Uma das lembranças mais felizes que tenho da infância é a de meu avô paterno. O vovô Rodolpho tinha sempre um canivete afiado no bolso e descascava rapidamente as laranjas fresquinhas do pomar da tia Betinha, sem ferir a casca e com o corte escolhido: tampinha, no meio ou em gomos.
Ele sabia fazer rimas engraçadas com nosso nome e tirava risadas dos netos a qualquer hora do dia. Sempre que nos visitava em casa, o vovô Rodolpho levava balas em um saquinho de papel ou nos dava dinheiro para gastar com o que quiséssemos na venda da esquina. Ele também guardava moedas o ano todo para nos dar um saco delas no Natal!
Não havia uma pessoa que não gostasse dele. Mas, quando eu estava com 13 anos, ele teve um infarto mais grave do que das outras vezes. Lembro-me de visitá-lo no hospital com meus pais e vê-lo sentado na cama, recebendo-nos com a alegria de sempre. Acho que foi por isso que pensei que tudo ficaria bem.
Certo domingo, em vez de visitá-lo com minha família, preferi passar o dia brincando com uma amiga. Durante a semana, porém, fui ao hospital com aquela amiga para vê-lo novamente. Quando chegamos ao quarto, a cama estava vazia. Fiquei sem reação por alguns instantes, e então perguntei a uma enfermeira onde estava o paciente daquele leito. Ela nos contou que meu avô havia piorado e que ele estava no centro de tratamento intensivo daquele hospital. No entanto, para minha infelicidade, não seria possível visitá-lo.
Ao sair do hospital, olhei para as janelas daquele prédio alto e imaginei meu avô sozinho lá dentro em algum lugar. Aquilo me cortou o coração. Já não havia mais tempo para despedidas, e eu não sabia. Nunca mais vi aquele sorriso carinhoso de sempre.
Embora eu tenha esperança de rever meu avô quando Jesus ressuscitar os que estão dormindo no pó da terra, essa experiência me ensinou que não é sábio relegar a um segundo plano as coisas e pessoas importantes em nossa vida.
Nunca deixe para depois o que você pode fazer hoje. Isso é especialmente verdade em relação às coisas espirituais e aos nossos relacionamentos. Afinal, o único tempo que nós temos é hoje!
Margarete Rampinelli Knopp Quiroga