Desde que fiquei grávida, comecei a receber mimos. Não sei se isso aconteceu porque havia tido um aborto espontâneo no ano anterior, deixando as pessoas sensibilizadas, ou porque a expectativa da chegada de uma criança sempre desperta esperança. Fato é que familiares, amigos e colegas de trabalho fizeram com que me sentisse especial.
Confesso que gostei do que estava acontecendo, apesar de também me causar certa estranheza. Mais reservada, não estava acostumada a me expor. Mas era inevitável: a barriga estava crescendo.
Nunca fui do tipo “mimada” pela vida. Ao contrário, as coisas sempre foram difíceis, desafiadoras, e, em muitos momentos, até dramáticas. Andar a segunda milha, perseverar e insistir sempre fizeram parte de meu entendimento de mundo.
Com um senso de autorresponsabilidade muito apurado desde cedo, acostumei-me a servir, a prover, a cuidar, a fazer acontecer. Até que eu engravidei e, repleta de cuidados e carinhos, comecei a receber, e receber, e receber.
De olhares afetuosos até conflitos evitados – tudo ao redor cuidava de mim. E antes que eu pudesse imaginar, passei a ganhar presentes. Senti-me tão inibida que outro dia me peguei pensando em mandar algo para as pessoas que estavam me presenteando. Que loucura não é mesmo?
Foi então que num lapso entendi como minha história de vida me fez forte, mas também me tornou incapaz de receber qualquer coisa de graça. Eu sempre precisava recompensar as pessoas quando eram boas comigo, roubando-lhes a chance de serem gentis por princípio e não por interesse.
Foi então que repensei minha caminhada com Deus e pude desfrutar o poder da graça. Ao pensar na dádiva celestial, pude perceber que nem sempre nossos recursos poderão fazer algo por nós. Em alguns casos, a vida dependerá inteiramente da misericórdia e da benevolência de alguém que não seja você mesmo.
Cruzaremos os braços por isso? É evidente que não. Mas, se for para ser espiritualmente proativas, que sejamos com a perspectiva ajustada. Estejamos prontas para dar passos ágeis em direção à influência santificadora do Espírito. Sejamos as primeiras a renunciar nossos planos em favor da orientação revelada; busquemos tempo a sós com Deus. Permitamos hoje que Jesus complete Sua obra em nós. Quer cooperar com Deus? Simplesmente aceite Sua graça por meio da fé em Cristo Jesus.
Agatha Lemos Toniolo