Domingo
23 de março
RELÍQUIAS
Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, ela é poder de Deus. 1 Coríntios 1:18

Durante a Idade Média, a Europa se viu inundada de comerciantes que vendiam supostas relíquias trazidas da Terra Santa. Esses objetos exóticos incluíam desde ossos de apóstolos até palha da manjedoura e fuligem da fornalha ardente.

Frederico, o Sábio, protetor de Martinho Lutero, era um desses colecionadores que lucravam com exposições públicas, cobrando ingressos que prometiam ao visitante uma redução da pena caso fosse para o purgatório.

Sua coleção possuía 24.018 itens, sendo a maioria composta de ossos de santos. Ao ver isso, Lutero exclamou: “Que mentiras existem sobre relíquias! Alguém afirma ter uma pena da asa do anjo Gabriel, e o bispo de Mainz tem uma chama da sarça ardente de Moisés. E como explicar que
18 apóstolos estão enterrados na Alemanha, quando Cristo tinha apenas 12?” (citado por Roland Bainton, Here I Stand: A Life of Martin Luther, p. 296).

Havia tantos “pedaços” da cruz espalhados pela Europa que Erasmo de Roterdã ironizou dizendo que talvez Cristo não tivesse sido crucificado em um madeiro, mas em uma floresta, cujas árvores dariam até para construir outra arca de Noé.

E ainda existiam as lendas contadas pelos comerciantes. Uma delas, retratada no afresco da igreja de São Francisco em Arezzo, na Itália, dizia que, quando Adão morreu, seu filho Sete plantou em sua boca as sementes da misericórdia, que cresceram e se tornaram a árvore da qual fizeram a cruz de Cristo.

O grande problema de tudo isso era a idolatria a objetos tidos como sagrados. No antigo Israel, a serpente de bronze que Moisés ergueu no deserto, mantida por um tempo como símbolo do cuidado de Deus, tornou-se um objeto de culto, e teve de ser destruída (2Rs 18:4).

E hoje? Estaríamos livres de cometer esse erro? Claro que não. A igreja, a tradição e a música, se não forem estimadas na medida certa, também podem se tornar objetos de idolatria. Enquanto os mártires morriam pela doutrina de Cristo, teólogos medievais matavam por ela, ou melhor, pelas distorções que fizeram dela. Lembre-se hoje deste ditado: Mais importante que a cruz de Cristo é o próprio Cristo que morreu pregado nela.