Uma caveira não fala, mas a imagem dela diz muito. Apesar disso, quem usa um adesivo, um boné ou uma camiseta de caveira nem sempre sabe quais são as ideias que esse símbolo evoca. Pinturas, quadros e até bibelôs em forma de caveira viraram moda na Europa no século 17, um período de crise e guerra. A religião da época, para insistir na noção de “imortalidade da alma”, ensinava que a vida é curta; e o tempo, fugaz. Um artista espanhol, chamado Juan de Valdês Leal, pintou um quadro com a figura de um esqueleto segurando uma foice em um quarto escuro cheio de objetos valiosos caídos, simbolizando a glória, a vaidade e a sabedoria humana lançadas por terra. A pintura é conhecida como In ictu oculi (Em um piscar de olhos), uma frase tirada da Bíblia (1Co 15:52).
Usar a Bíblia para apoiar uma ideia, sem se importar com o que a Escritura de fato ensina, é algo mais frequente do que se imagina. Por exemplo, o quadro de Valdês ignora o que está escrito em 1 Coríntios 15:52. O texto diz que num piscar de olhos seremos transformados, por ocasião da ressurreição. Ou seja, não é a vida que passa em um piscar de olhos (In ictu oculi), mas as aflições, as dores, os sofrimentos e a nossa existência como um todo. O mesmo se aplica a Tiago 4:14 ou a qualquer outro texto descontextualizado intencionalmente para satisfazer a expectativa de certos leitores. O apóstolo explica: “Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. […] vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna” (Tg 4:14, 15). Note que o autor está reprovando o orgulho de quem faz planos sem a aprovação de Deus, não está filosofando sobre a brevidade da vida nem enaltecendo o temível poder da morte.
Tempus fugit significa “o tempo foge”. De fato, para quem é mortal, a vida passa rápido; e isso incomoda, pois fomos criados para a eternidade, não para a sepultura. Por isso, de acordo com a Bíblia, a morte é uma intrusa; é “o último inimigo a ser destruído” (1Co 15:26). Sendo assim, que sentido faz difundir símbolos ou promover crenças que a pintam como algo divertido, desejável ou “normal”? Na próxima vez que você for tentado a assistir a um filme de zumbi ou a vestir uma roupa de caveira, pense nisso!