Lição 9
19 a 25 de novembro
Passagens bíblicas controversas
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Rm 11-13
Verso para memorizar: “Vocês examinam as Escrituras, porque julgam ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim” (Jo 5:39).
Leituras da semana: Lc 16:19-31; 23:43; Jo 20:17; Fp 1:21-24; 1Pe 3:13-20; Ap 6:9-11

Pedro nos exorta: “Santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm” (1Pe 3:15). E Paulo nos encoraja: “Pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrija, repreenda, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4:2, 3). Sendo assim, devemos atentar não apenas às passagens cuja explicação facilmente se ajusta às nossas crenças, mas também devemos lidar com passagens que são comumente usadas para ensinar algo diferente do que acreditamos.

Ao fazermos isso, devemos seguir o exemplo inspirador de Jesus. “O próprio Cristo nunca omitiu uma palavra da verdade, mas sempre a disse com amor. [...] Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa e jamais provocou sem motivo uma dor a uma pessoa frágil. Não censurava a fraqueza humana” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 276).

Nesta semana estudaremos algumas passagens intrigantes usadas para justificar a imortalidade natural da alma. Essas reflexões devem fortalecer nossas próprias convicções e nos ajudar a responder com bondade àqueles que questionam esse ensinamento crucial.

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Domingo, 20 de novembro
Ano Bíblico: Rm 14-16
O rico e Lázaro

1. Leia Lucas 16:19-31. Por que essa história não é uma descrição literal da vida após a morte?

Alguns estudiosos sugerem que Lucas 16:19-31 deva ser interpretado de forma literal, isto é, como uma descrição do estado dos mortos. Porém, essa visão levaria a várias conclusões antibíblicas e iria contradizer muitas das passagens que já examinamos.

Primeiro, teríamos que admitir que o Céu e o inferno estão próximos o suficiente para permitir uma conversa entre os habitantes de ambos os lugares (Lc 16:23-31). Teríamos também de supor que, na vida após a morte, enquanto o corpo jaz na sepultura, permanece uma forma consciente da alma espiritual com “olhos”, “dedo”, “língua” e que até sente sede (Lc 16:23, 24).

Se essa passagem fosse uma descrição do estado humano na morte, o Céu não seria um lugar de felicidade, visto que os salvos poderiam acompanhar os sofrimentos intermináveis de seus queridos, e até mesmo dialogar com eles (Lc 16:23-31). Uma mãe poderia ser feliz no Céu ao contemplar as agonias intermináveis de seu filho amado no inferno? Em um contexto assim, seria impossível o cumprimento da promessa de que no Céu não haverá mais tristeza, nem choro, nem dor (Ap 21:4).

Devido a tais incoerências, muitos estudiosos bíblicos modernos consideram a história do rico e Lázaro uma parábola da qual nem todos os detalhes podem ser interpretados literalmente. George E. Ladd, teólogo evangélico, escreveu que essa história provavelmente tenha sido “uma parábola que fez uso do pensamento judaico corrente e não teve intenção de ensinar nada sobre o estado dos mortos” (G. E. Ladd, “Eschatology”, The New Bible Dictionary, editado por J. D. Douglas [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1962], p. 388).

O relato da parábola ensina que (1) status e reconhecimento social no presente não são os critérios para a recompensa futura e (2) o destino eterno de cada um é decidido nesta vida e não pode ser revertido na vida após a morte (Lc 16:25, 26).

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“Mas ele lhe disse: ‘Se não ouvem Moisés e os Profetas, também não se deixarão convencer, mesmo que ressuscite alguém dentre os mortos’” (Lc 16:31). O que aprendemos com Jesus sobre a autoridade da Bíblia e nossa maneira de reagir a ela?
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Segunda-feira, 21 de novembro
Ano Bíblico: 1Co 1-4
Hoje... Comigo no paraíso

Uma das passagens mais usadas na tentativa de comprovar a doutrina da imortalidade da alma é Lucas 23:43 “Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade lhe digo que hoje você estará comigo no paraíso’”. Quase todas as versões da Bíblia (com poucas exceções) traduzem esse texto de maneira semelhante, dando a impressão de que, no mesmo dia em que Cristo morreu, Ele e o ladrão estariam juntos no paraíso. Isso não deveria nos surpreender, pois essas traduções foram feitas por estudiosos bíblicos que creem no dogma da imortalidade natural da alma. Mas seria essa a melhor tradução do texto?

2. Compare Lucas 23:43 com João 20:17 e João 14:1-3. Como a promessa ao ladrão arrependido na cruz deve ser entendida à luz das palavras de Jesus a Maria Madalena e de Sua promessa aos discípulos?

A suposição de que Cristo e o ladrão tivessem ido naquele dia para o paraíso contradiz as palavras de Jesus a Maria Madalena após Sua ressurreição, que afirmam que Ele ainda não havia ido à presença do Pai. Essa ideia equivocada, de que Jesus e o ladrão arrependido teriam ido para o Céu naquele dia, também contradiz a promessa de que os discípulos seriam levados para o Céu somente na Sua segunda vinda (Jo 14:1-3).

A questão em Lucas 23:43 é se o advérbio “hoje” (gr. s?meron) deve ser ligado ao verbo que o segue (“ser”) ou ao verbo que o precede (“dizer”). Wilson Paroschi reconhece que “do ponto de vista gramatical” é praticamente impossível determinar a alternativa correta. “Lucas, no entanto, tem uma tendência definida de usar esse advérbio com o verbo precedente. Isso acontece em 14 das 20 ocorrências de s?meron em Lucas e Atos” (Wilson Paroschi, “The Significance of a Comma: An Analysis of Luke 23:43”, Ministry, junho de 2013, p. 7).

Assim, a leitura mais natural de Lucas 23:43 seria: “Em verdade lhe digo hoje, você estará Comigo no paraíso”. Nesse caso, a expressão idiomática “lhe digo hoje” enfatiza a relevância e solenidade da afirmação “estará Comigo no paraíso”. Em suma, Jesus estava prometendo a ele, então e ali, que um dia ele receberia a vida eterna.

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Apesar de seu pecado e de não ter nada a oferecer a Deus, o ladrão recebeu a promessa de vida eterna (Lc 23:39-43). Essa história revela a verdade da salvação mediante a fé? Quais são as semelhanças e diferenças entre a nossa situação e o caso do ladrão?
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Terça-feira, 22 de novembro
Ano Bíblico: 1Co 5-7
Partir e estar com Cristo

3. Leia Filipenses 1:21-24 e 1 Tessalonicenses 4:13-18. Quando Paulo esperava estar “com Cristo” (Fp 1:23) e “com o Senhor” (1Ts 4:17)?

Paulo era movido pela paixão de viver “em Cristo” no presente (2Co 5:17) e “com Cristo” após a Sua volta (1Ts 4:17). Para ele, nem a morte abalaria a certeza de pertencer ao Salvador. Como o apóstolo disse, “nem a morte nem a vida” poderá “nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:38, 39). “Porque, se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14:8).

Com essa certeza em mente, Paulo falou a respeito dos crentes que já haviam morrido como os “que em Jesus dormem” (1Ts 4:14, ARC) e que serão ressuscitados na segunda vinda de Cristo para receber a vida eterna (1Co 15:16-18; 1Ts 4:13-18).

Quando Paulo mencionou seu “desejo de partir e estar com Cristo” (Fp 1:23), sugeriu que após a morte sua alma partiria para viver conscientemente com o Senhor? De jeito nenhum! Nesse texto, “Paulo verbaliza seu desejo de deixar esta presente existência conturbada e estar com Cristo, sem fazer referência a nenhum lapso de tempo que possa ocorrer entre os dois eventos. Esse verso não ensina que Paulo esperava ir para o Céu ao morrer. Ele deixou bem claro que não receberia sua recompensa até a segunda vinda (2Tm 4:8). Aqui, o apóstolo declara que a primeira coisa que veria após sua partida (morte) seria a vinda de Cristo nas nuvens do céu para ressuscitar os mortos e, a partir de então, estaria ‘para sempre com o Senhor’ (1Ts 4:17). Também se deve notar que os autores bíblicos, às vezes, referem-se a dois eventos juntos, os quais podem estar separados por um longo tempo” (Bíblia de Estudo Andrews, p. 1545, nota de Fp 1:23).

Mas por que Paulo preferiria morrer a viver? Porque então ele poderia finalmente descansar de todos os seus problemas, sem mais ter que sofrer dores no corpo (Ap 21:4). E faria isso com a plena certeza de que receberia “a coroa da justiça” na segunda vinda (2Tm 4:6-8). Embora Paulo certamente não quisesse morrer, sabia o que aconteceria quando morresse.

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Em tempos difíceis, quem não imaginou que seria bom fechar os olhos na morte e, depois, “estar com Cristo”? Isso nos ajuda a entender o que Paulo disse em Filipenses?
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Quarta-feira, 23 de novembro
Ano Bíblico: 1Co 8-10
Pregando aos espíritos na prisão

4. Leia 1 Pedro 3:13-20. Como Cristo pregou “aos espíritos em prisão [...] nos dias de Noé”? (Veja também Gn 4:10.)

Comentaristas que creem na imortalidade da alma apontam que Cristo pregou “aos espíritos em prisão” (1Pe 3:19) enquanto descansava na tumba. Para eles, Seu espírito foi para o inferno e pregou aos espíritos desencarnados dos antediluvianos.

No entanto, essa ideia fantasiosa é biblicamente inaceitável, pois não há uma segunda oportunidade de salvação para os mortos (Hb 9:27, 28). Então, por que Jesus pregaria para aqueles que não tinham mais chance de salvação?

Aliás, essa teoria contradiz o ensino bíblico de que os mortos permanecem inconscientes na sepultura até a ressurreição final (Jó 14:10-12; Sl 146:4; Ec 9:5, 10; 1Co 15:16-18; 1Ts 4:13-15).

Além disso, se esse verso quisesse dizer que Jesus, enquanto esteve no túmulo, desceu ao inferno e pregou aos ímpios antediluvianos, por que somente eles ouviram Sua mensagem? Não havia outros perdidos “queimando no inferno” com eles?

Também não faz sentido sugerir que Cristo tivesse pregado aos anjos caídos que foram desobedientes nos dias de Noé. Enquanto os “espíritos em prisão” são descritos como desobedientes “noutro tempo” (1Pe 3:19, 20), a Bíblia fala que os anjos maus ainda hoje são desobedientes (Ef 6:12; 1Pe 5:8). Além disso, sobre os anjos caídos, “Ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (Jd 6), sem nenhuma oportunidade de salvação.

Devemos notar que, em 1 Pedro 3, os “espíritos em prisão” do verso 19 são identificados no verso 20 como os antediluvianos “desobedientes” nos “dias de Noé”. O termo espírito (gr. pneuma) é usado nesse texto e em outras partes do NT (1Co 16:18; Gl 6:18), em referência a pessoas vivas que podem ouvir e aceitar o convite da salvação. A expressão “na prisão” obviamente não se refere a uma prisão literal, mas à prisão do pecado em que se encontra a natureza humana não regenerada (Rm 6:1-23; 7:7-25).

A pregação aos antediluvianos foi realizada por Noé, que foi instruído por Deus (Hb 11:7) e se tornou “pregador da justiça” para seus contemporâneos (2Pe 2:5). Pedro enfatizou o que significa ser fiel; ele não tratou do tema do estado dos mortos.

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Quinta-feira, 24 de novembro
Ano Bíblico: 1Co 11-13
Almas debaixo do altar

5. Como as “almas” dos mártires choram “debaixo do altar”? Ap 6:9-11

A abertura do quinto selo apocalíptico revela uma cena inusitada. As almas dos mártires foram vistas metaforicamente “debaixo do altar” clamando a Deus por vingança (Ap 6:9-11). Alguns comentaristas tendem a identificar esse “altar” como o altar de incenso mencionado no sétimo selo (Ap 8:1-6). Mas a referência a “sangue” (em vez de “incenso”) nos leva a ver uma alusão ao altar do holocausto, onde era derramado o sangue dos sacrifícios (Lv 4:18, 30, 34). Assim como o sangue desses sacrifícios costumava ser aspergido ao redor do altar, o sangue dos mártires foi simbolicamente derramado no altar de Deus quando, ao permanecer fiéis à palavra de Deus e ao testemunho de Jesus (Ap 6:9, veja também 12:17; 14:12), eles perderam a vida.

As “almas” sob o altar são simbólicas. Ao considerá-las de forma literal, seria necessário concluir que os mártires não estão felizes no Céu, pois clamam por vingança. Esse quadro dificilmente soa como se estivessem desfrutando a recompensa da salvação. O desejo de vingança pode tornar miserável a vida. Mas a morte também?

Além disso, é importante lembrar que João não recebeu uma visão do Céu como ele realmente é. “Lá, não há cavalos nas cores branca, vermelha, preta e amarela com cavaleiros de aspecto guerreiro. Jesus não aparece na forma de um cordeiro como tendo sido morto. Os quatro seres viventes não representam criaturas aladas reais com as características animais citadas. [...] De igual modo, não há ‘almas’ debaixo de um altar no Céu. Toda a cena consiste em uma representação pictórica e simbólica” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 861).

George E. Ladd escreveu: “No exemplo presente [Ap 6:9-11], o altar é claramente o altar do sacrifício onde o sangue sacrificial era derramado. O fato de João ter visto as almas dos mártires sob o altar não tem nada a ver com o estado dos mortos, nem com a situação deles no estado intermediário; é apenas uma forma vívida de retratar o fato de que eles haviam sido martirizados em nome de seu Deus” (A Commentary on the Revelation of John [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1972], p. 103).

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Quem já não clamou por justiça, e espera que ela seja feita? Por que devemos, pela fé, confiar que a justiça finalmente virá? Que conforto obtemos com essa promessa?
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Sexta-feira, 25 de novembro
Ano Bíblico: 1Co 14-16
Estudo adicional

Textos de Ellen G. White: Parábolas de Jesus, p. 148-155 (“O rico e o mendigo”); O Desejado de Todas as Nações, p. 596-609 (“A glória do Calvário”); Fundamentos da Educação Cristã, p. 504 (“Os professores como exemplos de integridade cristã”).

“Na parábola do rico e Lázaro, Cristo mostrou que nesta vida as pessoas decidem seu destino eterno. Durante o tempo da graça de Deus, esta é oferecida a toda a humanidade. Mas, se os seres humanos desperdiçam as oportunidades na satisfação própria, afastam-se da vida eterna. Não lhes será concedida nova oportunidade” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 140).

“Quando esses primitivos cristãos foram exilados para as montanhas e desertos, quando abandonados em masmorras para morrer de fome, de frio, ou pela tortura, quando o martírio parecia ser o único caminho para saírem de sua angústia, alegraram-se de que fossem considerados dignos de sofrer por amor de Cristo, que por eles foi crucificado” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 181).

Perguntas para consideração

  1. Como o conceito bíblico da natureza humana nos ajuda a entender melhor algumas das passagens que estudamos durante esta semana?
  2. Pense no contraste entre a religião inegociável dos mártires cristãos e a religião flexível dos pós-modernos. Pelo que vale a pena morrer? Se a verdade é relativa, por que morrer por ela? O que aprendemos com os que morrem pelas causas enganosas?
  3. Reflita sobre a parábola do rico e Lázaro. Quando Jesus ressuscitou, muitos creram Nele. No entanto, mesmo diante das evidências, muitos não creram. Isso mostra que o coração pode rejeitar a verdade? O que fazer para evitar essa tragédia espiritual?
  4. Jesus falou sobre dois momentos em que os mortos viverão (Jo 5:29). Esses eventos estão separados por mil anos, embora pareçam acontecer ao mesmo tempo. Como isso pode nos ajudar a entender o que Paulo disse em Filipenses 1:23?

Respostas e atividades da semana: 1. Porque essa visão levaria a conclusões antibíblicas que contradizem passagens já examinadas no trimestre. 2. Após Sua ressurreição, Jesus disse a Maria Madalena que Ele ainda não havia ido à presença do Pai. Ele também disse aos discípulos que eles seriam levados para o Céu somente em Sua segunda vinda. Portanto, não é razoável entender que Jesus tenha dito ao ladrão que os dois estariam no Céu naquele mesmo dia. 3. Na segunda vinda de Jesus. 4. Cristo pregou aos impenitentes antediluvianos por meio de Noé, que foi instruído por Deus. 5. Eles são vistos de modo simbólico para indicar que haviam sido martirizados em nome de Deus.

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Resumo da Lição 9
Passagens bíblicas controversas

TEXTO-CHAVE: Lc 16:19-31

ESBOÇO

A lição desta semana examina passagens bíblicas que foram propostas por alguns como apoiadoras da imortalidade da alma e/ou da existência de um inferno de fogo eterno. As passagens são as seguintes:

  1. Lucas 16:19-31: uma parábola sobre o homem rico e o pobre Lázaro. Embora alguns afirmem que essa parábola seja uma descrição literal da vida após a morte, um estudo mais aprofundado do contexto demonstra que Jesus a usou (a) para mostrar que ser rico não garante o Céu e (b) para chamar as pessoas a obedecer às Escrituras.
  2. Lucas 23:43: conforme uma tradução, Jesus teria dito ao ladrão na cruz: “Em verdade lhe digo que hoje você estará Comigo no paraíso”. Quando comparado com outras passagens nas quais Jesus disse que ainda não havia subido a Deus, no domingo da ressurreição (Jo 20:17), e com Sua declaração de que estaremos com Ele depois que Ele voltar para nos buscar (Jo 14:1-3), fica evidente que o Senhor não prometeu que Ele e o ladrão se encontrariam no Céu naquele mesmo dia. Em vez disso, o ladrão estará no Céu após a ressurreição. Assim, em uma tradução mais correta, a frase inteira deixa isso claro: “Em verdade lhe digo hoje: você estará Comigo no paraíso”.
  3. Filipenses 1:21-24 e 1 Tessalonicenses 4:13-18: Paulo disse que tinha o desejo de estar “com Cristo”, mas simplesmente não incluiu o tempo decorrido entre sua morte e a ressurreição.
  4. 1 Pedro 3:13-20: a pregação de Cristo aos “espíritos em prisão [...] nos dias de Noé” não significa que Jesus pregou pessoalmente uma mensagem aos antediluvianos desobedientes no inferno, mas indica um aviso sobre a prisão do pecado, dado por intermédio de Noé pelo Espírito de Deus.
  5. Apocalipse 6:9-11: as almas dos mártires que clamam por justiça sob o altar de holocaustos não se referem a almas literais; elas são um símbolo daqueles que foram assassinados por sua fidelidade a Deus.

COMENTÁRIO

Examinemos um pouco mais profundamente duas das passagens estudadas nesta lição: (1) o homem rico e Lázaro (Lc 16:19-31) e (2) as almas dos mártires clamando por vingança (Ap 6:9-11).

O rico e Lázaro (Lc 16:19-31)

Jesus contou a história do rico e Lázaro para demonstrar a seriedade de nossas escolhas enquanto estamos vivos. Jesus não contou essa história para nos dar informações sobre a vida após a morte. Aquele a quem escolhemos dedicar a nossa lealdade enquanto vivemos, seja a Cristo ou não, não pode ser mudado após a morte (Hb 9:27).

Além disso, a parábola aponta que, se uma pessoa não dá valor ao ensino das Escrituras, mesmo que alguém voltasse dos mortos não a convenceria a crer. Em outras palavras, se uma pessoa tem acesso às Escrituras e ainda assim não harmoniza seu comportamento com os ensinos da Palavra de Deus, se alguém viesse a ela com a notícia de um inferno terrível, ainda assim isso não faria nenhuma diferença. Jesus deixou claro que ou uma pessoa tem um coração aberto para Deus ou um coração endurecido, e é apenas a atitude dessa pessoa, ou brandura de coração para com Deus, que leva ao arrependimento e a uma vida transformada (Ez 36:26, 27). Não temos desculpa porque todos precisamos das Escrituras que nos falam sobre Deus (Lc 16:29-31).

Nada no contexto dessa parábola sugere que Jesus estivesse lidando com o estado dos mortos. Em vez disso, na passagem anterior, Ele estava pregando sobre egoísmo, lucro desonesto e mordomia cristã, principalmente a respeito do manuseio do dinheiro. Então Ele passou para a história do homem rico e Lázaro, enfatizando que a riqueza não garante uma eternidade feliz no Céu. Em outras palavras, a vida eterna tem a ver com a aceitação da obra salvífica de Cristo em nosso favor. Moisés e os profetas apontavam para o Messias.

Alguns protestam que essa história não deveria ser chamada de parábola, pois começa com a frase “havia um certo homem rico”, em vez de especificar que é uma parábola. Mas o argumento não se sustenta porque há outras parábolas que começam do mesmo modo, como a anterior, que começa com a mesma frase: “Certo homem rico” (Lc 16:1).

Os detalhes da história também refutam a ideia de que ela seja uma descrição literal de um inferno em chamas. Em primeiro lugar, seria impossível para alguém que é queimado vivo sentir-se refrescado tendo a língua resfriada por um dedo mergulhado em água. Além disso, a curta distância entre o Céu e o “inferno” tornaria impossível a qualquer pessoa desfrutar seu tempo no Céu se pudesse, a qualquer momento, conversar com um ente querido bem ao seu lado, que está queimando pela eternidade. A promessa do livro do Apocalipse de que não haverá mais dor, tristeza e lágrimas no Céu nunca seria cumprida (Ap 21:4).

Podemos ser gratos pelo fato de que essa parábola não representa a realidade. Servimos a um Deus que não tortura ninguém para todo o sempre. Roy Gane lista três grandes problemas de um inferno que arde pela eternidade:

  1. Deus daria frutos da árvore da vida aos ímpios para mantê-los vivos no inferno? Se fosse assim, isso contradiria o ensino bíblico de que somente aqueles que são salvos desfrutam do direito a esse fruto (Ap 22:14). Considere Gênesis 3, onde Deus baniu os pecadores Adão e Eva da árvore da vida precisamente para impedi-los de viver para sempre (Gn 3:22-24), e, como resultado, eles morreram (ver Gn 5:5 em relação à morte de Adão).
  2. Em Apocalipse 20, o ‘lago de fogo’ que destrói os ímpios cobre uma vasta área na superfície da Terra ao redor da Nova Jerusalém (Ap 20:8-10). Não há indicação em Apocalipse 21 e 22 de que o ‘lago’ derretido permaneça como uma característica permanente da nova Terra.
  3. Aqueles que são lançados no ‘lago de fogo’ sofrem a ‘segunda morte’, que é a última morte (Ap 20:14, 15; Ap 21:8). Portanto, eles morrem; eles não continuam vivendo eterna- mente em miséria infernal” (Roy E. Gane, “At-one-ment Forever in God’s New Heaven and New Earth”, Salvation: Contours of Adventist Soteriology, p. 255, 256).

Almas dos mártires (Ap 6:9-11)

Dadas as referências a “morto” e a “sangue”, o altar em vista nessa passagem é o altar do holocausto, em vez do altar do incenso. Como o sangue dos animais era derramado sob o altar, o sangue dos santos foi, então, simbolicamente oferecido a Deus como um sacrifício. Os santos debaixo do altar haviam morrido por causa de seu testemunho fiel do evangelho. Embora seja uma tragédia, sua morte também é um triunfo, pois morreram em Cristo (Ap 14:13).

As “almas” clamavam, não por vingança, mas por justiça legal. “É pedido a Deus que conduza um processo legal que leve a um veredito que justificará seus santos mártires” (Joel N. Musvosvi, Vengeance in the Apocalypse, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series 17 [Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1993], p. 232). Os santos foram perseguidos injustamente e morreram porque foram fiéis a Deus e dedicados a proclamar o evangelho de forma apaixonada. A vindicação pela qual clamam é para si mesmos, mas também, e mais importante, clamam para que o caráter de Deus seja mostrado como verdadeiro, santo e justo.

Há várias razões pelas quais esses santos não devem ser vistos como “almas” literais que clamam a Deus, mas como uma representação simbólica do sangue dos santos que clama por justiça.

Primeiro, é significativo que o altar do holocausto estivesse localizado no pátio externo do templo porque, como Ranko Stefanovic aponta, isso significa que “a cena retratada aqui ocorre não no templo celestial, mas na Terra” (Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation, 2ª ed., [Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009], p. 244). Assim, o pátio externo simbolizava a Terra. Portanto, as “almas daqueles que tinham sido mortos” estão clamando da Terra e, por isso, não podem ser espíritos que estão “vivos” no Céu.

Em segundo lugar, depois que os santos receberam vestes brancas que representam a justiça de Cristo, foi pedido a eles “que repousassem ainda por pouco tempo”, até que o número total de seus conservos, seus irmãos e irmãs, fossem mortos exatamente como eles haviam sido (Ap 6:11). Literalmente, eles são instruídos a “descansar um pouco ainda”. A palavra para “descansar” é anapauo e é traduzida como “descansar, recarregar, parar ou até mesmo morrer”. Também é usada em Apocalipse 14:13: “‘Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor.’ – Sim – diz o Espírito –, para que descansem [anapau] das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”. Esse grupo aparece novamente quando são trazidos de volta à vida na segunda vinda de Cristo: “Vi ainda as almas dos que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus [...]; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20:4). Está claro que nesse ponto eles voltam à “vida”. Eles ainda não eram almas/espíritos viventes, ou essa afirmação seria desnecessária. Assim, a descrição de seu “repouso” por um pouco mais de tempo, quando combinada com a ideia de “sono”, usada em toda a Bíblia para a morte, leva o leitor a entender que os santos decapitados deveriam permanecer em seus túmulos um pouco mais; isto é, até a segunda vinda de Cristo.

APLICAÇÃO PARA A VIDA

  1. Como o ponto principal da história do homem rico e Lázaro é seguir os ensinamentos das Escrituras e permitir que eles mudem a nossa vida, o que você precisa permitir que Deus fale a você? É sobre o acúmulo de bens materiais e riquezas, e a vida no luxo, como o homem rico, ou é algo completamente diferente? Talvez o egoísmo de outras formas? Cobiçar o que os outros têm, em vez de se contentar com o que tem? Imaginar que suas opiniões e o seu modo de ser e viver são os melhores? Em que área de sua vida você precisa do poder transformador de Deus? Reserve um tempo para entregar isso a Deus em oração.
  2. Morrer como mártir não é algo que desejamos. No entanto, Jesus disse: “Quem achar a sua vida a perderá; e quem perde a vida por minha causa, esse a achará” (Mt 10:39). Podemos ficar tão preocupados a respeito de perder a vida a ponto de esquecermos a nossa missão de contar aos outros sobre Jesus. Como podemos manter essa missão em primeiro lugar?
  3. O que podemos aprender sobre a diferença entre um clamor por vingança humana e um clamor para que Deus administre a justiça divina? Como deixar tudo nas mãos de Deus e acreditar que Ele cuidará de tudo para nós?

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Chega de medo

Jack

Papua-Nova Guiné | 19 de novembro

Conheça Jack. Ele é um membro da tribo Baimankanem em Papua-Nova Guiné. Desde que Jack se lembra, ele e seu povo viveram sob uma sombra de medo e negligência na província de Jiwaka. E não há nada de errado com a região em si. A província tem uma localização central e é um belo lugar para se viver. Situada em um vale muito fértil, possui um rio longo e caudaloso que atende às necessidades das pessoas. Seu solo rico produz uma abundância de culturas, principalmente café e chá.

Mas a vida era particularmente difícil para as pessoas da tribo de Jack. Os meios de subsistência de muitos parentes e amigos foram dilacerados por um ciclo aparentemente interminável de ódio, violência, brigas por direitos à terra e outros conflitos internos.

Por causa da luta desenfreada, os povos tribais não recebiam os serviços básicos do governo. Ninguém recebia cuidados de saúde de médicos e enfermeiros. As crianças tribais não iam à escola. Nenhum policial fazia cumprir a lei e a ordem na área. As estradas não foram mantidas e caíram em péssimo estado de conservação.

Viver nessas condições tornou-se normal para Jack e seu povo. Eles viviam sob uma longa sombra de medo e negligência.

Então, o Envolvimento Total dos Membros entrou em ação. O Envolvimento Total dos Membros é uma iniciativa mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia que incentiva cada membro da igreja a levar alguém a Jesus. Os membros da igreja chegaram à área e lideraram estudos bíblicos entre Jack e seu povo. Os estudos bíblicos abriram caminho para as reuniões evangelísticas. Enquanto Jack e seu povo liam a Bíblia, as queixas foram deixadas de lado, e as pessoas entregaram o coração a Jesus no batismo. Os adventistas organizaram uma cerimônia especial de paz para unir clãs que antes estavam em guerra.

Jack ficou surpreso com os resultados. Ele disse: “Eu parabenizo a Igreja Adventista do Sétimo Dia local pelo programa bem-sucedido de reuniões evangelísticas de uma semana, batismos aos sábados e uma colorida cerimônia de paz que comoveu o coração de muitos, especialmente das mães e irmãs, que choraram lágrimas de alegria ao lado de seus irmãos, maridos e filhos. A cerimônia de paz ficará na história do meu povo”.

Jack apelou ao seu povo para, como o apóstolo Paulo, deixar de lado o passado e olhar para frente com esperança. Ele disse: “Gostaria de concluir com um apelo ao meu povo: “ ‘Vamos todos abraçar a mudança e, juntos, construir e restaurar a paz e a normalidade em nossa comunidade. Como Paulo, sou o pior dos pecadores, mas Deus está me mudando, e agora estou ansioso para seguir na direção que Ele conduzir’ ”.

Jack poderia dizer como Paulo: “A mim, que, no passado, era blasfemo, perseguidor e insolente. Mas alcancei misericórdia, pois fiz isso na ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, que sou o principal pecador, Cristo Jesus pudesse mostrar a sua completa longanimidade, e eu servisse de modelo para todos os que hão de crer nele para a vida eterna. Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória para todo o sempre. Amém!” (1 Timóteo 1:13-17, NAA).

Sua oferta do décimo terceiro sábado neste trimestre ajudará a levar a TV Hope e a Rádio FM Hope para Papua-Nova Guiné, permitindo que as pessoas em todo o país aprendam sobre o ministério de reconciliação, esperança e paz de Jesus. Obrigado por planejar uma oferta generosa!

Por Andrew McChesney

Dicas para a história

  • O Envolvimento Total dos Membros trouxe paz e esperança para Jack e seu povo. Pergunte aos seus ouvintes: “Como você pode participar do Envolvimento Total dos Membros para trazer esperança e paz às pessoas em sua comunidade?” Leia mais sobre o Envolvimento Total dos Membros em: tmi.adventist.org.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2022

Tema Geral: Vida, morte e eternidade

Lição 9 – 19 a 26 de novembro de 2022

Passagens bíblicas controversas

 

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

 

Nesta semana voltamos nossa atenção a textos comumente utilizados nos meios cristãos como prova de uma suposta imortalidade da alma e existência de um estado consciente após a morte.

O primeiro texto, como não poderia deixar de ser, é a famosa parábola do Rico e Lázaro em Lucas 16, com sua descrição do diálogo entre o homem rico, abastado, mas condenado ao inferno e o pobre Lázaro, cujos sofrimentos na Terra são compensados em uma nova vida no “seio de Abraão”. Toma-se esse texto como indicativo de elementos reais, narrado com o objetivo de descrever o estado dos mortos. Supostamente, essa parábola estaria em conformidade com a cosmovisão judaica existente naquele tempo, sendo facilmente compreensível para os que escutavam Jesus. Não obstante, uma reavaliação da evidência contextual judaica, analisando suas crenças, conforme os textos que nos restaram, anteriores ao ano 70 d.C., pareceria indicar outra direção.

Primeiro, um alerta: não é objetivo desse comentarista contradizer os comentários da lição do professor, feito pelo Dr. Jiri Moskala, mas apresentar uma interpretação alternativa, reforçando que não importa o ângulo da visão, se deixamos de lado pressuposições, vamos chegar à mesma conclusão: nenhum texto dá suporte ou base para a doutrina satânica da imortalidade. Em segundo lugar, não temos espaço para fazer uma análise completa e profunda do texto, nem é esse o objetivo deste comentário, mas queremos apontar direções. Para os que estejam interessados, em meu canal do YouTube, disponibilizei um vídeo tratando em detalhes dessa parábola (https://www.youtube.com/watch?v=FzPSj1A3a-E), além de alguns debates no programa Vejam Só. Isso posto, vamos dar algumas pinceladas numa forma alternativa de entender a parábola.

É lugar comum nos estudos de Lucas afirmar que os ouvintes de Jesus acreditavam na imortalidade da alma. Não é impossível que muitos dos que ali estavam mantivessem esse pensamento, mas estavam longe de ser a maioria, ou todos, e muito menos de representar o pensamento oficial dos que ouviam. Jesus estava falando com os fariseus, como se depreende do início do capítulo 15, que estabelece o contexto discursivo de Jesus: um diálogo com os fariseus sobre sua insatisfação com o modo pelo qual Jesus lidava com pecadores e cobradores de impostos. Ora, estudos recentes sobre a crença farisaica, como os de Jacob Neusner, mostram que não existe evidência alguma de crença imortalista entre os fariseus. À página 311 de seu livro In Quest of Historical Pharisees, Neusner afirma que, nos documentos anteriores ao ano 70 d.C. “não encontramos nenhuma referência à imperecibilidade das almas e, muito menos, a uma transmigração”. Nesse mesmo diapasão, Kaufmman Khoeler, escreveu na Jewish Encyclopaedia de 1906, sobre a imortalidade da alma, que “a única certeza que temos é que a crença farisaica na ressurreição não possuía sequer um nome para imortalidade alma” (https://www.jewishencyclopedia.com/articles/8092-immortality-of-the-soul).

Além disso, a expressão “seio de Abraão”, encontrada em Lucas 16:22, não aparece em nenhum texto judaico, antes do terceiro século depois de Cristo, no tratado Kiddushin 72b. Apenas uma fortuita referência anterior a que os mortos seriam recebidos por Abraão, Isaque e Jacó, no livro de 4 Macabeus, é geralmente apresentada como prova de uma crença anterior, mas o texto sequer utiliza a mesma expressão. Logo, não é possível afirmar que o seio de Abraão indique uma crença estabelecida no estado intermediário.

Mas, então, qual é o significado da parábola e o que os judeus daqueles tempos, principalmente os fariseus entenderam dela? Se considerarmos o contexto narrativo e marcadores especiais utilizados por Jesus, o significado é mais facilmente percebido. Os fariseus, no início da perícope, no capítulo 15, criticaram Jesus por Sua disposição de estar com os pecadores, incluindo os gentios. Jesus, então, conta uma série de parábolas falando do contraste entre o perdido e o achado, e entre a tristeza do primeiro e a alegria do segundo. Com isso, o Mestre buscava chamar a atenção dos ouvintes para a completa falta de sentido das críticas dos fariseus, uma vez que eles deveriam estar felizes com a pregação da aliança por Jesus.

No fim do capítulo 15, Jesus conta a parábola do filho pródigo, cujo cerne é, de fato, a tristeza do filho mais velho, representando os judeus. Esses, os judeus, no capítulo 16 são representados pelo administrador infiel, que possui as riquezas de ser o povo escolhido, mas não as utiliza para beneficiar os pobres deste mundo, ou seja, retêm as bênçãos outorgadas a eles para abençoar as nações, de acordo com a promessa de Deus a Abraão, registrada em Gênesis 12:3: “Em ti serão benditos todos povos da Terra”. Utilizando agora a figura de Abraão, Jesus descreve como os judeus, enriquecidos e celebrando as bênçãos da aliança, mas fechados em si mesmos, haviam se esquecido de apresentar as bênçãos da aliança aos povos e nações estrangeiras, representadas pelo pobre Lázaro, que é a forma grega do nome hebraico Eleazar ou Eliezer, que aparece nas Escrituras em Gênesis 15, como o servo damasceno que Abraão apresenta a Deus como seu descendente e herdeiro, antes do nascimento de Isaque. O quadro é claro: os judeus, ricos e abastados com as bênçãos divinas, se esqueceram de abençoar as nações e, por isso, o seu lugar de proximidade com Abraão seria passado àquele estrangeiro. Esse é o real sentido da parábola, utilizando elementos conhecidos do povo judeu, como Abraão e Eleazar/Lázaro, para denunciar a hipocrisia dos fariseus.

O próximo texto controverso é Lucas 23:43, no qual Jesus teria prometido que o ladrão estaria com Ele no paraíso, no mesmo dia em que o Senhor morreu. A discussão inteira é onde a vírgula deveria ser colocada: antes do hoje, lendo “hoje estarás”, ou depois do hoje, lendo “hoje, estarás”. Os antigos manuscritos não possuíam vírgulas e o grego aqui permitiria ambas as leituras. Jesus utilizou a construção “Em verdade digo” 75 vezes, sendo que em 31 delas, Ele duplicou o termo amen, um hebraísmo traduzido por “em verdade”. Ou seja, essa expressão era uma fórmula fixa de início de discurso de Jesus, sempre na mesma ordem no grego: amen + + lego + pronome. Essa ordem não ocorre apenas em Lucas 23:43, que está literalmente amen + pronome + lego. Essa construção incomum, certamente serve ao propósito de desfazer a ambiguidade gramatical e indicar que o “hoje”, no grego semeron, deve ser ligado ao verbo lego, digo, e não ao verbo estará, que ocorre depois da preposição met’emou comigo. Traduzido literalmente, Jesus disse: “Em verdade a ti digo hoje Comigo estarás no paraíso”. Jesus teria propositalmente aproximado o advérbio semeron do verbo que ele deveria modificar: lego.

Filipenses 1:21 a 23 também não precisa ser forçado ao ponto de dizer que Paulo esperava estar com Cristo logo após sua morte. Na verdade, o contexto nos esclarece que Paulo estava em angústia quanto a viver e seguir pregando Cristo, mesmo sendo perseguido, ou morrer e repousar das perseguições que sofria. Nessa posição de angústia diante da pressão, ele queria algo muito melhor: partir e estar com Cristo, por meio da ressurreição, como era a sua esperança farisaica.

As almas debaixo do altar de Apocalipse 6:9 tampouco dão qualquer ideia de imortalidade. O texto é totalmente simbólico, evocando a ideia de sacrifícios, cujo sangue era derramado na base do altar, como em Levítico 4, bem como de clamor por justiça, como é representado pelo sangue de Abel, em Gênesis 4.

Ao estudar a Palavra de Deus precisamos levar em conta muitas variáveis. A primeira delas, como já afirmamos em várias lições, é considerar sempre o testemunho total das Escrituras. Dessa forma, ao analisar os textos elencados no guia, precisamos considerar que nenhuma evidência existe na antropologia bíblica de uma divisão do ser humano em partes diferentes, sendo uma material e mortal e outra espiritual e eterna; ao contrário, a Bíblia repetidamente nos dá testemunho que o ser humano é uma unidade indivisível, que não sobrevive à morte, mas que pode ser trazido de volta à vida, arrancado do poder da morte, pelo poder Daquele que ressuscitou pelo Seu próprio poder: Jesus!

 

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica pela Theologische Universiteit Apeldoorn. Pastor da Brazilian Adventist Community Church na Associação do Norte da Nova Zelândia e membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.