Ao lermos as páginas do livro de Josué, somos confrontados com as campanhas militares bastante intensas realizadas sob o comando de Deus, em nome Dele e com o Seu auxílio. A ideia de que o Senhor estava por trás da conquista de Canaã permeia o livro de Josué e é expressa nas afirmações do narrador (Js 10:10, 11), nas próprias palavras de Deus (Js 6:2; 8:1), nos discursos de Josué (Js 4:23, 24; 8:7), por Raabe (Js 2:10), pelos espias (Js 2:24) e pelo povo de Israel (Js 24:18). Deus afirma que quem iniciou esses conflitos violentos foi Ele próprio.
Essa realidade levanta perguntas inevitáveis. Como podemos entender que o povo escolhido de Deus realizou tais práticas nos tempos do AT? Como é possível harmonizar a imagem de um Deus “guerreiro” com Seu caráter de amor (Êx 34:6; Sl 86:15; 103:8; 108:4) sem diluir a credibilidade, autoridade e historicidade do AT?
Nesta semana e na próxima, vamos explorar a difícil questão das guerras ordenadas por Deus, conforme descritas em Josué e em outros livros bíblicos.
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1. Leia Josué 5:13-15. O que esse texto diz sobre o contexto da conquista de Canaã?
Israel havia acabado de cruzar o rio Jordão e pisar no território do inimigo. Diante deles estava a fortaleza de Jericó, com seus portões completamente fechados (Js 6:1). Naquele momento, o povo não tinha conhecimento de nenhuma estratégia de guerra. Mais preocupante ainda era o fato de que Israel contava apenas com armas rudimentares como fundas, lanças e flechas para enfrentar uma cidade fortificada, preparada para resistir a um longo cerco.
As perguntas de Josué sobre a identidade do estranho visitante receberam uma resposta um tanto enigmática: “Não sou nem uma coisa nem outra” (Js 5:14). A resposta do visitante revela que Ele não estava disposto a Se encaixar nas categorias definidas por Josué. Em outras palavras, a verdadeira questão não era se Ele estava do lado de Josué, e sim se Josué estava do lado Dele.
2. Compare Josué 5:14, 15 com 2 Reis 6:8-17; Neemias 9:6 e Isaías 37:16. Quem é o Príncipe do exército do Senhor?
Embora a expressão “príncipe do exército do Senhor” (Js 5:14, NAA) ou “comandante do exército do Senhor” (NVI) ocorra somente nessa passagem do AT, a combinação dos termos “príncipe” e “exército” sempre se refere a um líder militar. Nas Escrituras, a palavra “exército” pode se referir a tropas militares, aos anjos ou aos corpos celestes.
O Cristo pré-encarnado apareceu a Josué não apenas como um aliado, não somente como o verdadeiro Comandante do exército de Israel, mas como o Comandante do exército invisível, mas real, de anjos que estão envolvidos em um conflito muito maior do que o de Josué com os cananeus. A resposta de Josué indica claramente sua compreensão da identidade do Príncipe do exército. Ele é igual a Deus, e, por isso, Josué se prostrou diante Dele como sinal de profundo respeito e adoração (Js 5:14; ver Gn 17:3; 2Sm 9:6; 2Cr 20:18). Josué estava pronto para receber a estratégia de batalha para uma campanha militar que era parte integrante de um conflito muito maior no qual o próprio Senhor dos Exércitos estava envolvido.
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3. Josué entendeu que aquela batalha era parte de um conflito muito maior. O que sabemos sobre o grande conflito no qual o próprio Deus está envolvido? Ap 12:7-9; Is 14:12-14; Ez 28:11-19; Dn 10:12-14
Deus povoou o Universo com criaturas responsáveis a quem deu o livre-arbítrio, um requisito indispensável para que exista o amor. Essas criaturas podem escolher agir de acordo com a vontade de Deus ou contra ela. O anjo mais poderoso, Lúcifer, rebelou-se contra Deus e levou consigo muitos anjos.
Isaías e Ezequiel se referem à origem desse conflito, embora alguns estudiosos tentem restringir o significado de Isaías 14 e Ezequiel 28 ao rei de Babilônia e a um governante de Tiro. No entanto, existem vários indicadores claros no texto bíblico que apontam para uma realidade que vai muito além disso. É dito que o rei de Babilônia estava no “céu”, perto do trono de Deus (Is 14:12, 13), e que o rei de Tiro morava no “Éden”, como “querubim da guarda” no “monte santo de Deus” (Ez 28:12-15). Nada disso é verdade sobre esses reis.
Tampouco se pode dizer que algum rei terreno fosse “perfeito nos seus caminhos” (Ez 28:15) e fosse “modelo da perfeição” (Ez 28:12). Consequentemente, esses personagens apontam para além dos reinos literais de Babilônia e de Tiro.
Isaías apresenta uma “sátira” (Is 14:4) ou “parábola” (em hebraico, mashal), que transmite um significado que vai além do contexto histórico imediato. Nesse caso, o rei da Babilônia se torna um exemplo notável de rebelião, autossuficiência e orgulho. Da mesma forma, Ezequiel faz uma distinção entre o governante de Tiro (Ez 28:2) e o rei de Tiro (Ez 28:11, 12), onde o príncipe, que estava ativo no domínio terrestre, se tornava símbolo de um rei que atua no domínio celestial.
De acordo com Daniel 10:12-14, esses seres celestiais rebeldes tentam impedir o cumprimento dos propósitos de Deus na Terra. É à luz dessa conexão entre o Céu e a Terra que precisamos entender as guerras de Israel ordenadas por Deus. Elas eram manifestações terrenas do grande conflito entre Deus e Satanás, entre o bem e o mal – tudo, em última análise, com o propósito de restaurar a justiça e o amor de Deus em um mundo caído.
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4. Leia Êxodo 2:23-25; 12:12, 13; 15:3-11. O que significa dizer que Deus é um guerreiro?
Durante sua longa permanência no Egito, os israelitas se esqueceram do verdadeiro Deus, adorado por seus antepassados. Como muitos episódios de suas viagens pelo deserto demonstraram, o conhecimento que eles tinham do Deus de Abraão, Isaque e Jacó desapareceu, e acabaram misturando elementos pagãos em suas práticas religiosas (ver Êx 32:1-4). Sob a opressão dos egípcios, eles clamaram ao Senhor (Êx 2:23-25), e no momento certo, Ele interveio em seu favor.
No entanto, o conflito descrito nos primeiros 12 capítulos de Êxodo foi maior do que uma simples luta pelo poder entre Moisés e o faraó. De acordo com o entendimento sobre guerra que havia no Antigo Oriente Próximo, os conflitos entre os povos eram, em última análise, considerados batalhas entre seus respectivos deuses. Êxodo 12:12 declara que o Senhor executou juízo, não apenas sobre o faraó, mas também sobre todos os deuses do Egito, que, na verdade, eram “demônios” poderosos (Lv 17:7; Dt 32:17), atuando por trás do poder opressivo e do sistema social injusto do Egito.
Em última análise, Deus está em guerra contra o pecado e não tolerará para sempre a existência dele (Sl 24:8; Ap 19:11; 20:1-4, 14). Todos os anjos caídos, bem como os seres humanos que se identificaram de forma definitiva e irremediável com o pecado, serão destruídos. À luz disso, as batalhas contra os habitantes de Canaã devem ser vistas como um estágio anterior desse conflito, que atingiria seu auge na cruz e sua consumação no juízo final, quando a justiça e o caráter de amor divino serão vindicados.
O conceito da destruição total dos cananeus deve ser entendido com base na visão bíblica de mundo, segundo a qual Deus está envolvido em um conflito cósmico contra os agentes do mal no Universo. O que está em jogo, em última análise, é a reputação de Deus e Seu caráter (Rm 3:4; Ap 15:3).
Uma vez que o pecado entrou na existência humana, não há terreno neutro: todos estão do lado de Deus ou do lado do mal. Portanto, à luz dessa realidade, a eliminação dos cananeus deve ser vista como uma prévia do juízo final.
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5. De acordo com Êxodo 14:13, 14, 25, qual era o plano original e ideal de Deus a respeito do envolvimento dos israelitas na guerra?
Naquele momento de crise, quando o povo de Israel foi forçado a um impasse físico, Moisés disse: “Não tenham medo; fiquem firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes fará no dia de hoje, porque vocês nunca mais verão esses egípcios que hoje vocês estão vendo. O Senhor lutará por vocês; fiquem calmos” (Êx 14:13, 14). De acordo com a narrativa bíblica, até os próprios egípcios reconheceram essa realidade: “Vamos fugir da presença de Israel, porque o Senhor está lutando por eles contra os egípcios” (Êx 14:25).
A intervenção milagrosa de Deus em favor dos israelitas desamparados, que não tinham habilidades militares, deveria ter se tornado o padrão. O êxodo era o modelo ou paradigma para a intervenção de Deus em favor de Israel. Nele não somente a batalha foi travada por Yahweh, mas Deus pediu que Israel não lutasse (Êx 14:14). Deus era o guerreiro; a iniciativa pertencia a Ele. O Senhor estabeleceu a estratégia, definiu os meios e conduziu a campanha. Se Yahweh não lutasse por Israel, eles não teriam possibilidade de sucesso.
Ellen G. White interpretou essa história como uma expressão do fato de que Deus “não planejou que eles adquirissem a Terra Prometida por meio da guerra, mas pela submissão e obediência incondicional aos Seus mandamentos” (Signs of the Times, 2 de setembro de 1880). Assim como na libertação do Egito, Deus travaria as batalhas dos israelitas por eles. Tudo o que tinham que fazer era ficar calmos e testemunhar Sua poderosa intervenção.
A história revela que sempre que Israel tinha confiança suficiente em Deus, eles não precisavam lutar (ver 2Rs 19; 2Cr 32; Is 37).
No plano ideal de Deus, Israel nunca precisaria lutar por si mesmo. Foi somente como consequência de sua incredulidade, expressa após o êxodo, que Deus permitiu que eles participassem ativamente na guerra contra os cananeus. Eles não precisaram levantar uma única espada contra os egípcios durante o êxodo; da mesma forma, nunca teria sido necessário que lutassem para conquistar Canaã (Dt 7:17-19).
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6. Leia Êxodo 17:7-13; Josué 6:15-20. Que similaridades você encontra entre essas duas narrativas de guerra? E quais são as diferenças?
A primeira vez que Israel lutou após a saída do Egito está registrada em Êxodo 17, quando os israelitas se defenderam dos amalequitas. Eles haviam testemunhado o poder de Deus atingindo os egípcios e conduzindo-os à liberdade. Vimos que o plano inicial de Deus para Israel não incluía lutar contra outras pessoas (Êx 23:28; 33:2). Mas logo após sua libertação do Egito, os israelitas começaram a murmurar no caminho (Êx 17:3), chegando a questionar a presença de Deus em seu meio. Foi naquele momento que os amalequitas lutaram contra Israel. Isso não aconteceu por acaso. Deus permitiu que eles atacassem os israelitas para que pudessem aprender a confiar Nele novamente.
Sem comprometer Seus princípios, Deus desceu ao nível onde Seu povo estava, continuamente chamando-o de volta ao plano ideal: confiança completa e irrestrita na intervenção divina. Na verdade, a lei da guerra (Dt 20) foi dada somente após os 40 anos de travessia pelo deserto, o que também foi causado pela incredulidade de Israel. Novas circunstâncias exigiram novas estratégias, e foi somente então que Deus exigiu que Israel aniquilasse completamente os cananeus (Dt 20:16-18).
Além da realidade de que a guerra se tornou uma necessidade para Israel, ela também se tornou um teste da lealdade do povo a Yahweh. Deus não desistiu deles, mas permitiu que testemunhassem Seu poder ao experimentar total dependência Dele.
A participação dos israelitas na conquista fica evidente a partir da conclusão expressa por Josué no fim do livro. Nesse texto, ele afirmou que os cananeus estavam lutando contra os israelitas (Js 24:11). Embora o colapso dos muros de Jericó tenha sido o resultado de um milagre divino, o povo de Israel teve que se envolver ativamente na batalha e enfrentar a resistência obstinada dos habitantes da cidade.
O envolvimento de Israel em conflitos armados tornou-se a maneira pelo qual o povo desenvolvia confiança incondicional no auxílio de Yahweh. Ainda assim, Israel era sempre lembrado de que o resultado de cada batalha estava, em última análise, nas mãos do Senhor. A única maneira de influenciar o resultado de um conflito militar era por meio da atitude de fé – ou de incredulidade – nas promessas de Deus (Js 7:12, 13; 10:8). A escolha era deles.
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Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 426-430 (“As muralhas de Jericó”).
Quando a rebelião [...] surgiu, Deus Se viu com duas opções: ou abdicaria de Sua essência – imutável e eterna –, entregando o Universo a uma criatura rebelde, ou seria o Pai justo e amoroso de todas as criaturas. Deus escolheu a segunda opção, e, nesse caso, o choque entre Seu poder e as forças do mal era inevitável.
Quando poderes políticos ou sócio-históricos (como os povos de Canaã) ligados a forças cósmicas de caos e rebelião manifestaram a mesma atitude desafiadora contra Yahweh, Ele interveio. O tema de Yahweh como Guerreiro é uma prefiguração ou antecipação da vitória que dará fim ao conflito cósmico entre o bem e o mal (Ap 20:8-10). Além disso, as guerras divinas de Israel não apenas refletem o conflito cósmico (como um espelho), mas fazem parte desse conflito, servindo como prenúncio do juízo divino que ocorrerá no fim dos tempos.
“Deus havia lhes dado o privilégio e o dever de entrar na terra de Canaã no tempo designado por Ele; porém, por causa de sua desobediência, essa permissão tinha sido negada. [...] Não era Seu propósito que adquirissem a terra pela guerra, mas pela obediência estrita às Suas ordens” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 337).
Perguntas para consideração
1. Como o contexto do conflito cósmico nos ajuda a entender melhor o fato de que o Senhor ordenou que Israel fosse à guerra?
2. Como o grande conflito se desenrola no mundo? Qual é o nosso papel nesse conflito e como podemos cumpri-lo?
3. Como podemos aplicar em nossa vida espiritual o princípio de que devemos ficar calmos e esperar que o Senhor lute por nós? (Ver Êx 14:14.)
4. Muitas vezes, em nossas discussões e desentendimentos ocasionais na igreja, queremos saber quem está do nosso lado. À luz de Josué 5:13-15, como devemos mudar nossa atitude?
Respostas às perguntas da semana: 1. A conquista de Canaã não foi apenas uma guerra humana, mas uma batalha espiritual. Josué encontrou um Comandante celestial, indicando que Deus lideraria a campanha. 2. O “Príncipe do exército do Senhor” é um ser divino, o Anjo do Senhor (o Cristo pré-encarnado), o Arcanjo Miguel (Dn 10:13), que luta por Israel. 3. O grande conflito é a luta entre Deus e Satanás, que começou com a rebelião de Lúcifer e se estende às batalhas terrestres. Seu clímax é a vitória final de Cristo. 4. Significa que Ele luta por Seu povo, julgando os opressores (Egito) e defendendo os fiéis. Não é violência arbitrária, mas justiça divina em ação. 5. O plano de Deus era que os israelitas não lutassem. Ele mesmo pelejaria por eles. A vitória viria pela fé, não pela força humana. 6. Similaridades: a vitória vem pela obediência e dependência de Deus, não por estratégia militar. Moisés ergueu as mãos e Israel marchou em silêncio. Diferenças: a batalha é ativa (contra os amalequitas); ou é simbólica (cerco e trombetas). Em ambos os casos, porém, Deus dá a vitória.
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TEXTO-CHAVE: Js 10:14
FOCO DO ESTUDO: Js 5:13-15; Is 37:16; Ap 12:7-9; Dt 32:17; Êx 14:13, 14; Js 6:15-20
ESBOÇO
Introdução: Não resta dúvidas de que o livro de Josué também é um livro de guerra. Porém, o envolvimento direto de Deus na conquista de Canaã alterou profundamente a natureza desse confl ito, frequentemente referido como “guerra santa”. Para aqueles que vivenciaram os horrores da guerra, entretanto, a junção dos termos “guerra” e “santa” poderia ser particularmente perturbadora. Para muitos cristãos, no entanto, pior ainda é a caracterização de Deus como um guerreiro que não apenas ordenou que Israel avançasse contra os cananeus e outros povos, mas também lutou por eles. Nesta semana, abordaremos esse tópico sensível e tenso.
O estudo desse tema seguiu uma abordagem em duas etapas. A primeira etapa está relacionada à cosmovisão, que funciona como a lente por meio da qual interpretamos os dados bíblicos. A segunda etapa consiste em uma análise detalhada dos próprios dados bíblicos, levando em conta a linguagem utilizada, seus aspectos literários e o contexto histórico. Nesta semana, o foco foi a primeira etapa da abordagem. O grande conflito entre o bem e o mal, que começou com a rebelião de Lúcifer no Céu, é um aspecto indispensável da cosmovisão adequada para lidar com essa questão complicada. O envolvimento de Deus nas guerras de Josué pode ser corretamente compreendido apenas à luz de Sua participação no conflito mais amplo. A compreensão correta do grande conflito impacta todas as doutrinas bíblicas. Não é exagero afirmar que o grande conflito é a lente adventista mais apropriada para interpretar essa questão e as Escrituras como um todo. De fato, a Bíblia nos encoraja a empregar essa lente desde o princípio.
COMENTÁRIO
O grande conflito como estrutura teológica das Escrituras e do adventismo
Uma compreensão limitada da meta narrativa do conflito cósmico inevitavelmente prejudica a capacidade do intérprete bíblico de compreender tanto o conceito de guerra santa no livro de Josué quanto o panorama geral das Escrituras. Uma percepção inadequada dessa cosmovisão impacta quase todas as doutrinas bíblicas. De fato, apenas “uma compreensão do conflito cósmico fornece aos cristãos uma cosmovisão da história que é tanto racional quanto coerente” (“O Grande Conflito”, em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia [CPB, 2012], p. 1098).
O significado dessa cosmovisão é evidente em como o grande conflito molda o sistema de crenças da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Como veremos, as 28 crenças da igreja podem ser categorizadas em seis doutrinas. Abaixo, veja um breve resumo de como a cosmovisão do grande conflito influencia essas crenças.
Deus
Ao lidar com o mal, Deus não está apenas abordando a condição humana, mas também demonstrando Sua justiça a toda a vasta criação nos mundos não afetados pelo pecado (1Co 4:9). No cerne do grande conflito está a “teodiceia”. Por meio de uma limitação temporária e autoimposta, Deus permite que o mal se manifeste até certo ponto, a fim de revelar seu verdadeiro caráter, permitindo que Sua criação o compreenda em sua plena realidade. Dessa forma, eles podem perceber o amor e a justiça de Deus ao abordar determinada crise dentro do grande conflito. Qualquer leitura das Escrituras sem essa percepção produzirá uma visão distorcida do caráter de Deus, seja em relação à Sua capacidade ou disposição de acabar com o mal. Por essa razão, o anúncio divino sobre a destruição dos cananeus, 400 anos antes de Josué, deve ser visto nesse contexto (Gn 15:13-15). Deus permitiu que o mal na terra se desenvolvesse até um limite determinado. Nesse contexto, Ele não estava simplesmente dando a terra a Israel, mas julgando o pecado persistente dessas nações, expulsando-as da terra (Lv 18:24, 25).
Raça humana
Deus criou os humanos à Sua imagem e semelhança. A imortalidade foi condicionada à sua lealdade, baseada no seu livre-arbítrio para aderir ao seu papel como corregentes do Criador (Gn 1:27; Gn 2:15-17). A rebelião iniciada no Céu foi transferida para a Terra quando o primeiro casal escolheu se aliar a Satanás desobedecendo a um mandamento claro e direto de Deus (Gn 3). Como resultado, morte, decadência e sofrimento entraram em um ambiente outrora perfeito. Daquele momento em diante, os humanos nasceram com a propensão ao mal (Rm 3:23), o que, sem a intervenção de Deus, levaria este mundo a um estado de caos sem fim (Rm 8:22). Devido à natureza santa e amorosa de Deus, Ele não pode permanecer indiferente ao pecado e à inclinação humana para o mal (Hc 1:13). Por isso, como um Juiz justo, Ele intervém para interromper a espiral destrutiva do pecado (Ap 20:14). A conquista de Canaã e a destruição daqueles que escolheram permanecer nesse ciclo vicioso refletem o propósito divino de eliminar o mal.
Salvação
O surgimento do conflito cósmico não pegou Deus desprevenido. Um plano de redenção já havia sido estabelecido na comunhão eterna da Trindade (1Pe 1:20). No centro desse plano está a morte expiatória de Jesus e Seu ministério no santuário celestial (Hb 9:11-28). Por meio de Jesus, a humanidade recebe uma nova chance e, com Seu poder, pode triunfar sobre o pecado (Cl 2:13). Na cruz, Ele pagou o preço de morrer em nosso lugar; em Seu ministério celestial, Ele torna Seus méritos disponíveis a todas as pessoas. À luz do que Jesus fez, ninguém está além da capacidade de Deus de restaurar, mesmo em Canaã, como a história de Raabe e os gibeonitas revela.
A igreja
Em virtude do sacrifício de Jesus na cruz e Seu ministério subsequente no santuário celestial, uma nova criação emerge. Essa nova comunidade de crentes é encorajada a se reunir, sob a liderança do Salvador ressurreto, na igreja (ekklesia), também conhecida como o corpo de Cristo (Mt 16:18; 1Co 12:27). A igreja foi comissionada a proclamar o evangelho eterno (Ap 14:6), no contexto de todo o conselho de Deus (At 20:27), e a reunir pessoas de todas as nações em sua comunhão (Mt 28:18-20). No desfecho escatológico da grande controvérsia na Terra, a igreja desempenha um papel essencial no plano divino, razão pela qual tem sido intensamente atacada por Satanás. No entanto, Deus sempre preservou um remanescente fiel, que no fim será capacitado pelo Espírito Santo para proclamar o último convite da graça para a humanidade. Assim como o Israel militante foi vitorioso no passado, a igreja militante, sob a liderança do novo Josué, ou seja, Jesus, triunfará no final.
Vida diária
O conflito cósmico é a narrativa que dá forma à nossa vida, influenciando todos os aspectos, desde a maneira como administramos nossas finanças até como nos relacionamos com os outros e tomamos decisões pessoais. Como parte do corpo de Cristo, somos chamados a seguir o exemplo de Jesus, vivendo como discípulos fiéis, com uma entrega total e obediência a Deus (Ap 14:12). Embora a salvação não seja conquistada por meio da obediência à lei de Deus, alinhar-nos aos princípios morais de Sua lei serve como evidência de nossa nova experiência de salvação em Cristo. A obediência aos mandamentos divinos, especialmente a observância do sétimo dia como o sábado, como um ato de adoração estará no centro da controvérsia durante os momentos finais desta guerra cósmica na Terra (Ap 12–13). Da mesma forma, na Terra Prometida, os israelitas foram chamados a viver em santidade diante do Senhor, experimentando os resultados positivos da obediência como uma nação de sacerdotes.
Eventos dos últimos dias
Finalmente, o impacto da visão de mundo do grande conflito é ainda mais substancial na doutrina dos eventos dos últimos dias. O tempo do fim começa após o fim do período profético de 2.300 dias e abre caminho para o juízo divino em três fases.
A primeira fase, também conhecida como juízo pré-advento, começou em 22 de outubro de 1844, quando a restauração/purificação do santuário celestial começou (Dn 8:14). Ela se estende até a segunda vinda de Jesus, que abre a segunda fase judicial, também conhecida como juízo de comprovação, no qual os redimidos participarão durante sua estadia de 1.000 anos no Céu (Ap 20:4-6). No fim desse período, o juízo executivo encerra o conflito cósmico com a destruição de Satanás, seus anjos e todos os pecadores impenitentes (Ap 20:11-14).
O que se espera em cada fase? A teodiceia. A teodiceia é a preocupação de Deus em demonstrar Seu amor e justiça ao erradicar o mal do Universo. No juízo pré-advento, Ele revela Sua justiça e amor aos mundos não caídos, salvando Seu povo e condenando o chifre pequeno e seus seguidores. No juízo de comprovação, Deus manifesta o mesmo amor e justiça aos redimidos quando eles compreendem, por meio dos registros celestiais, os motivos pelos quais algumas pessoas foram salvas e outras perdidas. Finalmente, no juízo executivo, no fim do milênio, até mesmo Satanás, os anjos caídos e os perdidos se ajoelharão em reconhecimento de que Deus é justo (Rm 14:11). Esse grupo inclui todos os cananeus que, como os outros perdidos, se recusaram a aceitar a graça de Deus.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
A batalha espiritual atual
Em muitas situações, a natureza espiritual das batalhas de Israel se torna aparente por causa do envolvimento direto de Deus. Reflita atentamente sobre os incidentes abaixo e considere como eles podem ensinar aos cristãos de hoje sobre a natureza da guerra espiritual e as formas pelas quais podemos alcançar a vitória. Observe com atenção a interação entre as ações humanas e divinas.
Juízes 7. Gideão derrota os midianitas com apenas 300 homens após dispensar 32.000 soldados. O exército restante derrotou o grande exército dos midianitas quebrando jarros e tocando trombetas.
2 Reis 6:24–7:20. Enquanto os habitantes famintos de dentro das muralhas de Samaria não tinham ideia de que os acontecimentos se voltaram repentinamente a seu favor, quatro leprosos exploravam o acampamento deserto do vasto exército arameu, que abandonou sua posição apressadamente, deixando tudo para trás em total desordem.
Isaías 36–38. Sob pressão esmagadora, o rei Ezequias buscou o Senhor e o profeta Isaías para obter ajuda. O exército de 185.000 homens de Senaqueribe, o rei assírio, foi a maior ameaça que Jerusalém já enfrentou. Nessa crise existencial, Deus interveio milagrosamente para salvar a cidade indefesa.
1. Agora, compare esses relatos acima com a descrição da última batalha da história humana, descrita por João no Apocalipse. O que essas narrativas têm em comum?
2. Como as batalhas de Israel fortalecem sua fé em relação ao resultado do conflito cósmico em Apocalipse?
Leia Apocalipse 20:7 a 15. Em um confronto final, Satanás levanta um grande exército para lançar seu último ataque contra Deus e os redimidos dentro da Nova Jerusalém.
Como essa última batalha encerra a guerra por trás de todas as guerras?
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Um estranho em um barco
Brasil | Jamilly
Jamilly ficou um pouco assustada quando um estranho apareceu do lado de fora de sua casa e gritou: “Olá!”.
Não era comum que estranhos viessem à sua casa. Era incomum que estranhos fossem a qualquer casa da remota aldeia no rio Amazonas, Brasil.
A mãe e o pai não estavam. Jamilly, que tinha vinte anos de idade, estava em casa com seu irmão de quatro anos.
O estranho se apresentou como pastor Cassi, da Igreja Adventista do Sétimo Dia e perguntou a Jamilly sobre sua vida.
“Como está o seu relacionamento com seus pais?”, disse ele.
“Não é bom”, respondeu Jamilly.
Eles conversaram mais um pouco, e Jamilly relaxou. Seus medos desapareceram e ela chorou. Ela disse que gostaria de ter um relacionamento melhor com seus pais.
Então, o pastor Cassi disse: “Você gostaria de fazer parte da igreja que flutua? Gostaria de vir às nossas reuniões?”
Jamilly tinha visto o grande barco branco chegar à sua aldeia. Ela pensou que o barco estivesse levando médicos e enfermeiras que ofereciam tratamento médico gratuito de outra denominação cristã.
Mas agora ela percebia que era a casa do pastor Cassi e sua equipe, e que continha uma Igreja Adventista do Sétimo Dia. O pastor Cassi ia de casa em casa para fazer amizade com as pessoas e para convidá-las para as reuniões no barco.
Jamilly concordou em ir à igreja que flutua. Então ela começou a chorar novamente. Ela se lembrou do conturbado relacionamento com os pais, que haviam se divorciado dois anos antes.
O pastor Cassi ouviu sua história e ofereceu algumas palavras de conforto, encorajamento e esperança.
Jamilly chorou mais um pouco, e o pastor sugeriu que orassem juntos.
A partir daquele dia, Jamilly começou a orar por seus pais. Ela também ia à igreja flutuante todas as noites. Ela gostava de ouvir as palestras sobre relacionamento familiar, saúde e a Bíblia.
Jamilly convidou a mãe para acompanhá-la, e ela aceitou.
Após cerca de um mês, Jamilly entregou seu coração a Jesus por meio do batismo. Foi o melhor dia de sua vida! Ela e seus pecados foram submersos nas águas do rio Amazonas, e ela emergiu como uma criança renascida de Cristo. Vários outros moradores da aldeia também foram batizados naquele dia.
Após os batismos, as reuniões saíram da igreja flutuante para um prédio da Igreja Adventista recém-construída no vilarejo. Os trabalhadores da construção civil haviam construído a igreja enquanto Jamilly e outros moradores estavam participando das reuniões no barco.
Jamilly foi à nova igreja para os cultos de adoração no sábado. Ela ia às reuniões de oração no domingo e quarta-feira à noite. Participava de um programa de treinamento de discipulado que ensinava todos os membros da igreja a compartilhar com os outros o que Jesus havia feito por eles.
Mas o relacionamento de Jamilly com seus pais não parecida melhorar. A mãe parou de ir à igreja depois que o barco partiu. O pai não ia de forma alguma. As tensões aumentaram, mas Jamilly continuou orando.
Então, um dia, o pai visitou a igreja adventista da aldeia. Jamilly estava viajando e longe de casa quando recebeu a notícia. Um amigo ligou e lhe contou pelo celular. Jamilly ficou tão animada que deu pulos! Ela sabia que Deus estava ouvindo suas orações. Ela sabia que Deus levaria sua família até Ele.
Um ano se passou desde o batismo de Jamilly, e ela está se preparando para se tornar uma missionária voluntária no Um Ano em Missão, um programa da igreja em que os jovens dedicam um ano de suas vidas ao trabalho missionário. Assim como o pastor Cassi foi à aldeia dela para compartilhar o evangelho, ela deseja levar o evangelho a outras pessoas no Brasil e em outros países.
“Não desista de seus sonhos de servir ao Senhor”, disse ela.
A igreja flutuante está levando esperança para as pessoas no rio Amazonas depois de ser adquirida com a ajuda das ofertas trimestrais de 2016, também conhecida como oferta para projetos missionários. Muito obrigado por apoiar os projetos do Décimo Terceiro Sábado deste trimestre no Brasil e no Chile com suas orações e doações. Juntos, podemos compartilhar a esperança do breve retorno de Jesus.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
• Mostre a América do Sul e o Brasil no mapa. Em seguida, mostre Manaus, o porto de origem da igreja flutuante quando não está levando o evangelho às pessoas nos rios Amazonas e Negro.
• Assista a um vídeo curto no YouTube sobre Jamilly e a igreja flutuante em: bit.ly/Jamilly-SAD.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina de Adultos
4º trimestre de 2025
Tema geral: Lições de Fé no Livro de Josué
Lição 4 – de 18 a 24 de outubro de 2025
O conflito por trás de todos os conflitos
Autor: Volney da Silva Ribeiro
Editoração: Fernando Dias de Souza
Revisão: Rosemara Franco Santos
Vitória que vem do Senhor
A narrativa bíblica ressalta que o Senhor lutou por Seu povo, evidenciando que a conquista de Canaã aconteceu em cumprimento da promessa feita a Abraão, não por mérito humano. Os habitantes daquela terra haviam atingido o limite de sua iniquidade com idolatria, sacrifícios humanos e corrupções diversas. Durante séculos, Deus conteve Sua poderosa mão até que, no tempo determinado, designou Israel como instrumento de Seu juízo.
Cada etapa da conquista exigia fé, a começar na marcha silenciosa ao redor das muralhas de Jericó, com a certeza da vitória pela mão de Deus. O Senhor manifestou-Se como o Soberano da história, intervindo para cumprir Seu plano de salvação. Foi Ele quem lutou, abriu o caminho e entregou as nações nas mãos de Israel.
O Comandante celestial
O encontro de Josué com o “Príncipe do exército do Senhor” (Js 5:13-15) marca a transição entre o período de preparo e o início da conquista de Canaã. O gesto de tirar as sandálias revela que se tratava de uma teofania, similar à experiência de Moisés ante a sarça ardente (Êx 3:5). Essa continuidade demonstra que o mesmo Deus que guiara Moisés confirmava a liderança de Josué. A presença do Príncipe nesse momento sinalizava que a conquista da terra começaria sob a direção direta do verdadeiro Comandante. As vitórias, anteriores e subsequentes, foram e seriam sempre resultado da intervenção divina.
Na Bíblia, a figura do “Príncipe do exército” conecta-se a Miguel, descrito como o defensor do povo de Deus (Dn 10:13, 21; 12:1). Miguel é o próprio Cristo, que lidera as hostes celestiais em favor de Seu povo. Josué reconheceu a identidade divina de seu interlocutor ao prostrar-se para adorá-Lo: ato inadequado diante de um anjo comum (Ap 19:10). Como Comandante supremo, Cristo revelou que a conquista da terra integrava um plano superior: a preservação da linhagem messiânica e do propósito eterno de redenção.
Conflito cósmico
O relato das batalhas de Josué reflete a dimensão cósmica do grande conflito entre Deus e Satanás, iniciado quando um dos mais elevados anjos, arrastando consigo outros seres celestiais, se rebelou contra a autoridade divina. Textos bíblicos como Isaías 14 e Ezequiel 28 retratam figuras que, embora vinculadas a reis humanos, revelam uma realidade espiritual mais profunda: a soberba e a autossuficiência de Lúcifer, um querubim da guarda, sua posição no monte santo de Deus e a perfeição perdida, características que são incompatíveis com governantes terrenos.
Daniel 10 revela a persistência dos anjos rebeldes em frustrar os propósitos divinos, indicando que o conflito na história humana é uma extensão visível da guerra celestial. As campanhas de Israel em Canaã manifestaram tangivelmente o combate entre o bem e o mal, em que Deus atua decisivamente para cumprir Seus propósitos. Cada vitória terrena reflete a supremacia da justiça divina nos Céus.
A justiça e o amor de Deus
O conceito de Deus como guerreiro manifesta-se na Bíblia como expressão de Sua justiça e defesa da verdade perante a corrupção e o pecado. A intervenção do Senhor no Egito representa um confronto contra os poderes espirituais que atuavam por trás do sistema opressor. O caráter divino une amor e justiça: Ele não ignora a injustiça nem tolera a persistência do pecado, e as ações divinas em favor do Seu povo constituem etapas de um conflito cósmico que visa restaurar Sua reputação, preservar Seu povo e revelar a santidade do Seu governo. Assim, a guerra do Senhor ocorre contra o pecado e seus agentes, visíveis e invisíveis, e cada vitória ou juízo divino na história antecipa o desfecho, quando a justiça e o amor de Deus se manifestarão em plenitude.
Tal entendimento revela a seriedade do livre-arbítrio concedido às criaturas: a fidelidade ou a rebeldia de cada ser tem consequências eternas, e a escolha entre o bem e o mal é definitiva. As batalhas terrenas de Israel funcionam como representações de uma dimensão espiritual transcendente, evidenciando que a história humana integra o drama cósmico do grande conflito. Cada ação divina como guerreiro demonstra que Ele combate o mal, protege e guia aqueles que se submetem à Sua vontade, reforçando a importância da obediência e da confiança na intervenção divina na jornada humana.
Poder de Deus em ação
O plano de Deus para Israel era que o povo confiasse Nele e permitisse que Ele conduzisse sozinho a batalha. Isso provaria que a vitória não depende do esforço humano, mas da soberania divina. Ao se deparar com o exército egípcio, a instrução para permanecer firme e observar o livramento divino (Êx 14:13, 14, 25) revela a dimensão cósmica do grande conflito: além de um confronto militar, tratava-se da demonstração da supremacia divina sobre os poderes do mal. As vitórias no Êxodo e em episódios posteriores, quando o povo foi protegido sem precisar lutar (2Rs 19; 2Cr 32; Is 37), demonstram que o poder divino supera qualquer desafio terreno, e que a obediência e a fé inabalável são instrumentos pelos quais os seres humanos participam do plano divino.
Esse episódio também ilumina um princípio do grande conflito entre Cristo e Satanás: Deus intervém em favor daqueles que confiam plenamente Nele. No plano ideal, Ele é o verdadeiro guerreiro, e Sua força garante a vitória sobre o mal, demonstrando Sua justiça e amor em ação. Para o povo de Deus, a submissão incondicional e a confiança total na liderança celestial asseguram proteção e constituem expressão da fé viva, testemunhando o governo divino e a realização do propósito redentor no mundo.
Fé durante as batalhas
As narrativas de Êxodo 17 e Josué 6 mostram uma progressão no relacionamento entre Israel e Deus durante conflitos: o confronto com os amalequitas serviu como instrumento pedagógico, levando o povo a aprender a confiar plenamente na intervenção divina, mesmo sem estratégia militar humana (Êx 17:7-13). Em Jericó, ainda que Deus garantisse a vitória miraculosamente, Israel teve que participar ativamente, enfrentando a resistência da cidade. Isso evidencia que o envolvimento do povo nas batalhas não substituía a soberania divina, mas servia para desenvolver fé prática e dependência constante do Senhor (Js 6:15-20). Tal dinâmica ilustra a pedagogia divina durante o êxodo e na conquista: Deus conduz e assegura a vitória, chamando Seu povo a agir em obediência e confiança, mostrando que cada batalha testa a lealdade e fé, com resultados determinados por Sua ação soberana.
Conclusão
Deus nos guia com graça e misericórdia nas dificuldades. Ele continua a nos liderar através das tribulações. Passar por desafios não indica ausência de direção divina, mas uma oportunidade para fortalecer nossa fé e confiança profunda em Seu cuidado constante. Na nossa caminhada, mantenhamos a certeza de que o Senhor Deus luta por nós quando estamos com Ele.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Volney da Silva Ribeiro é professor, escritor e teólogo. É graduado em Letras (português e espanhol) e em Teologia. Além disso, é pós-graduado em Gestão Educacional. Foi diretor pedagógico e administrativo de escola particular (2008 a 2010), vice-diretor de uma creche-escola (2024 e 2025) e consultor pedagógico da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2020 a 2022). Desenvolve o ministério de pregação há mais de duas décadas e serve a Deus atualmente como primeiro-ancião na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Aldeota, em Fortaleza, Ceará.