Precisamos crescer na caminhada com Deus. Sem crescimento, estamos mortos. Pedro declarou: “Cresçam na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pe 3:18). Devemos estar dispostos a crescer. Frequentamos diariamente a universidade de Deus, onde não há formatura, mas um processo de aprendizado constante. Podemos ser perfeitos em cada estágio se permitirmos que Deus nos torne as pessoas que Ele nos chama para ser em Cristo.
Pense numa escola. Se um aluno do primeiro ano do ensino fundamental aprende a ler e contar até determinado número, ele é aprovado, porque seu conhecimento é perfeito naquele estágio de crescimento. No entanto, se um aluno do ensino médio tivesse o mesmo nível de conhecimento, isso indicaria uma falha colossal em sua educação. Algo semelhante acontece em nosso crescimento na graça e no conhecimento de Deus: em cada estágio de desenvolvimento, podemos ser tão perfeitos em nossa esfera quanto Cristo era na Sua.
Nesta semana, veremos como Moisés, ao conhecer as instruções de Deus e obedecer-lhes, crescia na caminhada com o Senhor.
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1. Leia Êxodo 33:7-11. Por que Deus pediu que Moisés armasse a tenda do encontro?
Não devemos confundir a “tenda do encontro” (armada fora do acampamento de Israel) com o tabernáculo, que foi construído depois e estava localizado no centro do acampamento. Não sabemos com que frequência Moisés consultava Deus na tenda do encontro. No entanto, temos certeza de uma coisa: os encontros de Moisés com Deus resultaram em uma amizade bastante próxima. “O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com o seu amigo” (Êx 33:11). Amigo é alguém com quem podemos conversar abertamente sobre quase tudo, sabendo que ele nunca revelará nossos segredos a outras pessoas. Um amigo é uma das melhores riquezas para se ter e uma das melhores pessoas para ser.
A história de Moisés, registrada nos capítulos 19 a 34 de Êxodo, esclarece como Deus transforma a vida. Como o Senhor construiu um relacionamento com esse líder extraordinário? Quando estudamos a vida de Moisés, vemos que ele cresceu em conhecimento, não apenas do poder de Deus, mas de Seu amor e caráter. Esse é um componente essencial do relacionamento com Deus.
Antes de chegar ao monte Sinai, Moisés já tinha sido usado poderosamente por Deus, mesmo enquanto estava sendo preparado para um papel especial de liderança. Na terra de Midiã, enquanto cuidava de ovelhas, Deus o inspirou a escrever dois livros: Jó e Gênesis. Então, no evento impressionante da sarça ardente, ele foi chamado para conduzir Israel para fora do Egito. Ele viu os deuses egípcios serem derrotados e o exército egípcio ser afogado no Mar Vermelho. Viu durante várias semanas como Deus guiou Israel do Egito para o Sinai. Depois de se encontrar com Deus e ter o rosto brilhando, liderou Israel por mais 39 anos até a fronteira da terra prometida. Moisés foi um fiel servo de Deus (Dt 34:5; Js 1:1), uma luz inextinguível na escuridão, um profeta que serviu de modelo para outros profetas (Dt 18:15, 18). Ele foi um agente de transformação, mesmo que as pessoas nem sempre seguissem suas instruções. Quando o faziam, obtinham êxito espiritual.
Temos muito a aprender com Moisés, porque sua história de vida excepcional nos revela o que Deus pode fazer quando permitimos que Ele nos transforme. Reflita sobre alguns momentos especiais de sua própria caminhada com Deus, quando você pôde reconhecer que Ele estava trabalhando poderosamente em sua vida.
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2. Leia Êxodo 33:12-17. O que Moisés pediu que o Senhor lhe fizesse saber? Por que ele implorou a presença de Deus para guiá-los?
O crescimento de Moisés no Senhor era constante. Ele se aproximava cada vez mais do Senhor e procurava imitar a imagem de Deus. Certo dia, enquanto estava conversando com Deus na tenda do encontro, Moisés de repente percebeu que não O conhecia e fez uma oração bem específica: “Revela-me os Teus caminhos para que eu Te conheça” (Êx 33:13, NVI). Moisés entendia que necessitava conhecer a Deus em um novo nível. Ele descobriu que quanto mais conhecia o Senhor, menos O conhecia. Ele reconheceu sua necessidade e desejou de todo o coração conhecê-Lo melhor. Deus concedeu o desejo de Moisés.
Observamos que Moisés era atraído para um relacionamento mais profundo com o Senhor e tinha uma experiência de constante crescimento espiritual. Primeiro, Moisés “subiu [o monte] para encontrar-se com Deus”. Então foi “para o alto do monte” e depois se aproximou da “nuvem escura onde Deus estava” (Êx 19:3, 20; 20:21).
Em outra ocasião, ele entrou “pelo meio da nuvem” onde Deus estava e ficou com o Senhor 40 dias e 40 noites (Êx 24:18). Nesse período, Deus deu a Moisés duas dádivas preciosas: (1) o Decálogo, escrito por Deus em duas tábuas de pedra, esculpidas por Ele (Êx 24:12), e (2) as instruções sobre como construir e mobiliar o tabernáculo (Êx 25 a 31).
Então Moisés passou outros 40 dias e 40 noites com o Senhor, intercedendo pelos pecadores (Êx 32:30-32; Dt 9:18).
Depois de tudo isso, Moisés ainda quis conhecer o caráter de Deus mais claramente, e o Senhor logo lhe deu percepções especiais de quem Ele é. Esse conhecimento que Moisés queria não era mera compreensão intelectual de Deus, mas um conhecimento de Sua Pessoa adquirido pelo relacionamento.
Não é de admirar que Jesus tenha dito: “E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). Haveria melhor maneira de Deus Se fazer conhecido aos seres humanos do que Se tornar um Ser humano?
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Após a apostasia do bezerro de ouro, Moisés clamou pelo povo, pois queria ter certeza de que Deus continuaria a guiá-lo para a terra prometida. Ele também queria conhecer mais o Senhor.
3. Como Deus respondeu ao pedido para que mostrasse Sua glória? Êx 33:18-23
Moisés pediu: “Peço que me mostres a Tua glória”. O Senhor revelou Sua glória. No entanto, ao responder ao pedido de Moisés, Deus prometeu mostrar-lhe Sua “bondade” (Êx 33:18, 19). A glória de Deus é Sua bondade, ou seja, Seu caráter (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 367; Parábolas de Jesus, p. 244, 245; Profetas e Reis, p. 184).
“Para Deus, a glória é conceder Sua virtude aos Seus filhos. Ele deseja ver homens e mulheres alcançarem o mais elevado padrão” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 338). A glória de Deus é envolver pecadores arrependidos em Seus braços (Profetas e Reis [CPB, 2021], p. 390) e prover tudo o que é necessário para a transformação deles. Ao mesmo tempo, nossa “glória” é revelar Seu caráter e torná-lo conhecido aos outros.
Esse reflexo do caráter de Deus, de Sua misericórdia e terno amor deve ser visto em nossas ações. Assim, temos a oportunidade de ser não apenas bênção para o mundo, mas luz que brilha diante do Universo que nos observa. Paulo afirmou: “Parece que Deus pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Viemos a ser um espetáculo para o Universo, tanto para os anjos como para os homens” (1Co 4:9, NVI). Essa dimensão cósmica dá à nossa vida e serviço significado e propósito que mal conseguimos imaginar.
“Será que você despreza a riqueza da bondade [...] ignorando que a bondade de Deus é que leva você ao arrependimento?” (Rm 2:4). É o Espírito Santo, com a revelação da bondade e do caráter de Deus, que convence as pessoas de sua pecaminosidade e necessidade de salvação. Quando olhamos para a cruz e compreendemos quem estava lá (o próprio Senhor) e porque Ele estava lá (porque nos amou, e morrer por nós era a única maneira de nos salvar), recebemos a maior revelação possível de Sua bondade e caráter.
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4. Leia Êxodo 34:1-28. Como Deus revelou Sua glória a Moisés?
Moisés teve que levar consigo duas tábuas de pedra como as primeiras, que ele havia quebrado (Êx 32:19). Ele estava indo se encontrar com o Senhor no monte Sinai pela sétima vez. Os seguintes textos descrevem as outras seis vezes que ele subiu o monte: (1) Êxodo 19:3, 7; (2) Êxodo 19:8, 14; (3) Êxodo 19:20, 25; (4) Êxodo 20:21; 24:3; (5) Êxodo 24:9, 12-18; 32:15; e (6) Êxodo 32:30, 31. Moisés começou a subida bem cedo pela manhã.
O líder de Israel agora estava preparado para essa gloriosa percepção do caráter de Deus. A beleza do caráter divino é uma impressionante revelação que Ele faz de Si mesmo. Êxodo 34:6 e 7 é uma das descrições mais importantes de quem Deus é. Essa descrição é como um fio dourado que atravessa toda a Bíblia (Nm 14:18; Ne 9:17; Sl 103:8; Jl 2:13; Jn 4:2). A proclamação feita pelo Senhor nessa passagem é, por assim dizer, o João 3:16 do AT. Em outros importantes textos, autores bíblicos aplicam, repetem ou desenvolvem essa proclamação do Deus vivo, pois o Seu caráter deve ser corretamente compreendido.
Quando Moisés recebeu a explicação excepcional, sem precedentes e inigualável do nome de Deus, ele se prostrou e adorou o Senhor. Quando obtemos vislumbres do amor, graça, misericórdia, compaixão, bondade, fidelidade, perdão, santidade e justiça de Deus, também somos atraídos por Ele. É somente quando vemos e admiramos Suas qualidades excepcionais que começamos a amá-Lo – um amor que leva ao desejo de servi-Lo e obedecer-Lhe. Porque Ele nos ama, nós O amamos em resposta ao Seu amor (1Jo 4:19).
Nessa revelação de Si mesmo, Deus garantiu a Moisés que realizaria feitos maravilhosos em favor de Seu povo e o conduziria à terra prometida. Ele renovou a aliança com ele, prometendo que outras nações veriam Sua majestade e Sua obra impressionante: “Faço uma aliança. Diante de todo o seu povo, farei prodígios jamais realizados na presença de nenhuma outra nação de toda a Terra. O povo no meio do qual você habita verá a obra maravilhosa que Eu, o Senhor, farei em favor de vocês” (Êx 34:10, NVI).
Contudo, os israelitas precisavam obedecer a Deus e seguir dez condições bastante claras para garantir sua prosperidade. Então Deus pediu a Moisés que escrevesse o conteúdo daquela aliança, que já havia sido violada (Êx 34:27, 28).
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5. Leia Êxodo 34:29-35. Por que o rosto de Moisés resplandeceu?
Depois que Deus revelou Seu caráter de amor a Moisés, o líder hebreu desceu ao acampamento de Israel com o rosto brilhando. Será que ele sabia disso? Com certeza, não! Quanto mais perto estamos do Senhor, mais profundamente cientes estamos de nossas imperfeições em comparação com a santidade de Deus.
Por que o rosto de Moisés começou a brilhar? A razão não estava no simples fato de que ele estava na presença de Deus, porque isso havia acontecido várias vezes antes e seu rosto não havia resplandecido após esses encontros. No entanto, se Moisés nunca tivesse estado na presença do Senhor, seu rosto nunca teria brilhado. Foi somente quando entendeu a bondade e a misericórdia de Deus, e se abriu completamente a Deus por causa da beleza de Seu caráter, que Moisés foi transformado e seu rosto passou a resplandecer. Nosso coração e nossa mente experimentarão uma transformação quando nos rendermos a Deus e permitirmos que Ele seja o Senhor e Rei de nossa vida.
6. Leia 2 Coríntios 3:18. Como Jesus pode transformar gradualmente você à Sua imagem?
Paulo comparou o rosto brilhante de Moisés com Jesus Cristo, mostrando que a glória de Cristo é ainda maior que a glória que a lei teve com Moisés (pois, em Jesus, a lei e a graça de Deus foram personificadas). Cristo, junto com Sua lei, pode ser gravado em nosso caráter somente quando mantemos os olhos fixos Nele (Hb 3:1; 12:2) e somente pelo poder do Espírito de Deus (2Co 3:12-18).
Moisés é um exemplo para nós, revelando o que Deus pode fazer por nós quando permitimos que Ele transforme nosso caráter e nos molde à Sua imagem. Foi isso que Paulo quis dizer quando escreveu sobre andar em “novidade de vida” (Rm 6:4).
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Leia atentamente, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 275-278 (“O bezerro de ouro”).
Em um dia escuro, um menino e seu pai visitaram uma catedral. Enquanto olhavam para os vitrais com belas representações de diferentes histórias bíblicas, o Sol de repente começou a brilhar através da imagem de pessoas, iluminando-as intensamente com uma luz impressionante. O garotinho perguntou: “Papai, quem são essas pessoas?” O pai não sabia muito sobre o cristianismo, Jesus ou os discípulos, mas rapidamente respondeu: “São cristãos.” Aquela imagem deslumbrante ficou na mente do menino. Certo dia, sua professora perguntou na sala de aula: “Crianças, vocês sabem quem são os cristãos?” O garotinho se lembrou da imagem na catedral e respondeu: “Sei; os cristãos são pessoas que brilham.” Utilizando essa mesma linguagem, Jesus disse aos Seus seguidores: “Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16). Somente pessoas que brilham podem ser agentes de transformação.
Perguntas para consideração
1. “Se nos humilhássemos perante Deus e fôssemos bondosos e corteses, compassivos e piedosos, haveria uma centena de conversões à verdade onde agora há apenas uma” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2021], v. 9, p. 147). Como nosso caráter, nossas ações e nossas atitudes influenciam nosso testemunho?
2. Êxodo 34:6 e 7 é corretamente chamado de o João 3:16 do AT. Por quê?
3. Com base na revelação que o Senhor fez de Si mesmo em Êxodo 34:6 e 7, como você explicaria a beleza do caráter divino a alguém que lhe perguntasse quem é o seu Deus?
4. Em classe, pergunte como o caráter e as ações daqueles que professam seguir a Cristo influenciam a própria caminhada deles. Qual tem sido a influência dos cristãos que demonstram bondade, graça, humildade e perdão em sua experiência pessoal? Ao mesmo tempo, como os “cristãos” rudes, implacáveis e arrogantes influenciaram sua caminhada com o senhor?
Respostas às perguntas da semana: 1. Deus queria Se comunicar com Moisés e revelar Sua vontade a ele na tenda do encontro. 2. Moisés pediu que Deus lhe revelasse Seus caminhos, para que O conhecesse. Somente com a presença de Deus o povo poderia chegar ao seu destino. 3. Deus revelou Seu caráter de misericórdia e justiça. O caráter de Deus é Sua glória. 4. O Senhor descreveu Seu caráter e apareceu visivelmente a Moisés. 5. Porque ele havia estado na presença de Deus. 6. Somos transformados pelo Espírito Santo à medida que contemplamos a justiça e a graça de Cristo, que são a Sua glória.
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TEXTO-CHAVE: Êx 34:6, 7
FOCO DO ESTUDO: Êx 33; 34
ESBOÇO
Introdução: Deus ordenou que Israel saísse do monte Sinai e fosse para a terra que Ele havia prometido dar a Abraão, Isaque e Jacó (Êx 33:1). Após quase um ano no Sinai (Êx 19:1; Nm 10:11), os israelitas precisavam prosseguir em sua jornada rumo à terra prometida. Durante esse período, Deus estabeleceu uma aliança com eles, desejando trazê-los para perto de Si. Ele lhes deu o Decálogo e diversas instruções adicionais sobre como se tornar uma nação sábia, justa, bondosa, disciplinada e bem-organizada (Dt 4:5-10). Agora era o momento de seguir adiante. No entanto, Deus declarou: “Eu não irei no meio de vocês” (Êx 33:3). Esse pronunciamento foi devido à apostasia do bezerro de ouro de Israel. A presença santa de Deus no meio de Israel era incompatível com a desobediência obstinada do povo e causaria sua destruição.
Quando os israelitas ouviram essas notícias devastadoras, eles lamentaram e “tiraram de si as suas joias” (Êx 33:6). Algumas versões traduzem esse versículo corretamente, mostrando que a remoção de seus ornamentos não foi algo feito somente naquela ocasião, mas foi permanente: “Então os filhos de Israel tiraram de si as suas joias desde o monte Horebe em diante” (Êx 33:6). Mais uma vez, Moisés suplicou ao Senhor, pedindo que Ele estivesse com o povo, o guiasse e permanecesse ao lado dele: “Se a Tua presença não for comigo, não nos faças sair deste lugar” (Êx 33:15). Em resposta, Deus assegurou a Moisés que conduziria a nação: “Farei também isto que você falou” (Êx 33:17).
COMENTÁRIO
A autorrevelação que Deus fez de Seu caráter a Moisés é o núcleo teológico do Livro de Êxodo (Êx 34:6, 7). Esse momento ocorreu no ponto culminante da subida de Moisés ao monte de Deus para um encontro especial. Deus revelou Seu caráter a Moisés nessa última subida registrada no Pentateuco, que foi, pelo menos, sua sétima subida. Essa última subida foi também a terceira vez que Moisés passou 40 dias e 40 noites com Seu Senhor. O profeta de Deus estava aprofundando seu relacionamento com o Senhor, permitindo que Deus lhe desse uma revelação mais completa sobre Sua própria natureza. Além dessas subidas, Moisés também se encontrava com o Senhor na “tenda do encontro”, situada fora do acampamento de Israel (essa tenda não era o tabernáculo, que seria construído mais tarde e colocado no centro do acampamento). O texto bíblico destaca que, durante esse tempo, uma amizade se desenvolveu entre o Senhor e Moisés e que o Senhor Se comunicou diretamente com ele “face a face” (Êx 33:11).
A expressão “face a face” não significa que Moisés viu literalmente a face de Deus (Êx 33:20), mas que eles eram amigos muito queridos. Essa frase é uma expressão idiomática que significa proximidade íntima. Esse significado ficou claro na situação descrita em Deuteronômio 5:4, na qual Moisés, em seu sermão, lembrou aos israelitas que o Senhor falou diretamente com eles de maneira muito próxima: “Face a face o Senhor falou conosco, no monte, do meio do fogo” (Dt 5:4). Apesar da proximidade de Deus com eles, o povo, infelizmente, permaneceu
a uma distância relacional de seu Senhor.
A glória de Deus
Quatro temas são fundamentais no Livro de Êxodo: (1) a presença de Deus; (2) a salvação e libertação proporcionadas por Deus; (3) Sua orientação; e (4) Sua glória. Esse último tema é especialmente aprofundado em Êxodo 33 e 34.
Em uma ocasião, Moisés percebeu que não conhecia o Senhor como deveria, então ele Lhe pediu: “Agora, se alcancei favor diante de Ti, peço que me faças saber neste momento o Teu caminho, para que eu Te conheça e obtenha favor diante de Ti” (Êx 33:13). Com humildade, ele desejava conhecer melhor a Deus e, então, fez um pedido audacioso:
“Peço que me mostres a Tua glória”. Deus gentilmente respondeu a Moisés que Ele lhe mostraria Sua bondade (Êx 33:18, 19). A resposta de Deus revelou que Sua glória é expressa em Sua bondade. Mais tarde, vemos que, quando Moisés estava com o Senhor no monte Sinai, Deus lhe revelou Seu caráter (Êx 34:6, 7). Em outras palavras, a glória de Deus é o reflexo de Seu caráter, e a bondade do Senhor é a essência desse caráter.
A frase “Você alcançou favor/Me agrado de você” (literalmente, “Você achou graça”) é uma expressão-chave nessa passagem (Êx 33:12-17). Ela aparece aqui cinco vezes (Êx 33:12, 13, três vezes; Êx 33:16, 17; e também em Êx 34:9). No Livro de Êxodo, o termo “favor/graça” foi usado inicialmente para mostrar que os israelitas receberiam “favor” dos egípcios: “Eu farei com que este povo encontre favor diante dos egípcios”. A influência divina levou os egípcios a entregar ouro, prata e roupas na partida do povo do Egito (Êx 3:21; Êx 11:3; Êx 12:36). Em nossa passagem, o uso é teológico, especialmente considerando Êxodo 34:6, onde Deus é descrito como “compassivo”, ou seja, Aquele que concede favor imerecido. Moisés estava, com humildade, pedindo a graça de Deus, uma resposta favorável.
Deus já havia explicado a Moisés quem Ele era quando Moisés perguntou sobre o significado de Seu nome. Moisés ouviu a explicação de Deus, que revelou que (1) Ele está presente; (2) Ele é eterno; (3) Ele é o Deus da história; e (4) Ele age em favor de Seu povo (Êx 3:14-16). Moisés já conhecia a Deus por meio de muitas interações com o Senhor e Suas obras: seu tempo com Ele em Midiã, os milagres realizados por Deus diante do Faraó, as maravilhas das dez pragas, a abertura do Mar Vermelho, o cuidado divino pelo povo no deserto, e a voz de Deus pronunciada no Sinai, entre outros momentos. Agora, Moisés desejava conhecê-Lo de forma ainda mais profunda. Ele estava preparado para receber uma revelação mais profunda de Deus. O Senhor nos oferece insights sobre Seu caráter e sobre a verdade somente na medida em que somos capazes de entender. Moisés amadureceu em sua caminhada com Deus, e, por isso, Deus pôde lhe revelar muito mais sobre Si mesmo.
Moisés subiu a montanha bem cedo de manhã. Ele teve que pegar duas tábuas de pedra, que precisou pessoalmente cinzelar, pois havia quebrado as tábuas originais (Êx 34:1). Isso foi uma leve repreensão a Moisés por agir sem a permissão de Deus, mas, em Sua graça, Deus escreveu novamente as Dez Promessas nas novas tábuas. O Senhor Se manifestou a Moisés na nuvem, um tipo de teofania. As nuvens são símbolos da presença de Deus (Nm 11:25; Dt 33:26; Dn 7:13).
O Senhor declarou quem Ele é por meio de uma autorrevelação. Ele é o Senhor, um Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-Se, abundante em amor e fidelidade, mostrando amor a milhares de gerações. Ele é perdoador e justo. Mas a última parte dessa autorrevelação de Deus confunde a muitos: “‘Ainda que não inocente o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração” (Êx 34:7). Por que Deus puniria as pessoas até a terceira e quarta geração? Esse versículo ecoa a descrição da segunda promessa dos Dez Mandamentos de que o Senhor visita “a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que [O] odeiam, mas [faz] misericórdia até mil gerações daqueles que [O] amam e guardam os [Seus] mandamentos” (Êx 20:5, 6).
Para compreender esse conceito, é importante considerar os seguintes pontos: (1) Deus usa particípios (ou seja, ações contínuas) ao descrever a próxima geração, o que indica que eles seguem os mesmos caminhos perversos de seus pais (a geração anterior) e têm atitudes e comportamentos semelhantes: eles estão “odiando” o Senhor e, por isso, são “culpados”. Por outro lado, é importante observar que Deus abençoa aqueles que “amam” e “guardam” Seus mandamentos; (2) Considere o contraste da misericórdia de Deus: punição à terceira e
quarta geração dos perversos, mas dando amor a milhares de gerações; (3) Três a quatro gerações frequentemente viviam juntas. Então, dentro da mesma casa, atitudes erradas eram compartilhadas de uma geração para a outra. O profeta Ezequiel explicou e corrigiu perfeitamente o mal-entendido das punições de Deus nas famílias de uma geração para outra (veja Ez 18).
Quando Moisés desceu do monte Sinai, seu rosto refletia a glória de Deus de maneira radiante. No entanto, ele não sabia que seu rosto estava brilhando. Aqueles que irradiam brilho não percebem isso. Quanto mais nos aproximamos do Senhor, mais intensamente percebemos nossas imperfeições à luz de Sua santidade, e mais desejamos que Ele nos transforme à Sua imagem, para que possamos refletir a beleza de Seu caráter.
Não foi somente a presença de Deus que trouxe mudança na vida de Moisés. Era importante que ele entrasse em Sua presença, mas isso não era suficiente. Era crucial que o profeta de Deus estivesse aberto ao amor, à graça e à compaixão de Deus. A compreensão de Moisés sobre a bondade de Deus (Rm 2:4; 12:1, 2) e sua abertura ao seu poder transformador fizeram seu rosto brilhar.
Quando o apóstolo Paulo refletiu sobre o rosto brilhante de Moisés, ele enfatizou que a glória de Jesus superou a de Moisés. Cristo com Seus ensinamentos pode ser gravado em nosso caráter quando fixamos nossos olhos Nele. Pela contemplação de Cristo e pelo poder do Espírito de Deus, gradualmente refletiremos Sua semelhança (2Co 3:18).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
1. O evangelho eterno inclui o imperativo divino de dar glória a Deus (Ap 14:7). Deus é glorioso por Si mesmo, e não podemos adicionar nada à Sua glória. O que significa, então, dar glória a Ele, considerando que Sua glória é Seu caráter?
2. Jesus disse aos Seus discípulos que eles eram “a luz do mundo” e os incentivou a “deixar brilhar a [sua] luz” (Mt 5:14, 16). Ele associou essa luz às nossas boas obras em favor dos outros. De que maneira nossas boas ações ajudam as pessoas a glorificar o Pai celestial?
3. Sabemos que há luz fria e quente ao nosso redor. A luz quente é proporcionada por lâmpadas brilhantes, fogo e pela luz do sol. Que tipo de luz estamos sendo para as pessoas ao nosso redor? Como podemos levar a luz quente do amor de Deus a todos os nossos relacionamentos interpessoais?
4. Moisés teve conversas muito abertas com Deus. Como podemos, hoje, ter diálogos francos com Deus? Como podemos ouvir claramente o que Ele nos diz? Em meio a tantas vozes, como ter certeza de que é a voz Dele que está falando conosco?
5. Amigos são pessoas que confiam umas nas outras e compartilham tudo sem reservas. Seus segredos permanecem guardados. Amigos se ajudam em momentos de necessidade e se apoiam nas crises. Os verdadeiros amigos nunca se traem. Jesus disse aos Seus seguidores: “Vocês são Meus amigos” (Jo 15:14, 15). Como podemos cultivar nossa amizade com Deus?
Hospital milagroso
Zâmbia | Mwate
Nota do editor: Um dos projetos deste trimestre é construir uma cozinha e uma lavanderia para o Hospital Adventista Chitanda Lumamba em Chibombo, Zâmbia. Aqui está uma visão interna do hospital.
Mwate Mwambazi, pediatra e líder da Igreja Adventista do Sétimo Dia, vê o Hospital Adventista Chitanda Lumamba como uma história milagrosa. Ela diz que é somente pela graça de Deus que o hospital é adventista.
Chitanda Lumamba é o nome de um chefe tribal que doou 10 hectares de terra rural para construir o hospital no norte da Zâmbia. Ele deu o terreno a uma organização cristã sem fins lucrativos que usa doações pessoais e corporativas para construir projetos de infraestrutura.
O plano original previa que o hospital fosse entregue ao governo da Zâmbia. Mas então o chefe tribal e a organização cristã sem fins lucrativos abordaram a Igreja Adventista do Sétimo Dia com uma proposta. Eles perguntaram: "Você poderia assumir este hospital e usá-lo da mesma forma que usa o hospital Mwami para alcançar pessoas com saúde física e espiritual?".
O Hospital Adventista de Mwami está localizado no sul da Zâmbia. O hospital e o terreno foram oferecidos à Igreja Adventista nas seguintes condições: o hospital deve operar como uma organização sem fins lucrativos, deve começar a operar dentro de um ano e deve atender às necessidades da comunidade rural. "Foi doado à Igreja nessas condições", disse Mwate. "Fomos presenteados com a estrutura."
A área ao redor do hospital adventista é povoada por agricultores sazonais que plantam milho na estação chuvosa, mas geralmente apenas em quantidade suficiente para uso pessoal. Eles não têm muita renda extra.
Antes da inauguração, a Igreja Adventista instalou pisos e encanamentos no hospital e cavou poços no terreno. O presidente da Zâmbia, que é adventista do sétimo dia, também contribuiu para as reformas com seu próprio dinheiro, disse Mwate, que é diretora do ministério da saúde da União do Norte da Zâmbia.
"Pela graça de Deus, o chefe de Estado estava muito interessado e até colocou parte de seu próprio dinheiro para nos ajudar nas reformas e na inauguração", disse ela. "Ele veio e nos ajudou a abri-lo.’’
Na cerimônia de abertura em outubro de 2023, o presidente, Hakainde Hichilema, prometeu que o governo também financiaria um gerador de reserva e um necrotério. Os cortes de energia são frequentes na Zâmbia por causa da escassez de água para gerar eletricidade no país afetado pela seca. O gerador chegou cinco meses depois, e o necrotério estava em processo de construção quando Mwate se encontrou com a Missão Adventista.
“O hospital já está provando ser um farol de esperança na comunidade”, disse Mwate. "Nossa presença, e se formos capazes de oferecer cuidados médicos um pouco mais avançados, contribuirá significativamente para aliviar o sofrimento naquele local", disse ela.
Antes da inauguração do hospital, o mais próximo ficava a 90 quilômetros de distância. Apenas uma ambulância estava disponível para transportar as pessoas até aquele hospital distante por estradas de cascalho irregulares. Mães morreram tentando chegar àquele hospital.
As prioridades do hospital agora são uma cozinha e uma lavanderia, disse Mwate. É necessária uma cozinha para preparar alimentos, não só para os pacientes, mas também para seus parentes.
"Na África, se há uma pessoa doente, toda a comunidade se une para apoiá-la", disse Mwate. "Então, se você for ao hospital, pelo menos cinco pessoas irão com você. Elas precisam de um lugar para comer."
Uma lavanderia com máquinas de lavar e secar é considerada essencial para melhorar o atendimento aos pacientes. "Agora temos que lavar debaixo de uma árvore", disse Mwate.
Sua oferta do décimo terceiro sábado ajudará o Hospital Adventista Chitanda Lumamba a abrir a cozinha e a lavanderia muito necessárias na Zâmbia. Obrigado por planejar uma oferta generosa para o dia 27 de setembro.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
• Mostrar a Zâmbia no mapa. Em seguida, mostre Chibombo, onde o hospital está localizado, cerca de 100 quilômetros ao norte da capital, Lusaka.
• Pronuncie Mwate Mwambazi como: MUA-ti MUAM-bazi
• Pronuncie Hakainde Hichilema como: HAI-kaan-dia HI-chuh-leh-muh.
• Assista a um curto vídeo no YouTube sobre Mwate Mwambazi em: bit.ly/Mwate-SID.
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• Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os fatos rápidos da Divisão Africana do Sul e do Oceano Índico: bit.ly/sid-2025.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2025
Tema geral: “O livro de Êxodo”
Lição 12 – 13 a 19 de setembro
Peço que me mostres a Tua glória
Autor: Felipe A. Masotti
Editor: Lucas Diemer de Lemos
Revisora: Rosemara Santos
Nesta semana estudaremos Êxodo 33 e 34. O texto trata do episódio em que Moisés pede uma audiência mais próxima com o Senhor.
A presença de Deus
A maior dádiva no processo de libertação descrito no livro de Êxodo foi a presença de Deus. Ele libertou o povo do Egito com o propósito de conduzi-lo a Si mesmo. No Sinai, Deus Se revelou de maneira poderosa, com a intenção de perpetuar Sua presença no meio do povo. A construção do tabernáculo, em parte, tinha como função memorializar o evento do Sinai e estendê-lo às futuras gerações por meio da presença contínua de Deus no Santo dos Santos. Contudo, o episódio do bezerro de ouro criou uma ruptura profunda na possibilidade de Deus continuar habitando entre o povo.
Êxodo 33:1 a 6 evidencia a incompatibilidade entre o pecado da nação e a santidade de Deus: “Eu não irei no meio de vocês, porque vocês são um povo teimoso, para que eu não os destrua no meio do caminho” (Êx 33:3). A decisão divina de não ir "no meio" do povo não implicava total abandono, mas expunha claramente o problema: um Deus santo não poderia caminhar entre um povo pecador. Provavelmente por isso o povo chorou ao ouvir essas palavras (Êx 33:4). Em sinal de contrição, despiram-se de suas joias, talvez como um novo ato memorial, remetendo à ocasião em que as usaram para construir o bezerro de ouro. Êxodo 33:6 indica que essa renúncia durou por toda a peregrinação no deserto, marcando a caminhada com a memória constante de um Deus santo, que não Se deixa manipular por ídolos humanos.
Êxodo 33:7 a 11 descreve a solução encontrada por Moisés para evitar que o Senhor os abandonasse. A declaração de que Deus não mais caminharia com o povo parece ter alarmado o líder. Como saída, Moisés armou uma tenda fora do acampamento, onde o Senhor poderia encontrá-lo, a ele e aos que O buscassem, sem estar diretamente no meio do povo (Êx 33:7). Essa foi uma medida criativa para preservar, ainda que parcialmente, a presença divina. Vale observar que essa "tenda do encontro" não deve ser confundida com o tabernáculo que seria construído posteriormente.
A tenda do encontro simbolizava a materialidade do pecado. O acampamento, contaminado pelo pecado do bezerro, havia se tornado espiritualmente impuro. Sem um santuário adequado para mediar a relação entre Deus e o povo, Sua presença se tornava uma ameaça. Uma verdade teológica essencial emerge aqui: no Antigo Testamento, o pecado possui um aspecto material. Sua natureza parasitária indica que ele só existe em conexão com a vida. Apenas seres vivos pecam, e, por isso, são considerados pecadores. O drama da presença inacessível de Deus mostra que Sua vontade original não pôde se concretizar plenamente naquele momento devido à materialidade coletiva do mal no arraial. O futuro santuário e suas cerimônias funcionariam como um testemunho da seriedade concreta do mal no mundo.
A separação entre Deus e o povo não significava que o Senhor não desejava a comunhão com eles. Pelo contrário, a acessibilidade sempre foi o objetivo da autorrevelação divina. A intimidade de Moisés com Deus demonstra esse desejo: “O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com o seu amigo” (Êx 33:11).
Luta por intimidade
O diálogo registrado em Êxodo 33:12 a 23 provavelmente tenha ocorrido dentro da tenda do encontro. Na primeira parte da conversa, percebe-se que Moisés se sentia inseguro quanto ao futuro da nação. Ele temia estar sozinho para cumprir a missão, agora que Deus não mais caminharia no meio do povo (Êx 33:12-16). Assim, Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse Seu “caminho” (Êx 33:13), possivelmente um clamor por orientação e pela presença divina rumo à Canaã. O líder também lembrou ao Senhor que o povo Lhe pertencia, buscando reverter Seu juízo severo.
O pedido para conhecer os caminhos de Deus é ecoado no Salmo 103:6 a 9: “O Senhor faz justiça e julga todos os oprimidos. Manifestou os Seus caminhos a Moisés e os Seus feitos aos filhos de Israel. O Senhor é compassivo e bondoso; tardio em irar-Se e rico em bondade” Aqui, os “caminhos de Deus” estão associados a Seus atributos. Moisés parece ter começado a compreender isso, especialmente diante da resposta favorável do Senhor: “A Minha presença irá com você, e Eu lhe darei descanso” (Êx 33:14).
Na segunda parte do diálogo (Êx 33:17-23), Moisés fez um pedido ainda mais ousado: “Mostra-me a Tua glória” (Êx 33:18). Esse pedido é curioso, pois o termo hebraico kavod significa literalmente “peso” ou “glória”. Moisés e o povo já haviam testemunhado essa kavod no Sinai (Êx 24:17), e os anciãos viram a glória divina e comeram diante de Deus. O que, então, Moisés estava pedindo? O pedido parece apontar para um tipo de revelação mais íntima, mais próxima e pessoal. Em geral, manifestações da glória de Deus no Antigo Testamento são distantes, iniciadas por Deus e públicas. Moisés, ao contrário, desejava algo privado, direto, um encontro de natureza relacional mais profunda. Ele ansiava conhecer mais de Deus, além do que já tinha sido revelado, continuando o processo que Deus mesmo havia iniciado no alto do monte.
O caráter de Deus
A resposta divina (Êx 33:19-23), bem como a autorrevelação subsequente no capítulo 34, apontam para a essência da presença divina: Seu caráter. Deus afirmou que o ser humano não poderia ver Sua face e viver, sugerindo que as revelações anteriores tinham sido protegidas, parciais. Contudo, a nova manifestação não deixaria de revelar a essência divina.
No alto do monte, Deus respondeu diretamente aos dois pedidos de Moisés: conhecer Seus caminhos e contemplar Sua presença. Ele Se revelou dizendo: “O Senhor! O Senhor Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-Se e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a maldade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocente o culpado” (Êx 34:6, 7). A expressão hebraica ?é?ed w???met, traduzida como “graça e verdade” ou “misericórdia e fidelidade”, é frequentemente usada na Bíblia. Ela expressa o amor leal de Deus, Seu compromisso em manter o pacto mesmo diante da infidelidade humana. Esses termos também carregam um caráter profético, apontando para uma revelação progressivamente maior ao longo da história da redenção.
O evangelho de João, ao descrever Jesus, retoma diretamente essa linguagem: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14). Assim, a autorrevelação a Moisés tornava-se prenúncio da presença plena de Deus em Jesus. O desejo divino de habitar com Seu povo, demonstrado desde o Êxodo, alcançou seu clímax na encarnação do Verbo entre nós.
Referências:
DAVIDSON, R. M. A Song for the Sanctuary: Experiencing God’s Presence in Shadow and Reality. Biblical Research Institute, 2022.
DOUKHAN, J. B., e DAVIDSON, R. M. Genesis and Exodus. SDAIBC 1. Pacific Press, 2025.
HASEL, M. G. Êxodo. Em Comentário Bíblico Andrews. CPB, 2024.
SARNA, N. M., Exodus. JPSTC. JPS, 1991.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Felipe A. Masotti é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Formou-se em Teologia pelo UNASP-EC em 2008, atuando posteriormente como capelão do Colégio Curitibano Adventista Bom Retiro e pastor de jovens na Igreja Central de Curitiba. É mestre em interpretação bíblica pelo UNASP-EC e doutor (Ph.D.) em Teologia do Antigo Testamento pela Andrews University. Desde 2020, é professor de Antigo Testamento no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), no campus da Faculdade Adventista do Paraná (FAP). Felipe é autor, coeditor e coautor de várias obras, incluindo Daniel: Interpretação, História e Teologia (CPB), But the Wise Shall Understand (Mohr Siebeck) e Exploring the Composition of the Pentateuch (Eisenbrauns). É casado com Camila Masotti, também professora na FAP, e pai do Miguel e da Helena.