Existe uma armadilha nas virtudes. Alguns acreditam que, por serem chamadas de “virtudes”, estão livres de qualquer falha. No entanto, assim como alimentos de qualidade podem se deteriorar, as virtudes também podem se degenerar.
O contexto imediato do versículo de hoje trata da partida de Cristo para o Céu. Portanto, é natural entender Suas palavras de despedida em relação ao cumprimento usual dos judeus, que até hoje dizem shalom (paz), tanto ao chegar quanto ao partir.
Cristo promete deixar o dom da paz como legado. Não é qualquer paz, como a ausência de problemas. “A Minha paz lhes dou”, disse Jesus. Lembremos que, ao Jesus nascer, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na Terra entre os homens” (Lc 2:14). Após ressusci-
tar, Ele disse aos discípulos: “Que a paz esteja com vocês” (24:36).
O contraste entre essa paz e a paz artificial deste mundo demonstra a existência de uma virtude alterada, que está fora do prazo de validade e não oferece mais a eficácia original de sua natureza. Trata-se de uma calmaria que não tranquiliza ou que o faz apenas de maneira temporária, como um paliativo que alivia a dor, mas não cura a doença.
Isso fazia muito sentido em uma época em que a grande propaganda era a “pax romana”, um período iniciado com Augusto César e considerado uma era de prosperidade que encantava as pessoas. No entanto, não se tratava de uma paz genuína.
Hoje também presenciamos um entendimento leviano da paz. Pessoas que cedem às tentações costumam ter paz em um primeiro momento. Elas se dizem bem-resolvidas e até convidam outros a parar de lutar contra os sentimentos e apetites. Porém, as consequências inevitavelmente chegam, e aquela paz de cinco minutos custou a perda de grandes resultados.
Às vezes, é necessário travar uma guerra para conquistar a paz. Por isso, precisamos lutar contra o eu, munidos pela graça de Cristo. Somente assim teremos uma paz eterna, gratificante e sem arrependimentos. Você quer essa paz?