Muito pior que assumir a própria ignorância é alimentá-la como quem cuida de um cachorrinho. Muita gente faz isso e nem percebe. É uma atitude humana bastante comum. Para alguns, dizer “não sei” é tão humilhante e doloroso que eles prefeririam morrer a ter que pronunciar essas palavras. É que há tantas expectativas orbitando em torno de nós que, às vezes, não queremos ou simplesmente não conseguimos resistir. Então cedemos. E cedemos porque nosso desejo natural é satisfazê-las, mesmo que sejam desafiadoras, injustas ou abusivas.
Se lhe perguntarem qual a raiz quadrada de 144, você tem duas opções de resposta, ambas corretas. A primeira é dizer que a raiz quadrada de 144 é 12. Sua segunda opção é dizer: “Não sei”. Quando eu (Júlio) estava aprendendo francês, uma das primeiras expressões que procurei aprender foi: Je ne sais pas (“Eu não sei”) – uma das frases mais úteis do mundo. Ela demonstra humildade e abre as portas para que outros possam ajudar você caso necessite. Outra frase super útil foi: J’ai faim, que significa: “Estou com fome”. Fome é coisa séria. Para saciar sua fome de conhecimento, você precisa aprender a reconhecer e a lidar com os próprios limites, pois os limites ignorados ou negados são os mais difíceis de superar.
Ao ser coroado rei, Salomão pediu a Deus sabedoria, ou seja, reconheceu os próprios limites. E deu certo! Deus lhe disse: “Eu darei a você um coração sábio e capaz de discernir, de modo que nunca houve nem haverá ninguém como você” (1Rs 3:12). Agir como se soubéssemos o que não sabemos pode trazer problemas, como ensina a seguinte alegoria. Conta-se que a onça, com fome, queria jantar os animais do bosque e, para tanto, decidiu fingir-se de morta. A raposa, vendo o suposto cadáver da onça imóvel no chão, perguntou aos demais animais em voz alta: “Ela já deu os três roncos? Onça quando morre dá três roncos!” Ouvindo aquilo, a onça quis ser ainda mais convincente e deu os três roncos. “Ora, ora – disse a raposa – onde já se viu onça morta roncar!” Assim, todos os animais escaparam da esperteza da onça faminta.
Ser sábio é diferente de ser esperto. Os espertos não admitem quase nunca suas fragilidades e limitações. Os sábios sim. Portanto, reflita e escolha. A qual grupo você gostaria de pertencer?