Gosto muito da música do maestro Jader Santos que diz: “Com os pés na Terra e os olhos no Céu eu vou, eu vou. Com os pés na Terra e os olhos no Céu eu vou seguindo, até encontrar meu Jesus.” Essa letra me impactou, pois ao longo da história do cristianismo, temos duas posturas que não correspondem ao ideal proposto por Cristo em Suas promessas. A primeira é promovida pelas pessoas que fincam tanto os pés nesta Terra que se esquecem do que Jesus disse: “O Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18:36).
Os proponentes dessa visão fazem de algumas pautas políticas e sociais o alvo principal de suas ações. Ignoram que ainda “esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pe 3:13), pensando que esforços humanos, revoluções civis e militância política trarão a paz. Para eles, a pregação do evangelho é algo secundário. Até pregam o amor de Cristo, mas negligenciam Sua doutrina ou a reduzem a um mero discurso social.
A segunda postura é representada por aqueles que focam tanto na nova Jerusalém que se esquecem das palavras de Cristo sobre a maneira de esperar a Sua volta: “Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24:46). Observe que, no verso 14, Jesus fala da pregação do evangelho e aqui fala do servo encarregado de dar aos demais o sustento no devido tempo. O servo recebe dádivas do Senhor para compartilhá-las com os outros.
Os que seguem a cartilha do descaso com o presente se escudam no futuro glorioso para justificar toda negligência social para com esse mundo. Ignoram a miséria do pobre sob o argumento de que no Céu ele terá coroas. Depois, se limitam a orar pelo necessitado e não fazem nada para tirá-lo da pobreza.
Dizem que o sábio Tales de Mileto ficava olhando tanto para o céu enquanto caminhava que esqueceu de olhar para onde ia, e acabou caindo em um poço. Uma serva o viu e comentou com ironia: “Tales, como você poderia ter tanto conhecimento das coisas celestiais e não saber o que está embaixo de seus pés?” Realmente, a visão de apenas um lado em detrimento do outro é cegueira da mente. Cristo quer que tenhamos lucidez enquanto estivermos aqui, no limiar dos dois mundos.