Sábado
13 de setembro
EQUILÍBRIO PERIGOSO
Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da Minha boca. Apocalipse 3:16

Eu já havia lido várias vezes a carta à igreja de Laodiceia. Até que me deparei com uma provocação de Mario Sérgio Cortella, a qual não tinha percebido. Ela aponta que há no texto bíblico uma advertência que confronta diretamente um dos pilares da cultura atual: o de buscar equilíbrio em tudo.

Essa parece ser a voz do bom senso. Ninguém em sã consciência deseja ser visto como extremista, radical e desequilibrado. Desde os tempos antigos, fomos ensinados que a virtude está no meio. Aristóteles discutiu isso em sua obra Ética a Nicômaco. Em nome da prudência e do comedimento, a melhor atitude em situações de conflito é buscar o equilíbrio.

Contudo, é estranho que, segundo a carta, Deus vomita os equilibrados. Não é o extremo do frio ou do quente que desagrada a Deus, mas o morno que está entre eles. O problema é que caminhos intermediários podem levar à mediocridade, e isso é perigoso diante de dilemas que envol-
vem nossa lealdade a Deus.

Como ter equilíbrio entre Deus e o diabo? Entre fidelidade e infidelidade? Nessas situações, não há como ser morno; é preciso ser radical! Essa é mais uma palavra perigosa. A semântica às vezes revela mudanças que transformam um termo originalmente bom em algo pejorativo. Foi assim com as palavras “patriarcado”, “conservadorismo” e “dogma”.

O mesmo ocorre com a palavra “radical”. Em sua etimologia, ela significa aquele que tem raízes profundas e se firma nelas, em oposição àquele que possui opiniões epidérmicas, superficiais. O radical, nesse sentido, conhece claramente o “assim diz o Senhor” e se apega a ele.

Aqui não se trata de incentivar o fanatismo. O perigo de ser equilibrado em tudo reside justamente no final da sentença: “em tudo”. Devemos, sim, ter equilíbrio nas coisas de Deus, ou seja, ter uma vida balanceada entre orar e brincar na praça com o filho, um equilíbrio entre trabalhar e descansar. Porém, quando houver conflitos éticos entre o que agrada ou não a Deus, não dá para ser politicamente correto. Devemos estar radicalmente ao lado da luz, sem fazer concessões. Na guerra do bem contra o mal, não existe isenção; estar neutro é se posicionar contra Deus.