Você já se sentiu um fracasso espiritual? Folheou a Bíblia e disse com desalento: “Eu queria ser como José, Daniel, Elias, Ester ou Rute, mas sou o oposto deles”? Já encontrei muitas pessoas com esse sentimento. Eu mesmo já me senti assim várias vezes. Confesso que é uma mistura de frustração e raiva que produz uma pergunta inevitável: “Por que não consigo?”
Outras vezes, a sensação é semelhante à daquele aluno que se “mata” para tirar um 6, enquanto o outro apenas dá uma lida na matéria e tira 10. Já viu gente assim? E, quando ele está no pódio, diz que foi difícil chegar aonde chegou. Declarações assim soam como o abanar de um cardápio na frente de um faminto.
Comparando esses exemplos com a realidade espiritual, parece que, para alguns, a religiosidade é tão natural, enquanto, para outros, a leitura de um ano bíblico não passa de Gênesis 5. Vamos ser francos: isso não é justo!
Mas espere um pouco, a Bíblia também fala de Jacó, Sansão, Davi e Pedro, que, pelos critérios humanos, seriam o fracasso em forma de gente. Celebramos a figura do rei Davi porque é um personagem ilustre do passado, mas, se vivesse hoje, sua ficha de assassino e adúltero dificilmente permitiria a publicação de seus salmos por uma editora cristã. Sua presença em um púlpito seria motivo de críticas, e muitos influenciadores o cancelariam nas redes sociais.
É admirável como o Espírito Santo fez da Bíblia um relato honesto da biografia dos santos. Ela não esconde o fracasso dos que deveriam ser os heróis da história. Chega a ser um paradoxo o modo como Deus lida amavelmente com pecadores, sem ser conivente com o deslize deles. Seus erros são apresentados sem filtro, e a restauração, sem exageros. Sabemos o que Davi fez e as consequências que vieram depois, porém a graça foi tão maravilhosa que não existe outro sentimento ao final da leitura senão dizer: Se ele pôde se tornar alguém segundo o coração de Deus (At 13:22), então, pela mesma graça, eu também posso. Que seja essa nossa oração hoje.