É fascinante andar pelo deserto de Sur, no Egito. Acredita-se que tenha sido ali, a leste da “Muralha dos Governantes” construída pelos egípcios, que Moisés conduziu o povo após a travessia do Mar Vermelho.
O que mais me chama a atenção nesse relato é o que acontece após esse momento dramático. O espetáculo das águas foi tão impressionante que raramente prestamos atenção no que se segue. Imagine por um instante que, enquanto o mar se fechava atrás do povo, diante deles não havia nada além de pedras, areia e muito calor.
Para piorar a história, por três dias eles não puderam encontrar água. Quando achavam alguma fonte, não servia para beber. Não é de admirar que novamente houve muita reclamação. Por que Deus conduzia o povo a lugares tão inóspitos?
A experiência no deserto é realmente emblemática. O ambiente árido evidencia nossa fragilidade. Ao contrário de se perder na Floresta Amazônica, que é um bioma repleto de recursos, no deserto não encontramos alimento e abrigo com tanta facilidade.
O paradoxo é que o mesmo lugar que ameaça também prepara. Note que praticamente todos os grandes líderes de Deus passaram pelo deserto antes de iniciar sua missão. De Abraão a Paulo, passando por Moisés e Elias, todos tiveram uma experiência no deserto. O próprio Jesus inaugurou Seu ministério com um jejum de 40 dias no deserto da Judeia.
Na língua hebraica, a mesma raiz que dá origem aos verbos “falar” e “guiar” também forma a palavra midbar ou “deserto”, que aparece 272 vezes na Bíblia. A relação entre esses termos estaria na imagem de um pastor conduzindo suas ovelhas pelo deserto ou chamando-as pelo nome.
Mesmo nós, que vivemos em ambientes bem diferentes da paisagem que vi no Egito, podemos experimentar as agruras de um deserto emocional repleto de obstáculos que desafiam a fé. Por isso, a história bíblica preservou relatos como esse, para que compreendamos que o mesmo Deus que guiou o povo por aquele cenário rochoso também nos orientará nos desertos desta vida. Basta confiar e seguir obedecendo à Sua voz.