As parábolas que Jesus contava incomodavam os líderes religiosos, pois estavam atraindo a atenção daqueles que anteriormente os seguiam. Esses líderes buscaram minar a confiança do povo nas palavras de Cristo dizendo que eram apenas fábulas infantis para serem ouvidas, e não praticadas. A resposta de Cristo veio também na forma de uma parábola sobre dois homens construindo suas casas.

Ao ler a parábola descrita em Mateus 7:24 a 27, imaginamos que a primeira casa estivesse situada sobre uma rocha, e a segunda, sobre um terreno arenoso. Mas existe um detalhe na versão dessa história relatada no evangelho de Lucas que não deve ser esquecido. Lá é dito que o homem prudente, ao edificar a sua casa, “cavou fundo e colocou os alicerces na rocha” (Lc 6:48).

A rocha não estava na superfície. Estava oculta. Externamente, as casas eram iguais. Ninguém seria capaz de enxergar o perigo. Mas, na hora da tempestade e da enchente, só restaram ruínas da casa em que a fachada foi mais valorizada do que o alicerce. Essa é uma parábola que fala do engano das aparências que só as provas da vida podem desfazer. Ela fala sobre o fundamento, o que está embaixo, o que ninguém pode ver. É nesse ponto em que muitos de nós falhamos. Não é uma história simplesmente sobre escolher o terreno; é sobre o quão dispostos estamos a cavar fundo. E cavar fundo aqui significa praticar.

Cavar fundo não é estudar mais Teologia. Não significa ler ou conhecer mais. Embora tudo isso seja muito importante, no fundo, o que importa é o quanto praticamos daquilo que sabemos. A prática da qual estou falando vai além de cantar, pregar ou coisas do tipo. Ela está relacionada com o alicerce, que fica oculto nas construções. São as práticas secretas que mais importam. Aquilo que fazemos quando não temos uma plateia para aplaudir ou vaiar.

Ter uma bela fachada não é um problema, desde que o alicerce não seja negligenciado. Se ele for deixado de lado, a casa não resistirá à prova.