O molusco Conus geographus é um dos animais mais perigosos do planeta. Ele possui uma rádula, isto é, uma espécie de língua áspera cheia de toxinas, que se estende o suficiente para atingir sua presa em frações de segundos. Os ferrões dessa língua contêm analgésicos mais potentes que a morfina, o que leva a vítima a não perceber a picada, embora haja veneno em quantidade suficiente para matar até 20 pessoas.
De maneira figurada, podemos comparar o perigo da língua humana a essa criatura letal. Tiago 3:8 adverte que a língua “é mal incontido, cheio de veneno mortal”. Suas palavras venenosas matam de maneira silenciosa.
O versículo que introduz a reflexão de hoje vem de um salmo de Davi. No original hebraico, ele usa a expressão lashon hara’, que significa literalmente “língua, idioma ou conversa do mal”. Embora alguns traduzam isso por “difamação”, rabinos famosos ensinaram que, diferentemente de dizer mentiras acerca de uma pessoa, a “língua do mal” se refere a comentários negativos que podem incluir coisas verdadeiras.
Em outras palavras, enquanto a calúnia é legalmente condenável até mesmo no direito comum, falar mal de alguém não o é. Isso é mais aceitável socialmente, inclusive nos meios religiosos, em que muitos odeiam o traidor, mas amam a traição.
Além disso, o simples fato de dar palco ao difamador, ouvindo com atenção a sua fala e rindo de seus insultos, coloca o espectador na mesma condição de lashon hara’. Este, de acordo com Mateus 5:22, “estará sujeito ao inferno de fogo”.
Exceto em casos de denúncia grave, em que o ocultamento de um crime torna o indivíduo cúmplice do delito, a pressa em revelar faltas alheias é própria daqueles que não amam a vida (Sl 34:12).
A revelação disso talvez gere o mesmo sentimento dos discípulos quando disseram: “Sendo assim, quem pode ser salvo?” Ainda bem que o texto não termina aí. “Jesus, olhando para eles, disse: […] para Deus tudo é possível’” (Mc 10:26, 27). Portanto, confie em Deus e peça o cumprimento da promessa de Sofonias 3:9: “Então darei lábios puros aos povos, para que todos invoquem o nome do Senhor e O sirvam de comum acordo.”