Sexta-feira
28 de abril
Amélia
A esposa briguenta é como uma goteira constante. Provérbios 19:13

Nunca havíamos usado um GPS (sistema de posicionamento global). Porém, quando meu esposo, minha irmã e eu planejamos uma viagem à França, achamos que o GPS seria uma boa ideia. Nós o testamos e, imediatamente, decidimos que ele precisava de um nome. A despeito da voz aguda, “Amélia” nos levou com segurança ao aeroporto, e soubemos que ela seria uma vantagem em nossa aventura.

Depois do pouso, peguei os folhetos e guias de viagem, verifiquei a quilometagem e anunciei para onde iríamos. A princípio, Amélia foi útil, mas quando nos dirigimos ao interior em busca de uma série de pequenas igrejas rurais, ela apresentou desafios. Para começar, seu sotaque francês era terrível. Nem Larry, nem Dana, nem eu admitimos falar bem o francês, mas achávamos que seríamos capazes de entender nomes de ruas e cidades. Com frequência, o motorista gargalhava: “O QUE ela disse?” Ríamos ao comparar as palavras na tela com as instruções de Amélia.

Amélia não era apenas ininteligível – era também insistente. Se parássemos para encher o tanque com gasolina, ela nos orientava a dar a volta e retornar para a estrada. Ou dizia em tom anasalado e um tanto aborrecido, que parecia pingar em nossos ouvidos: “Recalculando… recalculando”. Pim, pim, pim. Sua voz nos desgastava assim como água caindo sobre pedra.

Logo concluímos que ela estava programada para sugerir o trajeto mais curto possível. Não importava se a rota era sinuosa e as ruas estreitas. Ela não nos dirigia para uma rodovia que economizasse tempo. Dizia: “Vire à esquerda… vire à direita”, a cada minuto, enquanto fazíamos nosso trajeto entre os vilarejos. Pim, pim, pim. Ocasionalmente, desgostosos com nosso lento avanço, tapávamos os ouvidos e navegávamos sem o auxílio dela.

Poucas semanas depois de retornarmos da França, Larry e eu colocamos a bagagem no carro, ligamos Amélia e partimos para o Alasca. Quando chegamos ao início da rodovia do Alasca [Alaska Highway], Amélia anunciou: “Percorra 2.026 quilômetros e vire à esquerda”. Sorrimos um para o outro ao contemplarmos mais de um dia livres da supervisão e importunação de Amélia.

Enquanto Larry e eu viajávamos em meio à bendita quietude, perguntei a mim mesma se a vida de meus alunos, amigos e familiares seria mais positiva se, ocasionalmente, eu – à semelhança de Amélia – diminuísse meu fluxo de conselhos e instruções, e permitisse que eles mesmos encontrassem o seu caminho na vida.

Denise Dick Herr