A linha que separa o melhor amigo do pior inimigo às vezes pode ser bem frágil e tênue. Um único passo em falso pode fazer alguém passar rapidamente de um lado da batalha para outro, sem que haja retorno possível em curto prazo. Uma desilusão, um desencontro, uma ofensa, um melindre, uma traição, um mal-entendido, uma negligência, um silêncio, uma dúvida, um exagero, uma omissão… quem sabe o que pode servir como detonador dessa metamorfose! No caso de Judas, o pivô foram suas expectativas frustradas com respeito à implantação de um reino terrestre por parte de Jesus. No caso de Saul, foi o receio de perder a coroa real para Davi, cujo prestígio e popularidade eram crescentes. No caso dos sátrapas, colegas de Daniel, foi a inveja que sentiram diante do talento, da distinção e dos privilégios dados a um estrangeiro. No caso dos irmãos de José, foi o orgulho ferido ao se verem escanteados e preteridos pelo pai.
Esses exemplos da Bíblia revelam uma realidade da vida. Há ocasiões em que não sabemos lidar bem com o fracasso próprio nem com o sucesso alheio. Há situações em que podemos proferir um discurso bem articulado em favor do que é correto, enquanto ocultamos (até de nós mesmos, se possível!) as motivações profundas para nossos atos e nossas atitudes. Qual é a explicação para isso? Simples. Alguns vão longe demais e depois não conseguem voltar. Abandonam o caminho. Blindam-se. Pecam contra o Espírito Santo. Ficam endurecidos. Perdem a empatia. Rivalizam por orgulho. São consumidos pelo ódio e pela ira. Entregam-se ao seu lado animal. Desistem do bem. Ellen White escreveu: “Ninguém vai tão longe no pecado como aqueles que já receberam uma vez a luz, mas resistiram ao convincente Espírito de Deus” (Os Escolhidos, p. 49).
Todo ser humano sabe o que significa a sujeira do pecado. Vivemos sob as trevas que encobrem o mundo. Nascemos com a natureza carnal. Então por que não assumir isso perante Deus e deixar que Ele faça a obra em nós? Vale lembrar que aquilo que é impossível para o ser humano é possível para Deus.