Saudade é diferente de saudosismo. Por isso, devemos aprender tanto a lembrar como a esquecer. Assim como há experiências que inspiram, há também as que bloqueiam. Pense nos israelitas durante o cativeiro babilônico. Eles lamentavam não poder entoar cânticos de louvor a Deus “numa terra estrangeira” (Sl 137:1-4). Contudo, o que os impedia não era a saudade, mas o saudosismo. Eles queriam reviver o passado em vez de usá-lo como combustível para alavancar o presente. Usavam as alegrias do ontem como desculpa para não viver o hoje criativa e intensamente.
Quando Deus tirou o povo hebreu do Egito, depois de mais de 400 anos de servidão, alguns disseram que ficar ali como escravos era melhor que avançar pelo deserto rumo à Terra Prometida. Eram saudosistas. Josué e Calebe, porém, exclamaram diante de Canaã: “Subamos e tomemos posse da terra” (Nm 13:30). Estes dois tinham saudades de ser livres para adorar o Senhor e reconstruir a nação. Os outros dez vacilaram. Não enxergavam o futuro; só o passado. Passado e futuro não são incompatíveis na mente de quem sente saudade. Entretanto, na de quem é saudosista, são um bicho-papão. Por isso, às vezes, na igreja, acontecem alguns conflitos francamente desnecessários.
Assim ocorreu com o ancião que, por mais de uma década, foi o líder absoluto de uma igreja. Um dia, alguém deu a ideia de trocar o púlpito, pois o que tinham era bem antigo e feio, quase uma relíquia. O ancião discordou. Tentou de todo jeito dissuadir os demais. Poucos o apoiaram. Finalmente, sentindo-se ofendido e contrariado, ele disse: “Daqui esse púlpito não sai. Ou ele fica, ou saio eu!” Sabem o que aconteceu? Para a igreja, aquilo foi a gota d’água! A maioria entendeu que já era tempo de renovar a liderança. Saiu o púlpito, saiu o ancião. Caso encerrado.
Não é pecado ter saudade. Não é errado lutar para conservar aquilo que, de bom, experimentamos no ontem e valorizamos no hoje. O problema é quando a saudade vira incapacidade de seguir em frente, em direção aos sonhos de Deus para nossa vida. Portanto, deixe que Ele guie você, quer ao passado, quer ao futuro. A companhia do Senhor é, afinal, a única coisa que realmente importa.