No versículo de hoje, Jesus faz uma curiosa advertência sobre as relações humanas. A palavra que aparece como “tribunal” é na verdade “sinédrio”, que julgava as pessoas em Jerusalém, especialmente por crimes de blasfêmia e idolatria.
Partindo desse cenário, Jesus ensinou que desprezar a imagem de Deus no semelhante também é blasfemar contra o Criador. Não podemos “temer a Deus” sem amar nossos irmãos e tratar todos com honra (1Pe 2:17). A reverência pelo Senhor implica respeito por aqueles que Ele criou. Chamar de ridícula uma arte é insultar o artista que a fez.
Por isso, quem insultasse seu irmão estaria sujeito ao juízo. Aqui, o termo “insulto” é uma palavra aramaica que se lê raka. Quem chamasse o outro de raka cometia grave delito diante de Deus. Mas o que significa raka? Para alguns, seria algo como “estúpido”, “burro”, “cabeça de boi”. Jerônimo, no 4o século, disse ter consultado um judeu que traduziu raka como “cabeça oca”. Agostinho também afirmou ter consultado um rabino que dizia que essa não era uma palavra, mas uma interjeição do tipo “hum”, similar ao que alguém, ao ver outra pessoa lhe virar as costas, balbucia, como se dissesse: “Eu desprezo esse fulano.”
Outros dizem que a raiz de raka é a palavra, raqaq, que quer dizer “cuspir”. No Oriente Médio, cuspir no chão é altamente ofensivo, a menos que seja realizado por uma autoridade espiritual, como Jesus fez ao curar o cego e o surdo.
Naquela cultura, chamar alguém de tolo poderia levar o ofendido a cuspir, e a cuspida geraria a ofensa, que poderia resultar em conflito. Por isso, Jesus não falou apenas da violência última, mas dos atos que a antecipam.
Tribunais humanos se preocupam com os conflitos resultantes de um crime, mas o tribunal de Deus se detém nos atos aparentemente não condenáveis que levam à ofensa e talvez à morte. Portanto, tenha cuidado não apenas com sua fala, mas com o rumo para o qual ela caminha. Afinal, as palavras têm consequências nesta vida e no porvir.