Eu tinha 15 anos, mas ainda me lembro do dia em que, em meio a uma disputa com meu irmão mais velho para ver quem chupava mais melancia, por descuido, ele me atingiu no braço com uma faca. Lembro-me do seu rosto assustado, da carne sangrando e dos cinco pontos que ajudaram a fechar o corte. 

A história de José com seus irmãos lhe trouxe dores infinitamente maiores que um simples corte no braço. Seu coração foi feito em pedaços naquele terrível dia em que os irmãos o venderem como escravo. Os anos longe de seu pai certamente lhe causaram ainda mais sofrimento. Mesmo que algumas vezes tivesse falado mais do que era preciso, ele poderia se perguntar: Por que fizeram isso comigo? 

O tempo passou. José saiu da prisão para o palácio e, nessa condição, reencontrou seus irmãos. Aquela seria a ocasião perfeita para se vingar. Uma oportunidade para fazê-los experimentar um pouco do sofrimento que ele havia passado. Mas, ao ocupar a posição de poder, diante da fragilidade dos irmãos, José notou que o justo Juiz havia invertido os papéis. Quando esteve no poço, só lhe restava clamar por misericórdia. Mas, ao receber autoridade, estava em suas mãos escolher se nivelar a eles por meio do ódio ou se diferenciar deles por meio da graça. 

Sua escolha resultou em uma das mais lindas cenas de perdão de toda a Bíblia. Alguns pensam que perdoar é esquecer. Mas, em nossa condição humana, somos incapazes de esquecer aquilo que nos causou dor. Entretanto, José nos ensina que perdoar de verdade é se lembrar da dor, ter o poder de se vingar, mas agir de modo diferente. 

Foi o Espírito de Deus que curou o coração de José, permitindo que ele fosse capaz de perdoar seus irmãos quando poderia fazer diferente. Aceite esse Deus de amor, que é capaz de curar suas feridas. Você se lembrará da dor que lhe causaram, mas não será mais prisioneiro dela. Deus lhe dará o poder de escolher perdoar. Como aconteceu comigo, onde havia uma ferida, restará apenas uma cicatriz.