Sábado
15 de outubro
“Desomenagem” póstuma
Nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Lucas 4:24, NAA

Durante a pandemia de Covid-19, uma instituição adventista nos Estados Unidos enviou uma carta aos membros da igreja explicando-lhes como agir a fim de se proteger do vírus sem deixar de ajudar, com amor cristão, a comunidade ao redor. No texto, mencionaram os conselhos de Martinho Lutero aos fiéis na Europa durante a peste bubônica 500 anos atrás. Entretanto, não citaram Ellen White, que também deu dicas parecidas quando houve um surto de “gripe russa” (H2N2) no país em 1894. Por que Lutero (Europa e peste bubônica) e não Ellen White (Estados Unidos e gripe russa)? Por ser Lutero um nome mais conhecido? Porque o exemplo dele soava mais abrangente? Para não parecerem bairristas? Ou por ser mais cômodo apegar-se a autores consagrados pela história que àqueles ainda não aprovados pelo implacável juízo do tempo? 

Às vezes rejeitamos os profetas contemporâneos e homenageamos os antigos por pura inércia, covardia, comodidade e tradição. Preferimos o caminho pavimentado que deu crédito aos “grandes medalhões” da história que à trilha pedregosa e sinuosa feita muitas vezes por contemporâneos polêmicos (ainda que promissores e perspicazes), pois assim corremos menos risco, sofremos menos crítica e parecemos mais inteligentes diante da opinião pública em geral. 

Semelhantemente, os fariseus da época de Jesus lamentavam a crueldade e indiferença de seus antepassados para com os profetas (Mt 23:29, 30). No entanto, muitos ali rejeitaram João Batista como o “segundo Elias” prometido e, além disso, perseguiram e mataram o maior de todos os profetas: Jesus. Isso ocorreu porque, não importa quão espirituais ou bem-intencionados sejamos, o fato é que também somos orgulhosos, contraditórios e míopes; e deixar de reconhecer isso só torna as coisas piores. 

Os líderes judeus não entendiam que homenagear os que estão longe (no tempo e no espaço) e desfazer dos que estão perto torna nossos critérios tendenciosos e questionáveis. Mostra que nos falta generosidade e sobram mecanismos de defesa. Com Jesus, no entanto, podemos aprender a valorizar aqueles que Deus pôs em nosso caminho para nos ensinar, e, ao mesmo tempo, receber sabedoria e poder para ler nas linhas e nas entrelinhas as mensagens que Ele nos deixou. Essa é uma lição de interpretação de texto dada pelo melhor professor do Universo: o Espírito Santo. O que acha da ideia? Você me autorizaria a inscrevê-lo nesse curso?