A cegueira era um verdadeiro flagelo na Palestina e nos demais países do Oriente Médio. Era causada pelo resplendor do sol, pela poeira e por diversas enfermidades dos olhos, especialmente as conjuntivites, as quais eram agravadas pela falta de higiene. Era comum ver pessoas com verdadeiras crostas nos olhos, nas quais pousavam moscas, o que contribuía para disseminar as infecções.
Jesus curou muitos cegos, bem como doentes de todos os tipos, mas a cura do cego de Betsaida foi o único caso em que Jesus operou uma cura em duas etapas. Quando Jesus aplicou saliva nos olhos daquele cego, pela primeira vez, ele recobrou a visão parcialmente, passando a ver os homens “como árvores […] andando” (Mc 8:24). Ao segundo toque, porém, ele passou a ver tudo com perfeita clareza.
Outros cegos, bem como leprosos, paralíticos e até mesmo mortos, foram restaurados instantaneamente. Por que esse enfermo precisou de dois toques em vez de um? Alguns acham que foi para lhe fortalecer a fé gradualmente. Sejam quais forem os motivos, podemos ver nesses dois atos uma importante lição espiritual: a luz da verdade é uma revelação progressiva, semelhante à “luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4:18).
Embora a conversão possa ocorrer instantaneamente, como no caso de Zaqueu, também é verdade que devemos nos reconverter a Deus diariamente, sempre crescendo na graça e no conhecimento. Mesmo na eternidade cresceremos constantemente, pois surgirão sempre “novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender e novos objetivos para aguçar as aptidões físicas, mentais e espirituais.” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 560).
As pessoas que aceitam a salvação em Cristo começam sua carreira cristã vendo a vida “como árvores […] andando”. Mas, à medida que vão crescendo espiritualmente, sua visão vai, aos poucos, se expandindo e enxergando as pessoas, as doutrinas e o plano da salvação mais claramente.
Olhemos confiantes para o futuro, para aquele glorioso dia em que veremos nosso Salvador face a face. Então nossa visão espiritual será perfeita e conheceremos como também somos conhecidos.
Rubem Scheffel, 25/1/2010