Os discípulos não imaginavam que o objeto de sua busca espiritual estava presente justamente ali, no barco da vida deles. Tudo o que precisavam fazer era clamar a Jesus, e as tormentas da vida se acalmariam. Não poderiam saber disso a Seu respeito até que experimentassem por si mesmos, até que reconhecessem a Jesus como a Ilha da Segurança e viessem a conhecê-Lo assim como eram conhecidos.
Esse encontro com Jesus naquela tempestuosa noite no mar da Galileia aprofundou seu conhecimento a respeito dEle e de si mesmos.
Por um lado, sua pergunta que misturava reverência e espanto – “Quem é este que até aos ventos e às ondas dá ordens, e eles Lhe obedecem?” (Lc 8:25) – não era tanto uma pergunta em busca de informação, mas uma expressão solene na presença de Alguém que reconheciam como todo-poderoso. Por outro lado, o reconhecimento de sua frágil fé os levara a serem vencidos pelas agitadas ondas do temor.
Quando o protagonista do conto de Saramago (ver a parte 1) pergunta à “mulher da limpeza” por que ela deseja participar da aventura de procurar e encontrar a ilha desconhecida, ela responde que deseja saber quem ela é.
O homem responde: “Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
Exercer fé é uma forma de deixar a si mesmo para trás, deixar o eu que foi criado pelos temores e fragilidades dos seus pais e pelo contexto social no qual você cresceu. É necessário ter fé para mover-se além dessas mensagens formativas que não nos permitem reconhecer o convite de Deus para participar da jornada da fé em Sua direção, por meio de Jesus.
Ao apontar para a fé, Jesus atraca firmemente Seus amados discípulos no porto seguro, garantindo-lhes que seu temor despertou não da ausência de Deus, mas de sua própria e frágil incapacidade para crer que Jesus estava com eles na jornada rumo ao Pai – seu destino final.
Lourdes Morales-Gudmundsson