Quem escreveu o evangelho de Marcos e por que ele foi escrito? Nenhum dos quatro evangelhos traz o nome de seu autor (os títulos que aparecem na Bíblia foram acrescentados posteriormente). O texto que mais se aproxima da identificação do autor é o do livro de João, que se refere ao discípulo amado (Jo 21:20, 24).
No entanto, desde os tempos mais antigos, cada um dos evangelhos canônicos tem sido associado a um apóstolo (no caso de Mateus e João) ou ao companheiro de um apóstolo. Assim, o Evangelho de Lucas está relacionado com Paulo (Cl 4:14; 2Tm 4:11; Fm 24), e o Evangelho de Marcos está ligado a Pedro (1Pe 5:13).
Embora o autor de Marcos não apresente seu nome no texto, a tradição da igreja antiga indica que o autor desse evangelho foi João Marcos, que acompanhou Paulo e Barnabé em suas viagens (At 13:2, 5) e mais tarde se associou a Pedro.
Iniciaremos o estudo desta semana aprendendo o que as Escrituras relatam acerca de Marcos, incluindo seu fracasso inicial e sua restauração posterior. Em seguida, estudaremos a seção de abertura de Marcos, olhando para a frente, para onde a história se dirige, e para trás, buscando descobrir por que um missionário fracassado e depois restaurado escreveria esse livro.
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1. Leia Atos 12:12. Como Marcos é apresentado no livro de Atos?
É provável que João Marcos, aparentemente o autor do Evangelho de Marcos, fosse jovem quando ocorreram os eventos registrados em Atos 12, na década de 40 d.C. Ele é apresentado como filho de uma mulher chamada Maria. Ela era evidentemente uma abastada apoiadora da igreja e realizou uma reunião de oração em sua casa, conforme o relato de Atos 12. A história da fuga de Pedro da prisão e os acontecimentos que se seguem, e depois a morte de Herodes, estão repletos de contrastes impressionantes entre Pedro e o rei, que chegam a ter certo toque de humor. João Marcos não desempenhou papel algum nessa história, mas sua apresentação nesse ponto do livro prepara o leitor para sua ligação posterior com Barnabé e Saulo.
2. Leia Atos 13:1-5, 13. Como João Marcos se uniu a Saulo e Barnabé, e qual foi o resultado disso?
Atos 13 descreve a primeira viagem missionária de Saulo e Barnabé, que teve início por volta de 46 d.C. Marcos não é mencionado até o verso 5, quando ele é descrito como simplesmente um auxiliar ou servo. Nenhuma outra referência é feita ao jovem até o verso 13, em que o breve relato faz a observação de que ele voltou para Jerusalém.
Nenhuma razão é dada para essa partida, e a ausência de qualquer descrição de seus sentimentos ou emoções deixa para a imaginação o que teria motivado sua retirada dos esforços missionários, que sem dúvida eram cheios de perigos e desafios. Ellen G. White indica que “Marcos, dominado por temor e desânimo, hesitou por um momento em seu propósito de se consagrar de todo o coração à obra do Senhor. Pouco habituado a sacrifícios, ficou desanimado com os riscos e privações do caminho” (Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 108). Em resumo, as coisas simplesmente ficaram bastante difíceis para Marcos, e então ele desistiu da missão.
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O motivo da rejeição de Paulo ao jovem é apresentado em Atos 15:38: Marcos tinha se afastado deles, não continuando no ministério. A atitude de Paulo foi compreensível, embora contundente. A vida missionária, especialmente no mundo antigo, era dura e exigente (2Co 11:23-28). Paulo dependia da ajuda de seus companheiros para levar o fardo do trabalho e enfrentar os desafios. Em sua perspectiva, alguém que havia desertado tão rapidamente não merecia lugar na equipe que lutava contra o mal.
Barnabé discordou. Ele viu potencial em Marcos e não queria deixar o jovem para trás. Surgiu um desentendimento tão profundo entre Paulo e Barnabé acerca de João Marcos que eles acabaram se separando. Paulo escolheu Silas para seguir com ele, enquanto Barnabé levou Marcos.
Atos não explica por que Barnabé escolheu levar Marcos. Esse é o último texto em que os dois aparecem em Atos. Mas, curiosamente, não é a última passagem do NT em que Marcos é mencionado.
4. Leia Colossenses 4:10; 2 Timóteo 4:11; Filemom 24; 1 Pedro 5:13. Que detalhes sobre a recuperação de Marcos esses versos mostram?
Parece ter ocorrido uma profunda transformação em Marcos. Nessas passagens, Paulo indicou o valor que Marcos tinha para ele e para o ministério. Paulo passou a considerá-lo um de seus colegas de trabalho e desejava que Timóteo o trouxesse com ele. Pedro também teve um relacionamento próximo com Marcos. As cartas de Paulo e Pedro provavelmente foram escritas no início da década de 60 d.C., portanto 15 a 20 anos após a experiência relatada em Atos 15. Marcos claramente se recuperou de seu fracasso, quase certamente pela confiança que seu primo, Barnabé, depositou nele.
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5. Leia Marcos 1:1-8. Quem são os personagens desses versos, e o que eles dizem e fazem?
O texto de Marcos menciona três personagens principais: Jesus Cristo, mencionado em Marcos 1:1; Deus, o Pai (subentendido nas palavras de Mc 1:2); e João Batista, o mensageiro e pregador, que é o tema principal da última seção dessa passagem.
Marcos 1:2 e 3 contém uma citação do AT que Marcos apresentou para descrever o que aconteceria na história. Essa citação reúne frases de três passagens: Êxodo 23:20, Isaías 40:3 e Malaquias 3:1.
6. Leia Êxodo 23:20; Isaías 40:3; Malaquias 3:1. O que essas três passagens têm em comum?
Êxodo 23:20 refere-se a um Anjo que Deus enviaria adiante dos israelitas para levá-los a Canaã. Isaías 40:3 menciona que Deus apareceria no deserto, e que uma estrada seria preparada diante Dele. Malaquias 3:1 fala de um mensageiro que iria diante do Senhor para preparar Seu caminho. Todas essas três passagens se referem a um caminho.
O texto de Isaías possui várias ligações com o ministério de João Batista e focaliza o caminho do Senhor. No Evangelho de Marcos, o Senhor Jesus é apresentado como estando em jornada. A narrativa dinâmica destaca essa jornada, que O levaria à cruz e à Sua morte sacrificial por nós.
Contudo, muita coisa deve acontecer antes que Ele chegue à cruz. A jornada está apenas começando, e Marcos nos contará tudo a respeito dela.
Em harmonia com a citação do AT mencionada em Marcos 1:2 e 3, João Batista chamava as pessoas ao arrependimento, a se afastarem do pecado e a se voltarem para Deus (Mc 1:4). Vestido como o antigo profeta Elias (compare com 2Rs 1:8), ele falou, em Marcos 1:7 e 8, a respeito Daquele que viria depois dele e que era mais poderoso do que ele. A declaração de João Batista, de que não era digno de desamarrar as correias das sandálias Daquele que viria, mostra a visão elevada que ele tinha de Jesus.
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7. Quem esteve presente no batismo de Jesus, e o que ocorreu? Mc 1:9-13
João batizou Jesus no rio Jordão. Quando Cristo saiu da água, viu os céus se abrirem e o Espírito Santo descer sobre Ele como uma pomba. Então ouviu a voz de Deus: “Você é o Meu Filho amado; em Você Me agrado” (Mc 1:11).
Esses eventos apontam para a importância do batismo de Jesus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo estiveram presentes, confirmando juntos o início do ministério de Jesus. A importância desse evento encontrará seu eco na cena da cruz em Marcos 15. Vários dos mesmos elementos da história se repetirão nessa cena.
O Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto. A palavra “conduzir” é traduzida do termo grego ekball?, que costuma ser usado no evangelho de Marcos para se referir à expulsão de demônios. A presença do Espírito nesse texto ilustra o poder do Espírito Santo na vida de Jesus. O Senhor já estava iniciando a jornada de Seu ministério e imediatamente confrontou Satanás. O conflito é demonstrado pela referência aos 40 dias de tentação, à presença de animais selvagens e aos anjos servindo a Jesus.
Uma característica incomum da cena inicial do Evangelho de Marcos é que Jesus é apresentado como um personagem divino e humano. No aspecto da divindade, Ele é o Cristo, o Messias (Mc 1:1), o Senhor que foi anunciado por um mensageiro (Mc 1:2, 3), Alguém mais poderoso do que João (Mc 1:7) e o Filho amado sobre quem desceu o Espírito Santo (Mc 1:10, 11). Mas, no aspecto da humanidade, vemos que Ele foi batizado por João (e não o contrário), foi conduzido pelo Espírito, tentado por Satanás, esteve com os animais selvagens e foi servido por anjos (Mc 1:9-13).
Por que esses contrastes? Eles apontam para a extraordinária realidade de que Ele é Cristo, nosso Senhor e Salvador, nosso Deus, mas também um ser humano, nosso irmão e nosso exemplo. Como podemos assimilar completamente essa realidade? Na verdade, não podemos. Mas a aceitamos com fé e nos maravilhamos com o que essa verdade nos revela a respeito do amor de Deus pela humanidade.
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8. Leia Marcos 1:14, 15. Quais são as três partes da mensagem do evangelho que Jesus proclamou?
A profecia de tempo à qual Jesus Se refere é a profecia das 70 semanas de Daniel 9:24-27. Parte dessa profecia se cumpriu no batismo de Jesus, depois do qual Ele foi ungido com o Espírito Santo e começou Seu ministério (At 10:38). A extraordinária profecia das 70 semanas é ilustrada no seguinte gráfico:
Nessa profecia, um dia representa um ano (Nm 14:34; Ez 4:6). A profecia teve início em 457 a.C. com o decreto emitido por Artaxerxes, rei da Pérsia, concluindo a obra de restauração de Jerusalém (veja Ed 7).
O período de 69 semanas proféticas se estenderia até 27 d.C., o ano em que Jesus foi batizado e ungido com o Espírito Santo no início de Seu ministério. Sua crucifixão ocorreria três anos e meio depois.
A conclusão da septuagésima semana ocorreu em 34 d.C., quando Estêvão foi apedrejado, e a mensagem do evangelho começou a chegar aos povos gentios.
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Leia, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 66-76 (“A voz do deserto”); Atos dos Apóstolos, p. 106-112 (“Arautos do evangelho”).
É fascinante perceber que Apocalipse 14:6 e 7, a mensagem do primeiro anjo, é paralela à mensagem do evangelho que Jesus apresentou em Marcos 1:15.
Assim como a mensagem de Jesus apresentada em Marcos 1 estava intimamente ligada às profecias de Daniel no início da proclamação do evangelho, a mensagem do primeiro anjo também está ligada a Daniel no fim da história da Terra.
Perguntas para consideração
- Quais são as semelhanças e as diferenças entre João Batista e Jesus em Marcos 1:1-13? Que lições você aprende com os dois?
- O que significa o batismo (Rm 6:1-4; Jo 3:1-8)? Compare com o batismo de Jesus (Mc 1:9-13).
- Quais são as semelhanças e as diferenças entre o evangelho segundo Jesus (Mc 1:14, 15) e a mensagem do primeiro anjo (Ap 14:6, 7)? Entender essas mensagens o ajuda a enxergar melhor sua missão hoje?
Respostas e atividades da semana: 1. João Marcos, filho de Maria, que recebia em sua casa Pedro e a igreja. 2. Marcos estava em Antioquia quando Paulo e Barnabé foram enviados em missão. Marcos foi com eles e os auxiliava. 3. Paulo rejeitou Marcos porque este havia abandonado o grupo no meio da primeira viagem missionária. Barnabé entendia que Marcos tinha potencial para a obra de Deus e devia receber uma segunda chance. Barnabé deve ter sido influenciado pelo laço de parentesco com Marcos. 4. Marcos superou a dificuldade do passado e foi útil para Paulo, Pedro e Barnabé. 5. Deus Pai, Deus o Filho e João Batista. 6. A ênfase no Anjo que guia o povo e no mensageiro que prepara o caminho de Deus. 7. O Pai e o Espírito Santo. Deus confirmou o ministério de Jesus. 8. A profecia e a promessa cumpridas e o chamado ao arrependimento.
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TEXTO-CHAVE: Marcos 1:1
FOCO DO ESTUDO: Marcos 1
ESBOÇO
Introdução: No primeiro verso do seu evangelho, Marcos resume o tema não só do capítulo inicial, mas de todo o seu relato: o “evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1). Numa época em que as pessoas muitas vezes eram seduzidas pelo fascínio de um “evangelho diferente daquele que já receberam” (Gl 1:9), Marcos introduz o relato com uma declaração de abertura transcendente, a fim de destacar a essência da religião cristã: as boas-novas a respeito de Jesus Cristo. Jesus revelou o evangelho não apenas àqueles que foram restaurados pelo Seu toque de cura, mas também a uma comunidade de fé diversificada e que precisava crer Nele. De acordo com a perspectiva de Marcos, Jesus, em última análise, é o próprio evangelho.
Temas da lição: O estudo desta semana analisa dois componentes do primeiro verso do evangelho de Marcos: a expressão “evangelho de Jesus Cristo” e, mais especificamente, o próprio nome “Jesus Cristo”.
1. “O evangelho de Jesus Cristo”. Para Marcos, o evangelho (em grego, euangelion) são as boas-novas de Deus, fundamentadas nas Sagradas Escrituras, proclamadas por Cristo nas sinagogas e reveladas em Seu ministério terreno. Como tal, as boas-novas de Deus também são, na verdade, as boas-novas de Jesus.
2. “Jesus Cristo”. Marcos apresenta Jesus nas diversas facetas de Seu ministério. Jesus é o Filho de Deus e o Santo. Ele também é descrito como um grande mestre e pregador, bem como um médico compassivo, que atuou na Galileia e em outras regiões.
COMENTÁRIO
Princípio
Cada um dos quatro evangelhos do NT começa fazendo referência ao “princípio” de Jesus Cristo. O evangelho de Mateus começa com Suas origens ancestrais, especificamente Sua linhagem humana, como “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1:1). Lucas revela, no prefácio do seu relato, que esse evangelho começa no “princípio” do ministério público de Jesus, conforme narrado por testemunhas oculares (Lc 1:2). O “princípio” de João é especial, porque se refere a uma época antes do alvorecer da história humana, um tempo que precede o “princípio” do próprio Gênesis (Gn 1:1). O “princípio” de João remonta à eternidade de Jesus Cristo: “No princípio era a Palavra” (Jo 1:1, NVI). Em contraste, Marcos começa seu relato com estas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1). Isto é, ele pretende narrar o evangelho de Jesus Cristo desde seu início.
Evangelho de Jesus Cristo
Com exceção de Marcos, nenhum outro escritor dos evangelhos usa a expressão “o evangelho de Jesus” (em grego, euangelion I?sou). Essa expressão é encontrada apenas em Marcos. Ela nos mostra que Jesus e Seu evangelho constituem o foco e a essência da narrativa de Marcos.
Assim, faremos bem em nosso estudo de Marcos se começarmos perguntando: O que é o evangelho? A partir dos estudos da lexicografia, a palavra grega euangelion, geralmente traduzida como “evangelho”, tem mais de um significado. Essa palavra se refere às “boas-novas de Deus para os seres humanos, boas-novas como proclamação”. Também se refere a “um livro que trata da vida e dos ensinos de Jesus, um relato do evangelho”. O termo euangelion também está relacionado com os “detalhes relativos à vida e ao ministério de Jesus, as boas-novas de Jesus” (William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 403). Com essas definições em mente, podemos concluir que Marcos usa a expressão “evangelho” para descrever os atos misericordiosos de Jesus durante Seu ministério, bem como para designar a ideia do próprio evangelho como “boas-novas” de Deus.
Os atos de Jesus como evangelho
Marcos apresenta o “evangelho de Jesus Cristo” no contexto de Sua atividade em favor da humanidade. Assim, desde o início do evangelho, Marcos retrata as boas-novas como são vistas no ensino e na pregação de Jesus (Mc 1:22, 39), no Seu domínio sobre os espíritos imundos (Mc 1:27) e em Seus vários atos de cura. Esses atos de cura incluem a restauração da sogra de Simão Pedro (Mc 1:30, 31) e de muitas pessoas que sofriam com diversas doenças (Mc 1:32, 34, 40-42).
Ao estudarmos os evangelhos, notamos que João inicia seu evangelho com a preexistência do Logos (o Verbo ou Palavra) e as credenciais de Jesus, conforme apresentadas por João Batista. Mateus e Lucas dedicam ampla seção às origens humanas de Jesus e aos Seus primeiros anos na Terra. Contudo, Marcos, desde o início, apresenta Jesus como alguém que realiza ações – elas são centrais à narrativa. Assim, o relato de Marcos é o evangelho em movimento.
Evangelho como “boas-novas” a serem pregadas
O evangelho de Marcos também está alicerçado na Palavra de Deus, especificamente em Sua revelação. Imediatamente após a declaração do primeiro verso, o “princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1), Marcos cita as Escrituras hebraicas, incluindo versos de Isaías (Mc 1:2, 3) e uma alusão às 70 semanas de Daniel (Mc 1:15; Dn 9:24-27). Aqui vemos claramente o evangelho como conteúdo, como “boas-novas”, ou notícias. Marcos define essa notícia como o “evangelho de Deus” (Mc 1:14). Portanto, as boas-novas são uma proclamação divina à humanidade.
Em resumo, Marcos mostra que o evangelho é tanto a Palavra de Deus quanto os atos de Jesus durante Seu ministério terreno.
Jesus Cristo
Outro conjunto importante de palavras no início do evangelho de Marcos é “Jesus Cristo”. De que maneira Marcos retrata Jesus?
Marcos retrata Jesus como o “Filho de Deus” (Mc 1:1), o “Filho do Homem” (Mc 9:31) e o “Filho de Davi” (Mc 10:47). As credenciais divinas de Jesus são apresentadas no início do evangelho de Marcos.
Jesus como o Filho de Deus
Na encarnação, Jesus, o Filho eterno, assumiu o papel redentivo em submissão à autoridade de Deus, o Pai (Mc 1:11), colocando-Se voluntariamente sob a orientação do Pai e sob a direção do Espírito Santo (Mc 1:10, 11). A descrição de Jesus como o Filho do Homem é uma referência a Daniel 7. Ao atribuir a identidade e o título de Filho do Homem a Jesus Cristo, Marcos confirma que o reino de Deus (Dn 7:14, 27) pertence a Jesus e que esse reino – naquela época – estava próximo (Mc 1:15).
Marcos descreve amplamente os atos de Jesus como ser humano, mas não antes de apresentá-Lo primeiro como Ser divino.
Jesus como o Santo
Em harmonia com a ideia de Jesus como divino, Marcos também apresenta Jesus Cristo como o “Santo de Deus” (Mc 1:24). Essa pode ser uma alusão a Isaías 6, em que o Senhor é apresentado como santo (Is 6:3). Essa é a expressão usada pelos seres celestiais para se referir ao Senhor. Em Marcos, até os demônios reconhecem Jesus como o Santo (em grego, ho hagios; Mc 1:24), isto é, eles reconhecem que Jesus é totalmente puro (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 11). A pureza é a essência do ser de Deus. Portanto, os demônios ou espíritos imundos não podem resistir diante de Jesus. Além disso, reconhecem que serão destruídos diante da Sua presença (Mc 1:24).
Jesus como Mestre e Pregador
Marcos também apresenta Jesus como Mestre e Pregador. O próprio Jesus menciona esses aspectos do Seu ministério como o propósito de Sua primeira vinda: “Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que Eu pregue também ali, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1:38). Parece que o local preferido para ensinar/pregar naquela época era dentro da sinagoga. Esse local é mencionado quatro vezes no primeiro capítulo do evangelho de Marcos (Mc 1:21, 23, 29, 39). O ensino e a pregação de Jesus tinham o selo divino, estando fundamentados na revelação, a qual Ele procurou tornar relevante e significativa para o Seu público, dizendo: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Depois do incidente na sinagoga, em que Jesus expulsou o espírito imundo de um homem, “todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: – Que é isto? Uma nova doutrina! Com autoridade Ele ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!” (Mc 1:27).
Embora Marcos afirme que Jesus não ensinasse nem pregasse como os escribas, Sua mensagem estava em harmonia com a pregação de João Batista, que pregou sobre o arrependimento (Mc 1:4, 22), e, de igual modo, Jesus pregou uma mensagem de arrependimento, convidando as pessoas a crer nela e aceitá-la (Mc 1:14, 15).
Embora frequentasse sinagogas para pregar, Jesus não estava restrito a nenhuma cidade, nem sequer a Cafarnaum, chamada “a cidade de Jesus”. Ele era um pregador itinerante. Como tal, “foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas” (Mc 1:21, 39).
Jesus como Aquele que cura
Como vimos, o ministério de Jesus, conforme retratado em Marcos 1, não estava ligado a uma cidade específica nem vinculado a um local específico, como a sinagoga. Marcos apresenta Jesus “caminhando junto ao mar da Galileia”. O evangelista também conta que Jesus foi à casa de Simão e André. Ele foi a um lugar deserto (Mc 1:16, 29, 35). Seu ministério alcançava todas as regiões da Galileia e arredores, incluindo as áreas despovoadas (Mc 1:28, 45). Ele procurava alcançar as pessoas onde estivessem.
Além do ministério no ensino e na pregação, Jesus foi ativo em curar os sofredores. Sua missão envolvia a restauração integral do ser humano. Ele curou um homem que sofria de convulsões (Mc 1:23-26) e restaurou a sogra de Simão, que estava de cama, com febre (Mc 1:30, 31). Libertou e curou pessoas atormentadas por demônios (Mc 1:32-34, 39). Jesus não ficou indiferente à situação de um leproso que foi a Ele em desespero. Sem temer o contágio, colocou a mão sobre ele e o curou (Mc 1:40-42).
Conforme narrado por Marcos, para muitas pessoas Jesus é a encarnação das boas-novas, o evangelho: “Toda a cidade estava reunida à porta da casa”. “E de toda parte vinham ao encontro Dele” (Mc 1:33, 45). Seu ministério trouxe restauração para todo o ser. A restauração é a essência do evangelho de Cristo nos termos mais práticos.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Paulo escreveu que, durante o primeiro século, existiam “outros” evangelhos, além daquele que ele ensinava. Muitos haviam sido enganados por um “evangelho diferente” (Gl 1:6), distorcido. Convide a classe a refletir sobre as seguintes perguntas:
- O que o evangelho significa para você?
- Qual é a essência do evangelho no qual você crê?
- As redes sociais definem nossa maneira de ser em vários aspectos: comunicação, relacionamentos, compartilhamento de notícias e informações, etc. O que define o evangelho no qual você crê?
- A Palavra de Deus ainda é relevante para definir as boas-novas? Comente.
- Jesus dedicou grande parte de Seu ministério ao ensino, além de pregar, curar e orar. Compartilhe com a classe o aspecto do ministério de Jesus que mais impactou sua vida como professor. Pergunte aos alunos qual aspecto do ministério de Jesus teve maior impacto na vida deles.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2024
Tema geral: O Evangelho de Marcos
Lição 1 – 29 de junho a 6 de julho
“O princípio do evangelho”
Autor: Natal Gardino
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Esther Fernandes
Iniciamos um novo trimestre e um novo tema de estudos bíblicos: “O Evangelho de Marcos”. Deus, em Sua sabedoria, abençoou-nos com quatro relatos sobre a vida terrena de Jesus para que tivéssemos um quadro multicolorido pintado pelos relatos de diferentes testemunhas. Porém, antes de entrar no texto do evangelho propriamente dito, é importante fazer uma breve introdução ao livro de Marcos, conhecendo o seu contexto.
Nesta primeira lição, vamos primeiro conhecer o seu autor, Marcos. Aprenderemos também com a história de seu fracasso e sua posterior restauração como evangelista. Somente então, na parte final desta lição, é que começaremos a abordar o texto do evangelho.
- Quem foi Marcos
Marcos foi o filho de uma das muitas Marias do Novo Testamento, sendo esta uma das grandes colaboradoras da igreja nascente (At 12:12). Quando Pedro foi liberto da prisão, dirigiu-se diretamente para a casa dela, onde havia muitas pessoas reunidas em oração (12:12). O fato de uma empregada ter atendido à porta quando Pedro bateu (12:13) pode indicar que ela era uma pessoa privilegiada monetariamente. Ao que tudo indica, o cenáculo (que era um cômodo no piso superior) onde Jesus instituiu a Santa Ceia e onde os discípulos permaneceram por alguns dias após a ascensão, ficava na casa dela (Jo 20:19; At 1:12-14). Esse espaço era amplo o bastante para abrigar “mais ou menos cento e vinte pessoas” que oravam para receber o Espírito Santo (At 1:8,15).
Como filho dessa mulher, João Marcos certamente foi muito bem influenciado para servir no ministério evangelístico. Por isso, Paulo e Barnabé o levaram para Antioquia, que era na época um centro estratégico de planejamento da igreja (At 12:25). Pouco tempo depois, Paulo e Barnabé foram encarregados pelo Espírito Santo para levar o evangelho a outras regiões e países (13:2, 3). Assim, eles partiram para a viagem que chamamos de “primeira viagem missionária” (13:4–14:27), levando João Marcos como seu ajudante (13:5).
- Seu fracasso e restauração como evangelista
Ao sentir as dificuldades e perigos da viagem, e por estar “pouco habituado a sacrifícios” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, [CPB, 2021], p. 108), Marcos abandonou a missão e voltou para casa (At 13:13). Isso fez com que Paulo tivesse uma impressão muito negativa a seu respeito. Cerca de 3 anos depois, quando Paulo e Barnabé se preparavam para uma nova viagem missionária, Barnabé trouxe consigo João Marcos, que era seu primo (Cl 4:10), para que ele tivesse uma segunda chance. De acordo com Ellen White, Barnabé “se inclinava a desculpá-lo devido à sua inexperiência. Ficou angustiado com a possibilidade de que Marcos viesse a abandonar o ministério, pois via nele qualidades que poderiam torná-lo um obreiro útil para Cristo” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 108). Mas Paulo rejeitou completamente a ideia de levá-lo novamente devido à sua desistência na viagem anterior.
Talvez possamos compreender um pouco da severidade de Paulo se entendermos que a palavra traduzida como “ajudante” em Atos 13:5 para descrever a função de Marcos (“huperetes”) é também traduzida como “oficial de justiça” em Mateus 5:25 e como “ministro” em Atos 26:16 e 1 Coríntios 4:1. Portanto, é muito improvável que Marcos tivesse ido como um simples ajudante no sentido de servir água ou carregar bagagens. Ele servia como um oficial da missão evangelística. Por isso, sua deserção foi tão séria para Paulo. Por fim, o impasse foi tão grande entre ele e Barnabé que acabaram se separando (At 15:37-40).
Contudo, os esforços de Barnabé em favor de João Marcos deram frutos. Marcos teve a oportunidade de demonstrar, por suas nobres atitudes, que Paulo estava errado a respeito de seu caráter. Cerca de 15 anos mais tarde, quando Paulo escreve a partir da prisão, Marcos está ao seu lado (Cl 4:10). Reconhecendo seu erro anterior, Paulo lembra os crentes que devem receber bem João Marcos (Cl 4:10). Em Filemom 1:24, ele inclui Marcos entre os seus colaboradores. E em sua última epístola, escrita pouco tempo antes de sua morte, Paulo afirma que este mesmo homem lhe era “muito útil no ministério” (2Tm 4:11).
De acordo com a tradição, Marcos se tornou discípulo de Pedro, que o chama de “meu filho Marcos” (1Pe 5:13). Tendo como base os sermões desse apóstolo e suas narrativas, Marcos registrou o segundo evangelho, o qual, apesar de levar o seu nome, é o testemunho de Pedro a respeito da vida, das palavras e da missão de Jesus (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 179, 611, 612).
- O início do evangelho
Marcos começa o seu relato com essas poderosas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1:1). Ele introduz João Batista como o cumprimento das profecias que o retrataram como um “mensageiro”, ou “anjo” de Deus (1:2-8). Então, ele descreve brevemente Jesus sendo batizado e apresenta os três membros da Trindade juntos nessa ocasião tão importante que marca o início do ministério de Jesus (1:9-11). A seguir, sempre de maneira bem objetiva e com poucas palavras, ele aponta o Espírito Santo impelindo Jesus para o deserto, onde Ele jejuou por 40 dias, um número muito significativo no Antigo Testamento em relação a períodos de consagração.
Ao voltar do deserto para a Galileia, após os 40 dias preparatórios em jejum e oração, Jesus pregava o “evangelho de Deus”, ou seja, as boas-novas de Deus para a humanidade: perdão e salvação. Uma ênfase de Jesus em sua pregação era a de que o tempo estava cumprido – uma referência à profecia de tempo de Daniel 9:25 a 27, que aponta o ano do batismo do Messias, que aconteceu como previsto, em 27 d.C.
Conclusão
Esse foi só o início do estudo deste trimestre sobre o livro de Marcos. Já podemos ver logo no início que esta será uma grande jornada de aprendizado e de transformação.
Uma grande lição que aprendemos nesta semana é a da segunda chance. Marcos falhou ao desertar da primeira viagem missionária, mas depois pôde demonstrar por suas atitudes que havia mudado. Paulo também falhou ao ser inflexível em relação a Marcos. Mas depois ele também pôde demonstrar por suas palavras e atitudes que reconhecia seu erro e que havia mudado. Temos que reconhecer também o caráter nobre de Barnabé, que lutou decididamente por seu primo e assim ajudou a mudar a história. Que sejamos como Barnabé, fortalecendo e encorajando os que falham; e quando falharmos, que sejamos como João Marcos e como Paulo, reconhecendo nosso erro e demonstrando isso com atitudes.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Natal Gardino é mestre em Novo Testamento e doutor em Ministério pela Andrews University. Iniciou seu ministério em 2003 como pastor distrital e atuou em quatro diferentes regiões. Desde 2022 é professor de Novo Testamento no Seminário Adventista de Teologia na FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Irineide Gardino, psicóloga clínica, e juntos eles têm 2 filhos: Kaléo e Nicholas.