Quarta-feira
16 de novembro
Eu lamento
Muitos verão isso e temerão, e confiarão no Senhor. Salmo 40:3

“Eu lamento, Márcio.” Isso foi tudo o que eu (Júlio) consegui dizer ao meu amigo de infância quando ele me contou que Dona Neusa, a mãe dele, tinha falecido. A distância de milhares de quilômetros entre nós me impediu de dar um abraço nele, e por isso me senti insignificante e impotente. Lembrei-me de quando minha própria mãe adoeceu, e eu, desesperado, a vi desacordada na maca de um hospital público. Era a mãe de Márcio que o tinha deixado, mas senti como se fosse a minha me deixando mais uma vez. Uma das piores sensações na vida é a de não poder fazer nada quando uma pessoa querida está sofrendo ou em perigo. Uma vez orei para que Deus curasse o meu irmão enfermo e transferisse para mim a doença dele, mas Deus não me atendeu. Com o tempo e a duras penas, aprendi que Deus nem sempre faz o que pedimos. No entanto, Ele nunca nos deixa sozinhos na hora da aflição. 

Sei que, para alguns, é difícil entender quem é Deus e como Ele age quando nossa vida desmorona e perde o sentido. Sei disso porque também sou humano, e seres humanos fazem perguntas cujas respostas nem sempre podem ser encontradas no dicionário ou no Google. Aprendi que certos questionamentos nos ajudam a seguir em frente e superar as crises. Outros, porém, só nos afundam mais na culpa, tristeza, angústia e ansiedade de não saber o que nos espera na próxima esquina da vida. 

Também aprendi, com o tempo e a duras penas, que tentar controlar o futuro e evitar a dor costuma acabar em decepção. Melhor é deixar o futuro nas mãos de Deus e permitir que Ele cure as minhas feridas, ainda que uma voz maligna dentro de mim me induza a crer que quem as causou foi Deus. O Deus que eu conheço não tira a vida da mãe de ninguém, e sei disso porque Ele chorou com Márcio e comigo no dia do sepultamento. Ele não atendeu à oração desesperada que fiz pela saúde do meu irmão porque, pouco tempo depois, Ele iria curá-lo sem pôr sobre mim uma carga que eu talvez não fosse capaz de suportar. 

Sei muito pouco sobre Deus, mas o que sei hoje é suficiente para eu declarar como o salmista: “Depositei toda a minha esperança no Senhor; Ele Se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro” (Sl 40:1). Ainda sou um ser humano sensível à dor, porém já fiz as pazes com Deus. E você?