Em que sentido o homem, após pecar, se tornou como Deus? Como poderia Deus ser “conhecedor do bem e do mal” se essa é uma característica daqueles que pecam? O fato de Adão e Eva passarem a ser iguais a Deus após comerem do fruto sugere que o casal não era igual a Deus antes disso. Como entender essa condição, uma vez que fomos criados à imagem e semelhança de Deus?
Talvez seja esclarecedor abordar outra possível tradução do texto de Gênesis 3:22. Considerando que o verbo ser (hayah) aparece numa forma que pode ser traduzida como um pretérito, o sentido seria: “O homem foi como um de Nós.” Isso muda completamente a leitura, pois sugere um lamento divino pelo que o ser humano deixou de ser. Ele era como Deus, conhecedor do bem e do mal no sentido do discernimento, algo que ele perdeu por ter experimentado o pecado. A serpente enganou Eva oferecendo-lhe algo que ela e Adão já possuíam: serem semelhantes a Deus, tendo o discernimento do mal.
Mas como Adão e Eva poderiam ser a imagem e semelhança de Deus se Deus é inigualável? Colossenses 1:15 responde: “Ele [Cristo] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação.” Apesar de a condescendência do Filho de Deus em Se tornar servo ser algo mais atrelado à encarnação, esse movimento se iniciou muito antes de Seu nascimento em Belém. Começou desde a criação do Universo, quando Cristo voluntariamente aceitou “diminuir-Se” para comunicar o amor do Pai às criaturas.
É por isso que muitos, ao lerem o relato da criação em Provérbios 8:22 a 32, não entendem como Cristo, sendo divino, aparece como servo de Deus. Voltaremos a esse tema nas meditações seguintes. Por ora, basta saber que houve um esvaziamento voluntário do Filho de Deus, de modo
que nossa semelhança com o Criador não significa que fomos elevados à categoria de deuses. Foi Ele que desceu ao nível de Suas criaturas.
Por isso, o trabalho da redenção consiste em restaurar essa imagem perdida de Deus em nós, e isso não tem nada a ver com qualquer tentativa de divinização do ser humano, como vemos em diferentes abordagens humanistas. Abra, portanto, seu coração a Cristo, pois somente Ele pode
restaurar o que a serpente nos roubou.