Devemos tomar muito cuidado ao julgar as pessoas, pois não sabemos o que se passa no íntimo delas. É claro que pecado é pecado, e disso não abrimos mão. No entanto, há práticas erradas que procedem de causas distintas. Estudos mostram, por exemplo, que mulheres vítimas de abuso podem recorrer à sedução por uma culpa ou vergonha patológica.
Além disso, o julgamento do outro pode fazer com que eu não perceba o meu problema. Ou, pior ainda, que esconda meu delito no pecado alheio. Sabe aquela argumentação do tipo: “sei que errei, mas o que ele faz é pior”? Uma coisa não justifica a outra.
Veja se percebe a ironia: “No mundo há três tipos de pessoas”, disse o juiz sabichão. “As que sabem contar e as que não sabem.” Ou seja, quem julga é o retrato do que critica.
Mas há outro modo igualmente perigoso: pessoas que querem “errar em paz”, sob o amparo de frases como “você não pode me julgar” ou “Jesus não julga ninguém”.
Ora, esse foi o mesmo espírito dos sodomitas ao serem confrontados por Ló: “Ele é estrangeiro, veio morar entre nós e pretende ser juiz em tudo?” (Gn 19:9). Outros usam os erros da liderança para se justificar, como o hebreu que gritou com Moisés: “Quem pôs você por príncipe e juiz sobre nós? Está querendo me matar, como matou aquele egípcio?” (Êx 2:14).
Jesus não proibiu qualquer julgamento, apenas delineou a responsabilidade com a qual ele deve ser feito. Se não há critérios claros, é melhor não julgarmos. E se houver, que o julgamento seja com amor e justiça. No judaísmo antigo, apenas uma comissão poderia julgar. Um judeu sozinho, jamais deveria sentenciar ninguém. Jesus parece ter endossado isso.
Veja o critério bíblico: “Não seja injusto ao julgar uma causa, nem favorecendo o pobre, nem agradando o rico; julgue o seu próximo com justiça. Não ande como mexeriqueiro no meio do seu povo, nem atente contra a vida do seu próximo. Eu sou o Senhor. Não guarde ódio no coração contra o seu próximo, mas repreenda-o e não incorra em pecado por causa dele. Não procure vingança, nem guarde ira contra os filhos do seu povo, mas ame o seu próximo como você ama a si mesmo” (Lv 19:15-18).