Ela parecia uma candidata improvável como tia favorita. Tia Florence sofria com problemas de saúde desde o nascimento. Lutou com visão, audição e capacidade intelectual debilitadas. Problemas renais, com frequência, faziam com que as pernas inchassem. Ela também tinha os dentes muito tortos. Mesmo assim, ela foi suficientemente capaz de cuidar de mim e de meus irmãos quando éramos crianças.
Minhas duas irmãs e eu passávamos as férias de verão na casa dos nossos avós, na pequena cidade de Antigo, Wisconsin. Ocupando um quarto no segundo andar, tia Florence se dispunha a nos levar todas as tardes a lugares encantadores. Caminhávamos – aparentemente quilômetros – até a estação ferroviária abandonada, até a fundação alagada de uma casa antiga, até o parque vizinho ou até a loja da esquina em busca de picolés para nos refrescar no calor do verão. Nossa tia sabia os nomes de insetos e aves, e conseguia assobiar a maioria dos cantos dos pássaros.
Dentro de casa, tia Florence nos convencia a participar de uma brincadeira ou ouvir uma história. Gostávamos de deitar em sua cama para ouvir histórias de missionários em outras terras, mesmo depois de nossa própria habilidade na leitura ter ultrapassado a dela, e de, ocasionalmente, ser necessário pronunciar uma palavra que lhe era desconhecida.
Dormíamos no seu quarto no andar de cima, contando histórias no escuro ou confessando sonhos que nunca admitiríamos aos nossos pais. Todas as manhãs, nós a víamos sair da cama e ajoelhar-se. Suas orações eram audíveis, se você prestasse bem atenção. Ela mencionava cada membro da família diante do trono da graça, orando por nossa felicidade, bem-estar e salvação. Suas orações se intensificavam à medida que crescíamos, que nossa vida se complicava, que nossos erros traziam consequências maiores. Os dias dela terminavam do mesmo modo como haviam começado: ajoelhada. Ela louvava a Deus pela inabalável certeza do retorno de nosso Salvador, quando então ela O ouviria dizendo: “Muito bem”.
Valorizo, todos os dias, o legado de tia Florence – um amor e devoção que agora transmito aos meus próprios sobrinhos e sobrinhas, que regularmente fazem com que eu me ajoelhe. Toda vez que sou tentada a ser menos do que uma serva boa e fiel, dou graças a Deus pelas lembranças de tia Florence – e me sinto inspirada.
Vicki Mellish