28 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 11-13
Convite divino

2. Como foi a experiência de Israel no Monte Sinai? Hb 12:18-21

Quando Deus chamou Israel do Egito, Seu plano era criar um relacionamento pessoal e íntimo com o povo. Ele disse: “Vocês viram o que fiz aos egípcios e como levei vocês sobre asas de águia e os trouxe para perto de Mim” (Êx 19:4).

Por meio de Moisés, Deus deu as instruções necessárias para preparar o povo para se encontrar com Ele. O povo precisava se consagrar primeiro (Êx 19:10-15). Aqueles que subissem sem preparo morreriam. A instrução divina foi: “Quando soar longamente a trombeta” no terceiro dia, então “subirão o monte” (Êx 19:13). Ele queria que tivessem a experiência que Moisés e os líderes do povo teriam quando subissem o monte e vissem Deus e comessem e bebessem em Sua presença (Êx 24:9-11). O povo mais tarde reconheceu que tinha visto a glória de Deus e que era possível Deus falar “com as pessoas e [elas permanecerem] vivas” (Dt 5:24). Mas, quando chegou o momento, faltou fé. Moisés explicou anos depois: “Vocês ficaram com medo do fogo e não subiram o monte” (Dt 5:5). O povo pediu a Moisés que fosse seu intermediário (Dt 5:25-27, compare com Êx 20:18-21).

A manifestação da santidade divina no Monte Sinai teve como propósito ensinar o temor ou o respeito a Deus e também levar o povo a conhecer Sua misericórdia e fidelidade (Êx 34:4-8). O “temor do Senhor” conduz à vida, sabedoria e honra (Dt 4:10; compare com Sl 111:10; Pv 1:7; 9:10; 10:27). Contudo, enquanto Deus queria que Israel fosse até Ele, o povo ficou com medo. A descrição em Hebreus dos eventos no Sinai é acompanhada da falta de fé e apostasia do povo com o bezerro de ouro, e como temia encontrar-se com Deus por causa de seu pecado (Dt 9:19). A reação do povo não foi o plano de Deus, mas o resultado da falta de fé.

3. Por que o povo teve medo de se encontrar com Deus?

A. ( ) Porque o povo sabia que Deus iria destruí-los.

B. ( ) Porque lhes faltou fé.

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Devemos ter medo de nos aproximar de Deus? Quais são as condições para fazê-lo?


Terça-feira, 01 de março
Ano Bíblico: Dt 14-17
A necessidade de um véu

Os véus têm função dupla. O termo que Hebreus usa para véu (katepetasma) pode se referir à cortina do átrio (Êx 38:18), à entrada da área externa do santuário (Êx 36:37), ou ao véu que separava o lugar santo do santo dos santos (Êx 26:31-35). Esses véus eram limites que apenas algumas pessoas podiam cruzar.

4. Leia Levítico 16:1, 2 e 10:1-3. Que advertência há nessas passagens?

O véu era uma proteção para os sacerdotes enquanto ministravam diante de um Deus santo. Depois do pecado do bezerro de ouro, Deus disse a Moisés que não os acompanharia até a terra prometida para que não os consumisse, pois eram um “povo teimoso” (Êx 33:3). Assim, Moisés mudou a tenda do encontro para longe do arraial (Êx 33:7). No entanto, depois que Moisés intercedeu, Deus concordou em ir no meio deles (Êx 33:12-20), mas estabeleceu várias medidas para proteger o povo.

Por exemplo, Israel acampava em uma ordem estrita que formava um quadrado vazio no meio onde o tabernáculo era montado. Além disso, os levitas acampavam ao redor a fim de proteger o santuário e sua mobília da invasão de estranhos (Nm 1:51; 3:10). Eles eram, de fato, uma espécie de véu humano que protegia o povo de Israel: “Mas os levitas acamparão ao redor do tabernáculo do testemunho, para que não haja ira sobre a congregação dos filhos de Israel. Os levitas assumirão a tarefa de cuidar do tabernáculo do testemunho” (Nm 1:53).

Jesus, como nosso Sacerdote, também foi nosso véu. Por meio de Sua encarnação, Deus armou Seu tabernáculo entre nós e pudemos contemplar Sua glória (Jo 1:14-18). Ele tornou possível que um Deus santo vivesse entre um povo imperfeito.

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Pense no que significa o Deus Criador habitar entre Seu povo, que era uma nação de escravos recém-libertados. O que isso ensina sobre quanto Deus está perto de nós?


Quarta-feira, 02 de março
Ano Bíblico: Dt 18-20
O novo e vivo caminho através do véu

5. Leia Hebreus 10:19-22. Que convite há nessa passagem?

O livro de Hebreus argumenta que Jesus entrou no santuário celestial e nos convida a seguir Sua liderança. Essa ideia concorda com a concepção antes apresentada de que Jesus é o “Precursor” dos crentes (Hb 2:10; 6:19, 20; 12:2). O “caminho novo e vivo” é a nova aliança que Jesus inaugurou com Seu sacrifício e ascensão. A expressão “novo e vivo” contrasta com a descrição da antiga aliança, como algo “antiquado e envelhecido” (Hb 8:13). É a nova aliança, aquela que providenciou o perdão dos pecados e colocou a lei em nosso coração, que possibilita nos aproximarmos de Deus com confiança, não por nosso mérito, mas apenas pelo que Jesus fez por nós, cumprindo todas as obrigações da aliança.

Hebreus indica que a inauguração da antiga aliança envolveu a inauguração do santuário e a consagração dos sacerdotes (Hb 9:18-21; compare com Êx 40; Lv 8; 9). Seu propósito era criar um relacionamento íntimo entre Deus e Seu povo (Êx 19:4-6). Quando Israel aceitou esse relacionamento, Deus imediatamente ordenou que um santuário fosse construído para que Ele pudesse viver entre eles. A inauguração do santuário e a presença de Deus entre Seu povo consumou a aliança.

Essa lógica serve para a nova aliança. Ela também implica a inauguração do ministério sacerdotal de Jesus em nosso favor (Hb 5:1-10; 7:1–8:13).

A ascensão de Jesus inaugurou uma nova era para o povo de Deus. Zacarias 3 menciona que Satanás estava na presença de Deus para acusar Seu povo, o qual era representado pelo sumo sacerdote Josué. Esse acusador é o mesmo que levantou questões sobre a lealdade de Jó (Jó 1; 2). Com o sacrifício de Jesus, Satanás foi expulso do Céu (Ap 12:7-12; compare com Jo 12:31; 16:11). Cristo é quem intercede por nós e, por meio do Seu sacrifício e Sua fidelidade, clama pela nossa salvação!

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Que acusações Satanás poderia fazer contra você diante de Deus, se lhe fosse permitido? Embora ele seja um mentiroso, quanto ele teria que mentir sobre você para buscar sua condenação? Qual é a sua única esperança?


Quinta-feira, 03 de março
Ano Bíblico: Dt 21-23
Eles verão o Seu rosto

6. Leia Hebreus 12:22-24. Em que sentido chegamos à Jerusalém celestial na presença de Deus?

Argumenta-se que os crentes “chegaram” ao Monte Sião, a Jerusalém celestial, por meio da fé. Nesse sentido, sua experiência antecipa o futuro. Assim, a Jerusalém celestial pertence ao reino das “coisas que se esperam” e “não se veem”, mas que nos são asseguradas mediante a fé (Hb 11:1).

Também chegamos ao Monte Sião, na própria presença de Deus, por meio de nosso Representante Jesus (Ef 2:5, 6; Cl 3:1). A ascensão de Jesus não é uma questão de fé, mas de fato. É essa dimensão histórica da ascensão de Jesus que oferece peso à exortação aos hebreus para se apegar à confissão da esperança (Hb 4:14; 10:23). Paulo disse: “Tendo, pois, Jesus, [...] grande Sumo Sacerdote que adentrou os Céus [...] aproximemo-nos [...] com confiança” (Hb 4:14, 16).

Assim, já chegamos à presença de Deus por meio de nosso Representante e, portanto, devemos atuar em conformidade com esse fato. Por meio Dele, provamos “o dom celestial”, provamos “a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro” (Hb 6:4, 5). A realidade da ascensão e do ministério de Jesus no santuário celestial é a “âncora da alma, segura e firme” (Hb 6:19), a garantia de que as promessas têm substância e são confiáveis (Hb 7:22). Para nós, a fé tem uma âncora histórica.

O propósito divino se cumprirá não apenas em Jesus, mas também em nós. Dissemos que a ascensão cumpriu a tipologia das primeiras duas peregrinações anuais de Israel, Páscoa e Pentecostes. De acordo com Hebreus e o livro do Apocalipse, a última peregrinação, a Festa dos Tabernáculos, ainda não se cumpriu. Vamos festejar com Jesus, quando estivermos na “cidade [...] da qual Deus é o Arquiteto e Construtor”, na pátria celestial (Hb 11:10; 13-16). Não construiremos tabernáculos; o tabernáculo de Deus descerá do Céu e viveremos com Ele para sempre (Ap 7:15-17; 21:1-4; 22:1-5; Nm 6:24-26).

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Como podemos tornar a promessa de vida eterna real para nós no presente, neste mundo tão cheio de dor e sofrimento? Que resposta podemos dar aos que dizem que tudo isso é apenas uma fantasia para nos ajudar a nos sentirmos melhor?


Sexta-feira, 04 de março
Ano Bíblico: Dt 24, 25
Estudo adicional

“Para Seus seguidores, a ascensão de Cristo ao Céu foi um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Deviam esperar por ela antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao atravessar os portais do Céu, Jesus foi entronizado em meio à adoração dos anjos. Assim que essa cerimônia foi concluída, o Espírito Santo desceu em abundantes torrentes sobre os discípulos, e Cristo foi, de fato, glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda a eternidade. O derramamento do Espírito no Pentecostes foi um anúncio do Céu de que a investidura do Redentor havia sido concluída. De acordo com Sua promessa, Jesus enviou do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em sinal de que Ele, como Sacerdote e Rei, havia recebido todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o Ungido que governaria Seu povo. [...]

“Podiam falar do nome de Jesus com segurança, pois Ele era seu Amigo e Irmão mais velho. Em íntima comunhão com Cristo, assentaram-se com Ele ‘nos lugares celestiais’ (Ef 2:6). Revestiam suas ideias com linguagem convincente quando testificavam Dele” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 38, 39, 46).

Perguntas para consideração

1. “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando irei e me apresentarei diante da face de Deus?” (Sl 42:2). Como ter sede de entrar na presença de Deus? Se não nos alegrarmos na presença de Deus enquanto O adoramos e vamos a Ele com fé, quando nos alegraremos? Quais são os fatores que levam à alegria em Deus?

2. Em um livro que zomba da fé, alguém criou um robô que crê por nós. Embora isso seja uma farsa, como devemos ter o cuidado de não fazer o que Israel fez no deserto, ou seja, pedir intermediários entre nós e Deus? Alguns podem pensar que as orações de outros em seu favor tenham mais peso diante de Deus do que suas próprias orações. Por que devemos evitar essa armadilha espiritual? Por que, com base nos méritos de Cristo, podemos nos aproximar de Deus sem a necessidade de intermediários?

3. Hebreus trata da certeza da salvação. Porém, como devemos ter cuidado para não confundir presunção com certeza?

Respostas e atividades da semana: 1. Comparecer em nosso favor diante de Deus. 2. O povo de Israel temeu e pediu que Moisés fosse seu intermediário. 3. B. 4. Deus é santo e devemos temê-Lo. O santuário não podia ser profanado. 5. Que nos aproximemos de Deus com confiança nos méritos do sangue de Jesus. 6. Chegamos por meio da fé em Jesus.

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Resumo da Lição 10
O caminho através do véu

TEXTOS-CHAVES: Hb 9:24; Êx 19:3, 4; Hb 12:18-21; Lv 16:1, 2; Hb 10:19-24; Cl 3:1

ESBOÇO

Temas da lição

Em Hebreus, a ascensão de Cristo marca o início de Seu governo e de Seu ministério sumo sacerdotal no Céu. Quando ascendeu ao Céu, compareceu à presença de Deus em nosso favor (Hb 9:24). Na época do AT, todo homem era obrigado a comparecer à presença divina três vezes por ano. As festas dos peregrinos eram a Páscoa, a Festa das Semanas e a Festa dos Tabernáculos (Êx 23:14-17). Seu propósito era contemplar a face de Deus (leia Sl 42:2).

Cristo compareceu à presença do Senhor no Céu em nosso favor. Em harmonia com as festas do AT, Jesus morreu na Páscoa. Após Sua ressurreição, Ele ascendeu primeiramente a Seu Pai no momento em que os sacerdotes moviam o feixe de cereais, e ascendeu novamente pela última vez após 40 dias para sentar-Se à direita de Deus. Visto que a inauguração de Cristo como nosso Sumo Sacerdote ocorreu no Céu, o Espírito Santo foi derramado durante o Pentecostes sobre Seus seguidores na Terra.

Quando Deus apareceu aos israelitas no Monte Sinai, eles temeram. Moisés se tornou seu intermediário. Por toda a história de Israel, os sacerdotes foram os mediadores, porém até mesmo eles eram proibidos de ir quando quisessem ao lugar santíssimo do tabernáculo. Os véus funcionavam como limites e proteção para os sacerdotes quando ministravam no santuário. Hebreus convida a nos aproximarmos do santuário através do véu, isto é, da carne de Cristo (Hb 10:20).

COMENTÁRIO

Os espíritos dos justos aperfeiçoados

Em Hebreus 12:22, 23, Paulo se dirigiu à sua audiência com estas palavras: “Vocês chegaram ao Monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a milhares de anjos. Vocês chegaram à assembleia festiva, a igreja dos primogênitos arrolados nos Céus. Vocês chegaram a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.” A questão que buscaremos responder em relação a essa passagem é: Quem são os “espíritos dos justos aperfeiçoados”? Ou seja, que tipo de seres são eles?

Ao nos prepararmos para isso, observaremos o contexto de Hebreus 12:22, 23, que é Hebreus 11. Ali, Paulo ofereceu louvores em homenagem aos heróis da fé, seguidos de uma forte exortação no início de Hebreus 12 para que fixemos nosso olhar no “Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, sem Se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12:2). Logo a seguir, Hebreus 12 fala da disciplina na vida cristã. O fato de que os justos sofrem não é sinal de descontentamento da parte de Deus, mas da afeição divina. Por isso, Paulo afirmou: “O Senhor corrige a quem ama e castiga todo filho a quem aceita” (Hb 12:6).

Logo a seguir está uma dupla exortação à paz e à santidade: “Procurem viver em paz com todos e busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14). Para reforçar a advertência, Paulo apresentou o exemplo de Esaú, descrito como alguém “impuro ou profano”, a própria antítese do exemplo de fé em Hebreus 11, que trocou seus direitos de herança como primogênito pela gratificação imediata de uma refeição (Hb 12:16). Finalmente, Paulo comparou a geração do Êxodo com seu próprio público. A primeira foi confrontada com uma teofania no Monte Sião. Paulo afirmou que Moisés, diante daquela cena, declarou: “Estou apavorado e trêmulo” (Hb 12:21). Em contraste, a audiência de Hebreus não foi até um monte sagrado, que não podia ser tocado fisicamente, mas à morada celestial de Deus, a “Jerusalém celestial” (Hb 12:22). Eles têm acesso a “Deus, o Juiz de todos”, à “igreja dos primogênitos arrolados nos Céus” “e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12:23).

Quem são os “espíritos dos justos aperfeiçoados”? A maioria dos estudiosos do livro de Hebreus emprega literatura apocalíptica judaica para entender essa expressão (por exemplo, Jubileus 23:30, 31; 1 Enoque 22:9; 102:4; 103:3, 4; 2 Apocalipse de Baruque 30:2). Com base nisso, concluem que esses espíritos devam ser almas imateriais, desprovidas de corpo, que moram no Céu e desfrutam de uma eterna celebração do sábado. Tal conclusão deve ser contestada pelos dados apresentados no próprio livro de Hebreus. Para tanto, analisaremos o substantivo “espíritos”, o adjetivo “justo” e o verbo (particípio) “aperfeiçoado”.

O substantivo “espíritos” ou “espírito” tem três usos diferentes na carta aos hebreus. Primeiro, “espíritos” é usado para designar anjos que são espíritos ministradores (Hb 1:7, 14). Em segundo lugar, “espírito” designa o Espírito Santo que dá dons, fala sobre a nova aliança e dá testemunho dela (Hb 2:4; 3:7; 6:4; 9:8; 10:15). Algumas vezes, o Espírito Santo parece ser descrito como o “Espírito da graça” (Hb 10:29) ou o “Espírito eterno” (Hb 9:14). Terceiro, “espíritos” se refere a seres humanos vivos que estão sujeitos à atuação incisiva da Palavra divina viva (Hb 4:12). Da mesma forma, quando Paulo falou a respeito da disciplina de Deus sobre Seus filhos, ele disse: “Tínhamos os nossos pais humanos, que nos corrigiam, e nós os respeitávamos. Será que, então, não nos sujeitaremos muito mais ao Pai espiritual, para vivermos?” (Hb 12:9). Assim, podemos concluir que os “espíritos” na frase “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12:23) não são anjos, nem o Espírito Santo, mas seres humanos que se aproximaram do Monte Sião, a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial (Hb 12:22).

Em Hebreus, o adjetivo “justo” aparece apenas duas vezes fora da passagem sob investigação. Na primeira vez é usado no contexto de perseverança: “O Meu justo viverá pela fé” (Hb 10:38). Deus não tem prazer naqueles que recuam na dúvida ou na incredulidade. Na segunda vez, o adjetivo é usado no contexto da oferta de Abel de um sacrifício melhor do que o de Caim. Por causa desse sacrifício melhor, Abel recebeu o testemunho de que era “justo” (Hb 11:4). Ambos os casos se referem a pessoas quando estavam vivas, não mortas nem em um estado em que estivessem sem corpo. Assim, esses indivíduos não são descritos como almas imateriais. Portanto, podemos concluir que os “justos” são aquelas pessoas que vivem pela fé e a expressam pelos sacrifícios que fazem.

O termo “aperfeiçoado” aparece várias vezes em Hebreus, resultando em três diferentes usos. Primeiro, Cristo foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos e Se tornou a Fonte da salvação eterna (Hb 2:10; 5:9; 7:28). Em segundo lugar, a lei não pode aperfeiçoar a consciência do adorador (Hb 7:19; 9:9; 10:1). Terceiro, os seres humanos são aperfeiçoados. Em Hebreus 10:14, Paulo declarou: “Com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados”, e em Hebreus 12:23, disse que os “espíritos dos justos” são aperfeiçoados. Assim, estes são Cristo e os seres humanos, não seres sem corpo em uma esfera metafísica.

Finalmente, a frase “igreja dos primogênitos” parece ser parte de um paralelismo, sinônimo da frase que se segue: “arrolados nos Céus” (Hb 12:23). A imagem de pessoas justas sendo inscritas nos livros celestiais é comum nas Escrituras (Êx 32:32; Sl 69:28; Dn 12:1; Lc 10:20; Ap 13:8; 17:8, compare com Fp 3:20). Moisés contendeu com Deus para que o Senhor perdoasse o pecado de Israel ou apagasse seu próprio nome do livro da vida. Consequentemente, os “espíritos dos justos aperfeiçoados” devem ser interpretados como seres humanos, em vez de almas incorpóreas de pessoas que morreram.

Em suma, a evidência textual aponta para o fato de que o substantivo “espíritos” é usado para anjos, para o Espírito Santo e para seres humanos. O adjetivo “justo” é usado para pessoas fiéis como Abel e o público de Hebreus. O termo “aperfeiçoado” é usado para descrever Jesus sendo aperfeiçoado, para se referir à incapacidade da lei para tornar qualquer coisa perfeita e em relação aos seres humanos que foram aperfeiçoados pelo sacrifício de Cristo. Assim, podemos concluir com segurança que os “espíritos dos justos aperfeiçoados” não são almas imateriais, desprovidas de forma corporal, que estão morando no Céu após sua permanência terrena e subsequente morte, e que depois desfrutam de uma celebração eterna do sábado. Em vez disso, os “espíritos dos justos aperfeiçoados” são seres humanos cujos nomes foram registrados no Céu. Os destinatários de Hebreus se aproximaram de Deus, de Jesus, o Mediador de uma nova aliança, da Jerusalém celestial, dos inúmeros anjos e desses seres humanos que foram aperfeiçoados pela fé e cujos nomes estão registrados no Céu. Essa passagem deve ser entendida como uma exortação aos crentes, semelhante à exortação do autor ao seu público quando disse: “Aproximemo-nos do trono da graça com confiança” (Hb 4:16).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Como adventistas do sétimo dia, temos muitas crenças em comum com outras denominações cristãs, como a oração, a justificação pela fé, a santificação, a divindade, o dízimo, etc. No entanto, existem cinco crenças que são distintas, embora nem todas sejam exclusivas do adventismo. São elas: (a) o santuário, (b) o sábado, (c) a segunda vinda de Cristo, (d) o estado dos mortos e (e) o Espírito de Profecia conforme expresso na vida e no ministério de Ellen G. White. Com exceção de nossa doutrina do santuário, que é exclusiva do adventismo, há denominações cristãs que compartilham nossas crenças quanto ao sábado, à segunda vinda, ao dom de profecia e ao estado dos mortos. Durante a lição desta semana, analisamos o estado dos mortos por meio da passagem de Hebreus 12:22, 23. Como adventistas do sétimo dia, nos diferenciamos de outros grupos cristãos, embora não exclusivamente, por acreditarmos que a alma não é imortal. Cremos que Deus criou Adão “do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2:7). Outras versões traduzem a frase “ser vivente” como “alma vivente”. Com a morte, o vivente deixa de existir. Por meio da influência da filosofia grega, a maioria dos cristãos ao longo da história tem acreditado que os humanos nascem imortais e que, quando alguém morre, seu espírito vai para o Céu, para viver com Deus, ou para o inferno, onde queimará eternamente.

1. Que perigos surgem quando sobrepomos nossas pressuposições ao texto bíblico, em vez de permitir que a Bíblia fale por si mesma?

2. Podemos de fato ser completamente objetivos e livres de pressuposições? Por quê?

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A viúva de Oudomxay

O pastor Sadua Lee não queria se mudar para o norte de Laos, e apresentou muitas desculpas quando os líderes pediram que ele fosse compartilhar o evangelho em Oudomxay. Essa é uma das últimas províncias de Laos sem presença adventista. Finalmente, ele e a esposa aceitaram o chamado e se mudaram para uma casa alugada em meados do inverno. Aquele não foi um inverno típico. De acordo com os registros históricos, foi a primeira vez que a temperatura caiu para abaixo de zero. Plantas e animais morreram. A casa estava vazia, sem cama, geladeira ou cobertores. Somente um telhado, paredes e piso ofereciam a proteção para o inverno intenso. Os vizinhos simpáticos trouxeram muitos cobertores.

Porém, o clima era o que menos preocupava Sadua. Não era fácil começar a trabalhar em uma região oposta ao evangelho. Pela primeira vez na vida, ele e a esposa tiveram que realizar os cultos sem a companhia dos membros da igreja e se sentiam sozinhos. A solidão se transformou em frustração. Eles não sabiam como compartilhar o evangelho. Pouco tempo depois, as autoridades abriram uma investigação para descobrir o motivo da chegada do casal. A frustração transformou-se em medo.

Sadua telefonou para um líder da igreja em busca de auxílio. A autoridade eclesiástica não sabia o que sugerir a não ser que orasse pedindo sabedoria. “Comece uma jornada de oração e peça que o Senhor lhe mostre o que fazer”, o líder aconselhou. E foi isso que o Pastor Lee fez. Ele caminhou pelo vilarejo e orou. Ajoelhou-se em uma colina com vista para o vilarejo e conversou com Deus.

Não demorou muito, durante as tardes de sábado, ele começou a visitar os moradores locais. Durante essas visitas, soube de uma mulher que era possuída por demônios e decidiu conhecê-la. Obviamente, a mulher estava acorrentada em um pilar da casa. A mãe de cinco crianças estivera presa por dois meses, sem roupas e com a mente enfraquecida, vivendo como um cachorro. Sadua descobriu que ela passou a se comportar dessa maneira depois que o esposo morreu.

Então, pediu permissão aos anciãos do vilarejo para orar pela viúva, e a obteve. Aqueles anciãos já haviam tentado curá-la com todos os tipos de tratamentos, mas nada funcionou. Sadua colocou a mão na cabeça dela e orou. Nos dias seguintes. Continuou visitando-a para orar. Enquanto a semana passava, a mulher passou a comer e beber normalmente, e também a manter conversas curtas.

Certo dia, ela entregou o coração a Jesus e os demônios foram embora. Finalmente, o chefe do vilarejo tirou as correntes e ela recebeu roupas para vestir. Mas os membros da família temiam que os demônios voltassem. A viúva e os cinco filhos se mudaram para a casa de Sadua até que os parentes considerassem seguro que voltasse à casa. Depois de fazer o estudo bíblico, a mulher e os dois filhos mais velhos, que eram adolescentes, foram batizados. A família faz parte do primeiro grupo de adventistas na província.

A notícia sobre o que Jesus fez pela viúva de Oudomxay se espalhou por toda parte. Muitos moradores foram até Sadua pedindo ajuda e cura. Muitos abraçaram a mensagem do evangelho e aceitaram Jesus como seu Salvador pessoal. Hoje, a viúva de Oudomxay sobrevive ajudando os vizinhos a plantar arroz em troca de alimento para família. Ela não tem um terreno onde plantar, não tem emprego fixo e tem cinco filhos para alimentar. Por favor, ore em favor dela e de seus filhos.

Parte da oferta do trimestre ajudará a inaugurar uma escola em Laos. Agradecemos pelas ofertas que contribuem para espalhar o evangelho ao redor do mundo.

 

Informações adicionais

• Pronúncia de Sadua: .

• Pronúncia de Oudomxay: .

• O pastor Sadua Lee, fotografado orando pelo vilarejo, sucumbiu ao câncer em 2019, mas sua obra continua a frutificar em Laos.

• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq. • Para mais notícias do Informativo Mundial das Missões e outras informações da Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/ssd-2022.

 

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Esta história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico do “I Will Go” [Eu irei] da Igreja Adventista: objetivo missionário nº 2 – “fortalecer e diversificar o alcance dos adventistas nas grandes cidades (...) entre grupos de pessoas não-alcançadas e para religiões não cristãs”. Saiba mais sobre esse projeto em IWillGo2020.org.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º trimestre de 2022

Tema geral: Hebreus: mensagem para os últimos dias

Lição 10 – 26 de fevereiro a 4 de março de 2022

O caminho através do véu

Autor: Adriani Milli Rodrigues

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Uma das mais lindas mensagens da Epístola aos Hebreus é a ideia de que, por meio de Jesus Cristo, há um caminho que nos leva ao santuário celestial, à presença de Deus. Dizer que existe um caminho significa que temos acesso ao Pai. Considerando nossa condição de pecado e consequente indignidade diante de Deus, a mensagem de acesso é uma boa-nova, uma notícia surpreendente.

Para nos ensinar sobre o acesso, o santuário terrestre construído nos tempos de Moisés pressupõe um distanciamento real e necessário entre Deus e o ser humano pecador. Embora Deus seja onipresente em Seu infinito poder, a Bíblia também afirma o distanciamento entre o Deus santo e o ser humano pecador. Esse é distanciamento do ponto de vista moral, relacional. Mesmo no caso do estabelecimento de um relacionamento, esse necessita ser adequadamente mediado. A própria construção do santuário no deserto, que tinha como objetivo possibilitar a habitação ou presença relacional de Deus no meio do povo (Êx 25:8), estabelecia limites importantes que o povo deveria ter em vista. Ao mesmo tempo que o complexo do santuário como um todo representa a habitação de Deus, o que significa dizer que ações rituais no pátio, no lugar santo e no santíssimo são realizadas na presença de Deus, é possível observar também uma certa gradação dessa presença nesses três ambientes: (1) todos os adoradores ficavam diante de Deus no pátio; (2) apenas os sacerdotes ficavam diante de Deus no pátio e no lugar santo no contexto dos ritos diários; e (3) somente o sumo sacerdote ficava diante de Deus no lugar santíssimo no Dia da Expiação. Toda essa estrutura e essa organização ritual pressupõem um distanciamento moral entre o Deus santo e o ser humano pecador. Mas, ao mesmo tempo, elas apresentam uma ideia de caminho, isto é, de acesso a Deus por meio dos ritos do sacerdócio.

Curiosamente, essa complexa dinâmica de distância e aproximação não deve comunicar a ideia de um Deus afastado de nós. Para usarmos a linguagem de 2 Coríntios 5:19, por meio de Cristo, Deus reconcilia consigo o mundo. Assim, em primeiro lugar, o foco está na reconciliação do mundo com Deus, e não em um Deus que precisaria ser reconciliado com o mundo. É o mundo que precisa de mudança em seu relacionamento com Deus, e não o contrário. Em segundo lugar, quem toma a iniciativa da reconciliação é Deus, e não o mundo. Encontramos esse mesmo princípio na mensagem bíblica do santuário. No AT, é Deus quem solicita e orienta sobre a estrutura e a construção do santuário na Terra. Igualmente, é Deus quem solicita ofertas para o santuário e determina os rituais a ser realizados nele. O Senhor também apresenta orientações acerca dos detalhes desse processo. Além disso, é Deus quem solicita e instrui acerca da existência, seleção e consagração dos sacerdotes para oficiarem as ofertas e ritos no complexo do santuário.

Encontramos esse mesmo princípio acerca da iniciativa divina no contexto do sacerdócio de Cristo na Epístola aos Hebreus. Aliás, a própria epístola explica que o sacerdote não é alguém que tomou a iniciativa para se tornar sacerdote. De acordo com Hebreus 5:4, “ninguém toma esta honra para si mesmo, a não ser quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão.” Em outras palavras, não é o sacerdote que nomeia a si mesmo. Antes, ele deve ser chamado e nomeado por Deus. Seguindo essa linha de raciocínio, a epístola considera que esse seja exatamente o caso do sacerdócio de Cristo: “Assim, também Cristo não glorificou a Si mesmo para Se tornar Sumo Sacerdote, mas quem o glorificou foi Aquele que Lhe disse: ‘Você é Meu Filho, hoje Eu gerei Você.’ E em outro lugar também diz: ‘Você é Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.’” Portanto, foi Deus quem nomeou Cristo como Sacerdote. Não foi Cristo que nomeou a Si mesmo. As citações do Salmo 2:7 (“Você é Meu Filho, hoje Eu gerei Você”) e do Salmo 110:4 (“Você é Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”) são vistas precisamente como falas de Deus Pai para o Filho no contexto da nomeação de Cristo como Rei-Sacerdote, por ocasião de Sua ascensão. Ademais, a própria encarnação de Cristo e Seu sacrifício, que antecedem Sua exaltação celestial e constituem a base para essa exaltação, são entendidos em Hebreus como o cumprimento da vontade do Pai, na citação do Salmo 40:6-8 em Hebreus 10:5-9, onde o texto desse Salmo é colocado como a resposta verbal de Cristo à vontade do Pai: “Por isso, ao entrar no mundo, Cristo disse: ‘Sacrifício e oferta não quiseste, mas preparaste um corpo para Mim; não Te agradaste de holocaustos e ofertas pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis aqui estou! No rolo do livro está escrito a Meu respeito. Estou aqui para fazer, ó Deus, a Tua vontade’” (Hb 5:8).

Isso significa que a encarnação de Cristo, Seu sacrifício na cruz, Sua ressurreição, ascensão, exaltação, e inclusive Sua nomeação sacerdotal, são o cumprimento da vontade de Deus. Esse princípio é importante para destacar o fato de que a intercessão sacerdotal de Cristo não ocorre para mudar a mente de Deus para com a humanidade, como se Ele precisasse ser reconciliado e mudado em relação à humanidade. Antes, a intercessão sacerdotal de Cristo tem a função de cumprir a vontade de Deus para a reconciliação da humanidade com Ele. É nesse sentido que o comparecimento sacerdotal de Cristo perante o Pai em Hebreus 9:24 precisa ser entendido: “Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro Santuário, porém no próprio Céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus.” Esse comparecimento não muda a mente nem o coração de Deus para com a humanidade, mas indica que o Deus santo de quem a humanidade pecadora se afastou proporciona um caminho de aproximação por meio de Cristo.

É interessante notar, entretanto, que o comparecimento sacerdotal de Cristo diante do Pai proporciona o comparecimento de Seu povo diante de Deus. Esse conceito aparece em passagens como Hebreus 6:19, 20 (“Temos esta esperança por âncora da alma, segura e firme e que entra no santuário que fica atrás do véu, onde Jesus, como Precursor, entrou por nós, tendo-Se tornado Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”) e 10:19-22 (“Portanto, meus irmãos, tendo ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos abriu por meio do véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um grande Sacerdote sobre a casa de Deus,  aproximemo-nos com um coração sincero, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e o corpo lavado com água pura”). Note a combinação de ideias: Jesus entra no santuário como Precursor e, então, somos convidados a entrar também por meio Dele.

William G. Johnsson, no capítulo 3 (“O Santuário Celeste: figurativo ou real?,” p. 44) do livro “A Luz de Hebreus: Intercessão, Expiação e Juízo no Santuário Celestial” (Unaspress, 2009) sugere que as informações dos versos 19 e 20 de Hebreus 10 estão em paralelo: “para entrar no” (v. 19) está em paralelo com “pelo novo e vivo caminho” (v. 20); “santuário (v. 19) está em paralelo com “por meio do véu” (v. 20); e “pelo sangue de Jesus” (v. 19) está em paralelo com “isto é, pela Sua carne” (v. 20). Esses paralelos sugerem que “Sua carne” no verso 20 não tenha paralelo direto com o véu no verso 20, mas com o sangue de Jesus no verso 19, ao passo que o véu, no verso 20, está em paralelo direto com o santuário no verso 19. Assim, por meio do sacrifício de Cristo (Seu sangue e Sua carne) temos acesso ao santuário celestial. Porque Cristo entrou ali como Precursor, podemos entrar ali também em nossas orações. Embora a Epístola aos Hebreus não chame os crentes explicitamente de sacerdotes, reservando essa linguagem exclusivamente para Cristo, provavelmente por sua forte ênfase na singularidade de Seu sacerdócio celestial, a linguagem de que os crentes devem entrar no santuário implicitamente os considera sacerdotes, em sentido secundário e dependente do sacerdócio singular de Cristo.

Em outras palavras, com base no sacerdócio único de Cristo, nos tornamos sacerdotes no sentido geral de termos acesso à presença de Deus no santuário. A dependência do sacerdócio de Cristo para isso indica que esse acesso não é fundamentado na nossa própria dignidade, mas na perfeita dignidade de Cristo Jesus. Enquanto nas seções de exposição doutrinária, Hebreus elabora o sacerdócio singular de Cristo, nas seções de exortação pastoral, onde as passagens de 6:19, 20 e 10:19-22 se situam, o implícito sacerdócio dos crentes é enfatizado em termos de acesso a Deus no santuário e com base no sacerdócio de Cristo. Que privilégio temos de poder trilhar esse caminho através do véu!

Conheça o autor dos comentários para a Lição deste trimestre: Adriani Milli Rodrigues é o coordenador da graduação em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo. Possui doutorado (Ph.D) em Teologia Sistemática na Andrews University (EUA) e mestrado em Ciências da Religião pela Umesp. Natural do Espírito Santo, ele trabalha no Unasp desde 2007. É casado com a professora Ellen e tem uma filha, a Sarah, de 7 anos.