Lição 2
04 a 10 de outubro
Surpreendidos pela graça | 4º Trimestre 2025
Sábado à tarde
Ano Bíblico: RPSP: DT 18
Verso para memorizar: “Pela fé, Raabe, a prostituta, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu os espias com paz” (Hb 11:31).
Leituras da semana: Js 2:1-21; Nm 14:1-12; Hb 11:31; Êx 12:13; Js 9; Ne 7:25

“Por que eu fiz isso de novo?” Provavelmente todos nós já dissemos essas palavras. Afinal, não só a história se repete e a humanidade continua a fazer as mesmas coisas, mas nós mesmos individualmente tropeçamos nas mesmas falhas. Quantas vezes repetimos os mesmos erros!

Israel recebeu uma segunda chance de entrar na Terra Prometida, e Josué levou essa missão a sério. O primeiro passo era compreender bem o desa fio à sua frente. Por isso, Josué enviou dois espias para trazer informações valiosas sobre a terra: seu sistema de defesa, preparo militar, suprimentos de água e a atitude da população diante de uma força invasora.

Alguém poderia pensar que a promessa de Deus de dar a terra aos israelitas não exigiu nenhum esforço deles. No entanto, a garantia do apoio divino não anula a responsabilidade humana. Israel estava pela segunda vez nas frontei ras de Canaã. As expectativas eram altas, mas na última vez que Israel esteve na fronteira e teve a mesma tarefa, experimentou um fracasso gigantesco.

Nesta semana, vamos explorar duas das histórias mais fascinantes do livro de Josué e descobrir sua relevância para nossa fé hoje. A graça de Deus tem infinitas possibilidades de nos surpreender.

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Domingo, 05 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 19
Segunda chance

1. Leia Josué 2:1; Números 13:1, 2, 25-28, 33; 14:1-12. Por que Josué começou a missão de conquistar a Terra Prometida enviando espias?

Sitim, o lugar de onde os dois espias foram enviados, nos lembra de dois episódios negativos da história de Israel.

O primeiro é outra história de espionagem (ver Nm 13) que possui os mesmos elementos essenciais: o envio dos espias; a incursão secreta dos espias em território inimigo; o retorno deles; o relatório sobre o que descobriram e a decisão de agir com base nesse relatório.

O outro incidente, ocorrido em Sitim, representa uma das mais desafiadoras e idólatras violações da aliança: influenciados por Balaão, os israelitas se envolveram em orgias com mulheres moabitas e adoraram seus deuses (Nm 25:1-3; 31:16). Diante disso, surge uma questão crucial: o povo repetiria o fracasso na fronteira da Terra Prometida ou finalmente veriam a antiga promessa se cumprir?

2. Leia João 18:16-18, 25-27; 21:15-19. Quais semelhanças existem entre a segunda chance dada a Israel como nação e a Pedro como indivíduo?

O Senhor é um Deus de segundas chances (e de muitas outras!). A Bíblia chama essa segunda chance de “graça”, que é simplesmente Deus oferecendo aquilo que não merecemos. O ensino da Bíblia está repleto do conceito de graça (ver Rm 5:2; Ef 2:8; Rm 11:6). Deus, em Sua graça, oferece a todos a possibilidade de um novo começo (Tt 2:11-14). O próprio Pedro experimentou essa graça e exortou a igreja a crescer em graça (2Pe 3:18). E as notícias ficam ainda melhores: recebemos muito mais do que uma segunda chance, não é mesmo? (O que seria de nós se não recebêssemos?)

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Os israelitas receberam uma segunda oportunidade de entrar em Canaã, e Pedro experienciou a graça depois de negar o Senhor. O que esses exemplos nos ensinam sobre como devemos estender graça àqueles que precisam dela?
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Segunda-feira, 06 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 20
Valor em lugares inesperados

3. Leia Josué 2:2-11; Hebreus 11:31; Tiago 2:25. O que esses textos nos dizem sobre Raabe?

Um elemento bastante importante da história de Raabe é a mentira que ela contou para proteger os espias. Quando consideramos esse fato, precisamos lembrar que ela estava inserida em uma sociedade extremamente pecaminosa, o que levou à decisão de Deus de trazer juízo sobre essa sociedade (Gn 15:16; Dt 9:5; Lv 18:25-28). É verdade que o NT exalta a fé de Raabe, mas uma análise atenta do que ele diz sobre essa personagem revela que em momento algum a Bíblia aprova tudo o que ela fez e jamais aprova sua mentira.

Hebreu 11:31 confirma a fé de Raabe em proteger os espias em vez de escolher se apegar a uma cultura pecaminosa. Tiago 2:25 elogia Raabe por oferecer hospedagem aos dois espias israelitas e por dar-lhes instruções sobre como retornar por uma rota segura. Em meio a uma cultura decadente e corrupta e ao próprio estilo de vida pecaminoso de Raabe, Deus, em Sua graça, viu uma centelha de fé por meio da qual Ele poderia salvá-la. O Senhor usou o que era bom em Raabe – que era a fé Nele e a escolha de pertencer ao Seu povo –, mas nunca aprovou tudo o que ela fez. Deus valorizou Raabe por sua coragem excepcional, por sua fé corajosa, por sua fé corajosa, por ser uma agente de salvação e por escolher o Deus de Israel.

Depois de ver o que estava acontecendo, ela declarou: “O Senhor, o Deus de vocês, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (Js 2:11). É notável ver uma mulher cananeia reconhecendo que Yahweh é o único Deus, especialmente em um terraço onde, segundo o costume daquela religião pagã, geralmente eram feitas orações às supostas divindades celestiais.

Encontramos palavras semelhantes às de Raabe em textos que ensinam que apenas Deus merece adoração (Êx 20:3-6; Dt 4:39; 5:8), demonstrando uma escolha consciente de reconhecer o Deus dos israelitas como a única divindade. Sua confissão demonstra que ela compreendia que a soberania de Deus estava ligada ao juízo que Ele traria a Jericó.

A decisão de Raabe revela que, à luz do juízo de Yahweh, havia apenas duas possibilidades: continuar em rebelião contra Ele e ser eliminado ou escolher se render pela fé. Ao escolher o Deus dos israelitas, Raabe se tornou um exemplo do que poderia ter sido o destino de todos os habitantes de Jericó caso tivessem se voltado para o Deus de Israel em busca de misericórdia.

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O que essa história nos ensina sobre oferecer a Deus nossa lealdade suprema?
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Terça-feira, 07 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 21
Novo compromisso

4. Leia Josué 2:12-21; Êxodo 12:13, 22, 23. Como esses textos nos ajudam a entender o acordo entre os espias e Raabe?

O acordo de Raabe era muito claro: vida por vida e bondade por bondade. O termo hebraico ?esed (Js 2:12), geralmente traduzido como “misericórdia” ou “amor leal”, possui uma riqueza de significado que é difícil de expressar em uma só palavra em outras línguas. Refere-se especialmente à lealdade que existe dentro de um relacionamento de aliança, mas também transmite as ideias de fidelidade, misericórdia, benevolência e bondade.

As palavras de Raabe também lembram Deuteronômio 7:12, em que o pró-prio Yahweh jurou manter Seu ?esed para com Israel: “Se vocês derem ouvi-dos a estes juízos, e os guardarem e cumprirem, o Senhor, seu Deus, guardará a aliança e a misericórdia [?esed] prometida sob juramento aos seus pais.”

É interessante observar que o mesmo capítulo (Dt 7) prescreve a conde-nação ou anátema (em hebraico, ??rem) sobre os cananeus. O livro de Josué apresenta Raabe, uma cananeia que seria entregue à destruição, e ainda assim reivindicou, por meio de uma fé inicial, as promessas que haviam sido dadas aos israelitas. Como resultado, ela foi salva.

Quando examinamos a conversa dos espias com Raabe, a primeira imagem que vem à mente é a da Páscoa. Para que os israelitas fossem protegidos, eles tinham que ficar dentro de suas casas e marcar os umbrais e as vergas das portas de suas casas com o sangue do cordeiro sacrifical (Êx 12:13, 22, 23).

“Pela obediência, o povo devia dar prova de fé. Assim, todos os que esperam ser salvos pelos méritos do sangue de Cristo devem conscientizar-se de que eles próprios têm algo a fazer para conseguir a salvação. Embora apenas Cristo possa nos remir da pena da transgressão, devemos desviar-nos do pecado para a obediência. O ser humano é salvo pela fé, e não pelas obras; contudo, a fé deve ser mostrada pelas obras” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 232).

Nesse caso, o sangue foi um sinal que salvou os israelitas do anjo destruidor. Assim como Deus poupou a vida dos israelitas durante a última praga no Egito, eles deveriam salvar Raabe e sua família quando a destruição chegasse a Jericó.

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Que poderosa mensagem sobre o evangelho encontramos nessas duas histórias? Que lições elas nos ensinam?
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Quarta-feira, 08 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 22
Valores conflitantes

5. Leia Josué 9:1-20. Quais são as semelhanças e diferenças entre a história de Raabe e a dos gibeonitas? Por que elas são relevantes?

O capítulo 9 de Josué começa nos informando que os reis cananeus que governavam pequenas cidades-estados decidiram criar uma coalizão contra os israelitas. Por outro lado, os habitantes de Gibeão decidiram fazer uma aliança com Israel.

Para enganar os israelitas e conseguir uma aliança com eles, os gibeonitas fingiram ser embaixadores de um país estrangeiro. De acordo com Deuteronômio 20:10-18, Deus fez uma distinção entre os cananeus e os povos que viviam fora da Terra Prometida.

A palavra traduzida como “astúcia” (Js 9:4) pode ter um sentido positivo, indicando prudência e sabedoria (Pv 1:4; 8:5, 12), ou negativo, envolvendo intenção criminosa (Êx 21:14; 1Sm 23:22; Sl 83:3). No caso dos gibeonitas, por trás de sua ação traiçoeira havia a intenção menos destrutiva de autopreservação.

O discurso dos gibeonitas é surpreendentemente semelhante ao de Raabe. Ambos reconheceram o poder do Deus de Israel, admitindo que o sucesso de Israel não era simplesmente um feito humano. Em contraste com outros cananeus, eles não se rebelaram contra o plano de Yahweh de conceder a terra aos israelitas, afirmando que o próprio Senhor estava expulsando aquelas nações diante de Israel. As notícias da libertação do Egito, bem como a vitória sobre Ogue e Seom, levaram Raabe e os gibeonitas a buscar uma aliança com os israelitas. No entanto, em vez de reconhecer totalmente sua disposição de se render ao Deus de Israel, como Raabe havia feito, os gibeonitas recorreram a um subterfúgio.

A Lei de Moisés apresenta orientações sobre como conhecer a vontade de Deus em casos como esse (Nm 27:16-21). Josué deveria ter perguntado sobre a vontade do Senhor e evitado o engano dos gibeonitas.

O dever fundamental de um líder de Israel, bem como de qualquer líder cristão, é buscar a vontade de Deus (1Cr 28:9; 2Cr 15:2; 18:4; 20:4). Ao negligenciá-la, os israelitas foram levados a violar as condições fundamentais da conquista da terra ou a quebrar um juramento feito em nome do Senhor, o qual eram obrigados a cumprir.

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Você já se encontrou em um dilema, tentando conciliar dois valores bíblicos que parecem estar em conflito?
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Quinta-feira, 09 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 23
Graça surpreendente

6. Leia Josué 9:21-27. Como a solução de Josué combinou justiça com graça?

Mesmo que o povo de Israel quisesse atacar os gibeonitas, eles não podiam fazê-lo por causa do juramento feito pelos chefes da congregação. Os líde-res israelitas agiram de acordo com o princípio de que um juramento, desde que não envolvesse transgressão ou intenção criminosa (Jz 11:29-40), devia ser cumprido, mesmo que levasse a prejuízo pessoal.

Segundo o AT, ser prudente antes de fazer um juramento e manter o juramento são virtudes do povo de Deus (Sl 15:4; 24:4; Ec 5:2, 6). Como o jura-mento foi feito em nome do Senhor, o Deus de Israel, os líderes não podiam voltar atrás.

Com o juramento feito pelos líderes, o destino de Israel estava inseparavelmente ligado ao dos gibeonitas. Ao serem designados como “rachadores de lenha e tiradores de água para a casa” de Deus (Js 9:23), os gibeonitas se tornaram parte da comunidade de Israel. Os chefes de Israel decretaram que os gibeonitas serviriam a “toda a congregação” (Js 9:21). A resposta de Josué, destacando o serviço para a casa de Deus, em contraste com esse veredito, transformou a maldição em uma bênção potencial para eles (2Sm 6:11).

A história posterior de Gibeão revela os altos privilégios religiosos de que a cidade desfrutava, bem como sua lealdade ao povo de Deus. O voto feito por Israel permaneceu em vigor por muitas gerações, de modo que quando os israelitas retornaram do cativeiro babilônico, os gibeonitas esta-vam entre aqueles que ajudaram a reconstruir Jerusalém (Ne 7:25). Suas ações teriam consequências eternamente positivas, mas somente por causa da graça de Deus.

O que poderia ter acontecido se os gibeonitas tivessem revelado sua identidade e pedido misericórdia como Raabe fez? Não sabemos, mas não pode-mos descartar a possibilidade de que até mesmo consultar a vontade de Deus poderia ter livrado os gibeonitas da destruição. O propósito final de Deus não é punir os pecadores, mas vê-los se arrependerem e conceder-lhes Sua misericórdia (ver Ez 18:23; Ez 33:11). Devemos entender o subterfúgio dos gibeonitas como um apelo à misericórdia de Deus, ao Seu caráter de bondade e justiça. Foi a recusa dos cananeus em se arrepender e seu desafio aos propósitos de Deus que levaram à decisão divina de eliminá-los (Gn 15:16). O Senhor honrou o fato de que os gibeonitas reconheceram Sua supremacia, desejaram paz em vez de rebelião e estavam dispostos a abandonar a idolatria e adorar o único Deus verdadeiro.

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Sexta-feira, 10 de outubro
Ano Bíblico: RPSP: DT 24
Estudo adicional

Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 420-422 (“A travessia do Jordão”).

Após o relato de Raabe e os espias, a Bíblia não a menciona até que seu nome surge novamente na genealogia de Jesus. Ela se casou com Salmom, da tribo de Judá, tornando-se mãe de Boaz e sogra de Rute, outra mulher notável (Mt 1:5; Rt 4:13, 21). Por meio de sua fé em Deus, a prostituta de Jericó, condenada à destruição, tornou-se um elo significativo na linhagem real de Davi e antepassada do Messias. Isso é o que Deus é capaz de realizar por meio da fé, mesmo que seja apenas do tamanho de um grão de mostarda (Mt 17:20; Lc 17:6).

“Sua conversão [de Raabe] não foi um caso isolado da misericórdia de Deus para com os idólatras que reconheceram Sua divina autoridade. No meio daquele território, um povo numeroso – os gibeonitas – renunciou ao paganismo, unindo-se a Israel e partilhando das bênçãos da aliança.

“Deus não reconhece nenhuma distinção em matéria de nacionalidade ou classe social. Ele é o Criador de toda a humanidade. Pela criação, os seres humanos são membros de uma mesma família, e todos são um pela redenção. Cristo veio para demolir todo muro de separação, para abrir cada compartimento das cortes do templo, a fim de que cada pessoa pudesse ter livre acesso a Deus. Seu amor [...] chega a todos os lugares. Esse amor tira da influência de Satanás os que foram iludidos por seus enganos” (Gl 3:28, NTLH; Ellen G. White, Profetas e Reis [CPB, 2021], p. 217).

Perguntas para consideração

1. Como podemos estender “segundas chances” aos outros sem distorcer e utilizar mal esse conceito? Pense em uma mulher que vive um relacionamento abusivo. Ela deve expressar uma suposta “graça” e permitir que o abuso continue? Nesse caso, como podemos encontrar o equilíbrio?

2. Pense em Raabe como exemplo de fé. Quando reconhecer que alguém está se abrindo para Deus, mesmo que sua vida ainda esteja longe do ideal bíblico? Podemos reconhecer a fé dessas pessoas sem aprovar todas as suas práticas?

3. Josué combinou justiça e graça para resolver a situação causada pelo engano dos gibeonitas e por sua própria negligência em consultar o Senhor. Alguma situação em sua vida requer justiça e graça? Como você deve agir?

Respostas às perguntas da semana: 1. Porque aprendeu com o passado que a fé deve andar com sabedoria e preparo. 2. Ambos falharam, mas receberam graça para recomeçar e cumprir seu propósito com Deus. 3. Mesmo com um passado reprovável, ela foi salva pela fé e demonstrou essa fé com ações. 4. Mostram a importância do sinal do sangue, refletido no pacto de proteção feito por Raabe com os espias. 5. Raabe buscou aliança com Deus, enquanto os gibeonitas usaram engano; ambas mostram a graça divina que os incluiu no povo de Deus. 6. Josué impôs justiça ao castigar os gibeonitas, mas ofereceu graça ao poupá-los da destruição total.

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Resumo da Lição 2
Surpreendidos pela graça | 4º Trimestre 2025

TEXTO-CHAVE: Hb 11:31

FOCO DO ESTUDO: Js 2:1-16; Nm 14:1-12; Hb 11:31; Êx 12:13; Js 9; Ne 7:25

ESBOÇO

Introdução: Para muitos leitores, o livro de Josué é frequentemente associado a guerra, destruição e morte. Embora esses elementos estejam presentes no livro, eles não apre- sentam a história como um todo. A destruição dos cananeus ocorreu somente após um longo período de graça (Gn 15:16). Os eventos do Êxodo serviram como testemunho significativo da soberania de Deus e puderam ser vistos como um apelo final para os habitantes de Canaã. As histórias de Raabe e dos gibeonitas demonstram que a maioria dos cananeus estava ciente do que Deus ha- via feito, mas apenas alguns responderam de modo satisfatório. Em vez de se render, eles escolheram resistir, ecoando o fracasso do Faraó 40 anos antes.

De fato, Josué é um livro de graça e misericórdia. Nesta semana vimos como a graça de Deus se manifestou na vida dos israelitas e cananeus. Novamente, Israel estava pronto para entrar na Terra Prometida. Deus estava dando a eles uma segunda chance. A ameaça representada pela capacidade militar cananeia não mudou. O que mudou foi a fé desta segunda geração de israelitas. Quanto aos cananeus, as histórias de Raabe e dos gibeonitas demonstram que nem tudo estava perdido na terra condenada. Ao mesmo tempo, sua fé está longe de ser perfeita. A fé do povo escolhido de Deus, no entanto, também estava longe de ser perfeita. Podemos aprender lições importantes para nossa jornada espiritual ao compararmos a fé do povo de Israel, de Raabe e dos gibeonitas. A lição mais cru- cial, como veremos, é que todos nós precisa- mos da graça maravilhosa de Deus.

COMENTÁRIO

A fé da segunda geração

Em Josué 2:1, a segunda geração do deserto de Israel enfrentava o mesmo dilema da primeira. A subsequente mobilização dos espias lembrava Israel de que a terra que Deus lhes estava dando deveria ser conquistada primeiro. Essa ironia explica a frustração da primeira geração do deserto em Cades-Barneia (Nm 13; 14): a terra era um presente, mas adquiri-la envolvia um custo. Como conciliar essas ideias aparentemente contraditórias de doação e conquista? Algo que era gratuito, por defi nição, poderia exigir algo de quem o recebia? Se a terra era um presente, por que Israel precisava conquistá-la?

A fé, que era mais bem entendida como confiança, estava realmente no cerne da questão. No relacionamento com Suas criaturas, Deus sempre deixa espaço para a confiança. Em certo sentido, a confiança tem sido a questão central desde a queda no jardim do Éden. Não acontece o mesmo com todos os seres humanos? Não pode haver relacionamento genuíno sem confiança. Se Israel confiasse em Deus, Ele expulsaria os cananeus por meios sobrenaturais (Êx 23:28). A falta de confiança demonstrada pela geração anterior foi explicitamente indicada por Deus como a razão de seu fracasso quando Ele perguntou a Moisés: “Até quando este povo Me provocará e até quando não crerá em Mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Nm 14:11).

Quarenta anos se passaram, e uma nova geração emergiu. Para os mais jovens entre eles, a recente vitória militar contra Ogue e Seom e a preservação milagrosa da vida deles durante as peregrinações pelo deserto eram meramente memórias de um passado relativamente distante. Nesse ponto, Israel se encontrava novamente em uma encruzilhada, enfrentando o mesmo problema: se não tivessem confiança, não teriam a terra.

Na história, em vez de doze, dois espias foram enviados. Embora não houvesse uma razão explícita para essa mudança, ela poderia estar ligada ao episódio de Cades-Barneia, no qual dois espias fiéis tiveram que se opor a dez espias incrédulos. Apesar de algumas semelhanças entre os relatos, as diferenças eram ainda mais evidentes. Primeiro, desta vez, os dois espias não trouxeram provas de que a terra era boa. Segundo, não houve menção de uma exploração abrangente da terra. Terceiro, eles passaram mais tempo escondidos do que realizando atividades de espionagem. Finalmente, não houve nenhum relato sobre a terra em relação às suas características gerais ou aos desafios em subjugá-la.

Os espias simplesmente declararam: “Certamente o Senhor entregou toda esta terra em nossas mãos” (Js 2:24). O que lhes dava tanta confiança? A única coisa que eles tinham era a garantia de Raabe. Os espias essencialmente repetiram a Josué o que Raabe lhes tinha dito: “Bem sei que o Senhor deu esta terra a vocês, e que o pavor que vocês estão causando caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão se derretendo de medo” (Js 2:9). As palavras de Raabe, por sua vez, ecoavam as palavras de Josué e Calebe em Números 14:8: “Se o Senhor Se agradar de nós, […] nos dará essa terra”.

A primeira geração não confiou, apesar do que tinha visto. No entanto, esta nova geração confiou com base no que ouviu de uma prostituta. “A personagem central na fuga e no conhecimento da terra e de seus habitantes é Raabe, a prostituta. [...] Ela atua tanto como salvadora quanto como oráculo” (Phyllis A. Bird, “The Harlot as Heroine: Narrative Art and Social Pressupposition in Three Old Testament Texts”, Semeia 46 [1989]: p. 127). Essa dinâmica indica que 40 anos no deserto ensinaram a Israel a habilidade mais potente que eles poderiam desenvolver: confiar em Yahweh. Isso os tornaria invencíveis diante de seus inimigos mais terríveis.

A confiança de Raabe e dos gibeonitas

Lição

Como o quadro acima indica, o primeiro paralelo entre Raabe e os gibeonitas era que sua fé tinha por base o que eles ouviram. Ouvir sobre os atos passados de Deus em favor de Seu povo era o suficiente para produzir neles uma resposta positiva de rendição, enquanto a maioria de seus compatriotas preferia resistir. Nesse ponto, sua fé era louvável, em linha com o que Jesus disse em João 20:29: “Bem-aventurados são os que não viram e creram”. As atitudes de Raabe e dos gibeonitas contrastavam fortemente com as da primeira geração do deserto, que, apesar do que ouviu, não creu. Em resposta àquilo que ouviram, seus “corações derreteram” (Js 2:11), uma expressão idiomática que significava “perder o ânimo” ou “ficar apavorado”. Essa mesma expressão é usada de forma antecipada para descrever os cananeus no cântico de Moisés (Êx 15:15), os israelitas influenciados pelos dez espias (Dt 1:28), os habitantes da terra (Js 2:9) e seus reis (Js 5:1), além dos israelitas em desobediência (Js 7:5). A formulação de Raabe também demonstrava sua compreensão da dimensão religiosa da guerra (Js 2:10). O verbo haram (“destruir completamente”), usado por ela, referia-se a algo ou alguém consagrado à destruição por Deus. Esse conceito era atestado fora de Israel, como evidenciado em textos extrabíblicos. 

Raabe e os gibeonitas demonstraram sua fé por meios não convencionais. Enquanto Raabe mentiu para proteger os espias, os gibeonitas mentiram para salvar sua pele. Independentemente disso, o que motivava suas ações era a certeza de que Deus cumpriria Suas promessas a Israel. Embora não pudéssemos esperar muito desses cananeus em termos morais, o estratagema dos gibeonitas foi visto de forma diferente. De acordo com o narrador, eles agiram astuciosamente (armah), semelhante ao termo em hebraico usado para descrever a serpente em Gênesis 3. Ao contrário da mentira reacionária de Raabe, seu plano foi calculado e bem orquestrado.

O terceiro paralelo diz respeito à sua motivação. Em ambos os casos, eles buscaram ser poupados da destruição vindoura. Nesses primeiros passos, sua fé foi egocêntrica, buscando soluções transitórias para seu problema. Nesse estágio, sua fé foi limitada, incapaz de enxergar além do horizonte. Ela estava fundamentada no medo, e não no amor (Js 9:24). Aqui, a fé assumiu um caráter de barganha. Esse aspecto pragmático foi evidente no uso da palavra ?ese?. Em seu sentido secular, ?ese? frequentemente se refere a uma transação, na qual “quem recebe um ato de ?ese? retribui com outro ato semelhante ou, no mínimo, quem demonstra ?ese? tem razão em esperar uma retribuição equivalente” (Hans-Ju?rgen Zobel, “ ”,????? Theological Dictionary of the Old Testament [Grand Rapids, MI; Cambridge, Reino Unido: Eerdmans, 1986], p. 18).

O quarto e o quinto paralelos envolvem o resultado de suas decisões. Raabe recebeu a garantia de que ela e sua família seriam poupadas. Semelhantemente aos israelitas na última praga, havia um sinal a ser fixado: um cordão escarlate pendurado em uma janela, provavelmente onde Raabe havia descido os espias por meio de uma corda. No entanto, sua libertação foi, em última análise, um ato divino. Se os muros de Jericó caíram, Deus deve ter preservado a região em que sua casa estava. Por outro lado, os gibeonitas tornaram-se intocáveis a partir daquele ponto. Eles garantiram a proteção que buscavam, mesmo enquanto uma coalizão de reis cananeus marchava contra Gibeão em Josué 10. A defesa de Gibeão deu início a uma grande campanha militar que resultou na destruição de muitas cidades. No fim, o plano enganoso dos gibeonitas acabou sendo usado para avançar o propósito de Deus na conquista da terra. Contudo, os desdobramentos a longo prazo foram bastante diferentes: enquanto Raabe e sua família se integraram a Israel, tornando-se parte da linhagem do Messias, os gibeonitas foram assimilados como servos. Eles tiveram proteção duradoura (compare com 2Sm 21), mas a consequência de seu esquema permaneceu. “Como adotaram a aparência de pobreza com o fim de enganar, esta ficou sobre eles como sinal de servidão perpétua” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 442).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

A graça excelsa em nossa vida

A história de Raabe e dos gibeonitas nos lembra de que os israelitas e os cananeus são mais do que apenas grupos étnicos; eles também representam condições espirituais. O Israel de Deus, seja qual for a sua etnia, é principalmente uma comunidade espiritual. Todas as pessoas são convidadas a fazer parte dessa comunidade. Ninguém estava além do alcance de Deus. Nesse sentido, o chamado de Paulo para quebrar todas as barreiras não é uma mera novidade do evangelho (Gl 3:28).

Pergunta para reflexão: Quais são os lugares em que você pode encontrar pessoas que parecem estar além do alcance da graça nos dias de hoje? O que você e sua igreja local podem fazer para alcançar os considerados inalcançáveis?

Como discernir a vontade de Deus

A falha de Israel em discernir a verdadeira identidade dos gibeonitas nos lembra do perigo de sermos guiados pelas aparências. Os líderes de Israel provaram o pão envelhecido com suas bocas em vez de perguntar “à boca do Senhor” (tradução literal de Js 9:14). O erro de Israel foi grave porque sua falha em consultar o Senhor enfraqueceu seu chamado para mediar a vontade de Deus para o mundo. 

Convide os alunos a considerar as seguintes questões:

1. Como podemos, hoje, evitar o mesmo erro que os israelitas cometeram em relação aos gibeonitas?

2. De que maneira Israel repetiu o fracasso de Eva diante da serpente no jardim do Éden?

3. Como podemos discernir a vontade de Deus? Qual deve ser o papel das Escrituras nesse processo?

4. Tente se lembrar da última vez que você decidiu seguir uma direção específica sem consultar a vontade de Deus. Quais foram as consequências?


Amazônia de Esperança

Brasil | Cassi

Alguns pastores moram em casas interligadas a uma igreja. Outros compram ou alugam casas localizadas longe das igrejas onde ministram. O pastor Cassi mora em um barco que também é uma igreja.

A igreja flutuante de Cassi é um projeto do Décimo Terceiro Sábado, adquirida com a ajuda das ofertas mundiais coletadas no primeiro trimestre de 2016. Pessoas como você tornaram possível para Cassi ministrar a pessoas não alcançadas em aldeias remotas ao longo do rio Amazonas.

A história de missão de hoje é um olhar sobre o trabalho do pastor Cassi e a igreja flutuante, que recebeu o nome de Amazônia de Esperança.

Quando o barco chega a uma aldeia, Cassi vai de porta em porta para conhecer as pessoas, ganhar sua confiança e fazer amizade. Os primeiros dias são desafiadores porque Cassi chega como um estranho e ninguém o conhece. Entre suas primeiras paradas estão as casas dos líderes das aldeias, pois o apoio deles pode exercer um papel importante no sucesso de sua estadia. Ele os convida, bem como a todos os residentes, para irem até o barco e conhecerem a igreja flutuante.

O primeiro encontro no barco é uma grande festa. Cassi e sua esposa organizam um programa especial com música cristã, comida e um sorteio de prêmios. Os prêmios incluem itens de cozinha, ventiladores elétricos e bolas de futebol. Na festa, Cassi também compartilha uma mensagem inspiradora da Bíblia e convida as pessoas a voltarem para os seminários baseados na Bíblia todas as noites. A primeira semana de reuniões aborda tópicos como casamento, educação de filhos e saúde. A segunda semana dá início aos estudos bíblicos que durarão de 25 a 30 noites. Durante o dia, Cassi e sua equipe oferecem aulas de culinária, violão e canto. Um médico e dentista também visitam a aldeia para oferecer tratamento gratuito.

Quando as pessoas percebem que Cassi tem um desejo sincero de melhorar suas vidas, elas costumam ir às reuniões todas as noites. Cerca de 150 pessoas cabem no santuário da igreja flutuante.

Durante o primeiro mês na aldeia, começam os trabalhos de construção de uma Igreja Adventista do Sétimo Dia. Normalmente, a igreja é construída rapidamente entre 30 e 50 dias. Os construtores são contratados pela Associação para navegar até a aldeia e construir a igreja.

Quando os estudos bíblicos terminam, Cassi apela aos participantes que entreguem seus corações a Jesus por meio do batismo.

Quando Cassi batiza os primeiros moradores, a nova igreja já está aberta e pronta para receber os fiéis. Em seguida, todos os cultos e outras reuniões são transferidas da igreja flutuante para o novo edifício. Nesse momento, Cassi trabalha com seriedade para discipular os novos membros. Ele os encoraja a compartilhar com outras pessoas o que Jesus fez por elas. Ele trabalha para fortalecer a fé deles por meio de visitas domiciliares e estudos bíblicos adicionais. Os novos membros também são treinados para liderar a nova igreja e organizar a Escola Sabatina e os cultos aos sábados e as reuniões de oração aos domingos e quartas-feiras à noite. Cassi e a igreja flutuante permanecem em uma aldeia por cinco meses. Depois, eles entregam a nova igreja a um pastor permanente que continua o trabalho que Cassi começou. A igreja flutuante costumava visitar mais de duas aldeias a cada ano, mas depois os líderes da igreja perceberam que precisavam dedicar mais tempo nutrindo as pessoas em cada aldeia. Depois de dez meses em duas aldeias, Cassi e a igreja flutuante dedicam o resto do ano – dezembro e janeiro – no principal porto fluvial de Manaus. Lá, o barco passa por reparos anuais e Cassi trabalha com os líderes no planejamento estratégico, incluindo a escolha de aldeias para o próximo ano. Ele também tira férias. Cassi e sua esposa plantaram quatro igrejas em quatro povoados no período de dois anos. Um total de 174 pessoas foram batizadas. “Cada pessoa tem sua própria história”, disse Cassi em uma entrevista sobre a igreja flutuante. “Mas Deus tem nos enviando pessoas especiais, e Ele está conduzindo da Sua maneira especial.”

A igreja flutuante chamada Amazônia da Esperança está levando esperança para muitas pessoas graças à oferta trimestral de 2016, também conhecida como oferta para projetos missionários. Muito obrigado por apoiar os projetos do Décimo Terceiro Sábado no Brasil e no Chile com suas orações e doações. Juntos, podemos trabalhar para divulgar as boas-novas da breve volta de Jesus. Ouça histórias de pessoas tocadas pelo trabalho do pastor Cassi na próxima semana. 

Por Andrew McChesney

Dicas para a história

• Mostre a América do Sul e o Brasil no mapa. Em seguida, mostre Manaus, o porto de origem da igreja flutuante quando não está levando o evangelho às pessoas nos rios Amazonas e Negro.

• Assista a um vídeo curto no YouTube sobre Cassi e a igreja flutuante em: bit.ly/Cassi-SAD.

• Faça o download das fotos desta história pelo Facebook: bit.ly/fb-mq.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2025

Tema geral: Lições de fé no livro de Josué

Lição 2 – de 4 a 10 de outubro de 2025

Surpreendidos pela graça

Autor: Volney da Silva Ribeiro

Editoração: Fernando Dias de Souza

Revisão: Rosemara Franco Santos

 

Fé e obediência

O verso para memorizar desta semana nos apresenta que a fé em Deus e a obediência a Ele nos livram da destruição (Hb 11:31). Se Raabe não tivesse agido assim, seria contada com os desobedientes e teria um fim como o deles. Sua fé a levou à ação, e a graça de Deus agiu na vida dela e por meio dela quando acolheu os espias em paz.

 

Avançar pela fé

É importante destacar que Deus faz promessas (e o povo sabia que era herdeiro de uma promessa divina), porém Ele jamais força a obediência. Então, mais uma vez, Israel se aproximava de Canaã. Deus já havia garantido a terra, contudo, isso não excluía a necessidade de fé e obediência irrestrita e voluntária.

Estando novamente diante da terra prometida, o povo de Deus não poderia simplesmente esperar que Deus agisse sozinho: após o pontapé inicial de Deus no milagre da travessia do rio Jordão e da queda das muralhas de Jericó, a ação humana também deveria ocorrer. Todas as energias do povo deveriam ser postas em ação, batalhas seriam travadas, a fim de que se tomasse posse da terra. Deus é soberano e fiel às Suas promessas, todavia isso não exclui o fato de que Ele chama Seus filhos à ação. Era preciso agir com fé e, mais do que isso, fé e ação eram exigidas. Para Deus, fidelidade não significa passividade, pois há um constante chamado à ação.

 

Às portas da promessa

Quando Josué enviou dois espias secretamente de Sitim, estava demonstrando sabedoria espiritual e aprendizado com erros do passado, quando o povo foi incrédulo e idólatra. Sua atitude revela equilíbrio entre fé nas promessas divinas e na responsabilidade humana.

Às portas da Canaã terrestre, o povo seria testado novamente. Dessa vez, porém, os espias retornaram com um relatório positivo, o que fortaleceu o ânimo do povo. A discrição de Josué ao enviar os dois espias evitou a exposição a murmurações e a dúvidas, promovendo unidade e confiança em Deus. Finalmente, sob a direção divina, Israel estava preparado para entrar na terra prometida.

 

Rendição em meio ao juízo

Raabe entendeu, conquanto não tivesse o privilégio de fazer parte do povo de Israel, que o Deus dos espias era o verdadeiro Deus dos céus e da terra. Sua escolha de acolher os espias e agir em favor deles não significava uma atitude política ou meramente de sobrevivência. Tratava-se de uma expressão de fé consciente e pessoal. Ela reconheceu que o juízo de Deus estava prestes a cair sobre Jericó e que apenas a rendição ao Deus verdadeiro poderia oferecer salvação.

 

Fé ativa e graça estendida

Raabe demonstrou senso de responsabilidade espiritual ao interceder por sua família (Js 2:12, 13). Essa atitude revela um aspecto nobre de sua fé: ela desejava que a salvação alcançasse a si mesma e aos que estavam ao seu redor. Raabe compreendeu a compaixão de Deus e agiu como mediadora, antecipando o papel que todos os redimidos devem assumir: o de interceder pelos outros e conduzi-los à salvação. Sua petição foi atendida, pois a graça de Deus alcança a todos os que têm fé e disposição para obedecer.

 

Esperança em meio ao juízo

A atitude de Raabe evidencia uma grande realidade espiritual, porquanto mostra que, à luz do juízo divino, só há dois caminhos a seguir: permanecer na rebelião e colher suas consequências ou entregar-se pela fé a Deus e receber misericórdia. Raabe, embora egressa de uma cultura pagã, respondeu à revelação de Deus com fé genuína e se tornou um exemplo de que a graça divina está disponível a todos.

Outro aspecto importante também a ser considerado é que o juízo divino é inseparável da vontade humana. Tal qual ocorreu nos últimos momentos de Raabe em Jericó, o mundo atual se aproxima de um clímax profético. Por essa razão, Deus convida cada ser humano a fazer sua escolha para a salvação. A experiência de Raabe revela que mesmo os mais improváveis podem ser salvos, caso respondam com verdadeira fé ao chamado de Deus.

 

Redenção e salvação sob o sinal do pacto

Há uma conexão entre Josué 2:12 a 21 e Êxodo 12:13, 22 e 23. Especificamente, em Josué, o fio escarlate era um símbolo de redenção, que ligava Raabe ao plano de salvação. Ambos os textos, porém, apresentam a salvação associada à fé demonstrada por intermédio da obediência a um sinal estabelecido por Deus. Em Êxodo, o sinal era o sangue do cordeiro; em Josué, era o cordão escarlate. Tanto em Josué quanto em Êxodo, os sinais faziam alusão ao sacrifício de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus.

Os versos de Êxodo 12:13, 22 e 23 lançam luz sobre o fato de que o acordo entre Raabe e os espias refletia a forma como Deus age em favor daqueles que se entregam a Ele. Sob esse viés, o relato de Josué 2:12 a 21 mostra claramente que Raabe não foi salva por mérito. Isso evidencia que, em nenhum momento, o ser humano é capaz de produzir obras meritórias para sua salvação. Ela confiou e obedeceu. Seguiu todas as orientações dos espias, e isso lhe permitiu estar amparada pela graça divina, assim como os lares dos hebreus no Egito.

 

Raabe versus gibeonitas

Raabe agiu com fé; os gibeonitas, porém, com astúcia. Ela reconheceu o Deus de Israel como o único e verdadeiro Deus e, com sinceridade e reverência, rendeu-se à Sua autoridade. Sua confissão de fé é clara e sua ação foi motivada por confiança no caráter de Deus. Os gibeonitas, por sua vez, embora igualmente conscientes do poder de Yahweh, não se submeteram a Ele por fé, porque agiram estrategicamente para salvar a vida, fazendo uso do engano. Enquanto Raabe se aproximou da aliança com humildade e fé, os gibeonitas buscaram proteção sem revelar sua verdadeira identidade, recorrendo a meios escusos em vez de confiarem na misericórdia divina.

Contudo, ambos os casos resultaram em misericórdia e preservação, o que demonstra algo maravilhoso: Deus é longânimo e Sua graça pode atuar mesmo em contextos imperfeitos. No entanto, é importante ressaltar: Deus responde à fé sincera com redenção plena, como no caso de Raabe, mas também lida com a astúcia humana de maneira justa, como ocorreu com os gibeonitas, que foram poupados, porém foram colocados em posição de serviço permanente em Israel. Esses relatos mostram que Deus examina, além das ações humanas, a intenções por trás delas.

 

“Não pediram conselho ao Senhor”

Em Josué 9:14 lemos que os israelitas não consultaram ao Senhor antes de fazerem aliança com aqueles falsos embaixadores de longínquas terras. Isso revela a necessidade de discernimento espiritual por parte da liderança. Como não buscou a direção divina, Josué deixou de exercer total dependência de Deus. Porém, o episódio também demonstra que a fidelidade de Deus e o respeito pelos princípios do pacto ainda prevalecem, apesar da falha humana.

 

Os gibeonitas e a pedagogia da graça

Embora os gibeonitas tenham enganado a Israel, sua aliança foi respeitada. Séculos mais tarde, por exemplo, seus descendentes participaram da reconstrução de Jerusalém (Ne 7:25). Eles tornaram-se servos da congregação e do altar do Senhor como rachadores de lenha e tiradores de água (Js 9:27). Desse modo, mantinham constante contato com os ritos da redenção. Isso criou espaço para sua transformação espiritual, e Deus poupou a vida deles. O episódio mostra que o Senhor não deseja punir, mas salvar, sempre redimindo, apesar das falhas humanas.

 

Conclusão

A história de Israel, de Raabe e dos gibeonitas nos ensina que a fé verdadeira exige total obediência. Como Deus é fiel às Suas promessas, Ele espera de Seu povo uma confiança que se manifesta em rendição prática e constante. A igreja hoje, às portas da Canaã celestial, é chamada a avançar com fé perseverante e submissão integral à vontade divina. Isso inclui discernimento espiritual, coragem diante dos desafios e prontidão para agir conforme a direção do Senhor.

 

Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Volney da Silva Ribeiro é professor, escritor e teólogo. É graduado em Letras (português e espanhol) e em Teologia. Além disso, é pós-graduado em Gestão Educacional. Foi diretor pedagógico e administrativo de escola particular (2008 a 2010), vice-diretor de uma creche-escola (2024 e 2025) e consultor pedagógico da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2020 a 2022). Desenvolve o ministério de pregação há mais de duas décadas e serve a Deus atualmente como primeiro-ancião na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Aldeota, em Fortaleza, Ceará.