Não precisamos nos aprofundar no Livro dos Salmos para descobrir que os salmos são proferidos em um mundo imperfeito, de pecado, maldade, sofrimento e morte. A criação estável governada pelo Senhor soberano e Suas leis justas é constantemente ameaçada pelo mal. À medida que o pecado corrompe o mundo cada vez mais, a Terra tem se tornado cada vez mais “terra estranha” para o povo de Deus. Essa realidade cria um problema para o salmista: como ter uma vida de fé em uma terra estranha?
Como já vimos, os salmistas reconhecem o governo soberano e o poder de Deus, bem como Seus juízos justos. Sabem que Deus é o refúgio eterno e infalível e socorro em tempos de dificuldade. Por essa razão, os salmistas às vezes ficam perplexos (quem não fica?) com a aparente ausência de Deus e com a expansão do mal em face do soberano e bom Senhor. A natureza paradoxal dos salmos como orações é demonstrada nas reações dos salmistas ao aparente silêncio de Deus. Em outras palavras, eles reagem à ausência divina percebida, bem como à presença divina.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
1. Leia os Salmos 74:18-22; 79:5-13. O que está em jogo nesses textos?
O salmista procura compreender o grande conflito entre Deus e os poderes do mal e aponta para a insondável tolerância divina, bem como para Sua infinita sabedoria e poder. O problema do mal em Salmos é primariamente teológico; inevitavelmente diz respeito a questões sobre Deus. Assim, a destruição de Jerusalém e do templo é vista principalmente como um escândalo divino, porque deu aos pagãos a oportunidade de blasfemarem contra Deus. A herança divina (o povo de Israel) é o sinal da eleição e da aliança divinas (Dt 4:32-38; 32:8, 9) que nunca falharão. O conceito da herança de Deus também contém uma dimensão do fim dos tempos, visto que um dia todas as nações se tornarão herança de Deus e O servirão. A ideia de que as nações invadiram a herança divina ameaça essas promessas.
Sem dúvida, o salmista reconhece que os pecados do povo corromperam o relacionamento de aliança do povo com Deus e trouxeram sobre Israel todas as consequências. A sobrevivência do povo depende unicamente da intervenção graciosa de Deus e da restauração do vínculo da aliança por meio da expiação do pecado. O Senhor é “Salvador nosso”, fiel às Suas promessas da aliança (Sl 79:8, 9).
No entanto, mais importante do que a restauração da sorte de Israel é a defesa do caráter de Deus no mundo (Sl 79:9). Se as maldades das nações ficarem impunes, parecerá que Deus perdeu Seu poder (Sl 74:18-23; 83:16-18; 106:47). Somente quando Deus salvar Seu povo é que Seu nome será justificado e honrado.
Como no presente, o mesmo princípio existia naquela época. Nossos pecados, retrocessos e maldades podem trazer descrédito não apenas sobre nós mesmos, mas, pior, sobre o Deus cujo nome professamos. Nossas atitudes erradas também podem ter efeitos espirituais prejudiciais em nosso testemunho e em nossa missão. Quantas pessoas se desviaram da fé pelas atitudes daqueles que professam o nome de Cristo?
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
2. Leia os Salmos 41:1-4; 88:3-12; 102:3-5, 11, 23, 24. Que experiências esses textos descrevem? Você já passou por situações semelhantes?
Essas orações por salvação da enfermidade e da morte demonstram que os filhos de Deus não estão isentos de sofrimentos. Os salmos revelam as terríveis aflições do salmista. Ele está sem forças, murchando como grama, incapaz de comer, separado com os mortos, deitado como morto no túmulo, repulsivo para seus amigos, sofrendo e em desespero. Seus ossos se agarram à sua pele. Muitos salmos presumem que o Senhor permitiu as adversidades por causa da desobediência de Israel. O salmista reconhece que o pecado pode trazer doenças; portanto, fala do perdão que precede a cura (Sl 41:3, 4). No entanto, alguns salmos, como o Salmo 88 e o 102, reconhecem que o sofrimento inocente do povo de Deus é um fato, não importando quanto seja difícil entender isso.
No Salmo 88, Deus leva o salmista à beira da morte (Sl 88:6-8). Contudo, observe que, mesmo quando as queixas mais sérias são proferidas, o lamento é claramente um ato de fé, pois se o Senhor, em Sua soberania, permitiu as adversidades, Ele pode restaurar o bem-estar de Seu filho.
No limiar da sepultura, o salmista se lembra das maravilhas, da bondade, fidelidade e justiça divinas (Sl 88:10-12). Apesar da sensação de ter sido atingido por Deus, o salmista se apega a Ele. Embora sofra, não nega o amor de Deus e sabe que o Senhor é sua única salvação. Esses apelos mostram que o salmista conhece não apenas o sofrimento, mas também a graça de Deus, e que a graça não exclui as provas da vida.
Em suma, tanto a permissão divina para o sofrimento quanto Sua libertação são demonstrações de Sua soberania. Saber que Deus está no controle inspira esperança. Quando lemos o Salmo 88 à luz do sofrimento de Cristo, ficamos impressionados com as profundezas de Seu amor. Ele estava disposto a passar pela porta da morte para o bem da humanidade.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
3. Leia os Salmos 42:1-3; 63:1; 69:1-3; 102:1-7. O que causa grande dor ao salmista?
Não apenas os sofrimentos pessoais e coletivos perturbam o salmista, mas também, ou até mais, a aparente desatenção de Deus em relação às dificuldades de Seus servos. A ausência divina é sentida como sede intensa em uma terra seca (Sl 42:1-3; 63:1) e como angústia mortal (Sl 102:2-4). O salmista sente-se afastado de Deus e se compara a pássaros solitários. “Sou como o pelicano no deserto, como a coruja das ruínas. Não durmo e sou como o passarinho solitário nos telhados” (Sl 102:6, 7). A menção do deserto destaca a sensação de isolamento em relação a Deus. Um pássaro “solitário nos telhados” está fora de seu ninho, seu local de descanso. O salmista clama a Deus “das profundezas”, como se estivesse sendo engolido por águas poderosas e afundando num “profundo lamaçal” (Sl 69:1-3; 130:1). Essas imagens retratam uma situação opressiva da qual não há como escapar, exceto pela intervenção divina.
4. Como o salmista reage à aparente ausência de Deus? Sl 10:12; 22:1; 27:9; 39:12
É notável que os salmistas decidam não se calar diante do silêncio de Deus. Eles creem inabalavelmente na oração, pois ela é dirigida ao Deus vivo e abundante em graça. O Senhor ainda está lá, mesmo quando parece estar ausente. Ele ainda é o mesmo Deus que os ouviu no passado, e por isso confiam que Ele os ouve no presente.
O silêncio divino faz com que os salmistas se examinem e busquem a Deus, mas com confissão e humildes petições. Eles sabem que o Senhor não permanecerá em silêncio para sempre. Os salmos demonstram que a comunicação com Deus deve continuar, independentemente das circunstâncias da vida.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
5. Leia o Salmo 77. O que o autor estava enfrentando?
O Salmo 77 começa com um pedido de ajuda, cheio de lamento e lembrança dolorosa do passado (Sl 77:1-6). Todo o ser do salmista está triste e se volta para o Senhor. Ele se recusa a ser consolado por qualquer alívio, exceto aquele que venha de Deus. No entanto, lembrar-se de Deus parece intensificar sua angústia. “Lembro-me de Deus e começo a gemer” (Sl 77:3). O hebraico hamah, “gemer”, muitas vezes retrata o rugido de águas furiosas (Sl 46:3). Da mesma forma, todo o ser do salmista está em estado de agitação intensa.
Como a lembrança de Deus pode produzir sentimentos tão fortes de angústia? Uma série de perguntas perturbadoras deixam transparecer a causa de sua aflição (Sl 77:7-9): Deus mudou? Deus pode trair Sua aliança?
O contraste gritante entre os atos divinos salvíficos no passado e a aparente ausência divina no presente faz com que o salmista se sinta abandonado por Deus. Se Deus mudou, o salmista não tem esperança, conclusão que ele se esforça para rejeitar.
Enquanto isso, o salmista não consegue dormir, pois o Senhor o mantém acordado (Sl 77:4). Isso lembra outros personagens bíblicos cuja insônia foi usada por Deus para promover Seus propósitos (Gn 41:1-8; Et 6:1; Dn 2:1-3). A longa noite sem dormir faz com que o salmista considere os atos passados de libertação divina, mas com nova determinação (Sl 77:5, 10).
A certeza que o salmista recebe de Deus não consiste em explicações sobre sua situação pessoal, mas em uma confirmação da fidelidade e confiabilidade divinas (como ocorreu com Jó). O salmista é encorajado a esperar no Senhor com fé, sabendo que Ele é o mesmo Deus que realizou milagres no passado de Israel (Sl 77:11-18). Também percebe que “ninguém encontrou as Tuas pegadas” (Sl 77:19), reconhecendo a orientação de Deus, mesmo em situações em que a Sua presença não é óbvia aos olhos humanos. Ele reconhece que Deus é ao mesmo tempo revelado e oculto, e por isso louva os caminhos misteriosos e soberanos do Senhor.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
6. Leia os Salmos 37:1, 8; 49:5-7; 94:3-7; 125:3. Que luta o salmista enfrentava?
Esses salmos lamentam a prosperidade dos ímpios e o desafio que isso representa para os justos. Os ímpios não apenas prosperam, mas às vezes também desprezam abertamente a Deus e oprimem os outros. A questão desconcertante é que, enquanto “o cetro dos ímpios” (Sl 125:3) domina o mundo, o “cetro de justiça” (Sl 45:6) parece falhar. Então, por que não desistir e abraçar o mal como outros fazem?
7. Leia Salmo 73:1-20, 27. O que leva o salmista a atravessar a crise? Qual é o fim dos que confiam em coisas fúteis? (Ver também 1Pe 1:17)
No Salmo 73, enquanto o salmista permaneceu focado na iniquidade do mundo, ele foi incapaz de ver o quadro geral do ponto de vista divino. O problema que a prosperidade do mal gerava para sua fé era esmagador; ele acreditava, também, que seu argumento sobre a inutilidade da fé se baseava na realidade.
No entanto, o Salmo 73 mostra que “zombam dessas coisas aqueles que ignoram o primeiro verso desse salmo, que resume todo o salmo: ‘Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo’” (Johannes Bugenhagen, Reformation Commentary on Scripture [Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2018], p. 11).
O salmista foi levado ao santuário, o lugar do governo soberano de Deus, e foi lembrado de que “hoje” é apenas um pedaço do mosaico, e ele devia considerar o “fim”, quando os ímpios enfrentarão o juízo de Deus. O fato de o salmista ter entendido essa verdade no santuário e confessado sua loucura anterior mostra que a realidade só pode ser compreendida mediante a percepção espiritual, não pela lógica humana.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Leia o Salmo 56; Caminho a Cristo, p. 115-127 (“Alegria no Senhor”). Como os salmistas, o povo de Deus questiona: Como cantar cânticos ao Senhor em uma “terra estranha”? Nossa fé na soberania do Senhor é desafiada e perguntamos se Deus está no controle ou se Ele é tão poderoso e bom quanto as Escrituras dizem.
Temos incerteza e suspense diante do mal e da aparente ausência divina, mas confiança diante do amor e justiça de Deus. Apesar das incertezas, os salmistas apelavam para a fidelidade infalível de Deus (Sl 36:5-10; 89:2, 8).
Devemos seguir esse exemplo. “Reúna todas as suas energias para elevar os olhos e não deixá-los pousar nas dificuldades. Assim fazendo, você jamais fraquejará na vida. Em breve haverá de ver Jesus por trás da nuvem, estendendo a mão para ajudá-lo; e tudo o que restará a fazer será estender-Lhe sua fé simples e permitir-Lhe que o guie” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2021], v. 5, p. 495).
Os momentos em que Deus “escondia o rosto” não minavam a eficácia da oração, mas levavam os salmistas a examinar a si mesmos, relembrar a salvação ocorrida no passado e apresentar a Deus humilde confissão (Sl 77:10-12; 89:46-52). “A fé é fortalecida por entrar em conflito com dúvidas e influências opostas. A experiência alcançada nessas provas é de maior valor do que as joias mais preciosas” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2021], v. 3, p. 463). Perguntas para consideração 1. Que tensões experimentaram os salmistas diante do mal? Enfrentamos tensões semelhantes? Como mantemos a fé nesses momentos? 2. Onde procurar respostas quando a fé em Deus é testada por provações ou por pessoas cujos sofrimentos as levam a questionar a bondade e o poder de Deus? 3. Como explicar o mal em um mundo criado e sustentado por um Deus todo-poderoso e amoroso? O tema do grande conflito ajuda a responder a esse questionamento?
Respostas e atividades da semana: 1. O grande conflito entre Deus e os poderes do mal; o caráter de Deus. 2. Experiências de proximidade da morte e desespero; sentimento de abandono e ausência de Deus. 3. A aparente falta de atenção de Deus em relação às dificuldades de Seus servos; a ausência divina. 4. O salmista se examina e busca a Deus, com confissão e humildes petições. Sabe que o Senhor não permanecerá em silêncio para sempre. Ele segue confiando em Deus. 5. Uma situação de angústia e aflição. Sentia-se abandonado por Deus. 6. Ele via os ímpios prosperando, oprimindo o justo e desprezando a Deus. Por sua vez, Deus parecia não fazer nada. Por que não desistir e abraçar o mal? 7. Ele entra no santuário de Deus e descobre qual será o fim dos ímpios. O fim deles será destruição.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
ESBOÇO
Introdução: A presença do sofrimento e do mal em nosso mundo levanta questões desconcertantes na mente de muitas pessoas em relação ao caráter de Deus. Por que o Senhor permitiu que o pecado existisse? Por que Ele permite que os inocentes sofram? Por que permite que o pecado e o sofrimento continuem existindo? Por que os ímpios prosperam? As promessas de Deus contidas na Bíblia falharam? As Escrituras são meramente uma bela obra-prima literária – inspiradora, mas não inspirada por Deus – destinada a pessoas que têm interesses espirituais? Ou pior, a Bíblia e suas promessas são ilusões de mentes religiosas, mas não possuem base alguma na realidade, porque, em última análise, Deus, como alegam as mentes seculares, não existe?
Infelizmente, essa linha de raciocínio é bastante comum em nossos dias. O questionamento acerca das ações de Deus planta sementes de incredulidade e ceticismo no coração de muitas pessoas, especialmente entre os jovens. Com frequência, quando essas questões originadas na incredulidade surgem na mente de cristãos, o resultado é o cumprimento da profecia de que “o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24:12).
Os salmos são mais do que belos cânticos de louvor a Deus. Eles devem exercer impacto profundo em nossa compreensão de questões complexas como a existência do pecado e do sofrimento. Ao analisarmos o Saltério à luz desse assunto desafiador, novamente nos maravilhamos com a pura honestidade dos salmistas em suas orações. A franqueza deles nos lembra que também podemos fazer perguntas ao Senhor e expressar nossas dúvidas a Ele. Deus ouvirá nossas preocupações com alegria se O consultarmos com fé e humildade. Ele responderá às nossas perguntas e preocupações, quando expressas com humildade, iluminando-nos em meio à nossa luta contra a dúvida e o medo.
COMENTÁRIO
Por que Deus permite a existência do pecado e do sofrimento?
Mesmo que o Saltério não aborde explicitamente essa questão específica, os Salmos 74 e 79, que tratam da destruição de Jerusalém, se baseiam nessas preocupações. Esses dois salmos têm algumas semelhanças notáveis em relação ao tema do pecado e do sofrimento:
1. Cada salmo trata da destruição da cidade amada (Sl 74:3-9; 79:1-4), o que desencadeou lamentos melancólicos no salmista.
2. Em ambos os salmos, Asafe desejava ver o Senhor reverter a destruição (Sl 74:10, 11; 79:5-7). Assim, ele perguntou a Deus: “Até quando?”
3. A causa dos infortúnios de Jerusalém foi o pecado do povo (Sl 79:8-10). Apenas o Salmo 79 menciona esse motivo: o povo de Deus falhou.
4. Em ambos os cânticos, Asafe não perdeu a fé em seu Rei celestial (Sl 74:12-17) nem a confiança no Seu “grande poder” (Sl 79:11).
Assim como Asafe, podemos perguntar por que nos defrontamos com o pecado, o sofrimento e a morte. Essas são as perguntas universais que as mentes indagadoras têm feito desde o início da história humana. A resposta bíblica é sempre a mesma: o pecado é o estranho intruso na criação de Deus. Desde a queda de Satanás no Céu até nossa condição caída hoje, a iniquidade tem gerado todo o sofrimento e a morte presentes na história. Poderíamos argumentar corretamente que Deus concedeu o livre-arbítrio às Suas criaturas e, a partir daí, desenvolver linhas de pensamento filosóficas sobre as consequências do pecado e do sofrimento. Mas os escritores bíblicos se abstêm dessa abordagem. Portanto, o que devemos fazer, assim como Asafe, é confiar no poder e na sabedoria do nosso Criador para resolver essa questão em Seu próprio tempo e de Seu próprio modo.
Por que Deus permite que os inocentes sofram?
A lição nos lembra de que o pecado pode trazer enfermidade (Sl 41:3, 4). Com essa ideia em mente, vamos considerar a pergunta “Por que Deus permite que os inocentes sofram?” à luz de quatro Salmos: 6, 41, 88 e 102.
Em primeiro lugar, devemos observar que esses quatro cânticos descrevem o sofrimento que os salmistas experimentaram por causa da enfermidade pessoal (Sl 6:2, 6, 7; 41:3; 88:3-9; 102:3-7, 9-11). Em segundo lugar, os salmistas suplicaram ao Senhor por cura (Sl 6:2, 4; 41:1, 4; 88:1, 2, 13, 14; 102:1, 2). Eles consideravam essa cura uma vindicação de Deus diante de seus inimigos (Sl 6:8-10; 41:5-12; 102:15-19). Finalmente, eles argumentaram de maneira convincente que, se tivessem morrido, teriam sido privados da oportunidade de louvar o nome de Deus (Sl 6:5; 88:10-12).
Neste ponto de nossa análise, devemos observar que a mente hebraica não estava interessada em fazer perguntas filosóficas sobre a dor e o sofrimento humanos. Em vez disso, o foco era Deus e Sua glória. Os salmistas reconheciam que o Senhor permitia que eles experimentassem tristezas (Sl 6:1). Reconheciam também que somente Ele pode conceder saúde. Depois de terem sido curados de suas aflições, eles desejavam testemunhar das misericórdias curadoras de Deus.
Quantos de nós temos a atitude de confiança em Deus quando somos afligidos por alguma doença? Costumamos questionar: “Por que eu, Senhor?” Não seria melhor, nesse momento difícil, confiar em Deus e aguardar que Ele nos traga Sua vindicação, para então podermos testemunhar de Sua glória?
Por que Deus não acaba com nosso sofrimento atual?
Em meio ao sofrimento, muitas vezes perguntamos: “Onde está Deus?” Essa questão muitas vezes surge dentro de nós em situações de profundo desespero e angústia. Nesses momentos, nossa tendência, como seres humanos, não é pensar em nossa dor e sofrimento em termos morais ou filosóficos. Só queremos respostas e livramento. Em nosso desespero, muitas vezes, assim como os salmistas, recorremos a Deus em busca de auxílio.
Observe que, mesmo parecendo que o Criador não estava presente, o salmista apelou: “Ouve, Senhor, a minha oração, escuta-me quando grito por socorro. Não fiques insensível às minhas lágrimas” (Sl 39:12). O salmista sabia que Deus estava ali, mesmo que não tivesse nenhum sinal externo da presença divina. Isso, sim, é fé! O salmista não disse: “Desisto! Estou abandonando minha fé, porque Deus não me responde. Então, Ele não deve existir.” Em vez disso, o salmista confiava em Deus e esperava que Ele agisse em seu favor no momento certo. “Descanse no Senhor e espere Nele” (Sl 37:7). Se Deus está em silêncio, é hora de nós também ficarmos em silêncio e esperarmos. A questão não é “Onde está Deus?” Ele está presente e cuida de nós. A questão é: estaremos lá também, esperando com fé que Ele aja em nosso favor?
As promessas bíblicas falharam?
O Salmo 77 expressa bem os sentimentos de dúvida e desânimo que muitas vezes nos oprimem em momentos de angústia:
“Acaso o Senhor me rejeitou em definitivo?
Jamais voltará a ser bondoso comigo?
Seu amor se foi para nunca mais voltar?
Deixou de cumprir Suas promessas para sempre?
Deus Se esqueceu de ser bondoso?
Em Sua ira, fechou a porta para a compaixão?” (Sl 77:7-9, NVT).
A resposta que o próprio escritor apresentou é simples, mas crucial: lembre-se hoje dos milagres que Deus realizou por você no passado (v. 11-20). “Recordarei os feitos do Senhor” (v. 11). A partir daí o salmista descreveu o momento mais grandioso da intervenção de Deus na história de Israel: o êxodo, a saída dos israelitas do Egito. O salmista relembrou as maravilhas que Yahweh havia realizado quando libertou Seu povo da escravidão egípcia (v. 14, 15). Atenção especial foi dada à milagrosa divisão do mar Vermelho (v. 16-19): “O Teu caminho foi pelo mar” (v. 19). O salmista também recordou como Deus guiou o ministério de Moisés e Arão (v. 20).
Como o Espírito de Profecia admoesta de maneira tão apropriada: “Nada temos a temer com relação ao futuro, a menos que nos esqueçamos da maneira pela qual o Senhor tem nos conduzido e de Seus ensinos em nosso passado” (Ellen G. White, Vida e Ensinos, p. 143).
Quando estamos enfermos ou somos assolados por tribulações, faríamos bem em praticar o seguinte exercício de fortalecimento da fé: anote em um caderno ou diário as bênçãos mais preciosas que o Senhor deu a você em sua vida, desde as mais simples até as mais impactantes. Afinal, não foi exatamente isso que o salmista fez?
Por que os ímpios prosperam?
Davi introduziu esse tema, expressando-o no seguinte conselho: “Não se irrite por causa dos malfeitores” (Sl 37:1). Ele então resumiu o motivo de seu conselho – os malfeitores perecerão (v. 2) – antes de passar para sua principal preocupação, que é o povo de Deus. Davi encorajou o crente com vários princípios essenciais para uma vida de santidade (v. 3-9). Esses imperativos morais são a base para manter a saúde mental e física em um mundo de injustiças. No meio dessas orientações, Davi incorporou promessas, da seguinte maneira:
1. “Confie no Senhor”.
2. “E faça o bem.”
Promessa: “Assim você habitará na terra e desfrutará segurança” (Sl 37:3, NVI).
3. “Agrade-se do Senhor”.
Promessa: “E Ele satisfará os desejos do seu coração” (v. 4).
4. “Entregue o seu caminho ao Senhor”.
5. “Confie Nele.”
Promessas: “E o mais Ele fará” (v. 5); “Fará com que a sua justiça sobressaia como a luz e que o seu direito brilhe como o sol ao meio-dia” (v. 6).
6. “Descanse no Senhor”.
7. “E espere Nele”.
8. “Não se irrite por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do que realiza os seus maus desígnios” (v. 7).
9. “Deixe a ira”.
10. “Abandone o furor”.
11. “Não se irrite; certamente isso acabará mal” (v. 8).
Promessa: “Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a Terra” (v. 9).
O Salmo 37 é uma obra-prima em forma e conteúdo literário. Se nos esforçássemos ardorosamente para praticar as orientações que ele apresenta, evitaríamos muita frustração e amargura. E, como bônus, o texto do salmo nos oferece promessas encorajadoras que nos motivam a colocar seus preceitos em prática.
O salmista repassou os mesmos conceitos no restante de seu cântico: (a) a prosperidade dos ímpios (Sl 37:12, 14); (b) o mandamento de confiar em Yahweh (v. 27, 34, 37); (c) o comportamento dos justos (v. 21, 26, 30, 31); (d) a destruição dos malfeitores (v. 10, 13, 15, 22, 35, 36, 38); e (e) promessas para os fiéis (v. 11, 16-20, 22-25, 28, 29, 32, 33, 39, 40). Os conceitos expressos nesse salmo o tornam digno de nosso estudo mais profundo.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
O salmista nos convidou a confiar em Deus em meio ao sofrimento e às provações. Na maioria das vezes, neste mundo transitório e imperfeito, não obteremos respostas claras para nossas perguntas mais inquietantes. Às vezes, podemos não sentir a presença de nosso Protetor celestial ao nosso lado ou podemos sentir que as promessas de Deus estão falhando. Mas devemos nos lembrar das orientações dadas pelos salmistas: confie em Deus, independentemente das circunstâncias; lembre-se das maravilhas que Ele já realizou em sua vida; estude mais profundamente a Palavra de Deus; agarre-se às promessas divinas; e apegue-se firmemente ao Senhor! “A salvação dos justos vem do Senhor; Ele é a fortaleza deles em tempos de angústia. O Senhor os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque Nele buscam refúgio” (Sl 37:39, 40).
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Arrepios evangélicos
Shakuntala e Joy | Índia
A executiva de publicidade sentiu arrepios nos braços quando os acordes de uma bela música de coral entraram em seu escritório. Não foi a primeira vez que ela ouviu a música enquanto trabalhava atrás de sua mesa na agência de publicidade que dirigia em Bengaluru, na Índia. Também não foi a primeira vez que ela sentiu arrepios nos braços por causa da música. Mas desta vez, ela não conseguiu ficar parada.
Shakuntala foi até a janela de seu escritório no segundo andar para ver o que estava acontecendo. Ela podia ver as pessoas entrando e saindo de um prédio do outro lado da rua. Ela se perguntou o que estava acontecendo no prédio.
Ela olhou para os braços e se perguntou por que estava ficando arrepiada. Um forte desejo a levou a caminhar até o prédio e ver com seus próprios olhos o que estava acontecendo.
Lentamente, muito lentamente, ela saiu do prédio de escritórios e atravessou a rua. Ela se sentiu um pouco desconfortável ao entrar no prédio porque não conhecia ninguém lá.
Lentamente, muito lentamente, ela entrou pela porta da frente. “Posso entrar e ouvir o que vocês estão fazendo?”, ela perguntou a alguém parado perto da entrada. “Claro, entre e sentese”, disse o homem gentilmente.
Shakuntala sentou-se e começou a ouvir. O coro não cantava mais ao som de um órgão. Em vez disso, um homem estava cantando à capela. Quando ele terminou, Shakuntala corajosamente caminhou até ele. “Onde está o órgão?”, perguntou ela. “Onde estão as músicas que me dão arrepios?” O homem ficou surpreso. Shakuntala explicou que vinha ouvindo música de seu escritório todos os sábados nas últimas semanas. Ela só ouvia a música aos sábados.
Shakuntala voltou à igreja para ouvir a música nos próximos dois sábados. Enquanto o coro cantava, ela consultou um hinário que encontrou em um dos assentos. Ela aprendeu os nomes das duas músicas que mais lhe causavam arrepios. Eram os hinos The Old Rugged Cross [NHASD, nº 103: Rude Cruz] e Be Still My Soul [NHASD, nº 456: Bela Manhã].
No terceiro sábado, ela não apenas ouviu a música, mas também ficou para o sermão sobre Jesus.
Voltando para casa, ela pensou: “Gostei do que ouvi sobre Jesus naquela igreja. Já que gostei, por que tenho fotos de outros deuses em minha casa?”. Ela pegou todas as fotos e se desfez delas.
Ela continuou indo à igreja aos sábados e sentia arrepios ao ouvir a música. Depois de um tempo, o pastor a convidou para trazer sua família. “Não se preocupe”, disse ela. “Eles virão.”
E eles vieram. Seu filho, Joy, veio primeiro, e depois seus netos também se interessaram. Até a empregada dela começou a frequentar a igreja. Após os estudos bíblicos, a família entregou a vida a Jesus. Shakuntala tornou-se membro ativo da igreja, e um de seus netos agora serve como pastor de jovens na igreja.
Hoje, Shakuntala tem 84 anos e se aposentou de sua carreira na publicidade. Mas ela continua grata pela música que ouviu pela primeira vez em 2005. Isso a levou a Jesus. “Ainda fico arrepiada quando ouço o coro cantar”, disse ela.
Parte da oferta deste trimestre ajudará a construir uma nova Igreja Central Inglesa para a congregação de Shakuntala em Bengaluru, Índia. Obrigado por sua oferta generosa que oferecerá uma bela música evangelista – e talvez até arrepios – para muito mais pessoas em Bengaluru.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
Pronuncie Shakuntala como: shaa-kuhn-TAA-luh. Saiba que Shakuntala e seu filho, Joy, são membros ativos da igreja hoje.
Baixe as fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
Faça o download das Postagens da Missão e Fatos Rápidos da Divisão Sul-Asiática: bit.ly/sud- 2024.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2024
Tema geral: O Livro dos Salmos
Lição 5 – 27 de janeiro a 3 de fevereiro
Um cântico ao Senhor em terra estranha
Autor: Ezinaldo Ubirajara Pereira
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Introdução
Tempos bons e maus: é isso que é retratado nas letras dos salmos. Em suas orações e cânticos, os salmistas expressam suas variadas experiências, sejam estas de dias felizes ou não. Os dias tristes que aparecem nos salmos, em sua maioria, referem-se ao contexto de exílio que a nação de Judá viveu por causa das invasões babilônicas. Foram três invasões (2Rs 23:36–25:22), sendo que na última o templo foi destruído. Parte dos que sobreviveram foram levados cativos para a Babilônia, e a outra parte foi deixada na terra devastada.
Os dias do mal – domingo (Salmos 74 e 79)
Os salmos 74 e 79 foram compostos por Asafe. Há três posicionamentos sobre a autoria desses salmos e de outros que recebem o mesmo título. O primeiro é que esse Asafe é o mesmo levita colocado por Davi para dirigir os louvores no Templo (1Cr 16:4-6). O segundo é que esse Asafe poderia ser outra pessoa com o mesmo nome, que teria vivido no período pós-exílio babilônico. O terceiro é que o nome “Asafe” é representativo, indicando um grupo de levitas, descendentes de Asafe e que vivenciaram os horrores do exílio (Comentário da Bíblia de Estudo Vida). O conteúdo dos dois salmos trata de alguém requerendo de Deus a Sua vingança sobre os inimigos.
Os dias maus, vividos e retratados nesses salmos, foram consequências das ações dos israelitas que não viveram de acordo com a vontade de Deus. Os resultados foram as invasões babilônicas e a experiência terrível do cativeiro. No entanto, “os dias maus” também podem ocorrer quando nos mantemos fiéis a Deus, pois a perseguição e as tribulações fazem parte do itinerário cristão neste mundo (1Pe 4:12-16). O que esses dois salmos apresentam é que ao viver esses dias, o cristão pode clamar por livramento e misericórdia. Deus, por Sua vez, tem misericórdia de Seu povo, apesar dos pecados e rebeliões da nação, pois o Senhor Se lembra de que eles são carne (Sl 78:38, 39).
À beira da morte – segunda-feira
Os três capítulos apresentados na lição refletem a experiência que o salmista viveu, chegando perto da morte. Quem já passou por alguma experiência semelhante, sabe que o momento é de risco, porque há uma percepção de que está se aproximando o fim da existência. Naturalmente, ocorre um sentimento de medo e pavor que domina os pensamentos. No Salmo 41:1 a 4, o cenário é de alguém que está sendo ameaçado por inimigos (v. 2), ou que esteja no “leito da enfermidade” (v. 3). Nesse contexto, o clamor do salmista foi que o Senhor Se compadecesse dele e o levantasse (v. 10). No Salmo 88:3 a 12, há uma descrição de quase morte, de alguém que ficou “sem força” (v. 4), que já se sentia “na mais profunda cova” (v. 6). No entanto, o salmista era persistente e clamava a Deus “dia após dia” (v. 9). O versículo 13 apresenta uma mudança repentina na leitura, pois após a descrição fúnebre dos versículos anteriores, o salmista contrasta a situação com a persistência na oração: “Mas eu, Senhor, clamo a Ti por socorro, e de madrugada dirijo a Ti a minha oração”.
A hora do silêncio – terça e quarta-feira
Os textos apresentados na pergunta três da lição de terça-feira apresentam uma experiência que todos já passaram em sua vida religiosa: o silêncio de Deus diante dos pedidos e clamores do Seu povo. Nesse contexto, a pergunta cruciante que pode ser feita é: “E o seu Deus, onde está?” (Sl 42:3, 10). Essa foi a mesma pergunta, embora em outras palavras, que Jesus fez a Deus Pai ao experimentar as profundas dores da experiência e do pecado humano na cruz do Calvário: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). O mesmo senso de silêncio é repetido nos textos em que o salmista expressa o seu cansaço de tanto clamar e não ser respondido (Sl 69:3). No entanto, mesmo em meio a esses textos de cansaço diante do silêncio divino, a fé perseverante do salmista prevalece sobre o cansaço e o desgaste, pois ele reconhece a presença de Deus com ele “durante o dia” “e de noite” (Sl 42:8). Sua “alma” espera “em Deus”, pois ele acredita que ainda irá louvá-Lo (Sl 42:5, 11). E ao apegar-se a Deus, ele se sente amparado por Sua “destra” (Sl 63:8).
O silêncio de Deus não significa que Ele não esteja ouvindo, e é justamente por isso que os salmistas continuam insistindo em oração, pois a maior certeza que eles possuíam era a de que Deus ouvia as Suas preces, e um dia Ele iria responder, consoante às Suas misericórdias (Sl 39:12; 69:13, 14, 16; 102:1, 2).
O Salmo 77 é mais um em que o escritor expressa sua angústia diante de seus problemas e a aparente indiferença de Deus aos seus clamores. Todavia, quase no centro do capítulo, o salmista expressa a conclusão que ele obteve após meditar nas “maravilhas”, “obras” e “prodígios” de Deus (v. 11, 12). Ele exclama: “O Teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus? Tu és o Deus que operas maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o Teu poder” (v. 13, 14).
O que se percebe ao ler esses salmos de lamento e angústia, é que mesmo diante do sofrimento e tristeza, por Deus aparentar estar indiferente à situação, os salmistas continuavam crendo em Deus e na Sua soberania. A fé prevalecia sobre o medo e a demora, tornando possível antever o milagre e a intervenção divina.
Para onde devemos olhar? – quinta e sexta-feira
Se o ímpio prevalecesse na história, o justo seria tentado a não prevalecer em sua fé, abandonando a sua integridade para lançar mão da iniquidade, pois a fidelidade em seguir a Deus seria inútil, já que no fim os ímpios experimentariam a prosperidade. Esse é o pensamento no Salmo 125:3: “O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade”. No entanto, o texto, em tom de certeza, garante que o “cetro dos ímpios não permanecerá”!
O que dificulta o processo de resistir ao mal e às tribulações, é justamente a percepção da aparente vida feliz e próspera dos ímpios. Essa foi a experiência de Asafe no Salmo 73. Ele testemunha: “Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei. Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios” (Sl 73:2, NVI). Nos versículos 4 a 12, Asafe apresenta a aparente vida boa que os ímpios levam, apesar de sua maldade. Mesmo tendo consciência de seus atos pecaminosos, eles perguntam com um sentimento de rebeldia e atrevimento: “Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo?” (v. 11). Essa mesma pergunta é repetida no Salmo 94:7: “O Senhor não nos vê; o Deus de Jacó nada percebe” (NVI).
Asafe passa a comparar a vida dos ímpios com sua vida piedosa, e chega a dizer que foi inútil conservar “puro o coração” e lavar “as mãos na inocência”, pois mesmo assim ele continuava sendo afligido, e cada manhã, castigado (Sl 73:13, 14). Ao fazer essa comparação, Asafe teve dificuldades “para compreender isso”, considerando uma tarefa muito pesada para ele (Sl 73:16).
A solução para Asafe foi entrar “no santuário de Deus”, onde ele compreendeu a justiça de Deus e soube qual seria “o fim” dos ímpios (Sl 73:17). Foi no santuário que Asafe obteve uma visão mais nítida do caráter de Deus e de Sua justiça, sabendo que Deus, no fim, trará a justa medida de Sua justiça para cada um.
A experiência de Asafe mostra a importância da doutrina do santuário no contexto do grande conflito cósmico. Nesse conflito, o caráter de Deus tem sido debatido, mas é no santuário celestial e em tudo o que ali se realiza que a justiça e o amor de Deus são revelados e esclarecidos. Por isso, nossa atenção não deve ser desviada pelas tribulações ou ameaças vindas dos ímpios. Precisamos manter os nossos olhos fixos no santuário celestial, onde o nosso Salvador atua por nós no contexto do juízo pré-advento investigativo (Hb 4:14-16; 8:1, 2; 9:24; 10:19-23; 12:1, 2). Essa visão de Jesus nos fortalecerá nos momentos de angústia, e nos conduzirá à vitória sobre as tribulações.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Ezinaldo Ubirajara Pereira nasceu na capital de São Paulo. É graduado em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo – campus, Engenheiro Coelho, e Administração de Empresas pela Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ), campus Belém, Pará. Tem pós-graduação em Interpretação Bíblica pelo UNASP-EC. Possui Mestrado em Teologia com ênfase em Antigo Testamento pela Universidad Peruana Unión (UPeU – campus Lima, Peru). Atualmente cursa o programa de Doutorado em Teologia do Antigo Testamento pela UAP (Universidad Adventista del Plata – Libertador San Martin – Argentina). Atuou como capelão e pastor distrital. Hoje é professor na Faculdade Adventista de Teologia do UNASP-EC. É casado com Teresa Ramos Pereira, nascida em Taboão da Serra, SP, mestre em Liderança pela Andrews University. O casal tem dois filhos: Benjamim Dérek, de 6 anos, e Richard Dérek, de 2 anos.