Quarta-feira
28 de maio
MACHUCANDO A DEUS
Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mau aos Teus olhos. Salmo 51:4

O Salmo 51 é um dos textos mais emblemáticos da Bíblia. Nele não há escusas, justificativas ou meias-palavras. Com um pouco de esforço, quase podemos ouvir os gemidos do seu autor. Davi, o grande rei de Israel, desaba perante Deus, confessando seu adultério e o assassinato de um inocente.

A leitura de um poema tão belo nos leva a supor que se trata de uma tragédia similar aos romances de Shakespeare: forte, mas historicamente irreal. No entanto, é o oposto. Eu já estive em velórios orientais e me surpreendi ao ver os enlutados entoando verdadeiros salmos de lamentação à medida que desabafavam a dor de sua perda.

O lamento, que mais parecia um poema decorado, era na verdade um canto improvisado, lembrando os repentistas com suas rimas improvisadas. A diferença é que ali não havia humor, mas angústia. Com base nessa experiência que tive, acredito que, embora possa ter ocorrido alguma
melhoria editorial do Salmo 51, seu conteúdo tenha sido criado no momento em que Davi se angustiava diante de Deus.

O que mais lhe doía? A descoberta? As consequências? A vergonha? Não. Era a decepção de Deus. Os demais sentimentos pareciam pequenos perante a consciência de ter ofendido seu Senhor.

Talvez um caso jurídico ajude a entender o sentimento do rei. Dizem que numa situação em que um cidadão comum enfrenta um ladrão em sua casa e, em legítima defesa, mata o agressor, esse chefe de família, mesmo agindo dentro de uma norma penal permissiva, deve deixar o local do “crime” para evitar um flagrante que o levará preso.

O que pensaria alguém em uma situação dessa? Medo de revanche? Preocupação com a casa? Pode ser. Contudo, se mudarmos a cena para um pai que, limpando uma arma municiada, dispara acidentalmente matando sua filha, as preocupações mudam radicalmente. O único sentimento que importa é a dor de ter ferido alguém que se ama.

Essa foi a angústia de Davi e de todos que amam a Deus. Seus delitos não são meros vacilos que se resolvem com um simples “deixa para lá”. Eles entendem que todo pecado é, em última instância, uma afronta direta a Deus, e nada lhes dói mais do que a sensação de ferir a santidade do Deus que amam. E você? Como se sente ao quebrar um mandamento?