Certo dia, em uma das aulas do mestrado, ouvi um professor jesuíta citar uma proposta filosófica que dizia: “O diabo não existe e Deus não sabe.” A frase irônica representava uma tendência secularizada de dizer que o diabo é uma invenção e a onisciência de Deus é um equívoco teológico.
Isso me fez lembrar de uma parábola contada por Philip Yancey em seu livro Perguntas que Precisam de Resposta. De modo poético, o autor se pergunta: “Como seria uma sociedade que descobrisse, para além de qualquer questionamento, que não há Deus, não há Céu, nem salvação eterna?” Essa sociedade entenderia que só temos esta vida. Logo, a juventude seria mais valorizada que a velhice, pois não há futuro melhor para ansiar; o esporte seria uma obsessão nacional; as capas de revistas exibiriam rostos sem rugas e corpos perfeitos; a imagem e a estética estariam acima da ética e o lema de todos seria “aproveite o dia antes que se arrependa”. Além disso, a ética hedonista seria proclamada assim: “Não resista às tentações; pode ser que não tenha uma segunda chance.”
Yancey continua imaginando uma cidade com um volume crescente de crimes, hedonismo e medo da morte. Então, ele termina de modo irônico, agradecendo por viver em um país que, ao contrário daquela cidade, acredita em Deus, no Céu e na salvação! Mas, como eu disse, ele foi irônico, pois é exatamente assim que nossa sociedade se encontra. A pergunta óbvia é: Vivemos realmente em uma sociedade que crê em Deus?
O psiquiatra Karl Menninger escreveu um livro cujo título foi traduzido como O Pecado de Nossa Época, no qual ele comenta a contraditória atitude da modernidade em relação à moral. Meninger observa que os atuais desvios de comportamento são estranhamente explicados ou justificados a partir de questões mentais ou psicológicas, como se não existisse pecado. Os vícios não são mais combatidos; são tolerados e compreendidos.
Foi esse tipo de fé meramente teórica que levou Cristo a citar o oráculo de Isaías 29:13, que diz: “Este povo Me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim” (Mt 15:8). Que possamos proclamar que Deus realmente existe, não apenas com os lábios, mas principalmente com
o coração e as atitudes.