A casa estava quieta. Eu estava sentada no hall, quando uma batida à porta da frente me pôs em pé. Era minha querida amiga Tracy. Ela havia pedido que eu a ajudasse na Escola Cristã de Férias das crianças de sua igreja. A igreja precisava de voluntários para ajudar durante o recesso da primavera, e oferecia o programa de graça. Com noventa e duas crianças, a escola bíblica estava indo bem. Dei uma volta por lá, verificando se cada voluntária tinha o apoio necessário.
Para o almoço, cada criança recebia um saco de papel pardo. No segundo dia, notei que o pequeno Antônio examinava cuidadosamente o conteúdo do saco pardo, que ele dividiu em dois. Comeu só a metade, enfiando o restante na sua mochila. Não pensei muito sobre aquilo. Talvez ele não estivesse com fome ou estivesse guardando o restante para mais tarde. Naquele mesmo dia, enquanto embarcava no ônibus para voltar para casa, vi Antônio dar as costas para o ônibus e começar a atravessar a rua. Preocupada, corri atrás dele cuidando para não perdê-lo de vista enquanto ele seguia na direção dos fundos do latão de lixo de uma farmácia. Uma moradora de rua estava sentada perto do latão de lixo. Antônio entregou a ela o saco e explicou que dentro dele havia uma maçã e uma laranja. A mulher olhou para mim. Vestia três xales e seus sapatos estavam rachados. Antônio virou-se e disse, simplesmente: “Nós dividimos nosso lanche.” Ele nos apresentou e depois segurou minha mão, enquanto saíamos. De volta para o ônibus, fiz o papel de mãe, dizendo a Antônio como aquilo era perigoso, como ele podia se machucar, como era importante ficar perto de alguém por uma questão de segurança. Ele parou de andar e disse: “Eu sei. É por isso que eu trago comida para ela.”
Duas semanas depois, a igreja de Tracy começou a distribuir alimento aos sem-teto da região. Os membros da igreja planejaram montar uma cozinha para servir sopa. Enquanto eu ajudava a descarregar embalagens, vi Antônio. Ele se aproximou de mim com um saco de papel pardo e o estendeu para mim. “Você perdeu o almoço. Aqui. Metade do meu lanche. Hoje tem uma maçã aí dentro.” E, com um sorriso, se afastou.
A amiga de Antônio foi transportada para o hospital e dormiu limpa, calma e alimentada por uma noite apenas, antes de morrer – mas não antes de eu me sentar ao seu lado e ver o seu sorriso.
Dixil Rodríguez